sábado, 13 de outubro de 2012

Emoção que transcende situações e ultrapassa fronteiras


Como é possível que um mesmo acontecimento cause a mesma comoção e gere o mesmo sentimento, ao mesmo tempo, em várias pessoas de diversas partes do mundo? Só mesmo quando o acontecimento está repleto de beleza e verdade genuínas. Eu não consigo explicar a grandeza disto. 

Eu estaria sendo genérica e ingênua se dissesse que quando algo é realmente verdadeiro e belo, o é de forma incontestável; pois a verdade é que tudo é contestável e sempre haverá quem não consiga enxergar o que para outros parece nítido, ou ouvir o que para outros seja gritante... Mas, por outro lado, chega a ser inexplicável a maneira como uma mesma emoção pode emanar de uma pessoa diretamente para os corações de milhares de outras. Que força é essa?

E a globalização e a tecnologia são realmente inacreditáveis, porque só mesmo por meio delas seria possível verificar este fenômeno: a reação instantânea de milhares de pessoas que estão sentindo o mesmo que você no exato momento em que você se depara com aquilo que te faz sentir. Bendita a tecnologia quando ela espalha maravilhas e liga as pessoas umas às outras através do sentimento!

De fato, um sentimento verdadeiro é capaz de conectar pessoas. 

Créditos: http://www.tumblr.com/tagged/camila-cabello
Acho que ser humano é isto: é reconhecer a si mesmo por meio do outro, é identificar fora de si aquilo que existe dentro também, e assim, sentimo-nos todos iguais, de alguma forma. 

E por ser tão rara e tão única a sensação de sentir-se conectado com o mundo através de alguns míseros segundos de pura beleza, dá vontade de registrar esta sensação, de algum modo, para que ela nunca se perca, e para que nunca nos esqueçamos de como foi... Afinal, é certo que as emoções passam e os momentos ficam para trás; e é certo que, passado algum tempo, podemos nos ver diante da mesma situação e não sentiremos aquilo que sentimos quando a vimos pelas primeiras vezes. Por isso a importância do registro: para ficar marcado que um dia, uma vez, em vários lugares ao redor do mundo, por vários computadores ligados, milhões de pessoas - que nunca se viram e provavelmente jamais se conhecerão - viram a mesma coisa e sentiram a mesma emoção.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Gravidade



Eu e você costumávamos falar do futuro e planejá-lo como se ele fosse uma realidade totalmente moldável ao nosso gosto. Agora, o futuro chegou, e as realidades que projetamos estão a um passo deste exato minuto. Fico feliz em ver que temos maturidade suficiente para aceitar que nem tudo poderá ser exatamente como achávamos que seria, e que temos amor suficiente para nos esforçarmos e tentarmos moldar nossa vida até onde for possível fazê-lo. 

O nosso futuro está mais palpável a cada dia que passa. Algumas das sementes que plantamos já dão seus frutos, e os únicos frutos que ainda não colhemos são aqueles cujas colheitas precisamos interromper. Não é que tenhamos desistido de sonhar: apenas entendemos que alguns sonhos não eram para nós, e precisaríamos sonhar outros. 

E mesmo se esses novos sonhos não vingarem, estou certa de que teremos estrutura para aceitar isto e seguir em frente, e sensatez para, a despeito disso, alcançarmos a felicidade. Disto eu posso me orgulhar: não somos perfeitos, e não conseguiremos tudo nesta vida, mas ao menos pudemos crescer e amadurecer juntos. 

É uma vitória nossa. Empenhamo-nos nisso ao longo de todo este tempo. O prazer da nossa companhia nunca nos impediu de não nos conformarmos em simplesmente estarmos alegres um com o outro, porque sabíamos que a alegria era insuficiente: bom mesmo é ser feliz, e a verdadeira felicidade só vem com a maturidade. Por isso, buscamos amadurecer, tiramos bom proveito das nossas experiências juntos, e graças a isto, hoje somos como somos.

