domingo, 16 de dezembro de 2012

Conexões surreais

Há tempos atrás eu me flagrei perguntando a mim mesma se estaria procurando significados demais em tudo que está me acontecendo, e cheguei à conclusão de que estava sim. Mas então eu reflito ainda: se mesmo por trás de cada pequenina coisa na vida há um significado, o que dizer de um amontoado de coincidências?

Não existem coincidências. Deus é sábio demais e ele coloca sua sabedoria em ação a cada vez que permite que algo aconteça em nossas vidas; e quando uma série de coisas aparentemente conectadas começam a surgir, então não há dúvidas: há realmente uma conexão, não é mera coincidência, não é só uma casualidade desarrazoada tentando nos iludir, não é uma brincadeirinha que o acaso está fazendo conosco, até porque o acaso não existe.

Pode soar insano (eu não me importo), mas tudo isto tem me feito acreditar que faço parte de algo maior que estes eventos aparentemente simples mas que com toda a certeza estão interligados por alguma razão que eu ainda não estou preparada para conhecer. Deus há de me mostrá-la, quando for o momento certo; mas, pelo menos por enquanto, estou gostando muito desta sensação.

Não é a primeira vez que desconfio de que algo maravilhoso está prestes a me acontecer, mas desta vez é diferente, é real demais. Nunca foi tão real. Estou ainda muito longe daquilo que acho que me aguarda, mas ao mesmo tempo, nunca estive tão perto. Nunca me pareceu tão possível. São evidências demais, fatos demais, coincidências demais. E uso novamente a palavra 'coincidência' por pura ausência de outra que se refira a uma série de acontecimentos tão conectados que até parece terem sido moldados exatamente para me fazer acreditar no significado que há por trás deles. Até parece que Deus está sutilmente despejando na minha vida essas inocentes pecinhas de quebra cabeça, especialmente para que eu me entretenha e me emocione com cada uma delas e para que eu as vá juntando pouco a pouco. E quem disse que ele não está mesmo?

Sinto que o universo inteiro está tentando me dizer alguma coisa, e a mim só resta pedir a Deus compreensão e sensibilidade para detectar qual é. Pode parecer invenção, ilusão, loucura; pode até ser que eu esteja deslumbrada e que isso esteja me fazendo ver significados demais onde não há ou há poucos; mas não, simplesmente não posso ignorar os sinais. São coisas que vêm exatamente a tempo, frases que me são ditas na hora certa, acontecimentos que surgem justamente no contexto propício para fazê-los parecer transmissores de uma mensagem... Tudo tem caído tão bem... E é tudo tão sugestivo. Sempre fui o tipo de pessoa que reflete demais, imagina demais, mas desta vez é sério: desta vez, tenho suficientes e significativas razões para acreditar que isto tudo é muito especial. 

É tudo tão engraçado que chega a ser louco, tão louco que chega a ser surreal, mas é tão surreal que nem há como ser engraçado. A sucessão destes pequenos e aparentemente aleatórios eventos é impressionante demais para ser uma piada. Não há como não acreditar que eles não estejam ligados, porque o ponto de intersecção entre eles é demasiado sugestivo. A conexão que eu acredito que existe se dá uma forma muito intrigante, pois inicialmente me parece mera sorte, mas depois que se passa algum tempo e passa também a euforia do momento, eu paro para raciocinar e consigo ter um princípio de noção sobre o verdadeiro propósito de tudo. Parece-me um pouco estranho, pois nem sempre as minhas ações surtem os resultados esperados, mas às vezes sim, e outras vezes, porém, as reações externas surgem da forma mais inesperada e incompreensível. Por um segundo, eu vibro; no segundo seguinte, eu acho estranho e questiono; e minutos ou horas ou dias depois, eu entendo. E aí eu me lembro que não acredito em sorte nem em coincidências, pois estou certa de que tudo na vida possui uma razão de ser. 

Não existe sorte, nem azar, nem coincidências, nem casualidades, nem acaso; em suma, nada existe que seja aleatório, randômico ou insignificante. Deus fala conosco por meio dos eventos, Ele manifesta seus propósitos por meio das pessoas que coloca em nossa vida, Ele nos transmite mensagens até mesmo por meio das menores coisas do nosso dia a dia. Podemos nos esforçar em tentar decifrar o enigma para compreender qual é a grande ideia por trás de tudo isso, mas devemos, antes e outrossim, ter paciência, com a certeza de que o que tiver que acontecer, vai acontecer, na hora e contexto certos. Seja lá o que Deus esteja tentando me dizer, eu vou entender, quando for o meu momento de entender; e se é que há algo deveras grandioso prestes a me acontecer, vai acontecer, quando chegar o momento adequado.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Não desperdicemos o amor!

Não desperdice o amor... Não perca a oportunidade de compartilhar a alegria... Não deixe aprisionado dentro de você o sentimento positivo, seja ele qual for. 

É egoísta e ilógico pensar que os bons sentimentos existem somente para nos fazerem felizes. Isso não faz nenhum sentido. O amor age de forma encadeada: você tira ele de dentro de si e o espalha por onde passa, e depois a vida se encarrega de trazê-lo de volta a você. Toda a energia que você transmite, você recebe de volta. E o amor é a energia mais poderosa que existe.

O amor é o mais forte conector de mentes. Quando alguém ama de verdade, pouco importa se a pessoa amada também o ama e tampouco se ela ao menos sabe de sua existência: o amor atinge seu destino e toca a vida da pessoa, ainda que naquele momento ela desconheça a origem das energias que passam a envolvê-la. A função do amor é essa.

Às vezes, sem que entendamos o porquê, sentimo-nos invadidos por uma onda de positividade, e os sentimentos bons nos abraçam e parecem fazer-nos enxergar tudo à nossa volta com olhos melhores. O mesmo acontece com os sentimentos negativos, infelizmente. Todos os sentimentos, bons ou ruins, são capazes de nos afetar, tudo conforme quão forte se encontra o nosso espírito ou quão resolutos estamos para aceitar ou não essas energias que chegam até nós. Portanto, quando a primeira situação nos acometer, é a ela que devemos dar mais atenção. Não podemos desperdiçar esses momentos. 

Seja qual for o verdadeiro motivo de o sentimento de paz e amor apossar-se de nós, peçamos a Deus que nos ajude a extrair dele o seu melhor, que nos ajude a tirar bom proveito disso. Somos ainda muito humanos e pouco perfeitos para entender as forças que regem a natureza e o mundo à nossa volta, mas somos suficientemente inteligentes para sabermos aproveitar a força do amor. E quando ela chega, deve ser compartilhada, porque é isso que move o mundo: o amor passa de um primeiro indivíduo para um segundo, e deste para outro, e mais outro, e assim sempre, em uma grande corrente, que inevitavelmente trará de volta para o primeiro um amor muito maior do que aquele que ele enviou a princípio.

E é esse mesmo amor que nos dará suporte para não nos deixarmos derrubar pelos sentimentos negativos, quando eles vierem. O amor constrói fortalezas que o tempo e o mal não destróem, porque uma vez que o amor inunda o espírito de uma pessoa, esta pessoa se torna forte o bastante para enfrentar qualquer batalha. 

É evidente que o desamor, a violência, o orgulho e o egoísmo podem criar e causar coisas horríveis, mas isto só ocorre nas vidas das pessoas cujo coração não está suficientemente abastecido de amor. Que mais é o mal senão a própria ausência do bem? Deste modo, o mal é fraco porque até na sua essência está o bem: o seu antídoto está em si próprio, e uma vez que o bem é resgatado, ele mata o mal e nada mais resta senão o amor. 

Por todos estes motivos é que o amor não deve ser desperdiçado. O amor é um convite de si próprio. Ser amado é ser convocado, e receber amor é uma oportunidade de usar esse amor para fazer e construir coisas incríveis. O amor, quando invade uma pessoa, precisa sair dela e encontrar outros indivíduos. O amor que toca dentro da alma e dela não sai, é porque fica aprisionado no egoísmo que encontrou dentro dela, e então ele perde seu sentido e deixa de atingir seu objetivo. 

