domingo, 31 de julho de 2011

Pararam de tocar, e eu continuei dançando


Lonely boys and you lonely girls
Here at the end of the lonely world
You're finding out
If there's someone to cry about

Lonely girls and you lonely boys
Playing alone with your lonely toys
Well don't be blue
If there's no one to play with you


"Garotos e garotas solitárias, aqui no fim do mundo solitário
Você estão descobrindo se há alguém por quem chorarem
Garotas e garotos solitários, brincando sozinhos com seus brinquedos solitários
Não fiquem tristes por não terem ninguém para brincar com vocês"
("Get a grip", Semisonic)



Sabe qual é o problema? Eu ainda não enjoei dos velhos jogos.
Você se julga crescido, interessa-se agora por outras coisas, e eu sinceramente não acho que as antigas perderam a graça.
Todo mundo parou de brincar, e eu continuei. Continuo me divertindo. Onde foram todos? Por que abandonaram os velhos costumes? As coisas costumavam ser tão legais.

Será que eu parei no tempo? Ou simplesmente fui a primeira a constatar que um pouquinho de pureza faz falta?

Eu não fiquei imune à passagem do tempo. Tenho noção de quem sou, e das responsabilidades que devo assumir. Mas quem disse que não se pode mais lidar com o mundo de uma forma que ignore as malícias do hoje, e priorize a ingenuidade de outrora? Tudo era bem mais legal quando não tínhamos essa obrigação de fazermos papel de adultos. 

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Éramos mais pacientes

"A mudança de hábitos, no entanto, se liberou o homem de algumas fobias e mecanismos de evasão perniciosos, impôs outros padrões comportamentais de massificação, nos quais surgem novos ídolos e mitos devoradores, que respondem por equivalentes fenômenos de desequilíbrio. Houve troca de conduta, mas não de renovação saudável na forma de encarar-se a vida e de vivê-la.
(...)
O excesso de tecnologia, que aparentemente resolveria os problemas humanos, engendrou novos dramas e conflitos comportamentais, na rotina degradante, que necessitam ser reexaminados para posterior correção. 
O individualismo, que deu ênfase ao enganoso conceito do homem de ferro e da mulher boneca, objeto de luxo e de inutilidade, cedeu lugar ao coletivismo consumista, sem identidade, em que os valores obedecem a novos padrões de crítica e de aceitação para os triunfos imediatos sob os altos preços da destruição do indivíduo como pessoa racional e livre."

("O homem integral", de Joanna de Ângelis, psicografado por Divaldo Pereira Franco. 14ª edição; 2001; págs. 17 e 18)


Dias atrás, surpreendi-me irritada com uma página na Internet que demorava para ser carregada. Ao atualizá-la, usando o famoso botão F5, propus-me a contar os segundos que ela demoraria para abrir. Foram 8 segundos, e eu achei um absurdo. Estou acostumada com bem menos. Internet banda larga (pela qual pagamos caro, inclusive) supostamente deveria ser veloz.

Foi quando me lembrei de quando tive Internet pela primeira vez. Ainda era discada. Vários minutos eram levados para efetuar a conexão, e quando enfim conseguíamos, havia a chance de ela cair a qualquer momento. Sem mencionar que a linha telefônica ficava ocupada!

Em questão de poucos anos, quanta coisa mudou! 

E os computadores de alguns anos atrás? Que tempão levavam para serem ligados! E os downloads? Lembro-me de alguns que duravam o dia inteiro. Era preciso rezar para a conexão não cair e, com isto, perdermos tudo. Mas, mesmo assim, esperávamos. Era normal. Ninguém tinha ataques de nervos por causa disso. Atualmente, todavia, ficamos irritados com downloads de até menos de uma hora.

Devo mencionar também os videocassetes... As fitas VHS! Ao fim de um filme, caso quiséssemos revê-lo, era preciso rebobinar tudinho... E assim fazíamos. Hoje, mal temos paciência quando um DVD leva mais de 1 segundo para selecionar uma cena.

Clássica cena do filme "Tempos modernos", de 1936, com
Charles Chaplin em uma inteligente e bem humorada
crítica à sociedade capitalista 
A modernidade e os avanços da tecnologia trouxeram conforto e praticidade, mas, por outro lado, tornaram-nos mais impacientes, imediatistas, mais mimados - sim, "mimados" é a palavra perfeita. Queremos tudo perfeito e em tempo récorde. Qualidade ou velocidade não são apreciadas quando não vêm conjugadas em um único aparelho. 

Céus! De quem é a culpa?

Em um primeiro momento, penso que foram os cientistas que nos acostumaram muito mal. Eles se superam a cada dia. Antes que tenhamos tempo de nos acostumar com alguma novidade, ou ainda, antes que tenhamos condições financeiras de experimentá-la, eles nos apresentam novas e mais eficientes formas de fazer o que outrora requeria tanto tempo e esforço. 

Porém... Quem pode culpá-los por fazerem seu trabalho? Por se esforçarem, por buscarem o melhor?

Os errados somos nós? Nós é que somos deslumbrados, fúteis, consumistas?

Não se pode negar que nós nos desgastamos para estar em dia com tudo que o mundo nos oferece, e idolatramos tanto a tecnologia - esse mal necessário - que fazemos dela um novo padrão, condicionamos nossa vida inteira a ela, de tal forma que não conseguimos mais viver sem. 

