sábado, 27 de novembro de 2010

Permita-se!


O ator Stênio Garcia, aos 78 anos, decide aprender a dançar

Recentemente estive conversando com uma mulher de meu convívio, já com mais de 40 anos, casada, mãe de filhos adultos, e portadora de algumas doenças que a impedem de manter algumas vaidades. Ela proferia um discurso de derrotada, como se em razão de todas estas circunstâncias sua vida já estivesse acabada, pois não havia mais nada que ela pudesse realizar. Ousei dizer que ela estava errada, e que sua mentalidade não condizia com as ideias propagadas pela nossa geração, ou melhor, propagadas no nosso tempo, nos dias de hoje.

Constantemente aqui no blog critico a atual geração, da qual inclusive faço parte, condenando-a pela futilidade e ausência de princípios; mas preciso reconhecer uma coisa: se tem algo que conta a nosso favor é o fato de termos abandonado alguns velhos estigmas e preconceitos. Apesar de esta conquista não ser necessariamente nossa, e sim fruto da luta e coragem de gerações passadas, temos este mérito de não enxergar certas limitações que nossos pais e avós enxergavam.

Em que pesem as restrições impostas por questões biológicas, creio que hoje em dia as pessoas sentem-se muito mais à vontade para buscar a felicidade, independente de idade, posição social, estado civil e outras características. São cada vez mais comuns os casos de pessoas que apesar de terem uma certa idade, decidem fazer uma faculdade, mudar o visual, iniciar um novo relacionamento, viajar para conhecer o mundo... Em suma: experimentar coisas novas, coisas que sempre quiseram fazer mas achavam que não podiam. E por que não? O que as impede?

Há aquele antigo ditame social segundo o qual a vida é simplesmente isso: estudamos, conseguimos uma profissão, trabalhamos, nos casamos, temos filhos, os criamos, e pronto; a partir daí tem início a vida de quem já “encerrou sua vida”: vêm a aposentadoria, os longos dias dentro de casa sem fazer nada, a visita dos netos... Enfim, a espera da morte! Sim, soa trágico, mas é a realidade. O que mais faz uma pessoa que não faz nada, a não ser esperar o dia de morrer?

Felizmente estamos abandonando esta ideia terrível e conformista. A vida não acaba aos 40, 50, 60 ou o que for. Sempre é tempo de buscar a felicidade!

Chegado o tempo em que a juventude constitui apenas uma saudosa lembrança, não é hora de “jogar a toalha”. O fim da mocidade não é motivo para decretar também o fim da vaidade, dos cuidados com a saúde e auto-estima, com o seu próprio bem estar. Aliás, essa sim seria a melhor hora para cuidar de tudo isso, de renovar-se, de buscar fazer aquelas coisas que sempre foram tão sonhadas mas nunca realizadas, por falta de tempo.

Ler bons livros, ver bons filmes, fazer boas viagens, sair para conhecer bons lugares, estudar um novo idioma ou um novo assunto, arrumar-se com mais capricho, praticar uma atividade física, adquirir novos hábitos... Por que não? Tanta gente pensa que não é mais possível, porém é claro que sim. E eu percebo que essa postura é mais adotada pelas mulheres que pelos homens. Justo elas, que passam a vida inteira cuidando dos outros (filhos, marido etc), não se dão o direito de cuidar de si mesmas também! Quão lamentável.

Eu realmente admiro as pessoas que têm essa coragem de recomeçar, ou de ousar correr atrás da própria felicidade, sem dar ouvidos aos que dizem que é tarde demais. Claro que, para algumas coisas, realmente pode ser tarde. Não adianta, por exemplo, tentar praticar ginástica artística aos 30 anos, ou engravidar aos 80. Existem casos em que a própria natureza nos impõe restrições. Todavia, fora estes casos, quem coloca restrições é a própria sociedade, ou até nós mesmos!

Por que fazemos isso? Por que não reconhecemos que temos o direito de buscarmos o que é melhor, o que nos faz bem?