Ter a chance de usar o amor a favor das pessoas à nossa volta é algo tão grandioso quanto qualquer outra grande ação realizada por qualquer celebridade, autoridade internacional ou super herói. Todos nós podemos ser heróis, podemos salvar vidas, porque é isso que o amor faz: o amor salva, cura, alivia, promove e transforma. Um sorriso, um olhar, um toque ou uma simples palavra podem ser suficientes para mudar a vida de alguém. 

Em suma, o amor é algo supremo demais para ficar aprisionado na nossa pequenez enquanto seres humanos. O amor é nossa chance de nos fazermos maiores do que realmente somos, por isso devemos aproveitá-lo, distribuí-lo, e agradecer a Deus por essa dádiva. 


"Acredita no amor e vive-o plenamente.
Qualquer expressão de afetividade propicia renovação de entusiasmo, de qualidade de vida, de metas felizes em relação ao futuro.
O amor não é somente um meio, porém o fim essencial da vida.
Emanado pelo sentimento que se aprimora, o amor expressa-se, a princípio, asselvajado, instintivo, na área da sensação, e depura-se lentamente, agigantando-se no campo da emoção.
Quando fruído, estimula o organismo e oferece-lhe reações imunológicas, que proporcionam resistência às células para enfrentar os invasores perniciosos, que são com batidos pelos glóbulos brancos vigilantes.
A força do amor levanta as energias alquebradas, e torna-se essencial para a preservação da vida.
Quando diminui, cedendo lugar aos mecanismos de reação pelo ciúme, pelo ressentimento, pelo ódio, favorece a degeneração da energia vital, preservadora do equilíbrio fisiopsíquico, ensejando a instalação de enfermidades variadas, que trabalham pela consumpção dos equipamentos orgânicos...
Situação alguma, por mais constrangedora, ou desafio, por maior que se apresente, nas suas expressões agressivas, merecem que te niveles à violência, abandonando o recurso valioso do amor.
Competir com os não-amáveis é tornar-se pior do que eles, que lamentavelmente ainda não despertaram para a realidade superior da vida.
Amá-los é a alternativa única à tua disposição, que deves utilizar, de forma a não te impregnares das energias deletérias que eles exalam.
Envolvê-los em ondas de afetividade é ato de sabedoria e recurso terapêutico valioso, que lhes modificará a conduta, senão de imediato, com certeza oportunamente.
O amor solucionará todos os teus problemas. Não impedirá, porém, que os tenhas, que sejas agredido, que experimentes incompreensão, mas te facultará permanecer em paz contigo mesmo.
É possível que não lhe vejas a florescência, naquele a quem o ofertas, no entanto, a sociedade do amanhã vê-lo-á enfrutecer e beneficiar as criaturas que virão depois de ti. E isto, sim, é o que importa.
Quando tudo pareça conspirar contra os teus sentimentos de amor, e a desordem aumentar, o crime triunfar, a loucura aturdir as pessoas em volta, ainda aí não duvides do seu poder. Ama com mais vigor e tranqüilidade, porque esta é a tua missão na Terra: amar sempre.
Crucificado, sob superlativa humilhação, Jesus prosseguiu amando e em paz, iniciando uma Era Nova para a Humanidade, que agora lhe tributa razão e amor."

(Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Pereira Franco, do livro Momentos Enriquecedores)

Inseguranças infundadas



Meses e meses de uma porção de coisas que nos levam a crer em algo, e depois, então, apenas alguns segundos já são capazes de fazer-nos deixar de acreditar. Por que somos tão inseguros? Passamos enorme tempo e despendemos imensa energia construindo nossos refúgios, e ao mínimo sinal de tempestade, já receamos que tudo desmorone. Por que tanta insegurança? Por que nossas crenças são tão fracas? Qualquer indício contrário às coisas que dão sentido à nossa vida é superestimado em detrimento de todas estas mesmas coisas que, por si sós, já deveriam ser suficientes para não deixar que nada abale nossa fé. Por quê?

Provavelmente esta insegurança nada mais é que uma constante necessidade de reafirmação... Pois a verdade é que todas as coisas que construíram minha crença estão no passado. Por mais que seja um passado não muito distante, mas ainda assim, é passado... E eu adoro viver de passado, mas não posso. Tudo muda a todo momento, e muita coisa pode mudar em apenas uma passagem de segundo, então fica difícil acreditar que o que ontem significava tanto continue significando ainda hoje, mesmo depois de passado algum tempo. 

Mas eu não posso me deixar vencer por um sentimento tão infundado... Simplesmente não há lógica em pensar que monumentos edificados com tanto amor e arduidade possam ser arruinados por uma ridícula brisa de negatividade. É verdade que meus tijolinhos foram empilhados há algum tempo, mas formaram uma base sólida e isso não poderá ser derrubado tão facilmente. Será preciso muito mais que algumas palavras e energias negativas para destruir o que o tempo, o amor e o esforço construíram. 

Eu vou me ater ao valor de todas as pequenas coisas que me levaram a pensar que tudo isso vale a pena, porque sei que, por menos significativas que elas pareçam se analisadas isoladamente, o fato é que juntas elas formaram algo grandioso, e sendo assim, tornaram-se grandes também. Porque tudo que faz parte de um todo é tão forte e importante quanto ele. 



"Há momentos em que se imiscuem, no sentimento do combatente, emoções desconcertantes.
(...) Tem cuidado com esse tipo de fobia em relação ao presente, ao futuro, e aos que te cercam.

(...) Ergue-te em pensamento a Deus e nEle confia. 
Somente acontece o que é necessário para o progresso do homem, exceto quando ele, irresponsavelmente, provoca situações e acontecimentos prejudiciais, por imprevidência e precipitação.

Cultivando o otimismo e a paz, avançarás no teu dia a dia, vencendo o tempo e poupando-te aos estados de insegurança íntima, porque estás sob o comando de Deus."

(Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Pereira Franco, extraída do livro Episódios Diários)

domingo, 9 de dezembro de 2012

O que temos e como lidamos

De alguma forma, eu consegui isso, cheguei até onde estou agora... Há uma razão, com toda a certeza, embora eu ainda a desconheça. De alguma forma, por algum motivo, eu mereço isso.

Tudo na vida depende da forma como você lida com as coisas. Ou melhor: depende da forma como você decide lidar com as coisas. Nada é por acaso, nada na vida é fortuito, nem mesmo os pensamentos ou os sentimentos, por mais que insistamos em pensar que não temos controle sobre eles. E uma vez que decidimos lidar com as situações de forma sensata e positiva, conseguimos ter uma pequena e introdutiva noção das razões por trás de tudo que nos acontece.

Hoje eu decidi dar mais atenção a tudo que já conquistei, em vez de ficar obcecada com tudo que ainda quero ter e ainda não consegui. Analisando as coisas sob esse prisma, chega a parecer ridícula a maneira como tantas vezes já me fiz sofrer pelas realizações não alcançadas, pelas palavras não escutadas, pelos esforços não reconhecidos... Não tenho tudo que quero, é verdade, e também não tive tudo que achei que merecia; mas tive exatamente o que merecia, pois é assim que a vida e a justiça divina funcionam. 

E, caso alguém queira saber, o que tive não é pouco... Ainda não estou satisfeita, seguirei lutando por mais, mas ao menos não mais lamentarei por achar que tenho pouco. A verdade é que tenho muito mais do que a maioria, então de quê posso reclamar? 

Se eu acreditasse em sorte, diria que sou muito sortuda; se eu acreditasse em privilégios, diria que sou uma das pessoas mais privilegiadas do mundo... Mas não acredito em nada disso. Acredito em merecimento, em ação e reação, em causa e efeito. Acredito em esforços recompensados, em sementes que dão frutos, em empenhos que surtem resultados. Acredito também em razões perfeitas que estão muito além daquilo que os seres humanos podem compreender, acredito na arquitetura de Deus. 

