domingo, 29 de julho de 2012

Fé prática

Não estou esperando pelo impossível. Não estou exagerando no otimismo, tampouco pedindo um milagre, mesmo porque não acredito em milagres: acredito em coisas que podem acontecer (ah, possibilidade é uma palavra vaga mas muito poderosa), ainda que as circunstâncias e estatísticas apontem para o contrário - "não há nenhum sentido em usar a palavra 'impossível' para descrever algo que já aconteceu uma vez", disse Douglas Adams; e se já aconteceu uma vez, por que não pode acontecer de novo? Por que não pode acontecer comigo?

Não é só uma questão de fé; mais que isso, é uma questão de lógica. Se a possibilidade existe, não há porque não considerar que ela pode se concretizar. O que é possível, é possível; e se pode acontecer, é porque talvez aconteça. Que mal há em crer que pode? Sou suficientemente confiante para crer de verdade que o melhor pode sim vir a acontecer; sou suficientemente prática para crer que o difícil é possível; e tenho suficiente amor próprio para crer que eu posso merecer este possível. Por que não? Não sou eu quem sabe. Não tenho as respostas para todos os questionamentos, não tenho certeza nenhuma das coisas às quais faço jus; mas de uma coisa tenho certeza: as possibilidades existem. Se existem, pode ser que eu as mereça e as alcance. É preciso ser muito derrotista para crer que o 'talvez' não é algo positivo. 

O 'não' só é 'não' quando não é mais possível buscar o 'sim'. Enquanto houver chance, há chance. Enquanto não chegar o fim, há sempre a possibilidade de um 'sim'. Ter esperança é uma questão muito prática; eu diria que é quase matemática, pois trata-se de probabilidades: se existe uma boa, ainda que uma única, umazinha sequer, então ainda não se pode falar em fracasso. Afinal, se existe, pode ser que aconteça. Eu não tenho ilusões, não sonho, não fantasio sobre um futuro melhor: eu creio, porque sei que é possível.  "Saber não ter ilusões é absolutamente necessário para se poder ter sonhos", é o que Pessoa me diria agora (e disse, no Livro do Desassossego). 

Eu não acredito em milagres: acreditar em milagres é não crer que Deus é perfeito. Acredito nas razões que movem o mundo, acredito no engenho Divino, acredito em um sistema perfeito que rege o Universo e a humanidade. Tudo que é possível, o é nos conformes deste sistema. E se ele permite, por que eu descartaria esta possibilidade?

"Nada no Universo se produz fora do âmbito das leis gerais. Deus não faz milagres, porque, sendo, como são, perfeitas as suas leis, não lhe é necessário derrogá-las" (capítulo 13 de "A gênese", por Allan Kardec).

São nestes argumentos que eu me entrego... Okay, okay, um texto sobre esperar pelo melhor não deveria ser tão técnico e frio. Eu me rendo: espero pelo melhor porque tenho fé. Acredito que as coisas podem dar certo porque acredito em Deus. Tenho confiança na melhora porque sinto, de verdade, que ter esperança vale a pena. E apesar de todos os pesares, o desânimo não me contamina, porque minha vida é preciosa demais para ser consumida com tristeza enquanto eu ainda não tiver certeza de que devo ficar triste.



"Melhor viver, meu bem, pois há um lugar onde o sol brilha pra você...
("Felicidade", Marcelo Jeneci e Laura Lavieri)

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