Ninguém está fadado a ser infeliz. Portanto, como canta Lulu Santos,“vamos viver tudo que há pra viver... Vamos nos permitir!”.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Viva a criatividade a serviço do bem!


Glee sempre me surpreende, é incrível. Quando mais penso, a julgar pelo rumo que as coisas estão tomando, que o seriado está perdendo a capacidade de me emocionar como me emocionei em alguns momentos da primeira temporada, chega um novo episódio e me mostra que estou errada. O oitavo episódio da segunda temporada me emocionou como há muito tempo eu não me emocionava.

A capacidade criativa do ser humano é uma coisa fabulosa, impressionante. Há sempre uma nova maneira de surpreender, de produzir coisas boas, ainda que seja fazendo uso de clichês e velhos recursos. Quando toda essa criatividade é utilizada com boas intenções, o resultado pode ser muito gratificante.

Arte me faz bem. Música me faz bem. Emoções me fazem bem. E com certeza fazem bem a muitas outras pessoas... Glee me faz rir, chorar, cantar junto, refletir, me emocionar, me divertir, raciocinar, rever conceitos... Não é maravilhoso ter essa capacidade? Imagino o quanto deve ser bom ter um emprego que faz as pessoas sentirem-se bem, o quanto deve ser ótimo saber que tanta gente se sentiu tocada por algo que você criou ou realizou. Para isso servem os dons! Não para serem guardados ou utilizados com finalidades egoístas ou torpes, mas sim, para fazerem bem às pessoas...

Que a criatividade e a boa vontade nunca faltem às pessoas que usam seu talento para levar alegria e emoção aos outros! O mundo precisa disso!   

Pressa nos planos

“Não precisa correr tanto, o que é seu às mãos lhe há de vir”
(Machado de Assis, em “Dom Casmurro”)

Às vezes as metas que estabelecemos para nós mesmos demoram um certo tempo para surtir efeitos. Os resultados nem sempre vêm rapidamente; geralmente demoram. E quanto maior o sonho, maior a luta para realizá-lo. As coisas não são fáceis... Mas nem por isso devemos desistir.

Recentemente li alguns textos muito legais no blog “Hipertrofia”, textos com instruções e algumas mensagens motivacionais. Na verdade, 99% dos textos com estas características não fogem do lugar-comum, são realmente clichês; mas enfim, a receita para o sucesso não é mesmo a coisa mais “batida” do mundo? Todo mundo sabe o que é preciso fazer para atingir objetivos de uma maneira honesta: requer disciplina, determinação, persistência, paciência... A parte difícil é colocar isto em prática.

Mas enfim, certos textos trazem alguns clichês sob uma perspectiva diferente, fazendo você parar pra pensar de verdade. Chamou-me a atenção os fragmentos finais do texto “Os 10 Maiores Erros de Treino Cometidos Por Iniciantes e Avançados”, de Lee Hayward; vejamos:  

Algumas pessoas nunca desistem. Elas são determinadas, persistentes e nunca desistem das metas. Outras pessoas desistem no primeiro obstáculo. Você nunca imaginou o porquê disso acontecer ? Existe uma razão…
Pessoas que desistem porque tentaram algo que não funcionou consideram isto como uma falha permanente. Mas tudo o que elas precisam é uma mudança de pensamento.
Não existe fracasso, apenas resultados. Você está no controle. Você tem sucesso ou você ganha mais experiência. Nunca separe seus resultados em fracassos ou vitórias.
Toda vez que você tentar algo novo você terá um resultado diferente. Se não é o resultado que você quer, apenas mude a abordagem e tente algo diferente. Aprenda com as suas experiências e insista até conseguir o resultado desejado.
Pessoas que enxergam seus obstáculos como algo temporário e aprendem com a experiência são as que nunca desistem. Se você aprende com as experiência e nunca desiste, você conseguirá o que quer uma hora ou outra. Fato.
É realmente muito simples. Mas ainda é necessário trabalho duro da sua parte. Você terá que tentar dúzias de abordagens diferentes para treino, dietas, etc… E isso pode levar meses, até mesmo anos. Mas confie em mim, quando você chegar lá, os resultados valerão a pena.



