domingo, 29 de maio de 2011

Disfarce e vá... O show não pode parar


Sorri, vai mentindo a tua dor

E ao notar que tu sorris,
Todo mundo irá supor que és feliz...


E, mais uma vez, eu fui. Não fui com o coração, mas fui e fiz o que devia fazer. E, modéstia à parte, eu finjo muito bem. Todos podiam jurar que eu estava contente e fazia tudo com boa vontade. Se soubessem quanta boa vontade tem me faltado...

Admito: fui por pura obrigação. Mas ninguém pode dizer que eu não cumpri o meu papel. Não é isso que importa? Claro que é. Por gentileza ou por desencargo de consciência, o dever foi cumprido.

Logicamente, tudo que é feito com boa vontade tem mais valor aos olhos de Deus e conta mais no calcular dos méritos e missões que temos, nesta vida e nas outras. Mas e quanto aos que não conseguem detectar a intenção por trás das minhas atitudes? A eles, dei o que mereciam, fiz o que foram lá para receber. Ninguém pode dizer que foi afetado pela minha falta de energia e servidão.

E assim, enquanto não recupero o que perdi, sigo em frente. Cumpro o meu dever, faço o meu trabalho, bato meu ponto. O mundo é uma obra muito maior que as minhas reles fraquezas. Acima da minha indisposição, há um bilhão de coisas mais importantes, e pessoas cujas necessidades não esperam que eu me resolva. Senhor, dai-me boa vontade! Porque o show não pode parar. 




"It's amazing what you can hide just by putting up a smile"
"É incrível o que você pode esconder apenas pondo um sorriso"
("Believe in me", Demi Lovato)

Memórias para o pai da minha filha – Parte III: Eu e você, no futuro

Eu não sei explicar, mas tenho dentro de mim essa certeza de que ficaremos juntos por muito tempo. Assim como tantas outras coisas que sinto, que sinto que sei, que sinto que posso prever como serão. Quem pode explicar? Só sei que sei.

A vida não te levará de mim, nem a mim de você. Nossos problemas serão outros. Nossos desafios advirão justamente do fato de estarmos sempre juntos.

Todavia, não posso deixar de contar com a possibilidade de, um dia, não estar mais com você. Como superarei? Isto é algo com que não desejo me preocupar agora. Prefiro aproveitar este tempo para te dizer algumas coisas, aproveitar o tempo enquanto é tempo. Se estou com você agora, é para te fazer feliz. O amanhã é o amanhã.  
Então, prepare-se. Aqui vou eu.

Você não é incrível só por ser meu, e tampouco é meu só por ser incrível. Você é o que é, maravilhoso assim, inacreditável assim, mais ainda por ser meu, mas ainda assim se não fosse.

Você foi o primeiro, e como já disse, tenho a sensação de que será o único. Melhor assim. Você se tornou um parâmetro, um padrão, e fica muito difícil julgar o resto do mundo pelos mesmos critérios. Uma vez tendo estado com você, como poderei me contentar com menos?

Acho que fiquei mal acostumada. Mas não posso me esquecer que se tenho tanto, é porque mereço. Deus é justo, disso eu sei, mas também não posso deixar de ser tão grata a Ele. Só mesmo uma pessoa muito ingrata, insensível, rebelde e idiota poderia não sentir um peso tão grande na consciência por ter uma pessoa tão especial ao seu lado.

Ter você é como estar em dívida eterna com a humanidade. Eu ganhei demais, e me sinto na obrigação de reverter isso para o mundo. Ninguém é tão presenteado sem motivo.

Ter você me faz pensar nestas coisas. Meu Deus, como podem ter uma visão tão medíocre e superficial do amor? O fato de estarmos juntos significa muito mais do que o simples fato de estarmos juntos. Sou feliz, você é feliz, me faz feliz, somos felizes, me esforço para te fazer feliz, e isso não é simplesmente isso. Tudo tem um porquê.

Até nossas imperfeições têm uma razão de ser. Nossas diferenças, nossos percalços, nossos desentendimentos, parecem existir somente para zombar da nossa admirável vontade de sermos felizes juntos. Mas e daí? Zombamos delas também. Imbecis, mesquinhas. Vai ser necessário muito mais do que isso para nos derrubar. E olha que só isso já é muito.