Com base em tudo isso, só posso concluir que há um motivo maior por trás de tudo isso que está me acontecendo. Eu estou tendo o que mereço, e se eu optar por usar a lente da positividade, verei que sou uma grande merecedora, porque o que estou tendo é absolutamente maravilhoso. Não posso reclamar. Posso, isso sim, querer mais e lutar por mais. Pensando bem, o simples fato de eu estar lúcida a respeito da grandiosidade desta situação já é, por si só, um excelente combustível para me motivar a aspirar por mais. 

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

A realidade e a fantasia

Às vezes, quando a vida real não te agrada tanto quanto você gostaria, você se refugia no seu mundinho de fantasias... Mas, quando nem mesmo as fantasias têm sido capazes de trazer algum tipo de satisfação, é hora de tentar buscar refúgio na realidade.

Só não fique iludindo a si mesmo, tirando suas próprias conclusões sobre coisas que poderiam ter acontecido ou sobre o que poderiam ter significado... Não existe nada além do que realmente existe. Não se deixe enganar pela forma como tudo isso tem afetado sua cabeça. 

A vida real pode ser bem legal se você não esperar tanto dela, e pode trazer alegria verdadeira se você se dispuser a aceitá-la como é e lutar para que seja melhor. Mas, para isso, primeiro é necessário que você decida vivê-la efetivamente. 

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Amor verdadeiro

"So where do we go from here? And where can love take us?"
('Crawl', Chris Brown)



O que posso fazer, na situação em que estou? Tenho apenas um caminho e ele não me leva a lugar nenhum. Só tenho o sentimento, e por mais forte que ele seja, não é forte o suficiente para estabelecer uma conexão. É, ainda, uma via de mão única. De nada adianta sentir, se o sentimento fica aprisionado dentro do recipiente, incapaz de atingir seu alvo, como uma bala que não pode sair da arma, como um avião que não pode levantar vôo porque de antemão já sabe que não terá onde pousar.

É a própria razão quem me ensina que o amor é o mais poderoso de todos os sentimentos... Então, por que esse mesmo amor parece tão impotente? Qual o sentido de amar se o amor não pode alcançar aquilo que se ama?

...


"Quem ama se depara com a impotência da ação transformadora do próprio amor, quando as situações permanecem, quando as respostas demoram, quando as frustrações acumulam. Mesmo assim, quem ama não desiste de amar e não entende que está jogando fora seu amor.
 É por isso que o amor precisa suportar tudo, sofrer tudo, esperar e manter a fé. Quem ama, suporta dores, cansaço, desânimo, forças contrárias. Quem ama, sempre espera pelo melhor, espera mais uma vez, não desiste."
(Alexandre Robles. Fonte: http://www.alexandrerobles.com.br/o-amor-impotente/)


O amor verdadeiro não é egoísta. Amar verdadeiramente não é esperar amor em troca; é amar na maior proporção em que se pode amar. Quando o desejo de ser também amado é maior que a resolução de dar o máximo de amor possível, então não se trata de amor verdadeiro; trata-se do amor egoísta, interesseiro, que mais tem a ver com carência que com amor propriamente dito.

Provavelmente, é esta a razão pela qual tantas pessoas sofrem por amor. Não é o amor que machuca: é aquilo que nós esperamos que ele seja, que ele traga, que ele mude em nossas vidas. O amor não faz mal, amar não faz sofrer... Sofremos porque esperamos coisas demais do amor, quando a verdade é que a única coisa que o verdadeiro amor espera é que o ser amado seja feliz e melhore a cada dia, a única coisa que o verdadeiro amor deseja é o bem daquele que ama, o único objetivo do verdadeiro amor é fazer o bem.

Amar é doar, é vibrar, é dar, é sentir. O fato de a pessoa amada não corresponder ou não valorizar isto não torna o amor menos completo. O amor enquanto sentimento não requer reciprocidade. A reciprocidade é pressuposto de uma relação amorosa, mas não do amor.

Eu compreendo estas explicações, mas ainda não consigo incorporá-las... É muito difícil aceitar que um sentimento tão forte seja capaz de agir e transformar mesmo quando despercebido por quem o fez nascer.

Não duvido da força do amor. Ainda que o objeto do meu amor desconheça as minhas vibrações e pensamentos a ele dedicados, estou convicta de que não amo em vão. Uma vez que o amor se converte em energias positivas direcionadas a quem se ama, ele cumpre seu propósito... Só não sou suficientemente abnegada a ponto de contentar-me com isso, e creio que isto quer dizer que não amo de verdade, ou que o amor que sinto está ainda em um estágio muito primitivo e que talvez um dia se torne um amor real, mas por enquanto está ainda muito apinhado de outros sentimentos menos nobres... Um deles é a necessidade de aprovação e autoafirmação.

A partir do momento em que você exige que o sentimento seja mútuo, o que você realmente quer é alimentar o próprio ego, é provar para si mesmo que você é digno de amor e que merece a atenção e o carinho da pessoa amada. Você projeta estas necessidades na pessoa e espera que ela te dê o que você quer e te diga o que você quer ouvir... E isso não é amor. Ou, pelo menos, não é um amor puro; é um amor desvirtuado, ou disfarçado de egoísmo, narcisismo, carência e/ou outras fraquezas.

Chega a ser triste constatar que um sentimento aparentemente tão intenso e tão bonito tenha, na verdade, raízes tão viciadas. Mas penso que isso pode ser reaproveitado... Mesmo as nossas energias menos nobres podem tornar-se úteis se forem bem direcionadas. O amor egoísta pode sim se transformar em um amor altruísta. 

Então, a cada vez que eu vibrar com a vitória do ser amado, a cada vez que eu orar por ele, a cada vez que eu ficar feliz simplesmente por ele existir, a cada vez que eu der o melhor de mim para ajudá-lo quando ele precisar, só devo rogar a Deus que me ajude a conservar estas atitudes, para que elas prevaleçam sobre os meus instintos egoístas, até que um dia estes desapareceram e sobeje apenas o aspecto benigno do amor. Por enquanto, está difícil... Mas o dia vai chegar. Um dia consigo amar assim. 


