Na última terça feira, por um destes lapsos da vida que sou incapaz de entender como se dão, tive tempo de assistir a série "Divã", da Rede Globo. Eu já conhecia a proposta, pois assisti ao filme homônimo, e até já imaginava como seria a série. Não me surpreendi, mas isto não quer dizer que não me senti comovida... Pois me senti. Bastante.
O que me emocionou, em especial, foi a atuação de Lília Cabral. A história em si é ótima, o enredo do capítulo de terça foi super legal, a produção é excelente, o roteiro também... Enfim, tudo estava em seu lugar, tudo era muito bem feito, mas em meio a tudo isso, a maneira como Lília atuava chamou particularmente a minha atenção.
Com apenas um sorriso e um olhar, Lília transmitiu de forma perfeita e muito tocante a essência de sua personagem, a qual identifiquei em várias mulheres "reais" que conheço. A sua expressão facial, por si só, já era uma mensagem, uma auto-descrição: "Tenho 50 anos e quero ser feliz".
Vi na personagem Mercedes, uma divorciada recém adepta da psicanálise, a personificação de tantas mulheres brasileiras que, não obstante já não se encontrarem mais em sua "época áurea", ainda buscam na vida alguma coisa que as preencha.
Lília Cabral é magistral ao compor Mercedes. O traço que considero mais característico da personagem é aquela expressão que ela quase sempre assume quando está falando com o psicanalista (vejam a foto ao lado): o sorriso resignado, o olhar brilhante porém triste, e a cabeça baixa, como se ela estivesse tentando convencer a si mesma de que não deveria estar se sentindo daquela forma... Uma expressão de "mas tudo bem". Estou mal, mas tudo bem. A vida não é tão fácil quanto parece, mas tudo bem.
Como é possível que Lília tenha tanto domínio sobre o próprio olhar? É uma atriz magnífica. Dá pra ver o brilho nos olhos de Mercedes, mas ao mesmo tempo também se nota uma grande prostração neles. É a própria essência da personagem! É o próprio sentir uma chama ardendo dentro de si, mas tentar controlá-la, como se não se tivesse o direito de ainda buscar a felicidade. Todo o tempo vemos Mercedes correndo atrás da felicidade, mas por vezes ela se retrai. E está sempre tentando se justificar, seja para si mesma, seja para o psicanalista. Parece estar sempre em dúvida: "Afinal, mereço ou não ser feliz? Tenho ou não o direito de, a esta altura da vida, experimentar coisas novas?"
Outro traço muito bem marcado é o fato de Mercedes costumar falar de si mesma de modo muito cabisbaixo, olhando para baixo, para logo em seguida levantar a cabeça e justificar-se com um sorriso.
Mercedes é uma dualidade, é uma luta entre fogueira e extintor, entre sentir vontade e não julgar-se merecedora. Exatamente como tantas mulheres de sua faixa etária, no Brasil e no mundo.
Em um passado não tão distante, recomeçar a vida era uma perspectiva inconcebível para uma mulher de 40 ou 50 anos de idade. Até mesmo de 30! A esta época, o casamento, os filhos e os afazeres (domésticos ou não) eram tudo que se podia ter, e deveriam bastar. A felicidade deveria resumir-se nisto. E aquela que se atrevesse a sentir-se infeliz, mesmo tendo "tudo" isto, era ingrata.
Pois bem... Hoje, impregnada que está na sociedade a cultura do direito de ser feliz, aos poucos as mulheres (e os homens, os jovens, os idosos, os deficientes, os homossexuais...) têm ousado lutar pelo próprio regozijo, pela realização, pela busca de algo melhor.
Neste barco está Mercedes, embora ainda não saiba muito bem lidar com tudo isso: o hedonismo, a reivindicação da satisfação, o poder sentir sem culpa... E na verdade, é claro que não é só ela quem se sente assim. Todos estes "direitos" foram muito recentemente conferidos às pessoas.