Nem sempre foi assim. Quando tudo começou, não imaginávamos que o objetivo era esse. Éramos tão jovens. Você, mais que eu; pois apesar de eu haver nascido bem depois de você, o fato é que sempre tive um espírito velho. Eu me perguntava se não sendo estava injusta ou egoísta em furtar de você a oportunidade de vivenciar todas as experiências pelas quais um jovem da sua idade passa quando não está atado a um relacionamento tão sério. Mas algo me dizia para continuar. Obviamente, eu não sabia o quê. Eu nunca sabia. No começo, nada fazia muito sentido. Eu não sabia por que tinha começado, e a cada dia que passava, continuava sem saber por que não terminava. Você também não sabia, embora estivesse gostando. Era mais ou menos como a gravidade, puxando-nos para o centro da terra: uma força que não era inexplicável; nós é que ainda não sabíamos explicá-la. 

Hoje, vejo que esse impulso que nos movia era Deus. E mesmo quem não acredita em Deus há de concordar que o mundo não é movido pelo nada. Seja como que for que queiram denominar essa força dotada de razão que instiga as coisas a se unirem àquelas das quais precisam para fazer o mundo continuar girando, foi ela que me despertou do meu sono naquele dia em que acordei decidida a te trazer para a minha vida. E foi ela que sussurrava em meus ouvidos, todos os dias, para não parar, para não desistir. E eu não sabia por que estava fazendo tudo aquilo, mas fiz. Foi uma daquelas coisas que a gente só vai entender muitos anos depois.

Hoje eu sou suficientemente madura para compreender que há uma razão pela qual aparecemos um na vida do outro, e você fez parte deste processo de amadurecimento. Foi bom para nós dois. O meu amor te transformou de menino a homem, e o seu amor me deu coragem para ser a mulher que eu sempre quis ser - pois o fato é que nunca tive disposição para ser menina. Nosso encontro foi a colisão da infância com a maturidade; mas eu estava enganada se pensava que era a única adulta a ter algo a te ensinar como criança, porque, em verdade, o adulto que você se tornou me ensinou uma porção de lições que eu provavelmente me recusaria a aprender se não tivessem vindo de alguém tão adorável.

Quem me conhece sabe: meu egocentrismo é tamanho que poucas pessoas conseguem ter efeito sobre mim. Você é uma delas. A explicação mais lógica para isto é que eu me deixo afetar por você porque você me traz um pouco de mim, porque admirar a suas qualidades é enxergar um pouco do meu próprio trunfo, porque credito a mim mesma o sucesso do nosso relacionamento e, sendo assim, estar com você é lembrar a mim mesma o quanto eu me amo e me acho o máximo. E isto não deixa de ser verdade, porque você sabe que eu sou mesmo egoísta. Mas há algo além disso... Você realmente conseguiu adentrar àquele pedaço escondido de mim, àquela barreira quase intransponível que separa o meu amor próprio do meu amor por tudo que não sou eu, àquele espacinho apertado no meu coração no qual há pouquíssimas pessoas e ainda assim elas disputam espaço. Este espaço era minúsculo, e estava praticamente lotado. 

Você sabe, eu amo poucos, mas amo-os muito. Hoje eu entendo que estes poucos, em maioria, são pessoas que nunca persistiram muito para fazerem-se amadas... Simplesmente aconteceu. A vida me-los deu, e eu os amei. Você se tornou um destes poucos, sem fazer nenhum esforço. Talvez seja típico de mim deixar-me encantar por quem não precisa do meu amor, ou talvez você seja mesmo tão incrível que consiga despertar sentimentos mesmo sem querer, ou talvez isto simplesmente tivesse que acontecer. Ou provavelmente todas as alternativas estão certas, e especialmente a última. 

Eu poderia elencar um milhão de motivos pelos quais acredito que Deus tenha cruzado nossos caminhos... Mas é perda de tempo ficar listando. Em algum lugar na nossa mente e nosso coração, ainda que de uma forma não muito organizada, nós temos consciência de todas as razões. Se não tivéssemos, não estaríamos colocando em prática tudo que aprendemos juntos durante todo este tempo. 

Hoje, tudo faz sentido. Que engraçado. Você realizou todos os meus sonhos, até os que eu não sabia que tinha. Deu-me o ânimo que eu precisava na época em que nos conhecemos, e a base que precisaria para me tornar o que sou hoje. Sem saber, já estávamos traçando nosso futuro, trilhando nossos caminhos. E hoje estamos aqui. E sabemos que não foi por acaso.

