Às vezes penso se estou sabendo interpretar os
sinais de Deus... O que é que Ele reserva para mim? Eu poderia ter uma noção da
resposta interpretando as oportunidades que Ele vem me dando, mas será que
minhas interpretações estão corretas?
Até hoje, em toda minha vida,
tenho recebido sempre mais do que aquilo que me preparo para receber. O que será
que isto quer dizer?
A quem me vê ou convive comigo
pode parecer que sou metida, ou patricinha, mas a verdade é que sempre pedi
muito pouco à vida. Sempre tive o melhor, mas nem é porque pedia, as coisas é
que sempre chegam a mim... Estou sempre me preparando psicologicamente para o
mediano, o simplesmente satisfatório, o contentar-me com pouco... No entanto,
sempre me vem o melhor, o incrível. Às vezes me sinto culpada por obter tantas
coisas boas; às vezes, porém, sinto-me atormentada com a possibilidade de tudo
isto significar que os meus sonhos e desejos mais profundos podem tornar-se
realidade, a despeito dos planos modestos e realistas
que eu faço para minha vida. E se não for isso? Ou se não for sempre assim? E se a tendência for
piorar? Eu não quero me iludir.
Não tenho me permitido ter muitos
sonhos, tenho preferido planos, pois são mais palpáveis, mais realistas, mais
possíveis. Eu consigo me imaginar sendo feliz vivendo esta realidade planejada,
e tenho trabalhado desde já para concretizá-la – e, de fato, Deus tem permitido
que tudo isso dê certo. Porém, vez ou outra, percebo algum indício de que há
probabilidades certeiras de os sonhos também poderem acontecer. Então como
interpretar estes sinais? Como pode haver compatibilidade entre a realidade e a
fantasia?
Há quem diga que eu devo voar,
que sou jovem e devo explorar as possibilidades da vida enquanto posso, mas eu
não quero voar, eu gosto de sentir os pés no chão – e mesmo que eu quisesse, não
posso voar, pois por incrível que pareça, tenho várias coisas que me prendem ao
mundo real. Sou mesmo muito jovem, e sou livre; aparentemente, não tenho nenhum
vínculo sério com nada que possa me cercear; mas a verdade é que tenho
impedimentos de ordem moral, fiz compromissos com Deus, e quero e preciso
cumpri-los. Viver os meus sonhos despertaria em mim as sensações que eu insisto
em manter adormecidas, e me mostraria uma felicidade diferente (não melhor, mas
definitivamente diferente) da que já conheço, mas no fundo, sinceramente, sinto
que não seria feliz deixando estes compromissos para trás, até porque são
compromissos que assumi por amor e não por obrigação ou imposição.
Eu não sei como tudo isso vai
ficar, não sei muito bem o que esperar do futuro. As pessoas que acompanham a
minha trajetória depositam grandes expectativas em mim, e todas esperam que eu
faça grandes coisas e seja notável, e todas apostariam tudo que eu terei um
futuro brilhante. Eu me sinto lisonjeada por gozar de tanta confiança, pois
tamanha credibilidade sempre me trouxe muitas vantagens; mas, francamente,
creio que não sei muito bem como lidarei com tudo isso quando eu finalmente der
um rumo à minha vida, pois quando isso acontecer, pode ser que eu decepcione
muita gente. Eu não quero me sentir obrigada a alcançar determinadas coisas
apenas para satisfazer às esperanças alheias, mas por outro lado, também não
sei se terei ânimo para ficar o tempo todo justificando aos outros as minhas
escolhas.
Os meus ideais, valores e
objetivos são bastante diferentes daquilo que as pessoas esperam de mim, e ao
mesmo tempo em que eu não quero abrir mão do que sou apenas para agradá-las,
também quero ser admirada, elogiada, ser reconhecida, e acho que isso não será
possível se eu resolver fazer tudo diferente do jeito que me ensinaram, de tudo
que querem de mim.
Estou certa de que não quero que
me privem da chance de fazer minhas próprias escolhas, mas não é só isso:
ademais, não estou muito certa de que estas escolhas que fiz, faço e seguirei
fazendo, refletem aquilo que sou e almejo, ou refletem simplesmente o meu medo
de não conseguir ser mais que isso.