"A vigência do amor no ser humano constitui a mais alta conquista do desenvolvimento psicológico e também ético, porquanto esse estágio que surge como experiência do sentimento concretiza-se em emoções profundamente libertadoras, que facultam a compre­ensão dos objetivos essenciais da existência humana, como capítulo valioso da vida.
O amor suaviza a ardência das paixões canalizan­do-as corretamente para as finalidades a que se pro põem, sem as aflições devastadoras de que se reves­tem.
No emaranhado dos conflitos que às vezes o assal­tam, mantém-se em equilíbrio norteando o comporta­mento para as decisões corretas.
Por isso é sensato e sereno, resultado de inumerá­veis conquistas no processo do desenvolvimento inte­lectual.
Enquanto a razão é fria, lógica e calculada, o amor é vibrante, sábio e harmônico.
No período dos impulsos, quando se apresenta sob as constrições dos instintos, é ardente, apaixonado, cer­cado de caprichos, que o amadurecimento psicológico vai equilibrando através do mecanismo das experiên­cias sucessivas.
Orientado pela razão faz-se dúlcido e confiante, não extrapolando os limites naturais, a fim de se não tornar algema ou converter-se em expressão egoísta.
Não obstante se encontre presente em outras emo­ções, mesmo que em fase embrionária, tende a desen­volver-se e abarcar as sub-personalidades que manifes­tam os estágios do primitivismo, impulsionando-as para a ascensão, trabalhando-as para que alcancem o estágio superior.
É o amor que ilumina a face escura da personali­dade, conduzindo-a ao conhecimento dos defeitos e auxiliando-a na realização inicial da auto-estima, pas­so importante para vôos mais audaciosos e necessários.
A sua presença no indivíduo confere-lhe beleza e alegria, proporciona-lhe graça e musicalidade, produ­zindo irradiação de bem-estar que se exterioriza, tor­nando-se vida, mesmo quando as circunstâncias se apre sentam assinaladas por dificuldades, problemas e do­res, às vezes, excruciantes.
Vincula os seres de maneira incomum, possuindo a força dinâmica que restaura as energias quando com­balidas e conduz aos gestos de sacrifício e abnegação mais grandiosos possíveis.
O compromisso que produz naqueles que se unem possui um vínculo metafísico que nada interrompe, tor­nando-se, dessa forma, espiritual, saturado de esperan­ças e de paz.
O amor, quando legítimo, liberta, qual ocorre com o conhecimento da verdade, isto é, dos valores perma­nentes, os que são de significado profundo, que supe­ram a superficialidade e resistem aos tempos, às cir­cunstâncias e aos modismos.
Funciona como elemento catalisador para os altos propósitos existenciais.
A sua ausência abre espaço para tormentos e ansi­edades que produzem transtornos no comportamento, levando a estados depressivos ou de violência, porquanto, nessa circunstância, desaparecem as motivações para que a vida funcione em termos de alegria e de fe­licidade.
Quando o amor se instala nos sentimentos, as pes­soas podem encontrar-se separadas, ele, porém, perma­nece imperturbável. A distância física perde o sentido geográfico e o espaço desaparece, porque ele tem o poder de preenchê-lo e colocar os amantes sempre pr­ximos, pelas lembranças de tudo quanto significa a arte e a ciência de amar. Uma palavra evocada, um aroma sentido, uma melodia ouvida, qualquer detalhe desen­cadeia toda uma série de lembranças que o trazem ao tempo presente, ao momento sempre feliz.
O amor não tem passado, não se inquieta pelo fu­turo. E sempre hoje e agora.
O amor inspira e eleva dando colorido às paisa­gens mais cinzentas, tornando-se estrelas luminosas das noites da emoção.
Não necessita ser correspondido, embora o seu ca­lor se intensifique com o combustível da reciprocida­de.
Não há quem resista à força dinâmica do amor.
Muitas vezes não se lhe percebe a delicada presen­ça. No entanto, a pouco e pouco impregna aquele a quem se direciona, diminuindo-lhe algumas das desa­gradáveis posturas e modificando-lhe as reações con­flitivas.
Na raiz de muitos distúrbios do comportamento pode ser apontada a ausência do amor que se não rece­beu, produzindo uma terra psicológica árida, que abriu espaço para o surgimento das ervas daninhas, que são os conflitos.
O amor não se instala de um para outro momento, tendo um curso a percorrer.
Apresenta os seus pródromos na amizade que des­perta interesse por outrem e se expande na ternura, em forma de gentileza para consigo mesmo e para com aquele a quem se direciona.
É tão importante que, ausente, descaracteriza o sen­tido de beleza e de vida que existe em tudo.
A sua vigência é duradoura, nunca se cansando ou se amargurando, vibrando com vigor nos mecanismos emocionais da criatura humana.
Quando não se apresenta com essas características de libertação, é que ainda não alcançou o nível que o legitima, estando a caminho, ufilizando-se, por enquanto, do prazer do sexo, da companhia agradável, do in­teresse pessoal egoístico, dos desejos expressos na con­duta sensual: alimento, dinheiro, libido, vaidade, res­sentimento, pois que se encontra na fase alucinada do surgimento...
O amor é luz permanente no cérebro e paz contí­nua no coração."

(Joanna de Ângelis, psicografada por Divaldo Franco. Capítulo 62 do livro "Amor, imbatível amor")

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Perdoe o incômodo...



Dói ter que se afastar, mas dói ainda mais estar perto e não ser notado, tentar se aproximar e ser rejeitado, estar lado a lado e ainda assim se sentir tão distante...

A cada passo para frente, dois passos para trás... Quanto mais sinto estar chegando perto, em seguida vem sempre a realidade me mostrando que, em verdade, estou cada vez mais longe. Cada progresso que faço, após passada a euforia que me acomete ao te ver reagindo, parece tão pequeno... No momento em que acontece, a alegria de ver a sua reação é tão grande que me faz supervalorizar o significado dela. Não significa muito. Talvez nem signifique nada. Eu é que enxerguei demais. Iludi a mim mesma, como sempre.


Não é uma questão de desistir, é uma questão de entender a realidade e traçar um posicionamento sensato a partir disso. O melhor que tenho a fazer é cuidar da minha vida, porque já percebi que não há muito propósito nem muito sentido em acompanhar a sua.


Talvez você só esteja querendo me ouvir dizer a palavra certa... Mas quantas vezes eu já não a disse, de tantas e diversas formas, e você fingiu não ouvir? Eu não vou ser explícita só porque você quer que eu seja. Do que mais você precisa? Já demonstrei o que sinto de mais maneiras do que minha integridade costumava permitir, e nem isso é suficiente para você? 

Talvez você só esteja querendo que eu peça... Mas eu não vou pedir. E não é por orgulho, é por fidelidade... Fidelidade a mim mesma, aos meus princípios, à minha essência, ao meu jeito de ser. Não hesito em tentar ser uma pessoa melhor quando posso, mas de forma alguma eu seria capaz de mudar o que já tenho de bom apenas para agradar alguém que mal valoriza isso.
Talvez a razão de você exigir tanto de mim seja a sua enorme vaidade... Ou talvez a razão de eu achar que você realmente exige algo de mim seja a minha ingenuidade.

Este é um daqueles bizarros momentos em que você descobre que se enganou ao pensar receber alguma exclusividade. Não há nada para mim além do que há para todo mundo, e o fato de eu ser especial (ou de você fazer eu me sentir como se fosse) não significa que eu mereça ter algo a mais, tampouco que eu tenha realmente tido. 


Quando penso melhor sobre tudo isso, chego à conclusão de que meu problema é ser egoísta a ponto de querer representar alguma coisa em sua vida. Estou certa, o problema sou eu, o defeito está em mim. Você só fez o que tinha que fazer. Se tivesse feito menos, teria sido indelicado; se tivesse feito mais, teria sido falso. Você agiu certo, disse tudo certo, tudo na medida certa. Mas eu, equivocada e cheia de esperanças erradas, vejo coisas demais onde quase não há nada, interpreto demais palavras que não têm maiores significados, espero demais de alguém que não tem muito para me oferecer... 


O melhor que tenho a fazer é, de fato, manter-me um pouco afastada. Provavelmente, estando longe de você, descobrirei um pouco mais sobre mim mesma, e talvez finalmente compreenda porque sempre tenho essas ridículas expectativas e porque as projetei em você...


Desculpe por tomar seu tempo com minhas fantasias sobre o que eu poderia ser para você... Mas está tudo bem, foi bom enquanto durou. Por alguns momentos, foi bom pensar que você me percebeu, que tive sua atenção e, quem sabe, até seu sentimento. Foi bom. No futuro, vou rir de tudo isto, vou achar graça no modo como fiquei tão entretida em estar tão iludida. 

sábado, 10 de novembro de 2012

O vazio, as paixões e as conclusões

‎"Trinta raios convergentes unem-se formando uma roda
Mas é o vazio entre os raios que facultam o seu movimento.
Modelai o barro para fazer um jarro.
O oleiro faz um vaso, manipulando a argila.
Mas é o oco do vaso que lhe dá utilidade.
Recortai no espaço vazio das paredes portas e janelas
a fim de que um quarto possa ser usado.
Paredes são massas com portas e janelas
mas somente os vazios entre as massas
lhes dá utilidade.
Desta forma, o ser produz o útil
mas é o não-ser que o torna eficaz."
(Lao Tse)



Esse vazio do qual as pessoas tanto falam, esse vazio que dizem sentir dentro de si, essa sensação inexplicável de que falta alguma coisa... Não, eu não o sinto. Porém, por alguma razão que desconheço, tenho um sentimento indeterminado que me leva a agir como se eu sentisse esse vazio, como se precisasse preenchê-lo.