Há horas em que acho que não vou conseguir. Que não vamos derrotar esse inimigo. Que o melhor a fazer será tentar conviver pacificamente com ele. Mas não... Não. E tudo aquilo que temos, tudo que já vivemos, tudo que estamos nos esforçando tanto para construir? Se tudo isso serve para algo, é para nos dar força. E uma vez fortes, podemos vencer. E eu que não ouse duvidar, pois nós venceremos.

Mostraremos ao mundo que é possível. Todos vão aprender conosco. Seremos inspiração, faremos história. Talvez demore. Talvez nossa geração não reconheça nada disso. Mas nossos filhos o farão. E enquanto eles não vêm, serviremos de inspiração para nós mesmos. Se estamos conseguindo tantas coisas relativas a nós dois, por que não conseguiríamos individualmente?

O que sei é que nada acontece por capricho, puro prazer ou passatempo. Sinto-me privilegiada por já termos noção disso. Muitas pessoas levam vidas para entender. Nesse ponto, estamos um passo adiante. A caminhada, entretanto, ainda é longa. É cheia de imprevistos, é louca, é dura. Mas, a despeito disso tudo, é bom saber que não estou com tanto medo, é bom saber que estou com você.   

Sem mais torturas

Eu já tomei minha decisão: não vou ficar me torturando.

Darei o melhor de mim, mas se não der certo, não ficarei me culpando. Fiz o que pude, não fiz? Se fracassei, é porque assim tinha de ser, e não porque não me esforcei.

Tenho apenas um corpo, um espírito, poucas horas livres, e mil coisas para fazer. Farei o que puder. Com esforço, mas sem estresse. Com dedicação, mas sem autoflagelação. De que adianta martirizar-se tanto? No fim, o que tiver que dar certo, dará.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Como sempre, estão mais do meu lado do que eu

"Disse-lhe então Pilatos, logo tu és Rei? Respondeu Jesus: Tu o dizes que eu sou Rei."
(João, 18:37)



"Como sempre, estou mais do seu lado que você..."
(Trecho da canção 'Não olhe pra trás', da banda Capital Inicial)




As pessoas depositam muitas expectativas em mim. Fazem uma idéia fantástica de mim, e com base nisso, têm a certeza de que meu futuro será brilhante. Dispõem de tão poucos elementos sobre mim, mas julgam que sejam suficientes para assegurar que sou uma grande pessoa e que chegarei muito longe nesta vida.

Sinto-me lisonjeada com tudo isso. Os comentários carinhosos me deixam feliz, e até posso dizer que concordo com alguns deles. Eu sei das minhas virtudes. Entretanto... Será que sou mesmo isso tudo?

Não é que eu não confie em mim. Eu sei que sou boa; só acho que não sou tão boa quanto dizem. 

Eu devo realmente enganar bem. Ou talvez eu passe tão perfeitamente a impressão de ser boa, que acabo sendo mesmo, e assim, convenço as pessoas. O que ocorre? Só o que sei é que vêem em mim um potencial muito maior do que aquele que realmente tenho - ou, ao menos, do que aquele que sei ser capaz de desenvolver.

Chega a ser constrangedor ser tão bem recomendada. Pessoas tão incríveis falam tão bem de mim... Por quê? Elas me viram errar, algumas até conhecem algumas fraquezas minhas, elas convivem comigo e portanto sabem que não sou grande coisa. Mas mesmo assim, elogiam-me. É uma honra, claro. Mas é preciso tanta cerimônia?

Não me entendam mal. Não é que eu não acredite no meu potencial. Eu tenho uma excelente autoestima, gosto do que sou e confio em mim, de verdade, mas... Tenho uma visão mais realista de mim mesma. Não, não é modéstia. Não quero confete (acho que já tenho o suficiente... felizmente!). O fato é que, embora eu adore (vaidosa que sou, como todo ser humano) ser elogiada, deixar que toda essa aura de perfeição seja criada em minha volta pode ser muito perigoso, e fonte de futuras frustrações. 

E se um dia eu falhar? Ou melhor... E quando eu falhar, como vai ser? Acharão que sou uma farsa, que durante todo o tempo eu apenas fingi ser maravilhosa. Como eu fico nesta situação? 

