sábado, 26 de fevereiro de 2011

O que tenho ouvido ultimamente: Parte I – A nova música velha

Sempre deixei muito claro, em todos os meus textos, que amo música e não vivo sem. Embora eu não tenha nenhum dom concernente à arte musical, posso dizer que música é uma das maiores paixões da minha vida; não há um momento do qual ela não faça parte, ainda que apenas em minha mente... Há sempre uma música tocando na minha rádio mental!

Desta forma, certas canções, estilos e artistas acabam marcando certos períodos da minha vida. Adoro escutar alguma canção e me lembrar de alguma coisa, de alguma época em que eu a escutava incessantemente! Relacionar sentimentos e fatos com música é algo recorrente para mim; é automático.

Ultimamente tenho escutado muitas coisas legais e diferentes, e como falar de música é sempre um prazer, resolvi compartilhar as minhas atuais preferências – até para divulgar melhor alguns artistas! Música boa deve ser conhecida e exposta.

Começarei falando de uma nova geração de artistas que está mantendo vivos o soul e o R&B dos tempos áureos; uma turma que, em sua grande maioria, não é negra (!), mas tem a black music na veia. Quase todos bebem na mesma fonte: a antiga gravadora americana Motown, responsável por fazer a black music estourar nos anos 60 e 70 e por lançar excelentes cantores, instrumentistas e compositores como Diana Ross and The Supremes, Jackson Five, Stevie Wonder, Marvin Gaye, The Temptations, The Four Tops, Martha Reeves and The Vandellas, entre tantos outros.

Em um tópico anterior aqui no blog, comentei sobre a maravilhosa banda Fitz and The Tantrums, que faz um som bem alternativo, uma gostosa mistura de indie rock e soul, contando até com alguns elementos oitentistas – há quem brinque que a banda é um resultado do cruzamento entre David Bowie e a Motown!  

O mais recente álbum do Fitz and The Tantrums, “Pickin’up the pieces”, traz canções já lançados no EP anterior (“Songs por the break-up”), com exceção de duas baladas lindas e suaves, “We don’t need love songs” (o órgão nos primeiros segundos da música é nostalgia pura, e o canto sofrido do vocalista Michael Fitzpatrick reforça a sensação de balada sessentista) e “Darkest street”. 





Eu destaco a alegre “Breaking the chains of love”, a genial “We don’t gotta work it out” (a música que me fez conhecer e amar a banda! Eu poderia jurar que ela foi mesma composta na década de 60), a linda e triste “Tighter” (a letra é bela: “Why didn’t I hold you tighter than tighter? ... You can’t hold on to what is already gone”), a efusiva “News 4 u” (o pandeirinho no início faz lembrar “Be my baby”, das Ronettes, e vários outros hits de girls groups dos anos 60).


- Amy Winehouse
Sim, ela é escandalosa, maluca, viciada em drogas e bebida, obcecada pelo ex-marido, mas eu quero mesmo é falar de sua música. Para começo de conversa, Amy é branca e magrinha, mas tem a voz de uma negra gorda, ou seja, uma MEGA e incrível voz!

Seu primeiro álbum, “Frank”, tem uma sonoridade mais puxada para o lado do jazz, com alguns elementos da soul music. Trata-se de um trabalho bem feito e de escuta fácil, muito gostoso e leve, em que encontramos uma Amy diferente, com voz mais aguda e estilo mais tranquilo. Destaco “Stronger than me”, “Help yourself” e “October song”.


Mas o segundo álbum, “Back to black”, é que alçou Amy Winehouse ao estrelato. No maior estilo black music sessentista, com alguns elementos de música ska (estilo musical derivado do reggae), neste álbum Amy canta com a voz mais rasgada, mais grave, e também com tons mais emocionais, mais densos. Várias canções têm atmosfera sombria, triste e pesada (“Love is a losing game”, “Some unholy war” e até a faixa-título). Percebe-se que a maior influência sofrida é a da música produzida pelas girl groups dos anos 60.


- Duffy
A galesa Aimee Duffy conquistou fama e sucesso em 2008, com seu segundo álbum, “Rockferry”. Graças às suas canções e sua voz (diferente – para não dizer engraçada! –, mas também muito potente), Duffy vendeu milhões de cópias e foi indicada a vários prêmios.