Não é a primeira vez que alimento um vício, que nutro uma paixão, que me vejo obcecada por um prazer mundano; mas desta vez é mais estranho, pois creio que posso dizer que jamais senti minha vida tão completa como agora. Nunca houve momento em que eu precisei menos de um vício do que agora. Jamais foi tão inexplicável o refúgio em uma paixão para preencher um vazio que não existe.

Sei que se trata de apenas uma fase, assim como já passei por tantas outras nos últimos meses, e mais tantas nos últimos anos, e sempre e sempre nesta vida. Eu sou assim. Estas coisas fazem parte da minha vida, e me fazem feliz, trazem-me alegria, distração e prazer; e depois que a fase passar, lembrarei-me dela com saudade e talvez até zombe. O problema é que isso me consome. Sinto-me ridícula por saber que deixei minha vida chegar a esse ponto. É como se eu me recusasse a viver a realidade, é como se eu não aceitasse tudo de maravilhoso que a vida está me proporcionando... É como se eu insistisse em trocar as alegrias concretas do mundo real pelos prazeres incertos e utópicos da minha imaginação.

Teimo em querer algo que está fora do meu alcance, teimo em sonhar com coisas que correm maior risco de terminarem em frustração e futilidade, quando a verdade é que tenho em minhas mãos tudo que é necessário para obter felicidade real, possível e estável. Parece que sou uma criança gulosa e mimada, que nunca está satisfeita com o que ganha, mesmo quando ganha todos os presentes que podem caber em uma loja de brinquedos. Ou ainda: parece que sou uma adolescente mimada e indecisa, daquelas que gastam toda a energia à procura de algo, e quando finalmente consegue, decide que não era bem aquilo que queria. 

Parece. Na vida real, não é bem assim. Eu penso e sinto como um ser necessitado de algo para preencher seu vazio, mas não ajo como um. Ao menos, não perante as outras pessoas. Não é esta a postura que eu adoto, talvez porque eu não queira admitir para mim mesma que esse meu outro lado existe e que merece ser atendido (e se eu tenho a maturidade de não dar voz ativa aos meus deslumbres, então talvez eu não seja tão idiota). O mais engraçado é ver como a verdadeira eu lida bem com tudo isso. Ela se sai muito bem fazendo isso. 

Quem lê minhas lamúrias pode pensar que ajo como uma desequilibrada e coloco tudo a perder em nome de uma ilusão... Mas não. Na vida real, eu faço o que é certo: não deixo escaparem as oportunidades, aproveito-as bem, e quando o desfecho é exitoso, usufruo, comemoro, agradeço a quem me ajudou a consegui-lo, consolo aqueles que não tiveram a mesma sorte que eu. E sigo em frente, como um ser humano maduro e saudável faz. Contudo, no restante do tempo - e eu não sei explicar onde é que consigo esse tempo -, entrego-me às fantasias, aciono o meu outro eu, a sonhadora, a cigarra, a ridiculamente deslumbrada. Meus dois eus convivem muito bem com o paradoxo das minhas aspirações. 


Também é muito interessante a forma como o meu lado iludido tenta justificar as paixões. Apaixonada e fanática, listo uma porção de razões pelas quais estou correta em estar viciada, elencando as qualidades do objeto do meu vício. Nem minto, nem invento. É tudo verdade. Daqui alguns anos, quando esta fase passar, o atual alvo da minha paixão continuará sendo digno de admiração; a diferença é que eu não estarei mais tão admirada. O que é que se passa comigo? 

Imagino que o lado bom de tudo isso é o fato de que essas fases funcionam como períodos destinados ao conhecimento e apreciação de coisas às quais eu não tinha me atentado antes. É uma boa teoria, e provavelmente seria verdadeira, se o objeto do meu vício fosse algo realmente louvável, rico e repleto de coisas a acrescentar em minha vida... Porém, eu penso: o que é mesmo ser fútil? Por que estou me julgando fútil por admirar o que estou admirando agora? Não há dúvidas de que sou patética por estar tão obcecada, mas um pouco de admiração pode ser merecido. 

Olho para trás e relembro de outros vícios, outras paixões, outras fases pelas quais passei. Foram muito intensas, assim como esta está sendo; duraram pouco, assim como prevejo que esta durará; foram muito divertidas, assim como essa tem sido... E depois que tudo passou, ficou aquela saudade gostosa de uma época em que podia me dar o luxo de perseguir uma coisa que gosto. E passado mais tempo ainda depois do fim, ficaram os conhecimentos que eu agreguei durante a fase. 

Todavia, eu sinto medo destas fases. Se elas sempre vieram, provavelmente é porque sempre virão; e eu estou ciente de que, um dia, chegará um momento em que eu não poderei vivê-las e saboreá-las. Chegará o dia em que eu não terei o tempo, a oportunidade ou o direito de negligenciar as coisas realmente importantes da vida em favor das coisas que apenas alimentam o lado artista da minha alma. E o que farei quando isto acontecer? Como procederei quando escutar, ao mesmo tempo, o chamado urgente do mundo real e o convite sedutor do mundo de fantasias? Atenderei ao primeiro, é claro; sou estúpida, mas nem tanto. Entretanto, o segundo ainda existirá, e não me será completamente indiferente. Precisarei ser muito, muito forte para conseguir ser feliz e eficiente a despeito de tudo isso. Precisarei de muito equilíbrio para saber conviver com essa dualidade.

Curioso: essas fases geralmente vêm em situações propícias para as suas vivências. Mais uma vez, olho para trás, e quando faço um balanço geral de todas, concluo que elas quase nunca vinham em momentos nos quais eu não tivesse ao menos um mínimo de oportunidade de senti-las plenamente. E mesmo quando vieram, eu soube conciliar. Deu tudo certo. Tudo sempre deu certo. E sempre vai dar. Todas as coisas encontrarão o seu caminho... E eu encontrarei o meu.

sábado, 13 de outubro de 2012

Emoção que transcende situações e ultrapassa fronteiras


Como é possível que um mesmo acontecimento cause a mesma comoção e gere o mesmo sentimento, ao mesmo tempo, em várias pessoas de diversas partes do mundo? Só mesmo quando o acontecimento está repleto de beleza e verdade genuínas. Eu não consigo explicar a grandeza disto. 

Eu estaria sendo genérica e ingênua se dissesse que quando algo é realmente verdadeiro e belo, o é de forma incontestável; pois a verdade é que tudo é contestável e sempre haverá quem não consiga enxergar o que para outros parece nítido, ou ouvir o que para outros seja gritante... Mas, por outro lado, chega a ser inexplicável a maneira como uma mesma emoção pode emanar de uma pessoa diretamente para os corações de milhares de outras. Que força é essa?

E a globalização e a tecnologia são realmente inacreditáveis, porque só mesmo por meio delas seria possível verificar este fenômeno: a reação instantânea de milhares de pessoas que estão sentindo o mesmo que você no exato momento em que você se depara com aquilo que te faz sentir. Bendita a tecnologia quando ela espalha maravilhas e liga as pessoas umas às outras através do sentimento!

De fato, um sentimento verdadeiro é capaz de conectar pessoas. 

Créditos: http://www.tumblr.com/tagged/camila-cabello
Acho que ser humano é isto: é reconhecer a si mesmo por meio do outro, é identificar fora de si aquilo que existe dentro também, e assim, sentimo-nos todos iguais, de alguma forma. 

E por ser tão rara e tão única a sensação de sentir-se conectado com o mundo através de alguns míseros segundos de pura beleza, dá vontade de registrar esta sensação, de algum modo, para que ela nunca se perca, e para que nunca nos esqueçamos de como foi... Afinal, é certo que as emoções passam e os momentos ficam para trás; e é certo que, passado algum tempo, podemos nos ver diante da mesma situação e não sentiremos aquilo que sentimos quando a vimos pelas primeiras vezes. Por isso a importância do registro: para ficar marcado que um dia, uma vez, em vários lugares ao redor do mundo, por vários computadores ligados, milhões de pessoas - que nunca se viram e provavelmente jamais se conhecerão - viram a mesma coisa e sentiram a mesma emoção.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Gravidade



Eu e você costumávamos falar do futuro e planejá-lo como se ele fosse uma realidade totalmente moldável ao nosso gosto. Agora, o futuro chegou, e as realidades que projetamos estão a um passo deste exato minuto. Fico feliz em ver que temos maturidade suficiente para aceitar que nem tudo poderá ser exatamente como achávamos que seria, e que temos amor suficiente para nos esforçarmos e tentarmos moldar nossa vida até onde for possível fazê-lo. 