Não sei exatamente qual o meu medo. Creio que temo desapontar as pessoas que acreditam em mim menos do que temo ver meu castelo de areia (construído com elogios e manifestações de admiração) desmoronar...Perder tudo que levei tanto tempo para construir, toda a imagem que mantive impecável durante tantos anos, seria pior que ver pessoas dizendo que esperavam mais de mim. Vêem só como sou orgulhosa? E ainda insistem em dizer que sou tão boa, uma moça tão boa...

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Você tem certeza de quer se tornar adulta?


Querida filha,

Pense bem antes de decidir se tornar adulta. Uma vez tomada esta decisão, não tem volta.

É divertido brincar de ser mulher quando se é apenas uma menina: você tem permissão para sair à noite, usa salto alto e se maquia, desperta desejo em homens mais velhos... e é só isso. Ao chegar em casa (às 5h, embora você jure por tudo que eram apenas 2h), você lava o rosto, retira a maquiagem e volta a ser criança, dormindo abraçada com um ursinho. Ah, como é gostoso experimentar as sensações de adulta sem arcar com os ônus disto!

Porém, é só uma questão de tempo até a brincadeira se tornar realidade. Quando menos se espera, você tem que tomar decisões e assumir responsabilidades que mal tem certeza se já é madura o suficiente para assumir. Mas quem disse que a vida espera? Uma vez que você ingressa no mundo adulto, ninguém quer saber se você já pensa e age como um, pois supõe-se que sim.

Pense bem antes de pular tantas etapas e querer adiantar aquilo que tanta gente prefere adiar, após atestar que é tão mais complicado do que parecia quando apenas se sonhava com isto.

Ter um carro não parece tão incrível quando você se dá conta de que o mau uso dele pode tirar a vida de uma pessoa... Pagar as próprias contas não se parece tanto com um símbolo de poder e independência, quando você se dá conta de quanto mês ainda resta quando acaba o dinheiro... Poder fazer escolhas sem dar satisfações a ninguém, também não é tão legal quando você se dá conta de que está sozinho e só pode contar consigo mesmo para resolver tantas coisas que você não se julga capaz de resolver!

Quando eu escrevi este texto para você, tinha pouco mais de 20 anos; já tinha um emprego, estava quase me formando na faculdade, pagava o combustível do meu próprio carro, lidava com adultos, tinha tarefas e deveres. Ainda morava com meus pais, mas já era uma adulta; entretanto, não me sentia como uma adulta. A impressão que eu tinha era que o futuro tinha chegado cedo demais. O mundo exigia que eu me comportasse com maturidade e experiência, quando eu ainda havia acabado de sair da adolescência! Exigiam de mim conhecimentos que a minha infância não forneceu. Supunham que eu conhecia todas as regras do mundo adulto, quando na verdade, eu ainda tinha frescas em minha mente as lembranças das bolachas e brincadeiras com Barbies.

Você passa tanto tempo sonhando com o que virá, que acaba desperdiçando o que tem ao seu alcance neste exato momento. Parece tão glamuroso ter tantas responsabilidades, mas elas geram uma estresse do qual você não faz ideia.

Emociono-me ao pensar na sua inocência, e ao me lembrar de como é gostoso ser assim. Você também tem seus problemas, e eu não ouso debochar deles, porque embora não sejam nada para mim, eu consigo me lembrar de passar por coisas parecidas e achar que eram o fim do mundo. Ah, se eu soubesse por quantas coisas bem mais complexas teria que passar dentro de alguns anos! Eu não fazia ideia. Você não faz ideia. Mas eu nunca vou jogar isso na sua cara. Você é uma criança e o seu mundo é este. Eu respeito a sua inocência e os seus problemas, e quero fazer o possível para te ajudar a resolvê-los.

Mas, ainda assim, peço a você... Curta mais suas bonecas. Brinque. Assista seus desenhos animados favoritos. Mas também seja uma boa aluna e aproveite bem o período escolar. Valorize o que eu e seu pai nos esforçamos tanto para te dar. Prepare o seu futuro aos poucos... Mas não deixe de ser criança enquanto você é criança.