“Rockferry” é um álbum excelente, viciante e de alto nível. Não há sequer uma canção ruim, e a voz de Duffy cai como uma luva para todas elas. A faixa-título abre o álbum e já anuncia que trata-se de um trabalho pretensioso, disposto a oferecer a mesma qualidade das obras das grandes divas da black music. Há canções que não têm nem um quê de atualidade, como o super sucesso “Mercy” (que é dotada de honestas aspirações sessentistas, e alcança o objetivo!) e a sofrida “Syroup and Honey” (na qual a precariedade instrumental dá espaço para o destaque da voz de Duffy, bem como de sua interpretação, completamente sentida e carente, no maior estilo Etta James). Há canções mais pop, como a meiguinha “Serious” e a balançante “Delayed devotion”. Mas as melhores mesmo, segundo meus critérios, são as sentimentais e delicadas “Stepping stone”, “Warwick Avenue” (tão triste que comove) e “I’m scared”.



O terceiro álbum de Duffy se chama “Endlessly” e não mantem o nível do anterior. Menos introvertido e mais pop, talvez seja uma tentativa tímida de Duffy retornar à música pop, que era o que fazia em seu primeiro álbum – e, sabe-se lá, pode ser o que ela gosta de verdade; não se pode descartar a hipótese de “Rockferry” ter sido apenas uma jogada de mídia, haja visto que foi lançado na mesma época em que Amy Winehouse estourava nas paradas musicais. Ainda assim, destaco a emotiva “Don’t forsake me” e a bonita “Hard for the heart”.


- Janelle Monaé
Aclamada como uma das mais criativas e talentosas artistas da atualidade, Janelle é uma figura interessante. É uma showoman, bonita, estilosa, talentosa, carismática e louca, na melhor e mais elogiosa acepção da palavra! Suas performances são entretíveis e suas músicas são uma coisa de outro mundo! Ela mistura a black music dos tempos antigos com alguns elementos de hip hop, pop, rock e diversos outros estilos musicais.



Seu álbum “The Archandroid” foi lançado em 2010 e foi um grande sucesso de crítica. Particularmente, agrada-me muito toda essa maluquice musical, porque não cansa e sempre proporciona boas canções como a dramática “Cold war”, a dançante “Tightrope”, a bela “Say you’ll go” e a mirabolante “Come alive”!


- Mayer Hawthorne
Conheci-o por ocasião das duas cantoras acima: Amy Winehouse esteve recentemente (no início de 2011) no Brasil e Janelle e Mayer foram responsáveis pelos shows de abertura. Pesquisei sua obra e fiquei encantada com a sonoridade gostosa de suas músicas!

O álbum “A strange arrengement”, de 2009, traz boas canções como “Let me know” (que poderia perfeitamente ter sido gravada pelos Isley Brothers ou pelos Four Tops, grupos da Motown), ou a deliciosa “Shiny and new” (soul music em sua melhor forma, lembra canções antigas de Barry White e Stevie Wonder), a animada “The ills” (lembra demais as canções agitadas dos Temptations, como It’s growing”) e a sensual (apesar da letra) “Just ain’t gonna work out”.



Mayer Hawthorne canta em tons agudos, e suas canções têm uma batida super agradável. Com certeza, é uma das melhores surpresas que tive ao procurar por boa música.


- Paloma Faith
Esta inglesa é considerada “a versão sóbria de Amy”, mas na verdade é mais que isso: Paloma tem um belo rosto, corpo, voz e um estilo muito próprio; ademais, seu trabalho é super inteligente e ela gosta de performances intensas.

Fiquei inteiramente fascinada pelo álbum “Do you want the truth or something beautiful?”, a começar pela proposta (que é fazer uma black music mais moderna, mas sem fugir da essência da Motown), sem mencionar a voz incrível de Paloma.



As canções são ótimas e todas muito únicas. Adoro o estilo descarado e irreverente de “Stone cold sober”, o charminho de “Stargazer”, a impetuosidade de “New York” e o estilão soul dramático de “Play on”, que dentre todas do álbum, leva o prêmio de “esta poderia muito bem ter sido gravada nos anos 60”.


- Sharon Jones and The Dap Kings
Ouvi dizer que a banda The Dap Kings é a que trabalhou com Amy Winehouse no álbum “Back to black”, e este motivo é mais que suficiente para me deixar interessada no projeto de Sharon Jones!

