"Não passa nunca... mas quase passa todos os dias."
(Tati Bernardi)
Já perdi a conta de quantas vezes eu disse que havia aprendido minha lição, mas a verdade é que nunca aprendi. Já perdi a conta de quantas vezes disse a mim mesma que agora sim aprendi a amar sem ilusões e sem expectativas, que agora sim estou pronta para te aceitar tal qual você é, mas sempre caio na tentação de sofrer quando vejo que você não é como eu gostaria que fosse, sempre acontece algo para que eu me deixe decepcionar. Realmente acreditava que tinha aprendido a amar verdadeiramente, mas cada nova desilusão só me faz concluir que estou ainda aprendendo a amar de verdade, estou em processo de aprendizagem; e esse processo consiste nisso: ser testado mil vezes, deparar-se constantemente com situações que vão requerer que você ame mais e com menos orgulho e egoísmo, ter seu sentimento posto à prova. E cada nova prova é ainda mais dolorosa que a anterior, pois só assim o sentimento pode crescer, e só assim ele pode ser real, pois se fosse superficial não resistiria a tantas dificuldades. Quanto mais dolorosa a experiência, mais amadurece o amor, pois assim se passa a aceitar cada vez mais coisas e esperando cada vez menos em troca.
"Amar é abrir o coração sem reservas, encontrar-se desarmado de
sentimentos de oposição, sempre favorável ao bem e ao progresso mesmo
quando discordando das colocações que são apresentadas.
É
também um mecanismo de compaixão e de misericórdia para consigo e
principalmente para com o próximo, sua meta e sua necessidade, que passa
a constituir-se no relacionamento e na conquista da autoconfiança.
O amor é o liame sutil que une o interior ao exterior do ser, o profano ao sagrado...
O amor nunca se ofende e sempre está lúcido para entender que na sua
vibração tudo se harmoniza, mesmo quando as leis dos contrários se
apresentam, porque não agride nem violenta, tudo aceitando com
equilíbrio e canalizando com sabedoria."
('Libertação pelo amor', mensagem contida no livro 'Jesus e o Evangelho - À Luz da Psicologia Profunda', de Joanna de Ângelis, psicografado por Divaldo Franco)
O fato é que quem não ama de verdade nunca é livre. Quanto mais humano o seu amor, mais dói, e mais te prende à sua própria capacidade de se decepcionar ante as falhas alheias ou a frustração das suas expectativas. O amor verdadeiro não espera nada, não cobra nada, não precisa de nada: quem ama verdadeiramente ama apenas por amar, ama incondicionalmente e não depende de recompensas para ser feliz. Quanto menos conseguirmos amar assim, mais sofreremos. Se continuarmos dependendo das circunstâncias externas, da reciprocidade do sentimento, e da realização das nossas fantasias para sermos felizes, mais padeceremos, pois nem tudo será sempre como queremos, o mundo não gira em torno de nós e nem tudo nessa vida se resume às nossas vontades.
O que menos me anima é imaginar quanto ainda terei que sofrer até conseguir atingir esse patamar de saber amar de verdade... Se coisas tão pequenas me ferem tanto, que dizer das coisas que realmente importam? As coisas que afligem as pessoas normais que se incomodam por coisas normais e não um ser mirabolante como eu que é capaz de redigir um ensaio de 10 laudas sobre um simples piscar de olhos?
"Chorar deixou de ser uma
necessidade e virou apenas uma iminência. Sofrer deixou de ser algo
maior do que eu e passou a ser um pontinho ali, no mesmo lugar,
incomodando a cada segundo, me lembrando o tempo todo que aquele
pontinho é um resto, um quase não pontinho. Você, que já foi tudo e mais
um pouco, é agora um quase. Um quase que não me deixa ser inteira em
nada, plena em nada, tranquila em nada, feliz em nada. Todos os dias eu
quase te ligo, eu quase consigo ser leve e te dizer: “Ei, não quer
conhecer minha casa nova?” Eu quase consigo te tratar como nada. Mas aí
quase desisto de tudo, quase ignoro tudo, quase consigo, sem nenhuma
ansiedade, terminar o dia tendo a certeza de que é só mais um dia com um
restinho de quase e que um restinho de quase, uma hora, se Deus quiser,
vira nada. Mas não vira nada nunca. Eu quase consegui te amar
exatamente como você era, quase. E é justamente por eu nunca ter sido
inteira pra você que meu fim de amor também não consegue ser inteiro…
Eu quase não te amo mais, eu quase não te odeio, eu quase não odeio
aquela foto com aquelas garotas, eu quase não morro com a sua presença,
eu quase não escrevo esse texto. O problema é que todo o resto de mim
que sobra, tirando o que quase sou, não sei quem é." (Tati Bernardi)