A idade adulta vai vir, quando tiver de vir, e é bem provável que você sinta uma certa saudade do que passou, ou até mesmo sinta vontade de voltar atrás... E não vai ser possível regredir no tempo ou recorrer a mim e ao seu pai.

Não se assuste. Ser adulta também é legal. Foi a fase em que mais cresci, amadureci e aprendi na vida. Talvez, também, seja a fase em que eu mais tenho sido feliz. Ser adulta me proporcionou muitas coisas, entre elas, a melhor de todas: você. Não lamento que a infância não seja eterna. Mas, enquanto ela dura, deve ser vivida sem pressa, com amor, e saboreada aos poucos, porque ter uma infância feliz e saudável já é meio caminho andado para tornar-se um adulto equilibrado. 







"To you everything's funny, you got nothing to regret
I'd give all I have, honey
If you could stay like that

Oh darling, don't you ever grow up
Don't you ever grow up, just stay this little
Oh darling, don't you ever grow up
Don't you ever grow up, it could stay this simple..."

"Para você, tudo é engraçado, você não tem nada de que se arrepender
Eu daria tudo que tenho, querida, se você pudesse continuar assim
Oh, querida, nunca cresça, nunca cresça, permaneça pequenina assim
Oh, querida, nunca cresça, nunca cresça, tudo poderia permanecer simples assim..."

(Taylor Swift, "Never grow up")

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Ah... Os bailes!!!!

Aqui no Brasil não temos essa cultura de realizar bailes de formatura no colegial, mas quem adora cultura pop norte americana (como eu!) já é bem familiarizado com a situação: ao fim do ano, nas escolas, realiza-se o baile, aquela noite com a qual os adolescentes passam o ano todo sonhando. As meninas se arrumam de forma bonita e sonham em ser coroadas rainhas do baile. Ir bem acompanhada, chegar de limosine, usar um vestido incrível, tudo isso é sinal de status para elas. Já os meninos sonham em perder a virgindade com a acompanhante após a festa.


O baile de formatura em Glee

No vigésimo episódio da segunda temporada de Glee, tivemos o tão esperado baile! Foi um episódio de puro entretenimento e algumas cenas de grande comoção, tudo isso aliado a incríveis performances, desse jeito que Glee sabe fazer muito bem.


Todo o episódio em si foi maravilhoso, mas as cenas envolvendo o baile, em especial, não deixaram nada a desejar àqueles que sabem o que esperar deste tipo de situação: nos filmes juvenis americanos, o baile é sempre o momento em que ocorrem os desfechos dos dilemas amorosos, as grandes cenas, o grande clímax. Em Glee, tivemos vários momentos deste tipo, com a ressalva, é claro, de que nem tudo foi resolvido no próprio baile... Não só porque ainda temos dois episódios em vista, para esta temporada, mas também porque, tal qual na vida real, em Glee certas coisas não se resolvem de forma tão simples e teatral. 


O mais legal foi que o episódio conseguiu passar toda a euforia que os bailes provocam nos adolescentes. Praticamente consegui me sentir naquela situação: a alegria, a vontade de dançar, a adrenalina de fazer algo errado e temer ser flagrado, a curiosidade de saber quem serão o rei e a rainha do baile, a tensão sentida quando o colega é envergonhando na frente de todos... Tudo no episódio transmitia essas sensações.


Como é delicioso ser jovem e achar que a vida se resume a apenas estas coisas! O baile é o auge da vida de um adolescente. É lá que ele vai se portar como adulto, testar sua popularidade, alimentar o seu ego, experimentar sua sexualidade. Tudo tão frívolo, tão superficial, tão leviano, tão... absurdamente juvenil!! A vida é tão gostosa quando não se tem noção do que ela realmente representa!


Cenas marcantes de bailes de formatura em filmes juvenis: "Meninas Malvadas", "Nunca fui beijada", "Dez coisas que odeio em você" e "Correndo atrás"




O filme "Nunca fui beijada" retrata muito bem esta situação. No colégio, o adolescente quer se definir, quer descobrir quem é, e acima de tudo, quer se auto afirmar perante os colegas, e faz isso assumindo algum papel, nem sempre voluntariamente: o nerd, a gostosa, o popular, o fodão, o excêntrico... Rótulos, enfim. Mas, e quando a escola termina? E quando chega a hora de encarar o mundo? O mundo não é pequeno como a escola. Aquele que se destacou, agora é mais um na multidão. Aquele que era discriminado e ridicularizado, agora também é mais um na multidão, com tantas chances quanto os outros. 


