Eis que, na segunda feira (19/09), foi ao ar nos Estados Unidos o primeiro episódio da nona temporada da popular e divertidíssima série "Two and a half men", também o primeiro com a ausência de Charlie Sheen, ator que interpretava o papel do protagonista. As expectativas eram altíssimas, pois grande parte dos fãs considerava Charlie (o personagem é homônimo do ator) a alma da série, e não apostava que Ashton Kutcher (novo ator contratado) pudesse suprir o vazio que ele deixaria.
Pois bem, o episódio rendeu à série a sua maior audiência de todos os tempos; por outro lado, de fato, muitos dos fãs e telespectadores ficaram insatisfeitos, e ecoam por toda a Internet lamentos de "não tem graça sem o Charlie", "a série nunca mais será a mesma" e afins.
Particularmente, adorei o episódio. Dei muitas risadas. O novo elo acrescido à trama casou bem, Ashton fez bem seu papel, trabalhou com competência e, se tudo continuar no mesmo ritmo, o espaço deixado pela ausência do protagonista será facilmente ocupado por outras situações novas, tão engraçadas quanto as que envolviam-no, porém, sem a pretensão de querer fazer com que tudo pareça uma nova versão do que se foi.
Em suma, posso dizer que o novo "Two and a half men" ainda é o velho "Two and a half men", apesar de realmente dimanar aquela sensação de que Charlie irá aparecer a qualquer momento. Porém, o fato de um episódio ter funcionado (olhem bem, não estou dizendo que foi um episódio melhor, disse apenas que funcionou) sem ele é uma prova de que a grande graça está mesmo na própria essência da série, e não em um ou outro personagem especificamente, embora as particularidades de cada personagem contribuam fundamentalmente para o sucesso de tudo. É, ainda, uma prova do talento dos roteiristas da série, responsáveis pelos diálogos rápidos e inteligentes e as piadas gozadíssimas que todos os telespectadores adoram.
Devo dar créditos também ao talento de Jon Cryer, ator que representa Alan Harper. Recairá sobre ele a responsabilidade de manter o interesse dos fãs menos otimistas com o futuro da série, e acho que ele se sairá extremamente bem neste papel.
E, falando em responsabilidade, devo ainda dizer que admiro Ashton Kutcher pela coragem de ter aceito este encargo. Certamente ele está embolsando uma generosíssima quantia por isto, mas ainda assim, não se pode negar que trata-se de uma responsabilidade e tanto. Telespectadores do mundo inteiro criaram enormes expectativas em torno dele. É preciso muita coragem e humildade para aceitar estar nesta posição e ter tantas pessoas julgando-no, e algumas até mesmo torcendo por seu fracasso.
Entretanto, não foi, a meu ver, um fracasso. Gostei do que vi, e não fiquei surpresa em ter gostado do episódio. Não nego que senti falta de Charlie, mas sentir falta é diferente de sentir saudade (como uma frase deste tipo seria traduzida para o inglês?). O que sempre me encantou em "Two and a half men" - já disse isso antes aqui no blog - foram justamente o humor, as tiradas cômicas, o contexto.
Devo dar créditos também ao talento de Jon Cryer, ator que representa Alan Harper. Recairá sobre ele a responsabilidade de manter o interesse dos fãs menos otimistas com o futuro da série, e acho que ele se sairá extremamente bem neste papel.
E, falando em responsabilidade, devo ainda dizer que admiro Ashton Kutcher pela coragem de ter aceito este encargo. Certamente ele está embolsando uma generosíssima quantia por isto, mas ainda assim, não se pode negar que trata-se de uma responsabilidade e tanto. Telespectadores do mundo inteiro criaram enormes expectativas em torno dele. É preciso muita coragem e humildade para aceitar estar nesta posição e ter tantas pessoas julgando-no, e algumas até mesmo torcendo por seu fracasso.
Entretanto, não foi, a meu ver, um fracasso. Gostei do que vi, e não fiquei surpresa em ter gostado do episódio. Não nego que senti falta de Charlie, mas sentir falta é diferente de sentir saudade (como uma frase deste tipo seria traduzida para o inglês?). O que sempre me encantou em "Two and a half men" - já disse isso antes aqui no blog - foram justamente o humor, as tiradas cômicas, o contexto.