Outra coisa que achei o máximo foi o seguinte fragmento de um texto também publicado no blog “Hipertrofia”:

“Se você quer chegar em um lugar que ninguém chega, você não vai conseguir fazendo o que todo mundo faz. Quem triunfa é sempre a minoria, porque o resto desiste no meio do caminho.”



É ou não é a mais pura verdade?


Mas, voltando ao assunto da pressa...
O primeiro passo é saber o que fazer, saber como chegar ao seu objetivo, planejar de que forma a sua conduta deve ser modificada para que você consiga o que quer. Depois disso, vem a espera pelos resultados... E eles vêm, sempre vêm. Basta ter paciência e persistir.
 
 A vontade de desistir é irresistível quando, passado algum tempo, percebemos que o plano não está funcionando, ou está demorando demais para dar certo. Porém, é justamente nesta hora que precisamos de mais força! Desistir não vai adiantar. Fraquejar não vai facilitar nada, muito pelo contrário. Nosso sonho voltará a ser tão distante quanto era antes de começarmos a tentar.

Fica aqui essa mensagem de otimismo e incentivo... Vamos continuar lutando, tentando, dando o melhor de nós mesmos... A recompensa vai chegar, e disfrutar dela será mil vezes mais prazeroso do que imaginamos. 

Inocentes: uma espécie em extinção



Who's gonna fight for innocence when we're always denying the proof?”
(“Innocence”, Deborah Blando)


                Ouvir essas canções de quando Michael Jackson era criança dá vontade de chorar. Sua voz sensível e inocente faz-me lembrar de quanto ele sofreu nesta passagem por este mundo.
                Inocente, essa é a palavra perfeita para descrevê-lo. Pelo que conheço de sua história, e acrescentando a esses conhecimentos o meu próprio sentimento e intuição, o que concluo é que Michael era um ser humano muito inocente.
                Tinha o coração puro. Muita gente julgava seu comportamento com maldade, mas para mim é cristalino que ele era desprovido de malícia. Por isso, vibrei quando vi na televisão que ele havia sido absolvido das cruéis acusações de pedofilia. Sua inocência precisou ser legitimada pelo Estado para que as pessoas acreditassem, e ainda assim há quem duvide e, pior que isso, há quem faça piadinhas de mau gosto em relação a Michael.
               
                É tão complicado falar sobre isso... No mundo de hoje, ser inocente é praticamente perigoso. É preciso ter uma certa sagacidade para sobreviver, para não ser enganado, para não ser vítima de todos os tipos de violência. Porém, adotar este tipo de pensamento traz consequências preocupantes.
                Na época do ginásio e colegial, eu tinha o costume de presentear os professores e professoras no dia 15 de outubro com presentinhos e cartas. Passado um tempo, foi ficando difícil manter este costume. Os comentários maldosos eram inevitáveis. Por que uma aluna daria presentes a um professor? Suborno? Segundas intenções?
Sou filha de uma professora e sei o quanto estes profissionais sofrem e se esforçam para entrar em sala de aula todos os dias; portanto, sempre os valorizei, sempre gostei de agradá-los, principalmente aqueles que desempenharam um papel um pouco mais importante em minha vida (houveram muitos e sou grata por isso). Mas, neste mundo cheio de malícia, quem acredita nisso?

Hoje em dia, nem as crianças são mais puras. Desde o berço, o ser humano vem aprendendo a agir segundo suas próprias conveniências, a ser interesseiro, a ver maldade em tudo. Será possível que a inocência é uma virtude prestes a desaparecer? Será possível que não existem mais sentimentos puros? Será que estamos todos contaminados pela desconfiança e pela descrença?  
                