Quem já nasceu sob a égide deste novo jeito de ver as coisas, lida com isto muito facilmente, pois o encara de forma natural: é só o que ele conhece, desde que nasceu. Mas e quem passou a vida inteira se castrando, se reprimindo, afogando dentro da alma a vontade de batalhar por um "algo a mais" na vida? Não é tão simples esquecer os velhos preceitos, abandonar os velhos costumes e reinventar-se, partir para outra, como uma nova pessoa, uma nova mulher, um novo eu, pronto para seguir em busca do que almeja. O processo é lento, é delicado.
Mercedes tem feito análise com um profissional para resolver-se da melhor maneira. Lília Cabral também faz. Muitas mulheres não podem contar com a ajuda de um especialista, ou simplesmente não acreditam no êxito das terapias, e assim, vão se virando como podem. Sofrendo caladas, ou desabafando. Aprendendo "na marra", ou refletindo cuidadosamente. Permitindo-se, ou não. Mantendo-se presa ao que já conhecia, ou abrindo a cabeça para novas possibilidades. E assim, seguem suas vidas...
Esta imagem é uma captura de um vídeo postado no Youtube |
Como é possível que Lília tenha tanto domínio sobre o próprio olhar? É uma atriz magnífica. Dá pra ver o brilho nos olhos de Mercedes, mas ao mesmo tempo também se nota uma grande prostração neles. É a própria essência da personagem! É o próprio sentir uma chama ardendo dentro de si, mas tentar controlá-la, como se não se tivesse o direito de ainda buscar a felicidade. Todo o tempo vemos Mercedes correndo atrás da felicidade, mas por vezes ela se retrai. E está sempre tentando se justificar, seja para si mesma, seja para o psicanalista. Parece estar sempre em dúvida: "Afinal, mereço ou não ser feliz? Tenho ou não o direito de, a esta altura da vida, experimentar coisas novas?"
Outro traço muito bem marcado é o fato de Mercedes costumar falar de si mesma de modo muito cabisbaixo, olhando para baixo, para logo em seguida levantar a cabeça e justificar-se com um sorriso.
Esta imagem é uma captura de um vídeo postado no Youtube |
Em um passado não tão distante, recomeçar a vida era uma perspectiva inconcebível para uma mulher de 40 ou 50 anos de idade. Até mesmo de 30! A esta época, o casamento, os filhos e os afazeres (domésticos ou não) eram tudo que se podia ter, e deveriam bastar. A felicidade deveria resumir-se nisto. E aquela que se atrevesse a sentir-se infeliz, mesmo tendo "tudo" isto, era ingrata.
Pois bem... Hoje, impregnada que está na sociedade a cultura do direito de ser feliz, aos poucos as mulheres (e os homens, os jovens, os idosos, os deficientes, os homossexuais...) têm ousado lutar pelo próprio regozijo, pela realização, pela busca de algo melhor.
Neste barco está Mercedes, embora ainda não saiba muito bem lidar com tudo isso: o hedonismo, a reivindicação da satisfação, o poder sentir sem culpa... E na verdade, é claro que não é só ela quem se sente assim. Todos estes "direitos" foram muito recentemente conferidos às pessoas.
Quem já nasceu sob a égide deste novo jeito de ver as coisas, lida com isto muito facilmente, pois o encara de forma natural: é só o que ele conhece, desde que nasceu. Mas e quem passou a vida inteira se castrando, se reprimindo, afogando dentro da alma a vontade de batalhar por um "algo a mais" na vida? Não é tão simples esquecer os velhos preceitos, abandonar os velhos costumes e reinventar-se, partir para outra, como uma nova pessoa, uma nova mulher, um novo eu, pronto para seguir em busca do que almeja. O processo é lento, é delicado.
Mercedes tem feito análise com um profissional para resolver-se da melhor maneira. Lília Cabral também faz. Muitas mulheres não podem contar com a ajuda de um especialista, ou simplesmente não acreditam no êxito das terapias, e assim, vão se virando como podem. Sofrendo caladas, ou desabafando. Aprendendo "na marra", ou refletindo cuidadosamente. Permitindo-se, ou não. Mantendo-se presa ao que já conhecia, ou abrindo a cabeça para novas possibilidades. E assim, seguem suas vidas...
Nenhum comentário:
Postar um comentário