Passado, presente e futuro se cruzam... Só hoje posso entender algumas coisas que ficaram para trás, e ainda hoje há coisas que só entenderei amanhã. A cada dia, nossa história vai fazendo mais sentido. Você esteve comigo o tempo inteiro. Algo acima de nós sabia do que seríamos capazes juntos; e posso afirmar que este gigantesco quebra cabeças que já montamos juntos ainda é muito pouco perto de tudo que ainda faremos juntos nesta vida.

A famigerada maturidade

Às vezes, não sempre, eu olho para dentro de mim mesma, e quando me comparo com algumas pessoas da minha idade, acho-me ligeiramente mais madura. Talvez seja apenas um questão de ponto de vista, pois quando penso na forma como me comporto nas situações comuns que partilho com meus amigos e conhecidos, não acho que esteja passando a impressão de ser diferentes da maioria das pessoas. Provavelmente os outros também são assim: têm suas concepções e sua maturidade, mas não precisam ficar expondo-os o tempo todo; agem com sensatez quando é preciso ser sensato, e agem normalmente em situações normais; e é isso que penso deles, porque nunca estou com eles quando é hora deles provarem que são maduros.

Porém, não há como negar que mesmo entre um ou outro evento trivial da vida, por mais trivial que seja, nós deixamos pistas dos mais marcantes traços de nossa personalidade. E eu não vejo - ou ao menos não com tanta frequência - nas pessoas de nossa idade muitos contornos adultos. Eu sei que faz pouquíssimo tempo que encerramos a etapa da adolescência; contudo, esta é, seguramente, a transição mais rápida da vida. O mundo exige de nós que sejamos adultos antes mesmo que consigamos nos enxergar como tais. Por que não vejo tanta gente se sentindo pressionado desta forma como nós eu me sinto?

Lembro-me dos pensamentos que eu tinha quando era menina, da maneira como eu imaginava que seria quando eu tivesse a idade que tenho hoje. Tudo parecia muito distante e muito natural: ser adulto era saber tudo, ter um lugar no mundo e estar consciente disso; e eu realmente não imaginava que seria tão difícil. Talvez 'difícil' não seja a palavra certa, porque o que sinto hoje não é a arduidade, é apenas... A complexidade. 

Eu sempre imaginei que a infância e adolescência eram apenas etapas preparatórias para a idade adulta, como se esta fosse realmente a época em que a vida começava; e por pensar assim, preparei-me muito para o dia de hoje, para quando o hoje chegasse. Pois bem, chegou. De certo modo, posso dizer que já sou muito (não tudo, mas boa parte) daquilo que imaginava que seria, se levar em conta a imagem que passo. 

É difícil, para mim, aceitar que as demais pessoas não passaram todo o seu passado esperando pelo agora, pois esta foi a minha realidade, e é estranho ver que, provavelmente, só eu pensava assim. Talvez por isso só eu seja como sou. Nasci velha, e a cada dia que passo fico mais velha, sempre mais velha que os outros.

A verdade é que, de certa forma, sempre estive um passo à frente: mais madura do que os outros da mesma idade, sempre aparentando ser mais adulta, ainda que nem sempre em um sentido positivo. Mas e quando eu for realmente adulta, quando todos nós formos realmente adultos, qual será o meu mérito? Sou dramática ao já exigir de todos que ajam como adultos, pois o fato é que as coisas hoje já não são como antes, e mesmo a fase adulta tem ínsita em si uma infância. Mas vai chegar um dia em que essa infância vai passar, e aí sim todos estaremos no mesmo nível, os adultos-crianças passarão a ser totalmente adultos, e os adultos-adultos serão... Adultos. Do que poderei me vangloriar quando isto acontecer? Todos serão maduros, e eu também serei, com a diferença de que, desta vez, isto não será motivo de admiração. Serei apenas o que se espera que qualquer um da minha idade seja, e ninguém mais me achará distinta. 

Há sempre um mérito em estar adiante dos outros, mas no meu caso, o que há adiante que eu possa conquistar e que todos já não tenham conquistado? Não há nada. Meu mérito será ter chegado lá antes de todos, mas quando se passar um enorme lastro de tempo após todos terem chegado lá também, minha vitória nem terá mais brilho. Se é que um dia teve. 

