quarta-feira, 27 de julho de 2011

Éramos mais pacientes

"A mudança de hábitos, no entanto, se liberou o homem de algumas fobias e mecanismos de evasão perniciosos, impôs outros padrões comportamentais de massificação, nos quais surgem novos ídolos e mitos devoradores, que respondem por equivalentes fenômenos de desequilíbrio. Houve troca de conduta, mas não de renovação saudável na forma de encarar-se a vida e de vivê-la.
(...)
O excesso de tecnologia, que aparentemente resolveria os problemas humanos, engendrou novos dramas e conflitos comportamentais, na rotina degradante, que necessitam ser reexaminados para posterior correção. 
O individualismo, que deu ênfase ao enganoso conceito do homem de ferro e da mulher boneca, objeto de luxo e de inutilidade, cedeu lugar ao coletivismo consumista, sem identidade, em que os valores obedecem a novos padrões de crítica e de aceitação para os triunfos imediatos sob os altos preços da destruição do indivíduo como pessoa racional e livre."

("O homem integral", de Joanna de Ângelis, psicografado por Divaldo Pereira Franco. 14ª edição; 2001; págs. 17 e 18)


Dias atrás, surpreendi-me irritada com uma página na Internet que demorava para ser carregada. Ao atualizá-la, usando o famoso botão F5, propus-me a contar os segundos que ela demoraria para abrir. Foram 8 segundos, e eu achei um absurdo. Estou acostumada com bem menos. Internet banda larga (pela qual pagamos caro, inclusive) supostamente deveria ser veloz.

Foi quando me lembrei de quando tive Internet pela primeira vez. Ainda era discada. Vários minutos eram levados para efetuar a conexão, e quando enfim conseguíamos, havia a chance de ela cair a qualquer momento. Sem mencionar que a linha telefônica ficava ocupada!

Em questão de poucos anos, quanta coisa mudou! 

E os computadores de alguns anos atrás? Que tempão levavam para serem ligados! E os downloads? Lembro-me de alguns que duravam o dia inteiro. Era preciso rezar para a conexão não cair e, com isto, perdermos tudo. Mas, mesmo assim, esperávamos. Era normal. Ninguém tinha ataques de nervos por causa disso. Atualmente, todavia, ficamos irritados com downloads de até menos de uma hora.

Devo mencionar também os videocassetes... As fitas VHS! Ao fim de um filme, caso quiséssemos revê-lo, era preciso rebobinar tudinho... E assim fazíamos. Hoje, mal temos paciência quando um DVD leva mais de 1 segundo para selecionar uma cena.

Clássica cena do filme "Tempos modernos", de 1936, com
Charles Chaplin em uma inteligente e bem humorada
crítica à sociedade capitalista 
A modernidade e os avanços da tecnologia trouxeram conforto e praticidade, mas, por outro lado, tornaram-nos mais impacientes, imediatistas, mais mimados - sim, "mimados" é a palavra perfeita. Queremos tudo perfeito e em tempo récorde. Qualidade ou velocidade não são apreciadas quando não vêm conjugadas em um único aparelho. 

Céus! De quem é a culpa?

Em um primeiro momento, penso que foram os cientistas que nos acostumaram muito mal. Eles se superam a cada dia. Antes que tenhamos tempo de nos acostumar com alguma novidade, ou ainda, antes que tenhamos condições financeiras de experimentá-la, eles nos apresentam novas e mais eficientes formas de fazer o que outrora requeria tanto tempo e esforço. 

Porém... Quem pode culpá-los por fazerem seu trabalho? Por se esforçarem, por buscarem o melhor?

Os errados somos nós? Nós é que somos deslumbrados, fúteis, consumistas?

Não se pode negar que nós nos desgastamos para estar em dia com tudo que o mundo nos oferece, e idolatramos tanto a tecnologia - esse mal necessário - que fazemos dela um novo padrão, condicionamos nossa vida inteira a ela, de tal forma que não conseguimos mais viver sem. 

Mas será que estamos errados em querer gozar das facilidades e prazeres disponíveis no mercado? Nossa natureza frágil e imatura faz com que nos tornemos dependentes de todas as coisas às quais nos acostumamos e que nos trazem maior comodidade. Quem vai querer despender tanto suor e preciosas horas em algo que uma máquina pode fazer? É... Faz sentido. Mas será que isso nos faz mais felizes, ou mais saudáveis?

Acho que nos perdemos no meio desse caminho rumo a uma vida melhor. Topamos ir fundo na procura de coisas melhores, mas provavelmente não estávamos preparados para conseguir um resultado tão expressivo - ou, ao menos, para lidar com as consequências dele.

"A sociedade atual sofre a terapia desordenada que usou na enfermidade antiga do homem, que ora se revela mais debilitado do que antes", preleciona Joanna de Ângelis, na página 14 da obra citada no cabeçalho deste texto.

Erramos, mas na intenção de acertar. Queríamos melhorar as coisas, e acabamos complicando-as mais, pois o excesso de modernidade acabou gerando vários conflitos relativos à ansiedade e a um frequente sentimento de profunda insatisfação.

Em "O homem integral", Joanna de Ângelis é magistral ao traçar este paralelo entre os avanços da tecnologia e os conflitos emocionais do ser humano, asseverando que se por um lado a modernidade nos trouxe respostas para antigos problemas, por outro, criou novos, maiores e mais complexos: 

"As admiráveis conquistas da Ciência que se apóia na Tecnologia, não logram harmonizar o homem belicoso e insatisfeito (...)"; 

"Há esperança para terríveis enfermidades que destruíram gerações, enquanto surgem novas doenças totalmente perturbadoras.

(página 15)

Pois bem; a ciência e a tecnologia solucionaram as questões do passado. E as atuais... Quem solucionará?

Para responder, mais uma vez, invocamos Joanna de Ângelis: 

"Neste homem atribulado dos nossos dias, a Divindade deposita a confiança em favor de uma renovação para um mundo melhor e uma sociedade mais feliz. 
Buscar os valores que lhe dormem soterrados no íntimo é a razão de sua existência corporal, no momento. 
Encontrar-se com a vida, enfrentá-la e triunfar, eis o seu fanal."
(página 16)

Guardado o necessário respeito pela Psicologia, Filosofia (das quais sou grande entusiasta) e todas as demais ciências e causas que se destinam em tentar resolver as aflições do homem moderno, não posso deixar de concordar com estas sábias e elucidantes palavras.

Um comentário:

As Tertulías disse...

Wow... que Blog mais rico!!!!!!!!!! Tenho que ler mais!!!!!