quinta-feira, 7 de junho de 2012

Pelo direito de não ser incompreendido por quem acha que já compreendeu tudo

Diante de tantas probabilidades de conspirações, ameaças e conluios voltados à alienação, o fato de eu me manter tranquila e agarrada às minhas convicções causa-te espanto. Não sou surda, cega, analfabeta ou alienada; não estou indiferente a todos os falatórios e teorias; eles simplesmente não foram capazes de abalar minhas crenças. E se a minha insistência na fé te parece sinal de ingenuidade ou ignorância, é porque partes do princípio de que qualquer um que não creia em tudo que tu crês precisa conhecer mais afundo as tuas ideias. Não te passa pela mente a possibilidade de eu já conhecê-las e ainda assim dar mais crédito a uma ideologia distinta da tua? 

Falas tanto da existência de forças e pessoas que andam a fazer lavagens cerebrais nas massas, mas não vês que tua postura se assimila à de alguém que quer também fazer uma lavagem cerebral? Não seria, outrossim, a tua atitude, uma forma de alienação? Sob a justificativa de que queres abrir a mente das pessoas, tu tentas incutir nelas várias concepções que podem ser tão inverídicas quanto as que tu condenas. Esqueces-te que, da mesma forma, já houve quem quisesse alcançar objetivos invirtuosos por meio da pregação de ideias supostamente libertadoras?

Minha fé não é cega, tampouco faz com que eu o seja. Estou aberta a diferentes hipóteses e novas formas de pensar. Posso me permitir entrar em contato com coisas que vão totalmente de encontro ao que acredito, exatamente porque acredito profundamente. Os princípios estão arraigados em mim, imanentes ao meu ser, não se trata de teses que eu preciso defender para mim mesma a fim de me manter crente. E, em verdade, confio tanto nas coisas em que creio que sequer tenho medo de vê-las confrontadas. Por isso decidi dedicar-me à análise do que dizes. De fato, já gastei tempo avaliando teus argumentos, e confesso que os escutei com cabeça aberta e parcialidade. Pensei, refleti, e cá estou: não abri mão de nada do que acreditava antes. Continuo firme e confiante, e é por este motivo - e somente por este - que não me deixo fascinar com tantas paranoias. "Se um homem tiver realmente muita fé, pode dar-se ao luxo de ser cético", disse Nietzche. 


Prometes-me a revelação da verdade sem preocupares-te em saber se já não a conheço; julgas que não, que não a conheço, e julgas-me assim simplesmente porque discordo de ti. Contudo, se censuras qualquer possibilidade de eu estar correta em minha discordância, é porque reprimes minha liberdade de pensar, é porque queres-me subjugada aos teus conceitos; e agindo assim, equiparas-te àqueles que criticas. 


Antes de tentar vender-me algo, procura saber se desejo comprar; e se eu não desejar, não me julgue mal, porque se o fizerdes, é tu quem está sendo inflexível.


Respeito tua posição e admiro tua coragem em repensar um universo de imposições... Porém, se queres obter êxito em tua luta, precisas manter-te são; e se queres manter-te são, cuida-te para que tuas ideias combativistas não te ceguem, tal qual crês que cegos estão aqueles que tu combates.

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