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Carta a um guerreiro que está se cansando de lutar pelo bem

Gostaria de demonstrar minha solidariedade, em virtude de todas essas coisas pelas quais você está passando. Lamento muito ao vê-lo sentindo-se só, sendo condenado, mal interpretado pela opinião pública. Eu acredito que você merece coisas melhores. Mas do verdadeiro merecimento, só quem sabe é Deus... Ele nos conhece mais que tudo e todos, e sabe perfeitamente dosar as cotas de alegrias e tristezas que recebemos na vida. E assim como não temos noção exata do que Deus reserva a nós, não temos noção exata do quanto e do que significa cada vitória ou derrota aqui na Terra. Uma decepção pode ser dolorosa para você, mas quem nos garante que as glórias que estão por vir não serão muito maiores?

Você é vencedor por permanecer fiel a si mesmo e aos que você ama, diferente de tantas pessoas que têm a audácia de ofendê-lo por ser assim. Não quero desmerecer ninguém, porque não preciso de exemplos ruins para concluir como o seu exemplo foi bom, mas, fazendo uma análise comparativa, seu mérito cresce ainda mais.

O que me faz admirar você é a sua força, a sua coragem. Você é o que ninguém tem coragem de ser. Seu coração é bom, você tem princípios. E mesmo quando você comete erros, eu consigo enxergar a bondade nas suas intenções.

Você tem caráter, mas a sociedade distorce tanto esses conceitos que falar disso até me entristece. Você defende tudo que acredita, dá seu sangue em tudo que faz; e infelizmente, pessoas assim podem ser vistas como gananciosas e até "manipuladoras", rótulo que infelizmente muitos te dão.

O que várias destas pessoas não entendem é que defender seus ideais não é manipular. Argumentar não é manipular. Permanecer firme no que pensa não é manipular. Expor seu ponto de vista da melhor maneira possível não é manipular.

A maior parte da sociedade é fraca, fraca de opinião, fraca de argumentos. Quando surge uma pessoa forte, ela é considerada assim: má, manipuladora.

Você desafiava o que é tido como "politicamente correto" para defender o que é verdadeiramente correto. Adoro isso em você, e adoro porque você tem coragem de fazer o que tanta gente não consegue. Muita gente se sente representada por você. Acho isso o máximo porque, na vida, tantas vezes precisamos agir assim, e optamos por não fazê-lo, por medo de sermos mal interpretados; e você é constantemente mal interpretado. Muito. É uma pena. A sociedade não está pronta para receber pessoas como você. Entretanto, Deus é tão bom que não te deixa desamparado nenhum minuto.

Pessoas como você tendem a ser julgadas duramente (e hipocritamente, ouso dizer) e serem, pouco a pouco, excluídas. Mas Deus jamais daria o castigo da solidão e do desprezo a quem defende os princípios d'Ele.

Muitas pessoas falam, pejorativamente, que você possui poucos amigos justamente por ser como é. Mas o que vale mais? Poucas amizades fortes ou várias superficiais? Nesse ponto, você pode se considerar muito mais premiado que os outros.

A existência dessas amizades sinceras são prova de que você está fazendo a coisa certa. Deus as colocou em sua vida justamente para te dar força para continuar seguindo em frente.

É uma pena que a sociedade não reconheça o valor de uma pessoa como você. É realmente lamentável que não reconheçam isso, mas vai chegar um dia em que você será melhor compreendido. Para isso, provavelmente você também precisará mudar um pouco; afinal, mesmo tendo tantas qualidades, alguns defeitos seus pesam contra você, e nem preciso dizer quais, você sabe. Mesmo assim, seu dia vai chegar. E enquanto ele não chega, jamais fique triste, jamais se sinta sozinho. As glórias deste mundo não são tudo, até porque, não as compreendemos bem.

Não se preocupe em ser julgado erroneamente, preocupe-se em fazer o que é certo, o que é bom, o que é justo. Deus e Jesus conhecem seu coração, e isso é o que mais importa. Eles sabem quem você é e saberão te dar o apoio que você precisa.