Mas será que estamos errados em querer gozar das facilidades e prazeres disponíveis no mercado? Nossa natureza frágil e imatura faz com que nos tornemos dependentes de todas as coisas às quais nos acostumamos e que nos trazem maior comodidade. Quem vai querer despender tanto suor e preciosas horas em algo que uma máquina pode fazer? É... Faz sentido. Mas será que isso nos faz mais felizes, ou mais saudáveis?

Acho que nos perdemos no meio desse caminho rumo a uma vida melhor. Topamos ir fundo na procura de coisas melhores, mas provavelmente não estávamos preparados para conseguir um resultado tão expressivo - ou, ao menos, para lidar com as consequências dele.

"A sociedade atual sofre a terapia desordenada que usou na enfermidade antiga do homem, que ora se revela mais debilitado do que antes", preleciona Joanna de Ângelis, na página 14 da obra citada no cabeçalho deste texto.

Erramos, mas na intenção de acertar. Queríamos melhorar as coisas, e acabamos complicando-as mais, pois o excesso de modernidade acabou gerando vários conflitos relativos à ansiedade e a um frequente sentimento de profunda insatisfação.

Em "O homem integral", Joanna de Ângelis é magistral ao traçar este paralelo entre os avanços da tecnologia e os conflitos emocionais do ser humano, asseverando que se por um lado a modernidade nos trouxe respostas para antigos problemas, por outro, criou novos, maiores e mais complexos: 

"As admiráveis conquistas da Ciência que se apóia na Tecnologia, não logram harmonizar o homem belicoso e insatisfeito (...)"; 

"Há esperança para terríveis enfermidades que destruíram gerações, enquanto surgem novas doenças totalmente perturbadoras.

(página 15)

Pois bem; a ciência e a tecnologia solucionaram as questões do passado. E as atuais... Quem solucionará?

Para responder, mais uma vez, invocamos Joanna de Ângelis: 

"Neste homem atribulado dos nossos dias, a Divindade deposita a confiança em favor de uma renovação para um mundo melhor e uma sociedade mais feliz. 
Buscar os valores que lhe dormem soterrados no íntimo é a razão de sua existência corporal, no momento. 
Encontrar-se com a vida, enfrentá-la e triunfar, eis o seu fanal."
(página 16)

Guardado o necessário respeito pela Psicologia, Filosofia (das quais sou grande entusiasta) e todas as demais ciências e causas que se destinam em tentar resolver as aflições do homem moderno, não posso deixar de concordar com estas sábias e elucidantes palavras.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Eles sempre voltam... - Amor e infidelidade conjugal em quatro filmes da clássica Hollywood

Nesta madrugada, fiquei acordada até altas horas para conferir o filme "Desencanto", drama de 1945, exibido no canal TCM (quantas alegrias este canal tem me proporcionado nestas férias!). A princípio relutei, lutei contra o sono, mas persisti e valeu muito a pena. Que filme tão lindo!

"Desencanto" é um drama muitíssimo bem feito que conta a história de um amor entre duas pessoas casadas. Tudo é perfeito: a fotografia, o preto e branco (há certas histórias que jamais soariam tão dramáticas e comoventes se não fossem contadas em filmes coloridos... O preto e branco dá um charme e um mistério especial), os diálogos, a trilha sonora, e em especial, a atuação sensível e bem construída de Celia Johnson, no papel de Laura, uma dona de casa que se apaixona por um médico e fica dividida entre o sentimento de paixão e o de culpa.

Esta dualidade é muito bem retratada ao longo de todo o filme: o novo amor faz Laura sentir-se viva, feliz, mas ao mesmo tempo, angustia-lhe saber que está traindo seu marido.

O marido, aliás, é um dos pontos fortes do filme - não por suas aparições e atitudes, que são pouquíssimas, mas justamente pelo que ele representa para a história, principalmente para o desfecho da história.

É interessante que o romance tenha sido mostrado do ponto de vista da mulher. Já vi outros filmes que tratam do tema da infidelidade, em uma perspectiva muito romântica, mas sempre dão mais enfoque ao lado masculino.


Em "Amante discreto" (de 1932) e "A noite nupcial" (de 1935), ambos de King Vidor (não creio que seja coincidência, pois as histórias são as mesmas, com pouquíssimas alterações), os personagens principais são homens bem casados, satisfeitos com suas dóceis e dedicadas esposas, embora não vivam exatamente uma explosão de alegria no lar. Ainda assim, aventuram-se em casos extraconjugais, com mocinhas jovens e belas, e até certo ponto, tolinhas também. Nenhum dos dois romances termina bem, e quem está lá para consolar os maridos são, justamente, suas esposas.

Em "Chamas que não se apagam" (de 1956), de Douglas Sirk, estrelado pela fantástica Barbara Stanwyck, a história é um pouco diferente: o personagem masculino principal está se sentindo carente porque, em sua casa, as pessoas não são mais tão unidas como antes, e cada um está muito ocupado com sua vida particular. Nisto, ele reencontra uma amiga do passado, e no auge de sua carência, crê estar apaixonado por ela. Todavia, no fim de tudo, até ela mesma reconhece que ele só pode encontrar a real felicidade e o verdadeiro amor dentro de sua própria casa. Ah, que filme! Interessantíssimo ver a forma como toda a família fica mexida com essa escapada do pai, e como isso, curiosamente, faz com que eles fiquem mais unidos.