É curiosa a forma como vejo que me encaixo nesta sociedade de hoje. Às vezes sinto que tenho vontade de gritar que sou diferente, que não sou igual a todos, que não sou fútil como os outros, que não tenho os mesmos gostos e que, ao contrário deles, tenho objetivos e princípios. Flagro-me contrariada por não  reconhecerem minha falta de juventude, minha distinção, minha superioridade. E em seguida, sinto-me ridícula por realmente crer que sou mesmo superior, que sou mesmo tão digna de homenagens. E quando alimento esta linha de pensamento, lembro-me de há alguns anos atrás a situação era exatamente oposta: tudo que eu queria ser considerada igual, normal. Minha distinção era gritante, e ela me excluía de tudo que era comum à minha época, e por causa dela eu mesma me excluía de tudo. O orgulho de já ter entendido tudo aquilo que os meus colegas ainda levariam anos para entender não era suficiente para evitar a tristeza de não ser contada, não ser aceita, não ser vista como alguém normal.

A vida é tão engraçada. Eu me esforcei para deixar de ser invisível, e quando finalmente fui vista, fiquei feliz por saber que seria possível conciliar as duas imagens. Consegui ser aceita, e melhor ainda, consegui ser reconhecida pelo que era. Era honroso ser diferente em meio aos normais. 

Porém, a diferença nem sempre é tão evidente quando está rodeada de normalidade. Eu não posso sair por aí com um cartaz que explique como eu sou, nem tenho um cartão para entregar a quem me conhece; logo, as pessoas me julgam pelo que vêem, e quem me vê geralmente não crê que eu tenha as ideias que tenho. A princípio, pode parecer ser legal esse efeito surpresa que causo aos que se dão o trabalho de me conhecer e descobrem que sou um pouco diferente do que pareço ser; mas, com o tempo, fui me cansando do peso de não ser reconhecida logo de cara. 

Hoje em dia, ninguém tem tempo para conhecer ninguém, e este fato gera em mim um ridículo desespero para provar a todos que eu sou muito mais do que a imagem que passo quando passo no meio da multidão. É ridículo, eu sei; e principalmente porque, há pouco tempo atrás, o meu desespero era pensar que eu nunca conseguiria fazer parte da multidão.

Dias atrás, vi uma entrevista com o ator Johnny Depp na qual ele disse: "Não vou agir diferente só para provar aos outros que sou diferente. Eu sou o que sou". Ele está certo. E eu estou errada. E eu sou tola, e muito, muito arrogante por nutrir essa gigante exigência de que todos me notem e me reconheçam; pois quando faço isso, erro duas vezes: erro ao crer, de verdade, que sou mesmo merecedora da atenção e do reconhecimento; e erro ao crer que todos aqueles que julgo inferiores e normais demais não tenham também um lado (ou muitos) digno do mesmo reconhecimento (ou de muito mais). 

O meu problema é que me superestimo e subestimo todos os outros. Parece que me esqueço, mas o fato é que a vida já me mostrou, diversas vezes, que eu não sou a única que evolui. Vanglorio-me tanto de estar um passo a frente de tanta gente, mas certamente não sou tão sábia quanto penso, pois uma pessoa sábia jamais acredita que suas qualidades precisam ser reconhecidas. Humildade: eis a lição que eu ainda preciso aprender.  

Talvez o meu problema seja estar tão preocupada comigo mesma quando finalmente chegar este dia em que todos tivermos amadurecido. Depois que todos nós tivermos passado por todas as etapas e tivermos adquirido a sabedoria que se espera de nós, é certo que não seremos mais o centro do mundo. Novas gerações virão, e será a vez de outros jovens serem jovens como nós fomos, e adultos como nós fomos, até chegarem onde estaremos. E depois o mesmo, e assim se repetindo sempre, em um eterno ciclo, pois este é o mundo, e esta é a vida.

Afinal, quando eu estiver velha, não deverei me preocupar em querer estar além de onde os outros estão, mas sim, em fazer o melhor uso possível de todo o conhecimento que acumulei ao longo da vida, para passá-los aos outros... Para passá-los àqueles que vierem de mim.

E que eu não superestime meu potencial, nem subestime meus desafios... E que eu me lembre sempre que humildade e autoconfiança devem caminhar juntas.

E se eu vencer, que não queira levar todos os créditos sozinha. E se eu perder, que não queira colocar a culpa em todos exceto eu própria.

E que eu tenha força para correr atrás dos meus objetivos e lidar com os resultados, sejam eles quais forem; porque a gente está nessa vida é para isso mesmo: para dar a cara a tapa.