Em um momento nostálgico nas férias do fim do ano passado, lembrei-me do seriado "Time of your life" e escrevi sobre esta lembrança em um texto aqui no blog. Lamentei por não conseguir ter acesso aos episódios, pois não há links para download na Internet, e tampouco DVDs para serem comprados.
Qual não foi a minha surpresa e alegria quando soube, há três semanas atrás, que o canal Sony Spin está reexibindo "Time of your life"! Eu já havia perdido todas as esperanças, já estava quase decretando que teria que viver o resto da vida com apenas algumas pequenas e insuficientes recordações dos dramas de Sarah Merrin.
A série tem apenas uma temporada, com 19 episódios. Assisti praticamente todos, agora nas últimas semanas. Não tinha noção de que era tão boa! Quando foi exibida pela primeira vez, no ano 2000, pelo canal Sony, eu assisti a poucos episódios. A série me cativou à primeira vista, justamente por ser do meu gênero favorito: o drama. É exatamente o estilo de série que me agrada: intensa, sentimental, cheia de diálogos reflexivos, céus nublados, ruas lotadas de pessoas tentando encontrar um sentido na vida, amores e amizades nascendo e morrendo em uma cidade onde cada um é só mais um.
Por que não deu certo? Eu lamento tanto que tenha durado apenas uma temporada. Pelas minhas pesquisas, o público dos Estados Unidos não recebeu bem a série, a despeito de todo o frenesi que Jennifer Love Hewitt causava naquela época.
Sim, ela foi a namoradinha da América no final dos anos 90. Com seu rostinho lindamente angelical e aquele sorriso que fazia os olhos brilharem apertadinhos, era de se esperar que um seriado estrelado por ela, no qual ela representava o mesmo papel que representou em "Party of Five", atraísse a audiência. Porém, não foi assim... E eu sinceramente não consigo entender por quê. Não há em "Time of your life" nada que não também não se veja em outros dramas juvenis que fizeram sucesso nos anos 90, como "Felicity", "Dawnson's Creek", "Jack and Jill" e o próprio "Party of Five".
(SPOILERS A PARTIR DE AQUI)
Mas enfim... "Time of your life" mostra a trajetória da jovem Sarah Reeves Merrin, que deixa sua cidade e vai morar no antigo apartamento da mãe, em Nova York, para procurar seu pai. Ao longo dos 19 episódios (dos quais apenas 12 foram exibidos nos Estados Unidos, e nós brasileiros temos a felicidade de ver a temporada integralmente no Sony Spin), ela faz novos amigos, apaixona-se, decepciona-se, tenta ser cantora, tenta dar certo em vários empregos, tenta se adaptar à agitada Nova York... Várias vezes ela acerta, várias vezes ela erra, e no fim das contas, a temporada termina sem que ela tenha muita certeza a respeito de nada.
É interessante ver as peculiaridades notáveis da transição 1990-2000 estão presentes na série: a expansão da tecnologia e a familiarização com a Internet (o episódio em que Sarah é apresentada ao bate papo virtual é impagável), o medo do bug do milênio (há um episódio todo dedicado ao fatídico reveillón da virada 1999-2000... Como éramos bobos de achar que o mundo poderia até acabar!).
Destaque-se ainda todos os outros conflitos típicos do início da vida adulta: a ânsia de independência (nos episódios finais, Sarah tenta abrir seu próprio negócio; antes, Maguire e J.B. tentam fazer carreira como DJs), a luta pelo sucesso e pelo reconhecimento (Romi sonha em ser atriz), ou mesmo a busca da própria identidade profissional...
Destaque-se ainda todos os outros conflitos típicos do início da vida adulta: a ânsia de independência (nos episódios finais, Sarah tenta abrir seu próprio negócio; antes, Maguire e J.B. tentam fazer carreira como DJs), a luta pelo sucesso e pelo reconhecimento (Romi sonha em ser atriz), ou mesmo a busca da própria identidade profissional...
É bom acompanhar Sarah e seus amigos, arriscando, amadurecendo, procurando respostas para seus questionamentos, tentando dar certo, tentando ser alguém, ou ainda, acima de tudo, tentando descobrir quem são.
Ao fim do já citado décimo episódio, Sarah lê um poema de Robert Frost, sobre fazer escolhas. O poeta diz que escolheu a estrada menos usual, e isso faz toda a diferença. Creio que estes versos também dizem muito sobre os personagens de "Time of your life".
"Dois caminhos saem da floresta
E eu escolhi o menos utilizado
E isso fez muita diferença"
É uma pena que a série tenha sido cancelada tão prematuramente. Eu adoraria saber como a turma de Sarah se virou, o que eles fizeram, no que eles se tornaram.
Uma triste coincidência é que o fim da série marcou também o início de uma fase em que Jennifer Love Hewitt deixou de ser a queridinha do público jovem, e séries como "Time of your life" foram, pouco a pouco, deixando de ganhar espaço nas programações durante os anos 2000.
Assistir ao último episódio de "Time of your life" deixa-nos com um vazio no peito. A sensação que fica é que tudo valeu a pena, os sofrimentos dos personagens foram necessários, os altos e baixos deixaram lições, mas ainda assim, parece que o fim não era aquele. Ainda havia muito a ser vivido, aprendido, conquistado, experimentado, tentado.
Sarah, Romi, Cecilia, Joss, Maguire e J.B. ainda não tiveram "o tempo de suas vidas" (engraçado observar que, no linguajar brasileiro, não existe uma expressão equivalente à expressão americana "time of your life"; nenhuma tradução chega perto do que realmente significa: "time of your life" quer dizer algo como o momento da sua vida, a ocasião pela qual você sempre esperou, os instantes que podem definir toda uma vida). Não devia ter acabado daquele jeito.
Sarah encontrou seu pai, mas não encontrou a si mesma. Romi conseguiu um pouco de prestígio, mas ainda não alcançou o posto que merece e pelo qual sempre lutou. Cecilia e Joss continuaram seguindo seus caminhos, sem definir nada, sem saberem exatamente o que querem da vida. Maguire voltou para o início, não ganhou nada, não conseguiu nada além do que sempre teve. E J.B. foi o que acabou pior, pobre coitado. Em suma, após tantos percalços, nenhum deles realmente obteve êxito em sua jornada de autoconhecimento.
É como na vida. Era de se esperar que o final feliz não caísse do céu. A vida é difícil. Crescer é difícil. Conquistar seu espaço é difícil. É essa a mensagem que fica.