Por fim, em "Desencanto", vemos a traição do ponto de vista da mulher. Laura não era exatamente infeliz: tinha um bom marido, bons filhos, um lar estruturado, uma vida normal e tranquila. Mas o encontro com Alec mexe com ela, e aos poucos, eles vão se apaixonando e se deixando levar por um sentimento demasiado forte, forte o suficiente para complicar a vida dos dois, pois ambos são casados.

Porém, embora os romances fora do casamento mostrados nestes filmes sejam todos muito bem desenvolvidos e até mesmo consigam enternecer o telespectador, a parte que considero mais bonita é que todos chegam ao fim, e a parte casada da relação sempre se volta para o parceiro. É nele que encontra o aconchego, o consolo. 

Muito interessante notar como estes personagens - assim como centenas de homens e mulheres, na vida real! - usam seus romances extraconjugais como válvulas de escape, como uma maneira de sair da rotina e esquecer a mesmice do lar, mas depois de tudo, é no próprio lar que eles encontram a paz que tanto necessitam!

O papel das esposas em "Amante discreto", "A noite nupcial" e "Chamas que não se apagam", é muito bonito e importante. Mesmo sabendo ou desconfiando da traição, elas oferecem  abrigo aos maridos, recebem-nos com todo o carinho e inclusive mostram a eles que seus lugares são ali, em casa, com elas. Se não me engano, no final de "A noite nupcial", a esposa, ao consolar o marido pela morte da amante, inclusive diz algo como "Agora, o que você tem que fazer é ficar aqui, comigo. Como você sempre ficou. Eu sempre estive aqui por você". 

Em "Desencanto", este papel de compreensão e amor incondicional cabe ao marido - e esta perspectiva tornou a história ainda mais emotiva, pois a esposa, mulher que era, recriminava a si mesma todos os dias por estar traindo aquele homem tão bom. 

Isto me fez lembrar do livro "O primo Basílio", de Eça de Queiroz, no qual Luísa também sucumbe à paixão que sente por um rapaz galanteador (e cafajeste!), mas quando a paixão dá errado, tudo que ela lembra é do marido, Jorge, o amável marido, e é nele que ela espera encontrar seu porto seguro, pois é isto que ele sempre representou:



"E parecia-lhe ver Jorge aparecer no quarto, lívido, com as cartas na mão!...

Veio-lhe um terror alucinado: não queria perder o seu marido, o seu Jorge, o seu amor, a sua casa, o seu homem!" 
(fragmento literal da obra "O primo Basílio")

Isso acontece demais, no dia a dia. 


O ser humano nunca está satisfeito. Mesmo tendo uma vida boa, organizada, com lar, família, saúde e conforto, sempre está em busca de mais. Aquilo que deveria parecer uma fortaleza, inspira-lhe tédio. Então, ele busca algo mais emocionante, quer chacoalhar as coisas, dar mais emoção à sua vida. É nesta hora que trai. Frivolamente, machuca a pessoa que ama de verdade e põe em risco a real felicidade, tudo em nome de uma aventura, uma frágil e boba aventura, que após terminada, passados os anos, nada mais representará que uma historieta sem importância, um capítulo inútil na vida da pessoa.


Quanta imaturidade arriscar coisas sólidas e verdadeiras por causa de uma simples promessa de felicidade! Quão estúpido é aquele que prioriza algo efêmero e superficial, em detrimento de algo que levou a vida inteira para conquistar e consolidar!


Há quem creia que uma pessoa nunca trai se seu relacionamento real está indo bem. Eu discordo. Mesmo a maior das felicidades pode não ser suficiente para satisfazer um ser humano. É como eu disse no meu texto sobre "O grande Gatsby", no qual citei o famoso soneto de Vicente de Carvalho, em que ele diz que a felicidade que tanto almejamos existe, mas nunca conseguimos encontrá-la, porque ela reside no lugar em que nós a colocamos, e nós nunca a colocamos no exato lugar em que estamos!



Voltando a "Desencanto"... Apesar de  não saber que foi traído, o marido percebe que a esposa passou por dificuldades e esteve distante dele. Quando enfim, ela volta a si, ele diz: "Você esteve longe por muito tempo. Obrigado por voltar para mim.

Esta cena é fantástica! Os atores são estupendos; eu consegui perfeitamente sentir a dor de Laura, o carinho de seu marido, e a força daquele abraço. "Obrigado por voltar para mim". Isso me marcou. Como é bom ter uma pessoa que signifique isso em nossa vida, ainda que não seja em situações como esta (de preferência, que não sejam mesmo!).

Ter para onde voltar, depois de se perder. Um verdadeiro porto seguro. Um raio de sol ao final da noite escura. Um arco-íris depois da tempestade. Que dádiva.

Que filme tão emocionante... Aliás, todos estes que eu citei são.

Em que pese a minha censura e desaprovação por romances fora do casamento, os retratados nestes filmes realmente me comoveram - mas, e nisto sou sincera, o fato de os traidores sempre voltarem para os traídos me comove mais ainda. A postura dos traídos, acho, emociona-me ainda mais, se é que isto é possível! 

Eu não sei se conseguiria ter a mesma postura. Não sei se saberia agir com tanta maturidade e sabedoria. 