Sharon Jones é uma autêntica diva negra, dona de uma voz invejável. Ainda estou conhecendo seu trabalho, mas por enquanto já virei fã, graças ao álbum “I learned the hard way”, de 2010.

Se ao comentar sobre os artistas acima eu apontei uma ou duas canções que “poderiam muito bem ter sido gravadas nos anos 60”, eu devo dizer que “I learned the hard way” inteirinho poderia ter sido gravado nos anos 60!

Eu destaco as dramáticas “Mama don’t like my man” e “If you call”, nas quais Sharon dá um show de talento e interpretação. A primeira conta com vocais impressionantes e aquela guitarrinha de fundo presente em várias antigas canções de pop e doo wop, anunciadoras do rock’n’roll que estava prestes a nascer. Nesta segunda, em especial, ela lembra a grande Etta James.



Destaco ainda a faixa-título, que é a cara das girl groups dos anos 60; “Give it back”, “The reason”, “I’ll still be true”... Ah, todas!! Não há palavras para descrever. Eu poderia fazer uma playlist repleta de Temptations, Marvelettes, Four Tops, Otis Redding, e jogar Sharon Jones and The Dap Kings no meio e nem faria diferença – ninguém saberia determinar qual das canções foi gravada em 2010 e qual foi gravada em 1964.


Outros artistas cuja obra conheço pouco, mas já gosto:

- Adele
Conheci Adele na mesma época de Amy e Duffy, ou seja, era a época perfeita para uma cantora como ela despontar no cenário musical. Inicialmente não dei tanta importância, embora soubesse de sua bela voz e de seu repertório. Recentemente é que Adele voltou a chamar minha atenção, com seu novo single “Rolling in the deep”, que está em primeiro lugar em vários países.

Logo tratei de conhecer seu novo álbum, “21”, e estou muito impressionada! A moça canta demais, e as canções são belíssimas, românticas, sensíveis e bem produzidas. Neste ínterim, destaco as apaixonadas “One and only”, “Lovesong”, “Someone like you”. No mais, todas lembram as grandes divas dos anos 60.





- Lucky Soul
Trata-se de uma banda independente que conheci por acaso e, quando vi que também se inspirava na Motown, quis logo conhecer. Gostei muito do álbum “A coming of age”, de 2010. A mistura de pop, rock e black music me interessa. Destaco as nostálgicas (sonoramente falando, é claro) “Ain’t nothin’ like a shame” e “Could it be I don’t belong any”. Do álbum de 2007, "The great unwanted", destaco a faixa-título e a belíssima "Baby I'm broke".
Destaque também para a vocalista, dona de uma voz toda meiga e dengosa.




- Natalie Williams
Esta é outra cantora com uma linda voz que descobri por acaso, nem me lembro como, e me agradou de cara. Seu estilo é soul music e lembra outras jovens artistas como Corinne Bailey Rae e India Arie. Gostei muito do álbum “Secret garden”, de 2006 – algumas canções, inclusive, me lembram algumas do álbum “Mind, body and soul”, de Joss Stone. Aliás, já que falei nele...






- Joss Stone
O único álbum que conheço de Joss é o segundo, “Mind, body and soul”, e eu o adoro! Em geral, é bem pop, com notáveis influências da black music sessentista, soul music e até reggae (como em “Less is more”). A minha favorita é “Torn and tattered”, mas não posso deixar de citar “Jet lag”, “Killing time”, “Right to be wrong” (fez sucesso no Brasil), “Snakes and ladders”, Don’t you wanna ride” e “Understand”.


- Jessie J e Pixie Lott
Nem sei se é correto citar estas duas jovens cantoras nesta ocasião, pois que a música que elas fazem é propriamente pop, mas há evidentes traços de black music em suas obras – a começar pelas vozes potentes e rasgadas das moças. Se alguém tem alguma dúvida disso, sugiro que escute “Casualty of love”, de Jessie J, e “Cry me out”, da Pixie.





Dois outros artistas que têm feito black music de qualidade são o rapper B.o.B. e a cantora Teedra Moses, que canta um rhythm and blues bastante gostoso – entretanto, a intenção era apenas mencionar os artistas que trazem de volta aquela agradável sensação que temos ao ouvir clássicos como “Will you love me tomorrow”, “What’s going on”, “Chain of fools”, “My girl”, “Stop in the name of love”, e tantos outros que fizeram história!

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