Mas quem pensa nisso quando se está ali, no contexto, vivendo a situação, experimentando as dores e delícias de ser quem é? Ah, a ignorância pode ser uma coisa agradável. A vida é tão fácil e divertida quando se vive dentro de seu pequeno mundinho! Estes adolescentes mal sabem o que lhes espera após a formatura: um mundo enorme, difícil, competitivo, com muita gente disposta a te derrubar e dizer não aos seus sonhos. Deixe-os saborear estes momentos enquanto eles ainda os têm... O futuro virá de qualquer forma mesmo.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Pós-desabafo-pós sonho

(Continuação do texto "Desabafo pós-sonho")


É... De fato, eu só precisava chorar um pouco.

Na verdade, estou até um pouco decepcionada comigo mesma, por ter deixado de lado o velho otimismo de sempre. Lutei tanto para chegar a este estágio da vida, e logo agora, estresso-me. Eu não devia. Tenho a obrigação de encarar tudo com bons olhos - se não puder ser com leveza, que seja ao menos com alegria. 

Vai compensar. A espera, a luta, o suor, os obstáculos, as noites sem dormir... Tudo isto vai compensar. Já está compensando. Tenho aprendido como nunca, esforçado-me como nunca, superado-me como nunca. Tudo isto não é a troco de nada. Um dia, todas as preocupações e atitudes de agora vão dar frutos. E enquanto esse dia não chega, aprecio a beleza e os benesses da plantação. Feliz, porque tenho perspectivas, porque luto para algo melhor, enquanto tantos mal têm essa oportunidade. 

Feliz, porque tenho condições de buscar o que realmente desejo...

... Feliz, porque tenho saúde, e estou viva.

Não posso esmaecer. Eu não vou esmaecer. Vou continuar sendo forte, e batalhando, e buscando. Claro, preciso me dar o direito, às vezes, de relaxar um pouco e procurar aquilo que me conforta a alma. Mas depois, volto à luta. Porque se é ela que me fez chegar onde estou, também é ela que me fará chegar onde quero estar. 



Invernos, impérios, mistérios
Lembranças, cobranças, vinganças

Assim como a dor, que fere o peito,
Isso vai passar também...

E todo o medo, o desespero, e a alegria

E a tempestade, a falsidade, a calmaria

E os teus espinhos, e o frio que eu sinto

Isso vai passar também...

Saudades, vaidades, verdades

Coragem, miragens,

E a imagem no espelho

Como a dor que fere o peito,
Isso vai passar também...

(Sandy, "Tempo")

Lília Cabral na série "Divã"

Na última terça feira, por um destes lapsos da vida que sou incapaz de entender como se dão, tive tempo de assistir a série "Divã", da Rede Globo. Eu já conhecia a proposta, pois assisti ao filme homônimo, e até já imaginava como seria a série. Não me surpreendi, mas isto não quer dizer que não me senti comovida... Pois me senti. Bastante.

O que me emocionou, em especial, foi a atuação de Lília Cabral. A história em si é ótima, o enredo do capítulo de terça foi super legal, a produção é excelente, o roteiro também... Enfim, tudo estava em seu lugar, tudo era muito bem feito, mas em meio a tudo isso, a maneira como Lília atuava chamou particularmente a minha atenção. 

Com apenas um sorriso e um olhar, Lília transmitiu de forma perfeita e muito tocante a essência de sua personagem, a qual identifiquei em várias mulheres "reais" que conheço. A sua expressão facial, por si só, já era uma mensagem, uma auto-descrição: "Tenho 50 anos e quero ser feliz". 

Vi na personagem Mercedes, uma divorciada recém adepta da psicanálise, a personificação de tantas mulheres brasileiras que, não obstante já não se encontrarem mais em sua "época áurea", ainda buscam na vida alguma coisa que as preencha. 