Suplico: jamais deixe de ser assim. O mundo precisa de pessoas como você. 

domingo, 21 de novembro de 2010

Reflexões provenientes da leitura de "O grande Gatsby"

Dias atrás terminei de ler “O grande Gatsby”, de Scott Fitzgerald. Foi uma boa leitura, bom entretenimento, mas eu provavelmente teria achado um pouco inútil se não soubesse o real significado de tudo aquilo.

Achei os personagens (com exceção do narrador) tão vazios... Vidas sem sentido, relações superficiais... Todavia, logo descobri que é justamente disso que o livro trata: da futilidade que predominava naquela época pós-Primeira Guerra, nos Estados Unidos.

De fato, a essência (ou a falta dela) dos personagens me interessou, principalmente porque sei que existem pessoas assim fora dos livros de ficção. Chamaram-me a atenção:

  • O supérfluo e indeciso Tom, tão apegado aos bens materiais, tão desconfortável com a sensação de conforto que sua vida lhe proporcionava! Tinha um casamento até razoável, uma boa casa, excelente situação financeira... Mas nada disso era suficiente.
  • A linda e leviana Daisy, tão fútil, tão oca, mas sempre encantadora. Não entendia muito bem seus próprios sentimentos, mas adorava despertar sentimentos em outras pessoas.

  • As pessoas que frequentavam as festas de Gatsby! Frívolas, perdidas, desesperadas por diversão, como se isso fosse dar algum sentido para suas vidas. Este é um dos pontos mais fortes do livro, na minha opinião. Se as festas de Gatsby, lotadas destas pessoas, podiam constituir um perfeito retrato daquela época, então não precisaríamos de um novo retrato para definir a geração de hoje. Escrevi sobre isso por mais de uma ocasião aqui no blog, nos textos "As coisas que desejamos para nossos filhos", "Get a life!" e "Frivolidade".
Se eu pudesse rebatizar o livro, trocaria o adjetivo “grande” por “pobre”. Pobre Gatsby, escondendo-se por trás de algo que ele não é, criando para si mesmo uma fantasia, gastando toda sua vida (e seu dinheiro) tentando convencer a todos desta ilusão. Porém, suponho que nunca tenha conseguido convencer a si mesmo de que é realmente tão grande, um grande Gatsby.

Precisou preencher seu vazio com uma busca por um amor. Apegou-se à ideia de que Daisy traria a felicidade e até mesmo o sentido que faltava em sua vida. Talvez aquilo nem fosse amor, afinal. Creio que era apenas uma forma de passar o tempo, de ter algo em que pensar, algo para desejar, lutar, tentar alcançar. Sabe-se lá no que teria se transformado sua vida se aquele amor tivesse ido adiante! Provavelmente, dentro de pouco tempo, voltaria a sentir-se vazio, porque sua razão de viver era a própria busca e, uma vez tendo conseguido o que buscava, o que lhe restaria? Nada, eu imagino.

É assim que são as pessoas? Será mesmo que precisamos estar sempre motivados para que a vida tenha sentido? Será verdade que as coisas perdem a graça depois que as conseguimos? Isso tudo soa tão típico da condição humana, e soa triste e pessimista também, mas a verdade é que há sempre um degrau mais alto a ser calcado neste mundo, e por termos consciência desta verdade é que nunca estamos totalmente contentes. 

A felicidade, todavia, não é impossível.

Acredito sinceramente que este processo de busca também pode ser grande fonte de felicidade. Acredito porque vivencio isto. Podemos sempre ser melhores do que somos, conquistar mais do que temos (não somente no sentido material e financeiro, até porque nestes casos a busca pode se tornar uma obsessão nem um pouco saudável), e a felicidade não é necessariamente um bônus que vamos receber no fim da caminhada; pelo contrário, ela pode e deve nos acompanhar durante todo o trajeto.

Estas reflexões me remeteram ao belíssimo e festejado poema de Vicente de Carvalho, “Esperança”, e é com ele que terminarei esse texto – diga-se de passagem, não poderia haver maneira melhor de fazê-lo! 