Não se trata de submissão, falta de orgulho, falta de amor próprio, ou de falta de caráter por não ter coragem de abandonar um casamento após ter sido traído. Trata-se de maturidade e superioridade moral. Trata-se de ser maduro o suficiente para entender que uma aventura de poucos dias não tem o condão de destruir algo que levou uma vida para ser construído, e de ser tão moralmente evoluído a ponto de aceitar seguir em frente com a pessoa amada, a partir do ponto em que pararam, relevando o seu deslize.

Eles entenderam as fraquezas de seus cônjuges. Compreenderam que tudo não passou de um momento de fraqueza, de uma falha, e tiveram a certeza de que tais falhas não seriam capazes de abalar o verdadeiro amor da vida deles - esse amor sólido, maduro e sublime, capaz de proporcionar a verdadeira felicidade, a qual eles só podiam encontrar no conforto de seus lares.

sábado, 23 de julho de 2011

O distante horizonte da verdade

"No vosso mundo, tendes necessidade do mal para sentir o bem, da noite para admirar a luz, da doença para apreciar a saúde. Lá, esses contrastes não são necessários. A eterna luz, a eterna bondade, a paz eterna da alma, proporcionam uma alegria eterna, que nem as angústias da vida material, nem os contatos dos maus, que ali não tem acesso, poderiam perturbar. Eis o que o Espírito humano só dificilmente compreende. Ele foi engenhoso para pintar os tormentos do inferno, mas jamais pôde representar as alegrias do céu. E isso por que? Porque, sendo inferior, só tem experimentado penas e misérias, e não pode entrever as claridades celestes. Ele não pode falar daquilo que não conhece. Mas, à medida que se eleva e se purifica, o seu horizonte se alarga e ele compreende o bem que está à sua frente, como compreendeu o mal que deixou para trás."
(O Evangelho segundo o Espiritismo, Capítulo III, item 11)


Às vezes me surpreendo ao pensar no quanto somos pequenos, enquanto seres humanos. Tudo que sabemos, ou pensamos saber, é, na verdade, uma dimensão bem reduzida das verdades que realmente existem. 

Temos uma percepção tão grosseira da verdadeira felicidade... Os prazeres com os quais nos deleitamos estão, na verdade, em uma escala muito pequena, em relação aos verdadeiros gozos! Nossos sentimentos, dos quais tanto nos gabamos, não passam de uma versão dos sentimentos mais superiores, uma versão adaptada à nossa inferioridade moral.

Este mundo inteiro é uma projeção muito minimizada dos mundos superiores. 

É engraçado pensar em como todos os sentimentos que nutríamos há anos hoje nos parecem preencher o ego com tão mais intensidade. E as nossas opiniões? Como mudaram! Há tempos, julgávamos sermos os donos da verdade, mas não passávamos de imaturos cheios de orgulho. Agora, temos certeza de estarmos mais certos que outrora. Que diremos amanhã? 

Quanto mais amadurecemos, mais vemos como estávamos enganados; mais nos convencemos de como tudo que nos ensoberbecia era tão menor e mais superficial do que as coisas que agora nos acometem.

E a verdade é que, mesmo ao fim desta vida, quando estivermos no auge de nossa maturidade, ainda estaremos tão distantes das verdades divinas! Mas não nos enganemos: elas estão ao nosso alcance. Basta que estejamos dispostos a progredir o suficiente para merecer compreendê-las. 

O doce sabor do lar

Depois de tantos anos repetindo os mesmos horários e programas, pude agora, enfim, tirar um tempo para apreciar a simples passagem do tempo. Mal sabia que estava com saudade de passar o tempo assim. Que delícia é poder simplesmente ser, simplesmente estar, viver as coisas como elas sempre foram!

Ah, a vida era tão boa. E eu sabia. Aproveitei, vivi cada minuto. A diferença é que, hoje, o contraste é tão grande que as lembranças tornam-se ainda mais doces.

Eu tinha pouco ou quase nada com que me preocupar. Mentira, eu tinha. Doces preocupações! Mas não me preocupava tanto com viver: eu simplesmente vivia. Estava aqui, daqui a alguns minutos acontecia algo e eu poderia estar ali. E amanhã, tudo de novo. Porque eu havia quem se preocupasse com tudo. A mim, restava viver.

São coisas simples que fizeram parte da vida, e que até mesmo fizeram-me formar meu próprio conceito de estilo de vida, e que, com o advento do tempo e da maturidade, vão se perdendo, vão deixando de ser prioridade, vão deixando de ser prazer e tornando-se mera parte do dia. 

Eu fico grata por ter essa oportunidade. Estava precisando disto. Não é que não estivesse gostando da minha nova vida. Mas que mal tem em, nem que seja apenas uma vez por ano, poder sentir de novo os sabores da antiga? Daquela vida que eu vivia antes de ter verdadeira noção do que é viver. Ternos tempos que não voltam...

Pão com frutas ao acordar. Um CD tocando no quarto. Um perfume de mãe no ar. Uma poesia apreciada ao frescor da manhã. Arroz com feijão quentinhos, um bife suculento e uma salada com cores vibrantes. Um bom romance em preto e branco depois do almoço. Deitar-se no sofá ao cair da tarde. Um café, ao pôr do sol. Um papo com a mãe. Uma piada do pai. Um capítulo da novela, à noite. Um travesseiro fofo e um lençol  com cheiro de amaciante, no fim do dia. A simples satisfação de ter um lar, no fim de tudo.