Esta imagem é uma captura de
um vídeo postado no Youtube
Lília Cabral é magistral ao compor Mercedes. O traço que considero mais característico da personagem é aquela expressão que ela quase sempre assume quando está falando com o psicanalista (vejam a foto ao lado): o sorriso resignado, o olhar brilhante porém triste, e a cabeça baixa, como se ela estivesse tentando convencer a si mesma de que não deveria estar se sentindo daquela forma... Uma expressão de "mas tudo bem". Estou mal, mas tudo bem. A vida não é tão fácil quanto parece, mas tudo bem.


Como é possível que Lília tenha tanto domínio sobre o próprio olhar? É uma atriz magnífica. Dá pra ver o brilho nos olhos de Mercedes, mas ao mesmo tempo também se nota uma grande prostração neles. É a própria essência da personagem! É o próprio sentir uma chama ardendo dentro de si, mas tentar controlá-la, como se não se tivesse o direito de ainda buscar a felicidade. Todo o tempo vemos Mercedes correndo atrás da felicidade, mas por vezes ela se retrai. E está sempre tentando se justificar, seja para si mesma, seja para o psicanalista. Parece estar sempre em dúvida: "Afinal, mereço ou não ser feliz? Tenho ou não o direito de, a esta altura da vida, experimentar coisas novas?"


Outro traço muito bem marcado é o fato de Mercedes costumar falar de si mesma de modo muito cabisbaixo, olhando para baixo, para logo em seguida levantar a cabeça e justificar-se com um sorriso. 


Esta imagem é uma captura de
um vídeo postado no Youtube
Mercedes é uma dualidade, é uma luta entre fogueira e extintor, entre sentir vontade e não julgar-se merecedora. Exatamente como tantas mulheres de sua faixa etária, no Brasil e no mundo.


Em um passado não tão distante, recomeçar a vida era uma perspectiva inconcebível para uma mulher de 40 ou 50 anos de idade. Até mesmo de 30! A esta época, o casamento, os filhos e os afazeres (domésticos ou não) eram tudo que se podia ter, e deveriam bastar. A felicidade deveria resumir-se nisto. E aquela que se atrevesse a sentir-se infeliz, mesmo tendo "tudo" isto, era ingrata. 


Pois bem... Hoje, impregnada que está na sociedade a cultura do direito de ser feliz, aos poucos as mulheres (e os homens, os jovens, os idosos, os deficientes, os homossexuais...) têm ousado lutar pelo próprio regozijo, pela realização, pela busca de algo melhor. 


Neste barco está Mercedes, embora ainda não saiba muito bem lidar com tudo isso: o hedonismo, a reivindicação da satisfação, o poder sentir sem culpa... E na verdade, é claro que não é só ela quem se sente assim. Todos estes "direitos" foram muito recentemente conferidos às pessoas. 


Quem já nasceu sob a égide deste novo jeito de ver as coisas, lida com isto muito facilmente, pois o encara de forma natural: é só o que ele conhece, desde que nasceu. Mas e quem passou a vida inteira se castrando, se reprimindo, afogando dentro da alma a vontade de batalhar por um "algo a mais" na vida? Não é tão simples esquecer os velhos preceitos, abandonar os velhos costumes e reinventar-se, partir para outra, como uma nova pessoa, uma nova mulher, um novo eu, pronto para seguir em busca do que almeja. O processo é lento, é delicado.  


Mercedes tem feito análise com um profissional para resolver-se da melhor maneira. Lília Cabral também faz. Muitas mulheres não podem contar com a ajuda de um especialista, ou simplesmente não acreditam no êxito das terapias, e assim, vão se virando como podem. Sofrendo caladas, ou desabafando. Aprendendo "na marra", ou refletindo cuidadosamente. Permitindo-se, ou não. Mantendo-se presa ao que já conhecia, ou abrindo a cabeça para novas possibilidades. E assim, seguem suas vidas... 

terça-feira, 10 de maio de 2011

Desabafo pós-sonho: a vida urge!!

"O quanto de tua existência não foi retirado pelos sofrimentos sem necessidade, tolos contentamentos, paixões ávidas, conversas inúteis, e quão pouco te restou do que era teu?"

"A vida, se bem empregada, é suficientemente longa e nos foi dada com muita generosidade para alcançarmos grandes realizações.


