domingo, 18 de dezembro de 2011

Autoconfiança de um homem inseguro

Ele sabia que era bonito. Tinha consciência da atração que exercia sobre as mulheres. Tão belo e fechado em si mesmo, sempre quieto, sempre muito discreto, como se fosse incrível demais para perder tempo com pessoas não dignas dele.

Sua explicação para o comportamento introvertido era outra: ele era comprometido e precisava se dar ao respeito. E a verdade é que o fato de ser comprometido o fazia sentir-se ainda mais atraente. Gostava de pintar sua própria imagem como a de um homem inalcançável. As mulheres olhavam-no, admiravam-no, ficavam se perguntando o que será que ele tinha de tão especial que não podia ser compartilhado com ninguém; mas, no fim das contas, nunca poderiam tê-lo, pois ele já era de alguém.

Sentia-se irresistível. Quem o observasse acharia que tudo que ele fazia era muito fácil, pois ele fazia com charme. Quem fosse contemplada com a graça de um "bom dia" seu podia sentir-se com sorte, pois ele raramente dava o ar de sua simpatia. Não que fosse arrogante ou mal educado; simplesmente não costumava dar abertura a ninguém.


Quem o conhecia de verdade sabia que ele era mesmo fascinante. Mas, no fundo, ele mesmo não tinha muita certeza disto. Fazia-se pouco expansivo, pois acreditava que tinha pouco a oferecer a quem dele se acercasse. Duvidava ser capaz de justificar o fascínio que tinha consciência de exercer. 


Ele nunca dava às suas admiradoras a certeza de fazer jus à admiração, pois acreditava que essa incerteza é que as deixava enlouquecidas. Nunca se convenceu de que continuaria sendo considerado interessante quando finalmente deixasse de ser considerado misterioso. 'O desconhecido é sempre sedutor', ele dizia a si mesmo. Mas o que ele não sabia é que a verdade nem sempre pode ser sedutora; porém, quando é, a sedução converte-se em admiração, e os efeitos da admiração são sempre mais duradouros que os da sedução...

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