Foi tudo perfeito. É, agora, a oportunidade perfeita para estreitar laços, passar por cima das desavenças e reviver os momentos felizes. Não, reviver não é a palavra correta: os momentos agradáveis devem ser recriados. Todos os dias.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Saudade, sim; solidão, não

Amo você, mas também me amo o suficiente para não depender de sua companhia para sentir-me bem.

Sou madura o suficiente para entender que haverá momentos em que não poderemos estar juntos, e bem resolvida o suficiente para não morrer de solidão quando isso acontecer.

Aliás, solidão é algo que não faz parte de minha vida. Sei proporcionar a mim mesma momentos de alegria e bem estar.

E, se quer mesmo saber, admiro você por saber lidar com este meu lado auto-suficiente. Um homem menos seguro de si precisaria de uma parceira carente e dependente para sentir-se valorizado. Você tem auto-estima, e como tal, entende que não sou uma fraca, desesperada e grudenta incapaz de sentir-se completa sem um homem a meu lado. Admiro sua sensatez e seu amor próprio. Você é suficientemente maduro para entender que a vida de um ser humano não pode resumir-se a um relacionamento amoroso, e suficientemente auto-confiante para aceitar que eu tenha vida que vai além da que tenho com você.

Sinto falta de sua personalidade, de tudo que é único em você, de coisas que só você pode me proporcionar. Você me proporciona uma felicidade que jamais julguei ser capaz de provir de um ser humano. Mas também sei ser feliz sozinha. E quando digo 'sozinha', quero dizer 'desacompanhada'. 

A sensação que me sufoca é saber que você pode não mais ser meu, ou não me amar. Todavia, enquanto tiver certeza de seu amor por mim e da solidez de tudo que temos, não me sentirei infeliz, ainda que não me encontre fisicamente ao seu lado. Enquanto estivermos juntos, estou feliz, ainda que não estejamos tangivelmente juntos.

Quando você se vai, eu sinto saudade. Mas não sinto solidão.

Nem preciso pedir a você que não me entenda mal. Sei que não duvida do que eu sinto. O fato de eu não ser tão carente só faz com que meu amor por você seja ainda mais digno de consideração. O amor mais nobre é aquele que não envolve dependência. Eu poderia fazer a escolha de viver só, e ainda assim seria feliz; mas se escolhi estar com você, é porque confio na sua capacidade de me fazer mais feliz ainda. E você me faz.



"Eu te amo. 
Eu não vim até aqui para te dizer que não sei viver sem você.
Eu sei viver sem você. Mas eu simplesmente não quero."

(Frase da personagem Sarah, interpretada por Jennifer Aniston, no filme "Dizem por aí", título original: "Rumor has it", de 2005)

Um momento para sempre





Algum dia, quando eu estiver terrivelmente abatido,
Quando o mundo estiver frio,
Eu sentirei um ardor apenas por pensar em você,
E na sua aparência nesta noite...


Sim, você é encantador,
Com seu sorriso tão caloroso
E as maçãs do seu rosto tão suaves...
Não me resta mais nada a não ser amar você
E a sua aparência nesta noite...


A cada palavra, sua ternura aumenta,
Afastando meu medo

E aquele riso que franze o seu nariz,
Toca meu tolo coração...


Sim, você é encantador... 
Nunca, jamais mude
Mantenha esse encanto que me tira o ar
Por favor, você não vai arrumá-lo?
Porque eu te amo,
Exatamente do jeito como você está nesta noite...




Se eu pudesse, congelaria certos momentos. 


Uma fotografia ou gravação não são capazes de capturar a essência completa de um instante inefável, porque efetuam registros que atingem um ou no máximo dois sentidos. 


Há momentos que gostaria de poder guardar para sempre, com a conservação de todas as dimensões: a imagem, o brilho, o som, o cheiro, a sensação... 


Gostaria de poder gravar até mesmo as coisas que passam pela minha cabeça enquanto ele está acontecendo. Ele: o momento. 


Como se reconhece, no instante em que está acontecendo, uma situação que se converterá em recordação memorável?


Ah, e que importa!? O mais correto a fazer é viver o momento. As circunstâncias se encarregarão de fazer com que ele dure o tempo necessário para marcar uma vida, e que a lembrança seja singularmente terna, porém não tanto quanto foi o próprio momento, que não se repetirá, que não é passível de reconstrução, porque foi único, e justamente por ter sido único tornou-se inesquecível...

As mulheres e o sexo

No texto "Psicologia, amor e sexo nas séries de TV", mencionei uma engraçada passagem do seriado brasileiro "Macho Man" no qual a personagem Valéria afirma, sem ironia, que "mulher não gosta de sexo; mulher gosta de homem". Ainda segundo a personagem, como homem gosta de sexo, mulher acaba aceitando o sexo também, afinal, ela quer o homem, mas o sexo "vem no pacote". 

É engraçado e tudo o mais; quando assisti, eu dei risada, mas depois, flagrei-me pensando nesta teoria. Muitas reflexões, pesquisas e leituras depois, inevitavelmente concluo que, por mais louca e cômica que pareça, esta premissa tem lá seu fundo de verdade.

Eis a conclusão a qual cheguei: ainda que não seja verdade que nenhuma mulher aprecia o ato sexual, há de se admitir que o fato de a mulher ter entendido o que o sexo representa para o homem fez com que ela repensasse e modificasse a sua própria forma de encarar o sexo, bem como, de usá-lo.