Ao contrário, se desperdiçada no luxo e na indiferença, se não dedicada a nenhum propósito, por fim, se não se respeita nenhum valor, se não realizamos aquilo que deveríamos realizar, sentimos que ela realmente se esvai"



"Alguns, sem terem dado rumo a suas vidas, são flagrados pelo destino esgotados sonolentos"


"Apressa-te a viver bem e pensa que cada dia é, por si só, uma vida"

"Não temos exatamente uma vida curta, mas desperdiçamos uma grande parte dela"

(Sêneca)
Retirado do blog  do Nicholas Gimenes




Vida difícil de se entender.

Eu deveria estar me sentindo mais tranquila e relaxada após uma temporada de descanso, mas o fato é que retornei e tudo continua igual: a mesma correria, os mesmos compromissos, os mesmos planos sendo postergados dia a dia, as mesmas providências a serem tomadas... Uma montanha de coisas a serem resolvidas. Montanha sem fim. Quanto mais resolvemos, mais coisas novas surgem. Novas e mais complicadas ainda.

A verdade é que, por mais doce que seja o sonho, ele não adoça a realidade que vem depois. Você vive um sonho intensamente, e quando ele termina, a dura realidade é aquela mesma que você deixou para trás, aquela que existia antes do sonho e que vai continuar existindo. Sempre e cada vez mais dura.

Vida estranha.

Tanto tempo em nossas mãos, e nenhum tempo livre para nada. Passo horas e horas organizando, calculando, cronometrando e planejando; enfim, otimizando o tempo, para evitar perder mais tempo, e no fim das contas, só o que tenho é tempo passado, tempo corrido, tempo perdido que não volta mais.

Vida fria.

A urgência da vida e a quantidade de problemas nos torna solidários com a falta de carinho alheia. Coisas que antigamente faziam-se essenciais hoje em dia são preteridas – as pessoas, como um todo, são preteridas, e mal podem se dar o direito de acharem ruim, pois em algum momento estiveram nesta mesma situação, tiveram que preterir alguém, deixar algo para depois, abrir mão de um sentimento ou momento especial em nome das prioridades, ah, as malditas prioridades, aquelas que existem justamente para que nós mesmos possamos existir. Os prazos, as contas a pagar, os trabalhos a fazer, as coisas a comprar. Coisas. Fundamentais. Ridículas. Eu seria capaz de viver sem elas; mas como viver sem elas uma vez que simplesmente fiz a escolha de viver?

Há algo de errado em você quando, após vários dias passados com uma pessoa, você ainda se sente culpada por não dedicar-lhe o tempo e a atenção que ela merece. A verdade é que ainda me sinto em débito e não faço idéia de quando terei tempo, dinheiro, criatividade e disposição para saldar esta dívida.

Eu me sinto culpada por me dirigir a eles somente para pedir dinheiro e dar satisfações, e quanto a isto, eles mesmo me consolam, afirmando que, afinal, suas funções são estas mesmas.

São 13h30. Tenho menos de meia hora para sentar aqui, chorar um pouquinho, escrever este texto, arrumar minha bolsa, passar protetor solar e chegar ao meu local de trabalho. Menos de meia hora para tudo isso. Tempo cronometrado para extravasar algumas emoções. Findo o tempo, engulo tudo e sigo em frente, pois uma tarde inteira de serviço me espera.

Eu deveria me sentir contente por ter pessoas tão maravilhosas em minha vida, mas na verdade, sinto-me triste por não dar a elas a devida atenção; por saber que, ao longo de uma semana inteira, não terei sequer uma horinha livre para estar com elas fazendo coisas que não me programo para fazer. Tenho data marcada na agenda para dizer que as amo, segundos determinados para dar um abraço, e sequer uma horinha livre para dar qualquer outra manifestação de afeto que esteja fora dos meus planos.

E por falar nelas... E em uma pessoa, em especial... Meu coração se partiu quando me virei para pedir um minuto de silêncio, e a vi tão compenetrada. Ela obedeceu a minha ordem, cumpriu o meu pedido com tanta naturalidade, e voltou a fazer o que fazia, totalmente absorta em suas obrigações. E eu nas minhas. Só tinha 15 minutos para fechar os olhos, e ela me atrapalhava com seu barulho. Eu poderia ter sido mais carinhosa, mais compreensiva. Mas e os meus 15 minutos? Eles acabariam em 15 minutos, e então, tudo que eu teria era uma tarde longa e exaustiva. Ela sabia disso. Sequer pestanejou. Aceitou a minha grosseria com tamanha normalidade... De certo porque já está acostumada a ser tratada assim, bem como, por vezes, provavelmente também se vê obrigada a agir da mesma forma. 

