Não é que seja difícil admitir certas coisas... O problema é o que fazer com elas depois que já se sabe que elas existem.
Uma vez tendo confessado a mim mesma o sentimento, já aceitei, mas ainda não planejei muito bem como vou lidar com isso. Estou lúcida o bastante para entender que isto existe e que não é certo, mas não estou imune às perturbações que isto me causa. Agora não era o momento para isso... Estou ocupada demais para me ocupar de coisas que não vão levar a lugar nenhum.
A pior parte de tudo isso é que eu sei que não tem propósito nenhum. Não leva a nada, não tem serventia nenhuma agora e nem nunca vai ter. É sempre a mesma história: quando enfim me apercebo quão próximo está o fim, mais começo a divagar sobre as mil coisas que poderiam ser, e que ainda há tempo para serem. É como se um agente vilanesco agisse sobre minha mente apenas para atormentar, apenas para me fazer perder tempo com cálculos de possibilidades mirabolantes, como se tentasse me induzir a fazer coisas que não quero e não posso... Como se estivesse me testando.
Sempre passo no teste. Sei me controlar, sei me defender das investidas maliciosas. Mas não acho que eu passe no teste com louvor. A luta contra os impulsos não é intensa, mas existe. Não preciso fazer muito esforço para me desvencilhar das emboscadas, mas ainda assim, ao menos algum esforço sempre me é necessário.
É isto que me deixa desarranjada. Estes sentimentos não deveriam existir. Eu não deveria estar sentindo nem ao menos este lasco de vontade de não resistir. Estou treinada o suficiente para não cair nas armadilhas, mas não o suficiente para não me sentir ao menos um pouco tentada. É uma fraqueza minha, e me incomoda muito.
O que me aborrece é a minha própria estupidez: por que desperdiço minha vida dedicando pensamentos a algo que só existe para me afligir? E, pior ainda: se sei que é efêmero, que vai passar depois, por que o durante é tão inquietante? Quando a oportunidade chega, eu digo não, e depois, passado algum tempo, logo me desligo disto, os sentimentos se vão e nunca mais voltam; até esqueço que um dia existiram. É sempre assim, e sempre será, então qual o sentido de me preocupar?
O problema é que o agora é o momento mais difícil de nossas vidas. O passado já passou, e o futuro sempre pode ser algo diferente daquilo que se espera ou almeja... Mas o presente, ah, este é complicado, por que não dá pra fugir dele: ou você o vive ou você o vive, não há outra opção.
É sempre a mesma coisa comigo: depois que tudo passa, pode até parecer que foi fácil, mas enquanto está acontecendo, parece que não vai ter fim.
É uma idiotice cogitar a possibilidade de fazer o que as circunstâncias estão instigando que eu faça, é ridículo até mesmo pensar nisto, falar sobre isto, escrever sobre isto agora. Contudo, quando eu escrevo, a sensação se ameniza, pois o problema fica menor, pequeno o suficiente para caber nestas letras que digito. É por isto que preciso tirar isto de dentro de mim: okay, eu confesso o que estou sentindo. Não tenho muito orgulho de me sentir assim, mas enfim, é o que é, o que posso fazer?, isto é o que sou, sou humana e, infelizmente, como disse Terêncio, nada humano me pode ser totalmente alheio.
É natural que eu esteja sujeita a este tipo de coisa, mas isto não quer dizer que devo negligenciar. Tenho plena consciência de que estes convites só me açoitam porque sei que devo recusá-los - certamente jamais me perturbariam se eu fosse o tipo de pessoa que os aceita. Sou forte e sou fiel às coisas em que acredito, embora provavelmente não sou tanto quanto penso - pois se fosse, não precisaria ser tentada.
Mas eu não vou sucumbir. Não vou esmorecer, vou continuar lutando contra qualquer indício de insubordinação minha. Vou golpear estes ímpetos, por menores que eles sejam, não vou ter pena.
Tudo vai passar. Agora eu deixo de me dedicar ao que realmente importa para ficar imaginando tudo que ainda posso fazer enquanto o fim não chega... Mas um dia, o fim vai chegar, e quando o tempo passar, nenhuma dessas angústias vai significar nada. Sequer me lembrarei destas tolices que me importunam hoje, ou, quando eu me lembrar, rirei delas. E o mais importante de tudo: quando o fim chegar e tudo isto passar, vou sentir orgulho e alívio por não ter deixado o impulso me vencer. Nada é mais importante que os nossos princípios. Eu nunca me arrependi de tê-los colocado em primeiro lugar, e não vai ser agora que isto vai acontecer.
Nenhum comentário:
Postar um comentário