O nosso futuro está mais palpável a cada dia que passa. Algumas das sementes que plantamos já dão seus frutos, e os únicos frutos que ainda não colhemos são aqueles cujas colheitas precisamos interromper. Não é que tenhamos desistido de sonhar: apenas entendemos que alguns sonhos não eram para nós, e precisaríamos sonhar outros. 

E mesmo se esses novos sonhos não vingarem, estou certa de que teremos estrutura para aceitar isto e seguir em frente, e sensatez para, a despeito disso, alcançarmos a felicidade. Disto eu posso me orgulhar: não somos perfeitos, e não conseguiremos tudo nesta vida, mas ao menos pudemos crescer e amadurecer juntos. 

É uma vitória nossa. Empenhamo-nos nisso ao longo de todo este tempo. O prazer da nossa companhia nunca nos impediu de não nos conformarmos em simplesmente estarmos alegres um com o outro, porque sabíamos que a alegria era insuficiente: bom mesmo é ser feliz, e a verdadeira felicidade só vem com a maturidade. Por isso, buscamos amadurecer, tiramos bom proveito das nossas experiências juntos, e graças a isto, hoje somos como somos.

Nem sempre foi assim. Quando tudo começou, não imaginávamos que o objetivo era esse. Éramos tão jovens. Você, mais que eu; pois apesar de eu haver nascido bem depois de você, o fato é que sempre tive um espírito velho. Eu me perguntava se não sendo estava injusta ou egoísta em furtar de você a oportunidade de vivenciar todas as experiências pelas quais um jovem da sua idade passa quando não está atado a um relacionamento tão sério. Mas algo me dizia para continuar. Obviamente, eu não sabia o quê. Eu nunca sabia. No começo, nada fazia muito sentido. Eu não sabia por que tinha começado, e a cada dia que passava, continuava sem saber por que não terminava. Você também não sabia, embora estivesse gostando. Era mais ou menos como a gravidade, puxando-nos para o centro da terra: uma força que não era inexplicável; nós é que ainda não sabíamos explicá-la. 

Hoje, vejo que esse impulso que nos movia era Deus. E mesmo quem não acredita em Deus há de concordar que o mundo não é movido pelo nada. Seja como que for que queiram denominar essa força dotada de razão que instiga as coisas a se unirem àquelas das quais precisam para fazer o mundo continuar girando, foi ela que me despertou do meu sono naquele dia em que acordei decidida a te trazer para a minha vida. E foi ela que sussurrava em meus ouvidos, todos os dias, para não parar, para não desistir. E eu não sabia por que estava fazendo tudo aquilo, mas fiz. Foi uma daquelas coisas que a gente só vai entender muitos anos depois.

Hoje eu sou suficientemente madura para compreender que há uma razão pela qual aparecemos um na vida do outro, e você fez parte deste processo de amadurecimento. Foi bom para nós dois. O meu amor te transformou de menino a homem, e o seu amor me deu coragem para ser a mulher que eu sempre quis ser - pois o fato é que nunca tive disposição para ser menina. Nosso encontro foi a colisão da infância com a maturidade; mas eu estava enganada se pensava que era a única adulta a ter algo a te ensinar como criança, porque, em verdade, o adulto que você se tornou me ensinou uma porção de lições que eu provavelmente me recusaria a aprender se não tivessem vindo de alguém tão adorável.

Quem me conhece sabe: meu egocentrismo é tamanho que poucas pessoas conseguem ter efeito sobre mim. Você é uma delas. A explicação mais lógica para isto é que eu me deixo afetar por você porque você me traz um pouco de mim, porque admirar a suas qualidades é enxergar um pouco do meu próprio trunfo, porque credito a mim mesma o sucesso do nosso relacionamento e, sendo assim, estar com você é lembrar a mim mesma o quanto eu me amo e me acho o máximo. E isto não deixa de ser verdade, porque você sabe que eu sou mesmo egoísta. Mas há algo além disso... Você realmente conseguiu adentrar àquele pedaço escondido de mim, àquela barreira quase intransponível que separa o meu amor próprio do meu amor por tudo que não sou eu, àquele espacinho apertado no meu coração no qual há pouquíssimas pessoas e ainda assim elas disputam espaço. Este espaço era minúsculo, e estava praticamente lotado. 

Você sabe, eu amo poucos, mas amo-os muito. Hoje eu entendo que estes poucos, em maioria, são pessoas que nunca persistiram muito para fazerem-se amadas... Simplesmente aconteceu. A vida me-los deu, e eu os amei. Você se tornou um destes poucos, sem fazer nenhum esforço. Talvez seja típico de mim deixar-me encantar por quem não precisa do meu amor, ou talvez você seja mesmo tão incrível que consiga despertar sentimentos mesmo sem querer, ou talvez isto simplesmente tivesse que acontecer. Ou provavelmente todas as alternativas estão certas, e especialmente a última. 

Eu poderia elencar um milhão de motivos pelos quais acredito que Deus tenha cruzado nossos caminhos... Mas é perda de tempo ficar listando. Em algum lugar na nossa mente e nosso coração, ainda que de uma forma não muito organizada, nós temos consciência de todas as razões. Se não tivéssemos, não estaríamos colocando em prática tudo que aprendemos juntos durante todo este tempo. 

Hoje, tudo faz sentido. Que engraçado. Você realizou todos os meus sonhos, até os que eu não sabia que tinha. Deu-me o ânimo que eu precisava na época em que nos conhecemos, e a base que precisaria para me tornar o que sou hoje. Sem saber, já estávamos traçando nosso futuro, trilhando nossos caminhos. E hoje estamos aqui. E sabemos que não foi por acaso.

Passado, presente e futuro se cruzam... Só hoje posso entender algumas coisas que ficaram para trás, e ainda hoje há coisas que só entenderei amanhã. A cada dia, nossa história vai fazendo mais sentido. Você esteve comigo o tempo inteiro. Algo acima de nós sabia do que seríamos capazes juntos; e posso afirmar que este gigantesco quebra cabeças que já montamos juntos ainda é muito pouco perto de tudo que ainda faremos juntos nesta vida.

A famigerada maturidade

Às vezes, não sempre, eu olho para dentro de mim mesma, e quando me comparo com algumas pessoas da minha idade, acho-me ligeiramente mais madura. Talvez seja apenas um questão de ponto de vista, pois quando penso na forma como me comporto nas situações comuns que partilho com meus amigos e conhecidos, não acho que esteja passando a impressão de ser diferentes da maioria das pessoas. Provavelmente os outros também são assim: têm suas concepções e sua maturidade, mas não precisam ficar expondo-os o tempo todo; agem com sensatez quando é preciso ser sensato, e agem normalmente em situações normais; e é isso que penso deles, porque nunca estou com eles quando é hora deles provarem que são maduros.

Porém, não há como negar que mesmo entre um ou outro evento trivial da vida, por mais trivial que seja, nós deixamos pistas dos mais marcantes traços de nossa personalidade. E eu não vejo - ou ao menos não com tanta frequência - nas pessoas de nossa idade muitos contornos adultos. Eu sei que faz pouquíssimo tempo que encerramos a etapa da adolescência; contudo, esta é, seguramente, a transição mais rápida da vida. O mundo exige de nós que sejamos adultos antes mesmo que consigamos nos enxergar como tais. Por que não vejo tanta gente se sentindo pressionado desta forma como nós eu me sinto?