A mulher aprendeu a usar o sexo a seu favor. Após séculos e séculos de repressão, infelicidade conjugal e sexual, sofrimentos com traições e amores não correspondidos, tudo isto somado à expansão dos estudos a respeito da sexualidade feminina e masculina, com ênfase nas diferenças entre uma e outra, finalmente a mulher compreendeu que sexo, para o homem, representa algo diferente. 

Ainda há mulheres que relutem, mas a grande maioria já compreende e aceita que o homem é naturalmente mais inclinado ao sexo, bem como, que o sexo, para o homem, constitui verdadeira necessidade física, afinal, a ciência, a antropologia e a história nos ensinam que seu corpo foi dotado com desejo e capacidade de fecundar várias fêmeas, com o objetivo de perpetuar sua espécie. 

É claro que não se pode conceber o homem apenas nesta perspectiva animal-biológica, dissociada do elemento moral, psicológico e emocional; afinal, mesmo o homem mais sexualmente faminto é capaz de amar, manter um relacionamento amoroso estável e ser fiel. Todavia, tal explicação (a científica e histórica, que define o homem conforme sua função de reprodutor e perpetuador da espécie, criando assim a figura do "macho alfa") satisfaz a necessidade da mulher de entender porque o homem gosta e precisa de sexo mais que ela, assim como, satisfaz seu interesse em entender porque os homens estão tão mais propensos à infidelidade.



O sucesso de livros como "Por que os homens fazem sexo e as mulheres fazem amor?", best seller de Alan e Barbara Pease, pode ser um indicativo de quanto a mulher tem buscado cada vez mais entender estas questões, as quais são muito bem explicadas neste livro.

O fato é que, uma vez tendo a mulher entendido o quanto o sexo é importante para o homem, ela aprendeu a usar isso de forma a favorecer a si mesma. Não são poucos os casos, na história, de mulheres que usaram o sexo para ascender socialmente ou conseguir o que queriam: podemos citar Teodora, a prostituta que conseguiu casar-se com o imperador bizantino Justiniano I e depois aproveitou-se disso para influenciá-lo politicamente; e Mata Hari, a dançarina de beleza exótica que, reza a lenda, dormia com oficiais durante a I Guerra Mundial para conseguir informações secretas. Ademais, no dia a dia e nas novelas, não faltam exemplos de mulheres que dormem com homens ricos para conseguir usufruir de suas riquezas também.

Eu posso citar o filme "Baby Face", de 1933, estrelado pela minha atriz predileta: Barbara Stanwyck. Neste filme dirigido por Frank Capra, a personagem Lily Powers aprende a manipular os homens e conseguir deles o dinheiro que tanto almeja, fazendo uso do sexo. Dorme com vários homens até conseguir bons cargos na empresa em que trabalha, e depois, conseguir bons casamentos, para viver com luxo sem precisar trabalhar.

Este filme é muito interessante. Imaginem qual não foi a repercussão que esta história causou à sociedade daquela época, nos conservadores Estados Unidos pós-quebra da Bolsa de 1929... É claro que, mais tarde, com o advento do Código Hays (código que impunha às produções cinematográficas uma série de restrições, de forma a preservar "a moral", em respeito ao pudor daquela pudica sociedade), em 1934, o filme foi censurado.

Lily Powers, desde a infância, trabalhou no bar de seu pai, convivendo com homens sujos e bêbados que tentavam aproveitar-se dela. O filme não cita, mas certamente Lily já foi alvo do abuso destes homens. Cresceu com essa ideia de que homens são broncos, estúpidos, ignorantes e animalizados, que só pensam em sexo e bebida e são incapazes de cultivar sentimentos nobres ou absorver qualquer tipo de cultura. Mais tarde, aprendeu que podia beneficiar-se desta rudeza, usando a sua melhor arma, a única que eles poderiam querer de uma mulher: a beleza, o corpo, o sexo.

A cena-chave do filme é também a mais forte: um senhor (não me lembro que personagem era) diz a Lily que ela pode ir muito mais longe, subir na vida, ser alguém. Confusa, Lily diz: "Que chances uma mulher tem?". E ele a responde: "Mais chances que um homem. Uma mulher jovem e bonita como você pode conseguir tudo que quiser, porque você possui poder sobre os homens. Mas você tem que usar os homens, e não deixar que eles usem você". Ah, eu aplaudo a coragem de Frank Capra, por fazer um filme deste em plena década de 30! Vejam a cena no vídeo abaixo:


O discurso que o personagem faz a Lily resume toda a questão: se tudo que um homem quer de uma mulher é o sexo, então o sexo é o principal recurso que uma mulher pode ter para conseguir alguma coisa dele. Isto valia ainda mais na época em que a mulher não podia trabalhar, estudar ou ser reconhecida pelas suas habilidades e inteligência. Hoje, o paradigma mudou, a mulher conseguiu respeito e direitos, mas ainda assim, a sociedade é praticamente dominada por homens, e ainda há mulheres que usam o sexo para aproveitar-se deles.

Mulheres usam sexo para conseguir o que querem. Mas esta assertiva não deve ser interpretada levando-se em consideração apenas o lado fútil, superficial e ambicioso da mulher.

Vamos encarar as coisas de uma maneira bem simplista e generalizada: se é verdade, como pontuado pela personagem de "Macho Man", que "mulher não quer sexo; mulher quer homem", poder-se-ia também dizer que "homem não quer mulher; homem quer sexo" (mais uma vez, digo: estou partindo de uma perspectiva simplista e generalizada! É claro que tudo não se resume a isto, estas não são verdades absolutas e há exceções). E uma vez estando a mulher ciente disto, ela usa o sexo para conseguir o amor de seu homem. 

