terça-feira, 10 de maio de 2011

Desabafo pós-sonho: a vida urge!!

"O quanto de tua existência não foi retirado pelos sofrimentos sem necessidade, tolos contentamentos, paixões ávidas, conversas inúteis, e quão pouco te restou do que era teu?"

"A vida, se bem empregada, é suficientemente longa e nos foi dada com muita generosidade para alcançarmos grandes realizações.


Ao contrário, se desperdiçada no luxo e na indiferença, se não dedicada a nenhum propósito, por fim, se não se respeita nenhum valor, se não realizamos aquilo que deveríamos realizar, sentimos que ela realmente se esvai"



"Alguns, sem terem dado rumo a suas vidas, são flagrados pelo destino esgotados sonolentos"


"Apressa-te a viver bem e pensa que cada dia é, por si só, uma vida"

"Não temos exatamente uma vida curta, mas desperdiçamos uma grande parte dela"

(Sêneca)
Retirado do blog  do Nicholas Gimenes




Vida difícil de se entender.

Eu deveria estar me sentindo mais tranquila e relaxada após uma temporada de descanso, mas o fato é que retornei e tudo continua igual: a mesma correria, os mesmos compromissos, os mesmos planos sendo postergados dia a dia, as mesmas providências a serem tomadas... Uma montanha de coisas a serem resolvidas. Montanha sem fim. Quanto mais resolvemos, mais coisas novas surgem. Novas e mais complicadas ainda.

A verdade é que, por mais doce que seja o sonho, ele não adoça a realidade que vem depois. Você vive um sonho intensamente, e quando ele termina, a dura realidade é aquela mesma que você deixou para trás, aquela que existia antes do sonho e que vai continuar existindo. Sempre e cada vez mais dura.

Vida estranha.

Tanto tempo em nossas mãos, e nenhum tempo livre para nada. Passo horas e horas organizando, calculando, cronometrando e planejando; enfim, otimizando o tempo, para evitar perder mais tempo, e no fim das contas, só o que tenho é tempo passado, tempo corrido, tempo perdido que não volta mais.

Vida fria.

A urgência da vida e a quantidade de problemas nos torna solidários com a falta de carinho alheia. Coisas que antigamente faziam-se essenciais hoje em dia são preteridas – as pessoas, como um todo, são preteridas, e mal podem se dar o direito de acharem ruim, pois em algum momento estiveram nesta mesma situação, tiveram que preterir alguém, deixar algo para depois, abrir mão de um sentimento ou momento especial em nome das prioridades, ah, as malditas prioridades, aquelas que existem justamente para que nós mesmos possamos existir. Os prazos, as contas a pagar, os trabalhos a fazer, as coisas a comprar. Coisas. Fundamentais. Ridículas. Eu seria capaz de viver sem elas; mas como viver sem elas uma vez que simplesmente fiz a escolha de viver?

Há algo de errado em você quando, após vários dias passados com uma pessoa, você ainda se sente culpada por não dedicar-lhe o tempo e a atenção que ela merece. A verdade é que ainda me sinto em débito e não faço idéia de quando terei tempo, dinheiro, criatividade e disposição para saldar esta dívida.

Eu me sinto culpada por me dirigir a eles somente para pedir dinheiro e dar satisfações, e quanto a isto, eles mesmo me consolam, afirmando que, afinal, suas funções são estas mesmas.

São 13h30. Tenho menos de meia hora para sentar aqui, chorar um pouquinho, escrever este texto, arrumar minha bolsa, passar protetor solar e chegar ao meu local de trabalho. Menos de meia hora para tudo isso. Tempo cronometrado para extravasar algumas emoções. Findo o tempo, engulo tudo e sigo em frente, pois uma tarde inteira de serviço me espera.

Eu deveria me sentir contente por ter pessoas tão maravilhosas em minha vida, mas na verdade, sinto-me triste por não dar a elas a devida atenção; por saber que, ao longo de uma semana inteira, não terei sequer uma horinha livre para estar com elas fazendo coisas que não me programo para fazer. Tenho data marcada na agenda para dizer que as amo, segundos determinados para dar um abraço, e sequer uma horinha livre para dar qualquer outra manifestação de afeto que esteja fora dos meus planos.