Como eu disse, muitas pessoas fazem
planos para mim, mas não estão interessadas em saber o que eu penso de tudo
isso. Provavelmente, se souberem, vão pensar que espero muito pouco da vida,
que tenho ambições muito pequenas e que poderia conseguir muito mais. Não posso
concordar com estas pessoas: eu me considero ambiciosa, só não espero demais
fora daquilo que me parece mais possível. Só espero demais dentro das minhas próprias
possibilidades atuais. Não costumo desejar além das
limitações. E a verdade é que não sei se me restrinjo a ficar satisfeita
com o pouco que tenho porque realmente sou feliz com isto ou se porque não
acredito que posso ter mais.
Não sou frustrada, não questiono
minha felicidade. O que questiono é a razão de eu me sentir feliz com a vida
que tenho. Tenho certeza de que conseguirei ser feliz ainda que não alcance na
vida algo muito maior do que já tenho hoje; só não tenho certeza de que me
sinto assim porque isto é mesmo verdade ou se esta forma de sentir é um
mecanismo de defesa para evitar que eu sofra caso nunca consiga ir mais longe.
Não posso garantir a mim mesma de que me sinto assim porque o pouco que tenho é
suficiente, ou se é porque não acredito que algum dia eu possa ter mais.
Eu costumo
pensar que o estado de contentamento requer muita atenção de nossa parte, pois muitas vezes a ideia de que ‘tudo está satisfatório’
pode ser mero truque para disfarçar o medo de alçar vôos mais altos. É muito
tênue a linha que separa a insegurança
da acomodação justificável. Não acho nem um pouco errado ser feliz com aquilo
que se tem; porém, a negligência ao deixar de identificar a possibilidade de
conquistar além do já conquistado pode trazer alguns arrependimentos.
De qualquer maneira, o que sei é
que tenho levado a vida sempre com muita cautela, e acho que isso é bom. Não
sou de me deixar levar, sou mais de agendas e cálculos do que de saltar em
queda livre rumo ao desconhecido, e até agora tem sido bom, tem dado certo,
porque por mais que estas dúvidas e ânsias me aflijam, quando eu coloco todas
estas emoções no papel e depois volto para a minha vida, não levo comigo
nenhuma sensação ruim. Minha rotina é boa, minha vida é boa, tenho pessoas
maravilhosas ao meu lado e vários projetos convenientes encaminhados. No fim do
dia, eu me sinto feliz, e isto é inevitável, não é algo de que eu precise me
convencer.
Como eu mesma reconheci, toda vez
que obtenho mais do que aquilo que espero, é sempre de uma forma mais ou menos
inesperada. Então para quê me perturbar? Inevitavelmente tudo será sempre bom,
no mínimo bom, e na melhor das hipóteses, será ótimo. Então não há por que
sofrer. Deus tem o melhor para mim, e se eu ainda não sei qual é esse melhor, não
importa, pois devo me ocupar construindo aquilo que eu imagino que seja. Eu
confio em Deus, e quem confia não precisa se dar o trabalho de sofrer por
antecipação ou perder tempo com pressuposições.
Pode ser que algo muito maior
esteja esperando por mim, pode ser que meu futuro seja um pouco diferente
daquilo que eu venho aguardando e trabalhando, tudo pode ser, tudo é possível e
não sei de nada. O meu futuro pertence a Deus, e por ora, só posso agir para
fazer merecer tudo de melhor que Ele tiver para me oferecer.
"Há momentos muito difíceis, que
parecem insuperáveis, enriquecidos de problemas e dores que se prolongam,
intermináveis, ignorados pelos mais próximos afetos, mas que Deus sabe.
Muitas vezes te sentirás à borda de precipícios profundos, em desespero, e por
todos abandonado. No entanto, não te encontrarás a sós, porque, no teu
suplício, Deus sabe o que te acontece.
Injustiçado, e sob o estigma de calúnias destruidoras, quando, experimentando incomum
angústia, estás a ponto de desertar da luta, confia mais um pouco, e espera,
porque Deus sabe a razão do que te ocorre.
Basta que te deixes conduzir por Ele, e sintonizado com a Sua misericórdia e
sabedoria, busca realizar o melhor, assinalando o teu caminho com as pegadas de
luz, características de quem se entregou a Deus e em Deus progride."
(Mensagem de Joanna de Ângelis, psicografada por Divaldo Pereira Franco, do livro "Filhos de Deus")
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