Isto pode explicar o porquê de tantas mulheres fingirem orgasmos.

Mulheres são carentes e têm medo de ficarem sozinhas (repito: estou generalizando!). Usam o sexo para conseguirem um relacionamento, e depois, para mantê-lo. Têm medo de perder seu homem, e por isso, dão a ele o que ele quer: sexo, mesmo quando ela não está com vontade.

Certa vez li no site Yahoo uma reportagem falando sobre mulheres que fazem greve de sexo. O cientista entrevistado, ao iniciar suas pesquisas, partiu da seguinte questão: Afinal, a mulher faz sexo com o namorado porque gosta de fazer sexo, ou só para agradá-lo? Ele não foi explícito, mas pude entender que a segunda alternativa é a correta. Se sexo agradasse a mulher tanto quanto agrada ao homem, ela não se privaria dele apenas para conseguir alguma coisa de seu parceiro. Se está confortável em ficar sem sexo até que o parceiro ceda, é porque não gosta tanto assim de sexo.

E por que será que não gosta? Deixando de lado qualquer explicação de cunho científico, pois não possuo conhecimento específico sobre isso, eu poderia dizer que mulheres gostam menos de sexo porque não se sentem completamente livres e bem resolvidas em relação ao sexo. Por este motivo, homens gostam mais de sexo que mulheres: porque fazem sexo sem culpa, não se sentem mal em gostar. Mulheres associam sexo a tantas coisas que torna-se complicado apreciar o sexo de forma total. 

"O homem faz sexo e fica satisfeito; a mulher faz sexo e fica insegura", dizia a personagem de Marisa Orth em "Macho Man". "Eu, por exemplo, sempre fico insegura, pensando se fingi direito", retruca a outra personagem. Este diálogo, por mais que tenha aparecido no seriado apenas para divertir o telespectador, retrata a forma como a mulher vê o sexo: como forma de agradar seu parceiro. Por isso, a mulher simula desejo, finge orgasmo, faz um verdadeiro teatro em cima da cama. Ela cria um personagem que, segundo crê, satisfará seu homem. 

Isto pode ter duas explicações: ou a mulher não possui autoestima suficiente para ter a coragem de ser si mesma e expor o seu verdadeiro eu na hora da relação da sexual; ou sabe que é seu homem que tem problemas de autoestima e não suportaria saber que não conseguiu proporcionar prazer a ela. 

Vou analisar as duas possibilidades.

Às vezes, a mulher é tão insegura e tem tanto medo de se mostrar como é, que precisa fingir. Para conquistar o homem amado, ela constrói uma outra personalidade. Como acaba conseguindo o homem, infere que precisa manter o disfarce, para manter o homem também. Tem medo de estragar o relacionamento e por isso continua com a "farsa". Na hora do sexo, teme revelar-se, teme que sua pose desmonte na frente do ser amado, e então, mantém o disfarce até o fim, fingindo ser aquilo que fingiu desde o começo. É nesta hora que a mulher finge ser muito mais safada e ousada do que verdadeiramente é, ou pelo contrário, finge ser recatada e certinha. Finge de acordo com a imagem que quer passar.

A outra possibilidade é a que envolve a insegurança do homem. O gozo e a ejaculação, para o homem, representam o prazer máximo, o cume do sexo. Se o homem goza, é porque o sexo valeu a pena. Com a mulher é diferente: o sexo pode ser extremamente prazeroso sem que ela goze, afinal, o sexo para a mulher diz respeito a todo o corpo, e não apenas ao órgão sexual. Mas os homens não sabem disso... Acham que tudo se dá da mesma forma. Por isso, quando ela não goza, ele se sente fracassado, sente que não cumpriu seu papel. Na intenção de preservar seu parceiro desta sensação de fiasco, a mulher finge o orgasmo. 

Li um interessantíssimo e excelente artigo de Ivan Martins para o site da Revista Época no qual ele fala sobre mulheres que fingem orgasmo. A parte que mais chamou a minha atenção é aquela em que ele afirma: "Meu ego aguenta uma mulher que não goze". A questão é justamente esta! Nem todo homem possui autoconfiança suficiente para lidar com isto. E aí resta à mulher preencher este vazio dele, dar solução ao seu problema de autoestima. Por isso ela finge orgasmo - algumas dizem inclusive que fingem não só o orgasmo, mas o sexo inteiro.

Alexander Lowen, em sua obra "Amor e orgasmo", discorre sobre isso de uma forma interessante quando disserta acerca da popularização da palavra "desempenho", ao descrever o ato sexual: 

"Deveríamos prestar atenção à própria menção do termo 'desempenho' em relação ao sexo. Desempenho sugere a execução de um ato de modo tal que consiga atrair a atenção do outro para uma habilidade ou para um talento artístico por parte de quem teve esse desempenho. (...) O desempenho é  avaliado segundo padrões externos a quem o realiza. (...) O ato sexual é um desempenho se for usado mais para impressionar o próprio parceiro do que para expressar algum sentimento próprio. É um desempenho se a satisfação do outro for de importância maior que a própria satisfação." (1988: p. 12 e 13)

Por isso as mulheres fingem tantas coisas na hora do sexo. Quer desempenhar-se bem, quer agradar o homem, e nisto, acaba perdendo o contato com a própria emoção, e por isso, ao fim do sexo, fica feliz por ter conseguido satisfazer o parceiro, mas também sente que não foi tão prazeroso para ela quanto poderia ter sido.