E por falar nelas... E em uma pessoa, em especial... Meu coração se partiu quando me virei para pedir um minuto de silêncio, e a vi tão compenetrada. Ela obedeceu a minha ordem, cumpriu o meu pedido com tanta naturalidade, e voltou a fazer o que fazia, totalmente absorta em suas obrigações. E eu nas minhas. Só tinha 15 minutos para fechar os olhos, e ela me atrapalhava com seu barulho. Eu poderia ter sido mais carinhosa, mais compreensiva. Mas e os meus 15 minutos? Eles acabariam em 15 minutos, e então, tudo que eu teria era uma tarde longa e exaustiva. Ela sabia disso. Sequer pestanejou. Aceitou a minha grosseria com tamanha normalidade... De certo porque já está acostumada a ser tratada assim, bem como, por vezes, provavelmente também se vê obrigada a agir da mesma forma. 

Estamos todos no mesmo barco, todos estressados, sem tempo para nada. Isto interfere em nossa personalidade,  e essa nova personalidade acaba se tornando algo muito fácil de entender e aceitar. Nosso sentimentos? Que importam? São feridos, mas isso fica pra depois. Pensar nisso, resolver isso, lidar com isso, ficam pra depois. O importante é o agora, é fazer tudo que tem que ser feito. O resto é o resto.

Vida bizarra.

É tudo tão organizado que chega a ser patético. Fazemos mil coisas para facilitar o futuro, e que acabam complicando o presente. Poupança, curso superior, concursos públicos. Tratamentos estéticos. Exercício físico. Dieta. Estudos. Declaração de imposto. Em tese, servem para nos dar qualidade de vida. Que qualidade? Perdemos tempo, sono e oportunidades fazendo tudo isso. Que tempo sobra? O que resta? Quando chegar enfim o dia de usufruirmos tudo, teremos ainda mais coisas para fazer. Burocracias. Providências. Compromissos. Contas.

Anseio pelo dia em que não precisarei mais batalhar pelo futuro. Anseio pelo dia em que o futuro será presente.

Tenho a impressão que praticamente tudo que faço hoje é em prol de um futuro mais tranquilo. Quando é que finalmente poderei usufruir de tudo pelo que tenho lutado agora?

Sei que, quando este dia chegar, certamente terei saudades da minha vida de hoje. Mas ainda assim, anseio... Porque não está fácil. Hoje em dia, dormir virou luxo. Improvisar virou luxo. Rir fora de hora virou luxo.

Vida louca!

Tenho tempo cronometrado para fazer tudo, inclusive para fazer o que eu quiser. Horário fixado para coisas não programadas. Dia e hora marcados para me sentir à vontade, fazer o que me der na telha. Minutos reservados no meio do dia para pensar na vida, ler um poema, deliciar-me com uma fruta, recordar um momento. Só alguns minutos. Acabados eles, volto à realidade. À realidade das outras coisas, igualmente programadas, porém mais urgentes.

Eu deveria estar me sentindo mais livre, mais disponível, agora que me livrei de tantas pendências, mas a verdade é que já tenho mais pendências, novas pendências, mil coisas para resolver. Até parece que uma coisa leva a outra. Cada etapa concluída leva a outra, igualmente burocrática. 

Parece fácil saber organizar o tempo, fazer planos e estabelecer metas. E é. O difícil é cumprir a agenda. Na teoria, 24 horas até parece muito. O problema é que, na realidade, o tempo não passa da maneira que a gente esperava. Às vezes passa mais rápido, ou mais devagar. Às vezes falta tempo para fazer tudo que se planejou. Mas às vezes sobra, e aí, o que fazer? Relaxar? Não dá, há muito a ser feito ainda. Adiantar algum serviço? Qual? Qual deles é mais urgente? Todos são.

Vida esquisita.

E pensar que toda essa confusão diz respeito somente aos planos que envolvem a minha própria pessoa! E as pessoas que eu amo? Onde ficam nisso? Se mal tenho tempo para mim, que dirá para elas! O que é mais importante? Quem é mais importante? O que devo fazer primeiro? 

Simples dedicatórias de tempo e carinho parecem ser sempre adiáveis, mas até quando? Como posso ter certeza de que um "eu te amo" é mais prorrogável que um boleto bancário que vence hoje? Quem me garante que terei amanhã para dizer isso? Disto não posso ter certeza, conquanto tenho certeza de que, se pagar o boleto amanhã, haverá multa. Como conciliar? 

Ah... Talvez eu só precise chorar um pouco... Não há muito a ser feito. A razão destas coisas está nelas mesmas. Tudo é perfeito, lógico e útil. Eu é que preciso chorar.

14h. Acabou o tempo. Os sentimentos ainda estão aqui, mas que se danem, eu tenho que ir trabalhar. 

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