domingo, 17 de julho de 2011

Poemas para minha filha

Lembro-me que, quando tinha cerca de 10 anos de idade, ganhei da minha mãe um livreto bem poético e cheio de ilustrações, chamado "Para minha filha", escrito por Pam Brown. Não é um romance; é apenas um amontoado de versos muito meigos e belos, e lembro que fiquei bastante emocionada. Estes gestos de carinho sempre foram de feitio de minha mãe, e outrossim, livros eram presentes frequentes. Desde criança, fui incentivada a ler e estudar. O gosto pela leitura, pelas artes e pela cultura foram em mim incutidos desde o berço.

São verdadeiros presentes que recebi e quero, com certeza, repassar à minha filha: a ternura, a leitura - e de preferência, assim como fez minha mãe, que ambos sejam ensinados combinadamente.

Quero aproveitar a ocasião para postar aqui dois belíssimos poemas: um soneto do arcadista Alvarenga Peixoto, escrito para sua filha Maria Ifigênia, na ocasião de seu aniversário de 7 aninhos de idade; e um escrito pelo carioca Alberto de Oliveira (um dos eixos da chamada "tríade parnasiana brasileira", também composta por Raimundo Correia e - o meu favorito - Olavo Bilac), inspirado por sua filha e dedicado a ela. Vou me lembrar de lê-los para minha filha. 

A Maria Ifigênia
(Alvarenga Peixoto)

Amada filha, é já chegado o dia,
em que a luz da razão, qual tocha acesa
vem conduzir a simples natureza,
é hoje que o teu mundo principia.
A mão que te gerou teus passos guia,
despreza ofertas de uma vã beleza,
e sacrifica as honras e a riqueza
às santas leis do filho de Maria.
Estampa na tua alma a caridade,
que amar a Deus, amar aos semelhantes,
são eternos preceitos da verdade.
Tudo o mais são idéias delirantes;
procura ser feliz na eternidade,
que o mundo são brevíssimos instantes...
"Family group reading", tela de Mary Cassatt, datada de 1901
À Minha Filha
(Alberto de Oliveira)Vejo em ti repetida, 
A anos de distância, 
A minha própria vida, 
A minha própria infância. 

É tal a semelhança, 
É tal a identidade, 
Que é só em ti, criança, 
Que entendo a eternidade. 

Todo o meu ser se exala, 
Se reproduz no teu: 
É minha a tua fala, 
Quem vive em ti, sou eu. 

Sorris como eu sorria, 
Cismas do meu cismar, 
O teu olhar copia, 
Espelha o meu olhar. 

És como a emanação, 
Como o prolongamento, 
Quer do meu coração, 
Quer do meu pensamento. 

Encarnas de tal modo 
Minha alma fugitiva, 
Que eu não morri de todo 
Enquanto sejas viva! 

Por que mistério imenso 
Se fez a transmissão 
De quanto sinto e penso 
Para esse coração? 

Foi como se eu andasse 
Noutra alma a semear 
Meu peito, minha face, 
Meu riso, meu olhar... 

Meus íntimos desejos, 
Meus sonhos mais doirados, 
Florindo com meus beijos 
Os campos semeados. 

Bendita é a colheita, 
Deus confiou em nós... 
Colhi-te, flor perfeita, 
Eco da minha voz! 

Foi o amor, foi o amor, 
Ó filha idolatrada, 
O sopro criador 
Que te tirou do nada! 

Deus bendito e louvado, 
Ó filha estremecida, 
Por te cá ter mandado 
A reviver-me a vida! 

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