Será por isso que tantas mulheres possuem uma vida sexual insatisfatória? Eu creio que sim. A mulher vê o sexo como muitas coisas, e não como aquela que é a principal: prazer e realização pessoal. 

A mulher não se permite vivenciar o sexo da maneira que proporciona maior prazer a ela. É diferente - ela  vivencia o sexo da maneira que propicia a vantagem que ela quer do sexo: o amor de seu homem, o dinheiro, ou o que for. 

Durante séculos, o sexo foi o mais eficiente meio de uma mulher conseguir obter alguma coisa. E a mulher assimilou essa ideia de sexo como recurso de tal modo que não consegue mais ver o sexo como fonte de realização.

Em suma, eu poderia dizer que enquanto o sexo for visto pela mulher como obrigação, mecanismo, moeda de troca ou qualquer outra coisa do tipo, ela não vai se sentir plenamente realizada. 

Os homens têm culpa nisso, sim. Durante séculos, usaram a mulher como instrumento de descarga de sua tensão sexual, ignorando-as como seres humanos completos, dotados de opinião própria ou sentimentos. A mulher precisou se defender disto, ou melhor, usar isto a seu favor.

Contudo, nem por isto deve a mulher descontar exclusivamente nos homens sua frustração por não ser sexualmente saudável e contente. A mulher pode - e deve, caso queira ser feliz e esteja interessada em fazer seu homem também ainda mais feliz no sexo - livrar-se de culpas, medos e inseguranças, e enfim, enxergar no sexo uma fonte de prazer e felicidade. Só quando ela tiver essa coragem, conseguirá sentir-se completa, sexualmente falando.

domingo, 17 de julho de 2011

Poemas para minha filha

Lembro-me que, quando tinha cerca de 10 anos de idade, ganhei da minha mãe um livreto bem poético e cheio de ilustrações, chamado "Para minha filha", escrito por Pam Brown. Não é um romance; é apenas um amontoado de versos muito meigos e belos, e lembro que fiquei bastante emocionada. Estes gestos de carinho sempre foram de feitio de minha mãe, e outrossim, livros eram presentes frequentes. Desde criança, fui incentivada a ler e estudar. O gosto pela leitura, pelas artes e pela cultura foram em mim incutidos desde o berço.

São verdadeiros presentes que recebi e quero, com certeza, repassar à minha filha: a ternura, a leitura - e de preferência, assim como fez minha mãe, que ambos sejam ensinados combinadamente.

Quero aproveitar a ocasião para postar aqui dois belíssimos poemas: um soneto do arcadista Alvarenga Peixoto, escrito para sua filha Maria Ifigênia, na ocasião de seu aniversário de 7 aninhos de idade; e um escrito pelo carioca Alberto de Oliveira (um dos eixos da chamada "tríade parnasiana brasileira", também composta por Raimundo Correia e - o meu favorito - Olavo Bilac), inspirado por sua filha e dedicado a ela. Vou me lembrar de lê-los para minha filha. 

A Maria Ifigênia
(Alvarenga Peixoto)

Amada filha, é já chegado o dia,
em que a luz da razão, qual tocha acesa
vem conduzir a simples natureza,
é hoje que o teu mundo principia.
A mão que te gerou teus passos guia,
despreza ofertas de uma vã beleza,
e sacrifica as honras e a riqueza
às santas leis do filho de Maria.
Estampa na tua alma a caridade,
que amar a Deus, amar aos semelhantes,
são eternos preceitos da verdade.
Tudo o mais são idéias delirantes;
procura ser feliz na eternidade,
que o mundo são brevíssimos instantes...
"Family group reading", tela de Mary Cassatt, datada de 1901
À Minha Filha
(Alberto de Oliveira)Vejo em ti repetida, 
A anos de distância, 
A minha própria vida, 
A minha própria infância. 

É tal a semelhança, 
É tal a identidade, 
Que é só em ti, criança, 
Que entendo a eternidade. 

Todo o meu ser se exala, 
Se reproduz no teu: 
É minha a tua fala, 
Quem vive em ti, sou eu. 

Sorris como eu sorria, 
Cismas do meu cismar, 
O teu olhar copia, 
Espelha o meu olhar. 

És como a emanação, 
Como o prolongamento, 
Quer do meu coração, 
Quer do meu pensamento. 

Encarnas de tal modo 
Minha alma fugitiva, 
Que eu não morri de todo 
Enquanto sejas viva! 

Por que mistério imenso 
Se fez a transmissão 
De quanto sinto e penso 
Para esse coração? 

Foi como se eu andasse 
Noutra alma a semear 
Meu peito, minha face, 
Meu riso, meu olhar... 

Meus íntimos desejos, 
Meus sonhos mais doirados, 
Florindo com meus beijos 
Os campos semeados. 

Bendita é a colheita, 
Deus confiou em nós... 
Colhi-te, flor perfeita, 
Eco da minha voz! 

Foi o amor, foi o amor, 
Ó filha idolatrada, 
O sopro criador 
Que te tirou do nada! 

Deus bendito e louvado, 
Ó filha estremecida, 
Por te cá ter mandado 
A reviver-me a vida!