O trunfo da série é o próprio enredo, que dá ensejo a situações engraçadas; são as próprias situações. Não é só Charlie, só Alan, ou só Jake; mas todos os personagens; todas as situações, tudo. Em um contexto propício, as piadas vêm de todos os lados, e não só do grande protagonista.
Curioso atestar que, em todas as redes sociais e sites de críticas de séries, a maior parte das pessoas que se mostram frustradas com a ausência de Charlie é composta de homens. A maioria dos comentários pessimistas, dizendo que a série está chata e nunca mais será boa como foi, parte de homens. É compreensível. Charlie representava tudo aquilo que um homem gostaria de ser: levava uma vida tranquila, tinha uma casa na praia e nunca lhe faltavam parceiras sexuais. Bebida e mulheres eram seu passatempo e seu vício, e ele nunca se sentia culpado ou envergonhado de ser o que era. Charlie era "o cara", na visão dos telespectadores masculinos. Uma vez ele estando ausente, estes telespectadores sentiram-se praticamente órfãos: onde está o grande Charlie, o ídolo?
Os homens querem ser Charlie. Identificavam-se com "Two and a half men" porque viam em Charlie tudo aquilo que eles sonham ser. Agora que Charlie não se faz mais presente, perderam o elo de identificação e de afinidade com a série.
Tanto isto é verdade que, por volta da sétima e da oitava temporada, em que Charlie mostrava-se um pouco mais sentimental e até filosófico a respeito de si mesmo e do seu próprio estilo de vida, os fãs homens passaram a gostar um pouco menos dele. Preferem-no bonachão, "fodão", bêbado e rodeado de mulheres.
E por falar em mulheres, percebi que elas foram mais receptivas a Walden, personagem de Ashton Kutcher. Claro que o fato de ele ser muito bonito influencia, todavia, creio também que os outros fatores são: não ter tantos motivos para sentir falta de Charlie (conforme dito nos parágrafos anteriores, os homens é que terão motivos para tal); e o fato de o novo personagem ser um homem que possui sentimentos e expressa-os.
A idéia de um personagem romântico e sensível agrada as fãs mulheres, mas constitui também o oposto exato de Charlie, ou seja, é tudo que os fãs homens não querem ver. Sobretudo quando o personagem já chega na série sofrendo por uma mulher, o que aumenta nos indivíduos do sexo masculino a sensação de "perderam seu herói", e, pior ainda, perderam-no por um homem que se deixa pisar pela garota que ama. Certamente os telespectadores masculinos de "Two and a half men" não terão mais um personagem a quem possam venerar. Em contrapartida, as telespectadoras femininas devem afeiçoar-se a Walden.
Resta saber se esta fração feminina será suficiente para manter a popularidade da série, da qual depende a própria sobrevivência da mesma.
Entretanto, independente do gênero do telespectador, agradaria-me que assistisse a nova temporada com uma cabeça mais aberta. Toda série necessita de um pouco de renovação às vezes, e a própria "Two and a half men" deve ser vista com novos olhos porque não pode mais ficar atada a preceitos que pertenciam à sua premissa original - Jake, por exemplo, sequer se encaixa no conceito de "half men", pois já é um homem feito. Por que não, então, tentar aceitar que a nona temporada terá elementos novos, e simplesmente divertir-se com isto? Afinal, embora muito tenha mudado com a saída de Charlie, "Two and a half men" não deixou de ser uma série de comédia; ou seja, a sua essência continua a mesma.
Um comentário:
Ótima análise, Ana! Não tinha percebido que os reclamões são na maioria homens. Eu mesma não gostava da repetição de relacionamentos passageiros de Charlie. Mas entendo quem não gostou: se Sheldon saísse de The Big Bang Theory, por exemplo, eu ficaria frustrada e talvez deixasse de acompanhar, pois é com ele que me identifico. Espero que Ashton dê vida nova à série. Vou conferir a nova temporada, mas pelo visto nem a Warner está confiante: vai estreá-la três semanas depois da vola das comédias de maior sucesso.
Beijos,
Lê
Postar um comentário