Lembro-me dos pensamentos que eu tinha quando era menina, da maneira como eu imaginava que seria quando eu tivesse a idade que tenho hoje. Tudo parecia muito distante e muito natural: ser adulto era saber tudo, ter um lugar no mundo e estar consciente disso; e eu realmente não imaginava que seria tão difícil. Talvez 'difícil' não seja a palavra certa, porque o que sinto hoje não é a arduidade, é apenas... A complexidade. 

Eu sempre imaginei que a infância e adolescência eram apenas etapas preparatórias para a idade adulta, como se esta fosse realmente a época em que a vida começava; e por pensar assim, preparei-me muito para o dia de hoje, para quando o hoje chegasse. Pois bem, chegou. De certo modo, posso dizer que já sou muito (não tudo, mas boa parte) daquilo que imaginava que seria, se levar em conta a imagem que passo. 

É difícil, para mim, aceitar que as demais pessoas não passaram todo o seu passado esperando pelo agora, pois esta foi a minha realidade, e é estranho ver que, provavelmente, só eu pensava assim. Talvez por isso só eu seja como sou. Nasci velha, e a cada dia que passo fico mais velha, sempre mais velha que os outros.

A verdade é que, de certa forma, sempre estive um passo à frente: mais madura do que os outros da mesma idade, sempre aparentando ser mais adulta, ainda que nem sempre em um sentido positivo. Mas e quando eu for realmente adulta, quando todos nós formos realmente adultos, qual será o meu mérito? Sou dramática ao já exigir de todos que ajam como adultos, pois o fato é que as coisas hoje já não são como antes, e mesmo a fase adulta tem ínsita em si uma infância. Mas vai chegar um dia em que essa infância vai passar, e aí sim todos estaremos no mesmo nível, os adultos-crianças passarão a ser totalmente adultos, e os adultos-adultos serão... Adultos. Do que poderei me vangloriar quando isto acontecer? Todos serão maduros, e eu também serei, com a diferença de que, desta vez, isto não será motivo de admiração. Serei apenas o que se espera que qualquer um da minha idade seja, e ninguém mais me achará distinta. 

Há sempre um mérito em estar adiante dos outros, mas no meu caso, o que há adiante que eu possa conquistar e que todos já não tenham conquistado? Não há nada. Meu mérito será ter chegado lá antes de todos, mas quando se passar um enorme lastro de tempo após todos terem chegado lá também, minha vitória nem terá mais brilho. Se é que um dia teve. 

É curiosa a forma como vejo que me encaixo nesta sociedade de hoje. Às vezes sinto que tenho vontade de gritar que sou diferente, que não sou igual a todos, que não sou fútil como os outros, que não tenho os mesmos gostos e que, ao contrário deles, tenho objetivos e princípios. Flagro-me contrariada por não  reconhecerem minha falta de juventude, minha distinção, minha superioridade. E em seguida, sinto-me ridícula por realmente crer que sou mesmo superior, que sou mesmo tão digna de homenagens. E quando alimento esta linha de pensamento, lembro-me de há alguns anos atrás a situação era exatamente oposta: tudo que eu queria ser considerada igual, normal. Minha distinção era gritante, e ela me excluía de tudo que era comum à minha época, e por causa dela eu mesma me excluía de tudo. O orgulho de já ter entendido tudo aquilo que os meus colegas ainda levariam anos para entender não era suficiente para evitar a tristeza de não ser contada, não ser aceita, não ser vista como alguém normal.

A vida é tão engraçada. Eu me esforcei para deixar de ser invisível, e quando finalmente fui vista, fiquei feliz por saber que seria possível conciliar as duas imagens. Consegui ser aceita, e melhor ainda, consegui ser reconhecida pelo que era. Era honroso ser diferente em meio aos normais. 

Porém, a diferença nem sempre é tão evidente quando está rodeada de normalidade. Eu não posso sair por aí com um cartaz que explique como eu sou, nem tenho um cartão para entregar a quem me conhece; logo, as pessoas me julgam pelo que vêem, e quem me vê geralmente não crê que eu tenha as ideias que tenho. A princípio, pode parecer ser legal esse efeito surpresa que causo aos que se dão o trabalho de me conhecer e descobrem que sou um pouco diferente do que pareço ser; mas, com o tempo, fui me cansando do peso de não ser reconhecida logo de cara. 

Hoje em dia, ninguém tem tempo para conhecer ninguém, e este fato gera em mim um ridículo desespero para provar a todos que eu sou muito mais do que a imagem que passo quando passo no meio da multidão. É ridículo, eu sei; e principalmente porque, há pouco tempo atrás, o meu desespero era pensar que eu nunca conseguiria fazer parte da multidão.

Dias atrás, vi uma entrevista com o ator Johnny Depp na qual ele disse: "Não vou agir diferente só para provar aos outros que sou diferente. Eu sou o que sou". Ele está certo. E eu estou errada. E eu sou tola, e muito, muito arrogante por nutrir essa gigante exigência de que todos me notem e me reconheçam; pois quando faço isso, erro duas vezes: erro ao crer, de verdade, que sou mesmo merecedora da atenção e do reconhecimento; e erro ao crer que todos aqueles que julgo inferiores e normais demais não tenham também um lado (ou muitos) digno do mesmo reconhecimento (ou de muito mais). 

O meu problema é que me superestimo e subestimo todos os outros. Parece que me esqueço, mas o fato é que a vida já me mostrou, diversas vezes, que eu não sou a única que evolui. Vanglorio-me tanto de estar um passo a frente de tanta gente, mas certamente não sou tão sábia quanto penso, pois uma pessoa sábia jamais acredita que suas qualidades precisam ser reconhecidas. Humildade: eis a lição que eu ainda preciso aprender.  

Talvez o meu problema seja estar tão preocupada comigo mesma quando finalmente chegar este dia em que todos tivermos amadurecido. Depois que todos nós tivermos passado por todas as etapas e tivermos adquirido a sabedoria que se espera de nós, é certo que não seremos mais o centro do mundo. Novas gerações virão, e será a vez de outros jovens serem jovens como nós fomos, e adultos como nós fomos, até chegarem onde estaremos. E depois o mesmo, e assim se repetindo sempre, em um eterno ciclo, pois este é o mundo, e esta é a vida.

Afinal, quando eu estiver velha, não deverei me preocupar em querer estar além de onde os outros estão, mas sim, em fazer o melhor uso possível de todo o conhecimento que acumulei ao longo da vida, para passá-los aos outros... Para passá-los àqueles que vierem de mim.

E que eu não superestime meu potencial, nem subestime meus desafios... E que eu me lembre sempre que humildade e autoconfiança devem caminhar juntas.

E se eu vencer, que não queira levar todos os créditos sozinha. E se eu perder, que não queira colocar a culpa em todos exceto eu própria.

E que eu tenha força para correr atrás dos meus objetivos e lidar com os resultados, sejam eles quais forem; porque a gente está nessa vida é para isso mesmo: para dar a cara a tapa.

sábado, 15 de setembro de 2012

Espelhos da adolescência em Glee


Assim como este blog praticamente nasceu a partir do meu amor por Glee, assim como Glee é recorde de inspirações para os textos que aqui publico, volto às origens para falar mais uma vez deste seriado que dificilmente conseguirá ser superado por outro na história da minha vida. Contrariando várias previsões, Glee chega à sua quarta temporada; e agora, mais do que nunca (embora na terceira já tivesse esta oportunidade - a qual, devo dizer, foi muitíssimo bem aproveitada), tem o desafio de mostrar-se mais madura e provar que é capaz de continuar nos emocionando. É ainda cedo para fazer afirmações precisas, mas a julgar pelo primeiro episódio da quarta temporada, prevejo que o desafio será vencido com louvor.

O primeiro episódio nos trouxe uma Glee um pouco diferente, um pouco mais adulta, embora tenham se feito presentes os costumeiros momentos de humor (em menor escala, e isto não é uma crítica), e também o drama (e Glee, a despeito de ser oficialmente uma comédia, é ainda mais lindo quando é dramático), além de, é claro, os números musicais, que são o diferencial da série. A mim, pareceu que o episódio foi uma mistura de Felicity (em razão do enfoque dado ao início da vida adulta, com Rachel na faculdade e Kurt trabalhando e decidindo seu futuro) com Freaks and Geeks (como não lembrar desta lendária série ao ver as cenas de bullying e o clássico embate de populares versus esquisitões do colégio?).