Estamos todos no mesmo barco, todos estressados, sem tempo para nada. Isto interfere em nossa personalidade,  e essa nova personalidade acaba se tornando algo muito fácil de entender e aceitar. Nosso sentimentos? Que importam? São feridos, mas isso fica pra depois. Pensar nisso, resolver isso, lidar com isso, ficam pra depois. O importante é o agora, é fazer tudo que tem que ser feito. O resto é o resto.

Vida bizarra.

É tudo tão organizado que chega a ser patético. Fazemos mil coisas para facilitar o futuro, e que acabam complicando o presente. Poupança, curso superior, concursos públicos. Tratamentos estéticos. Exercício físico. Dieta. Estudos. Declaração de imposto. Em tese, servem para nos dar qualidade de vida. Que qualidade? Perdemos tempo, sono e oportunidades fazendo tudo isso. Que tempo sobra? O que resta? Quando chegar enfim o dia de usufruirmos tudo, teremos ainda mais coisas para fazer. Burocracias. Providências. Compromissos. Contas.

Anseio pelo dia em que não precisarei mais batalhar pelo futuro. Anseio pelo dia em que o futuro será presente.

Tenho a impressão que praticamente tudo que faço hoje é em prol de um futuro mais tranquilo. Quando é que finalmente poderei usufruir de tudo pelo que tenho lutado agora?

Sei que, quando este dia chegar, certamente terei saudades da minha vida de hoje. Mas ainda assim, anseio... Porque não está fácil. Hoje em dia, dormir virou luxo. Improvisar virou luxo. Rir fora de hora virou luxo.

Vida louca!

Tenho tempo cronometrado para fazer tudo, inclusive para fazer o que eu quiser. Horário fixado para coisas não programadas. Dia e hora marcados para me sentir à vontade, fazer o que me der na telha. Minutos reservados no meio do dia para pensar na vida, ler um poema, deliciar-me com uma fruta, recordar um momento. Só alguns minutos. Acabados eles, volto à realidade. À realidade das outras coisas, igualmente programadas, porém mais urgentes.

Eu deveria estar me sentindo mais livre, mais disponível, agora que me livrei de tantas pendências, mas a verdade é que já tenho mais pendências, novas pendências, mil coisas para resolver. Até parece que uma coisa leva a outra. Cada etapa concluída leva a outra, igualmente burocrática. 

Parece fácil saber organizar o tempo, fazer planos e estabelecer metas. E é. O difícil é cumprir a agenda. Na teoria, 24 horas até parece muito. O problema é que, na realidade, o tempo não passa da maneira que a gente esperava. Às vezes passa mais rápido, ou mais devagar. Às vezes falta tempo para fazer tudo que se planejou. Mas às vezes sobra, e aí, o que fazer? Relaxar? Não dá, há muito a ser feito ainda. Adiantar algum serviço? Qual? Qual deles é mais urgente? Todos são.

Vida esquisita.

E pensar que toda essa confusão diz respeito somente aos planos que envolvem a minha própria pessoa! E as pessoas que eu amo? Onde ficam nisso? Se mal tenho tempo para mim, que dirá para elas! O que é mais importante? Quem é mais importante? O que devo fazer primeiro? 

Simples dedicatórias de tempo e carinho parecem ser sempre adiáveis, mas até quando? Como posso ter certeza de que um "eu te amo" é mais prorrogável que um boleto bancário que vence hoje? Quem me garante que terei amanhã para dizer isso? Disto não posso ter certeza, conquanto tenho certeza de que, se pagar o boleto amanhã, haverá multa. Como conciliar? 

Ah... Talvez eu só precise chorar um pouco... Não há muito a ser feito. A razão destas coisas está nelas mesmas. Tudo é perfeito, lógico e útil. Eu é que preciso chorar.

14h. Acabou o tempo. Os sentimentos ainda estão aqui, mas que se danem, eu tenho que ir trabalhar.