A adolescência é um período complicado. O ambiente escolar (que é basicamente tudo que um adolescente comum tem na vida) torna tudo isto ainda mais tenso, e as consequências  da forma como o adolescente lida com tudo isto moldam seu caráter para sempre (já falei sobre isso em outra ocasião aqui no blog). Uma frase de uma nova personagem resume muito bem esta fase da vida: "It's high school, it's all about being special". 

Imagem retirada do site Apaixonados por Séries


A primeira temporada de Glee retratou com sensibilidade ímpar a dureza de não conseguir ser socialmente aceito na época em que tudo que se quer é ser socialmente aceito. A segunda temporada tratou, com uma maturidade e fineza que poucas vezes já se viu na TV, sobre os dilemas da sexualidade. A terceira temporada, por sua vez, focou-se na dificuldade de fazer escolhas quando é chegado o momento de fechar ciclos e iniciar novas histórias. Pois bem... A quarta temporada chegou para mostrar quais são estas novas histórias.

Eu geralmente consigo não rotular as pessoas com base em uma única informação, e não rotulá-las negativamente quando esta única informação não consona com a minha opinião ou meu gosto, e posso até dizer que tenho me esforçado grandemente para não fazer generalizações e não ser tão fanática a ponto de nutrir preconceitos contra quem não gosta das mesmas coisas que eu... Mas quando o assunto é Glee, tudo isto se torna muito difícil (é o seriado da minha vida!), e é por isso que eu devo dizer: quem não gosta de Glee é porque não tem sentimentos, ou nunca foi adolescente, ou é homofóbico (sim, porque o seriado é muito, muito gay mesmo). 

Durante este início de temporada, devo dizer que eu me vi na pele do Artie quando ele se sentiu forçado a zombar da cozinheira gorda ao sentar-se pela primeira vez na mesa dos populares da escola. Eu me vi na Rachel quando ela ligou para Kurt chorando e admitindo que sua nova vida era bem mais difícil do que ela imaginava. Também me vi nela quando ela tremeu nas bases ao ver casos de pessoas que tentaram o mesmo que ela está tentando agora e não deram certo. E me vi nela mais uma vez quando ela sentiu, pela primeira vez, que talvez não fosse tão boa quanto a consideravam quando ela vivia em um mundinho fechado e limitado. Eu me vi na pele da Marley e do Jake quando eles cantaram e se esforçaram para serem aprovados pelo Glee Club, o grupo ao qual eles queriam pertencer mais que tudo na vida. Senti-me na pele da Marley, de novo, quando ela cantava: "Será que devo desistir ou devo seguir em frente, mesmo se isto não der em lugar nenhum?". Eu me senti na pele do Will quando ele resolveu apostar no duvidoso e dar a alguém uma chance de superar-se e aprender a ser uma nova pessoa. E me vi no Kurt, que mal tinha coragem de descer do carro para ir pegar o avião para New York, quando ele mentalmente perguntava a si mesmo se realmente estava fazendo a coisa certa ao arriscar tudo e ir atrás do que deseja; vi-me também no Blaine, que mesmo amando Kurt e sofrendo por antecipação a angústia de ficar longe dele, resolveu apoiá-lo, porque sabia que esta decisão era a melhor para ele.

Eu vi a mim mesma em Glee em diversos momentos do primeiro episódio da quarta temporada, e não foi a primeira vez que isto aconteceu. Eu me encontro em Glee sempre.

Lembro-me agora de um podcast do site Série Maníacos que um dia escutei, no qual um dos participantes comentava sobre o quanto adorava a extinta série Freaks and Geeks, e outro participante respondeu que nunca conseguiu entender porque a série era tão prestigiada e bem falada. O defensor de Freaks and Geeks disse que não havia como não se lembrar dos anos de colégio ao assisti-la, e não se identificar com as tribulações dos adolescentes que queriam desesperadamente sentirem-se populares e admirados, mas que só conseguiam mesmo ser alvo de chacotas. Em seguida, o outro participante do podcast disse que não conseguia sentir isto porque não teve problemas de aceitação no colégio, pois era popular e tinha muitos amigos.

Consigo relacionar isto com a minha paixão por Glee, e quase posso seguir a mesma linha e dizer que só não se identifica com Glee quem nunca passou por conflitos de popularidade quando era adolescente. Minha adolescência não foi necessariamente tortuosa, e nunca cheguei a sofrer bullying, mas definitivamente eu não fui uma pessoa popular na escola. Não tinha muitas amizades, não fazia parte das rodas de conversas, e não era o protótipo de pessoa da qual todos queriam ser amigos. Eu sabia que não tinha o que era necessário para ser popular, mas nunca me rebelei, tampouco tentei incorporar um personagem para ser aceita. Eu sabia que tinhas minhas qualidades. A escola talvez não fosse o ambiente ideal para mostrá-las, mas eu sabia que um dia elas valeriam alguma coisa, e esta esperança me consolava.

A todos que têm histórias de adolescência parecidas com a minha, é impossível não sentir que Glee toca nas nossas feridas. Só quem passou por isso pode entender qual é a sensação de assistir um coral de perdedores fazendo uma linda apresentação em uma competição, ainda que em uma competição de baixo nível, ainda que cientes de que não havia a menor chance de vencer. Foi o que senti quando assisti pela primeira vez o último episódio da primeira temporada - e juro que ainda me emociono imensamente toda vez que o revejo. 

Só quem já pensou, alguma vez na vida, que sua existência é completamente ignorada, pode identificar o significado que "Don't stop believing" assume quando cantada por um coral de excêntricos e socialmente excluídos. 

Só quem já encontrou amigos verdadeiros e viu neles um porto seguro durante a travessia de um período de turbulências emocionais consegue assimilar a magia da cena em que o Glee Club se reúne para tirar a foto do anuário, aquela foto que todos tinham certeza de que seria rabiscada e ridicularizada, mas que apesar disto, registraria para sempre um momento de companheirismo e prazer em estarem unidos. 

Só quem já sentiu, pelo menos alguma vez na vida, a dor de precisar entender a si próprio e assumir isto para si e para os outros, pode sentir a emoção e a delicadeza da cena em que Santana e Brittany cantam "Landslide". 

Só quem já passou pela situação de precisar tomar decisões sobre o futuro, só quem já sentiu o medo e a ansiedade de não ter nenhuma certeza sobre o que vai acontecer, exceto a certeza de que não será como é agora, só quem já se viu diante dessa encruzilhada consegue reconhecer a si próprio na pele de Finn ao gritar com Will quando este tenta ajudá-lo a escolher uma profissão. Para mim, é a cena mais forte do décimo sexto episódio da terceira temporada.

Will: Você só não sabe o que quer.
Finn: Eu quero que o tempo pare.
Will: Então vamos achar algo que te dê essa sensação.
Finn: Qual? De ser jovem? Onde está? Mostre-me.


Só quem já sonhou com o dia em que você poderia sentir o mesmo que sentem aqueles que têm tudo que você não tem, pode compartilhar da mistura de incredulidade com euforia que Rachel sentiu quando ela foi anunciada a rainha do baile.

Ah, e só quem já passou por tudo isto, e anos depois, descobriu que podia brilhar e podia muito bem ser reconhecido e admirado sem precisar abrir mão de seu jeito de ser, só quem viveu e sobreviveu a tudo isto consegue compreender o orgulho e a alegria que sinto a cada vez que assisto a performance de "Paradise by the dashboard light", no penúltimo episódio da terceira temporada!


É... Desculpem-me, mas só quem não gosta de Glee - ou no mínimo, quem não é capaz de reconhecer a sensibilidade e genialidade deste seriado - é quem nunca foi adolescente.