Só a leve esperança em toda a vida 

disfarça a pena de viver, mais nada; 
nem é mais a existência resumida 
que uma grande esperança malograda.



O eterno sonho da alma desterrada, 

sonho que a traz ansiosa e embevecida, 
 é uma hora feliz, sempre adiada 
 e que não chega nunca em toda a vida.



Essa felicidade que supomos 

árvore milagrosa que sonhamos 
toda arriada de dourados pomos



existe sim; mas nós não n´a encontramos, 
porque está sempre apenas onde a pomos 
e nunca a pomos onde nós estamos.

Alguém tem que fazer o poema sujo

Façam a festa
          cantem e dancem
que eu faço o poema duro
                                  o poema-murro
                                  sujo
                                  como a miséria brasileira 
       Não se detenham:
       façam a festa
                             Bethânia Martinho
                             Clementina
       Estação Primeira de Mangueira Salgueiro
       gente de Vila Isabel e Madureira
                                                           todos
                                                           façam
                     a nossa festa
enquanto eu soco este pilão
                            este surdo
                                  poema
que não toca no rádio
que o povo não cantará
(mas que nasce dele)
Não se prestará a análises estruturalistas
Não entrará nas antologias oficiais
                      Obsceno
como o salário de um trabalhador aposentado
                      o poema
terá o destino dos que habitam o lado escuro do país
                      - e espreitam.



("Poema obsceno", de Ferreira Gullar)

Li este poema pela primeira vez quando tinha 15 anos, na escola. Certamente não o teria compreendido tão cedo se, no exato momento em que o li, não estivesse passando por uma situação que permitisse me identificar com ele.

Eu admito que não sou tão inteligente quanto poderia (ou gostaria de) ser: há um sem-número de textos, frases, poemas, livros e filmes que eu não entendo. Há obras consideradas cult justamente por causa desse sentido escondido, da metáfora, da mensagem por trás das palavras; eu não entendo todas, confesso. Não faço a menor ideia do que Manuel Bandeira estava pensando quando escreveu "Pneumotórax", não tenho a menor noção do que ele quis dizer ou se de fato queria mesmo dizer alguma coisa. Provavelmente eu também não entenderia patavinas do “Poema obsceno” de Ferreira Gullar; mas naquele dia, naquele exato dia em que abri a apostila e dei de cara com ele na minha apostila de literatura, ele falou tudo que eu tinha dentro de mim. Era como se alguém mais culto que eu estivesse ilustrando com palavras o meu próprio desabafo. 

Alguém tem que fazer o poema sujo. Alguém tem que fazer o trabalho árduo, enquanto os outros cantam e dançam.

Hoje, posso interpretar estes versos de outra forma, mas na época soaram assim para mim, como se o eu-lírico se sentisse uma formiga perdida em um mundo de cigarras, obrigada a socar o pilão, enquanto os demais faziam a festa.

Nunca procurei saber o que Ferreira Gullar realmente quis dizer com seu “Poema obsceno”, talvez por medo de descobrir que minha interpretação estava errada, por medo de perder aquele poema que eu já considerava meu, como se tivesse sido escrito para mim, ou mesmo por mim. Apoderei-me daqueles versos, como se pertencessem a mim, e de fato já me pertenciam.

O poeta escreve sobre o que sente, mas o leitor também tem o direito de enxergar seu próprio sentimento nas palavras do poema.  O poema não pertence apenas a quem o escreveu, mas também a quem o lê. Uma vez lançado o poema, uma vez tendo ele saído da esfera de intimidade do poeta e atirado ao público, o leitor pode também apropriar-se do poema. O poeta precisa ter este desprendimento, não pode ser possessivo em relação à própria obra; a menos, é claro, que nunca publique o que escreve, pois só assim os poemas serão só seus.

Da mais alta janela da minha casa 
Com um lenço branco digo adeus
Aos meus versos que partem para a Humanidade.

E não estou alegre nem triste.
Esse é o destino dos versos.
Escrevi-os e devo mostrá-los a todos
Porque não posso fazer o contrário
Como a flor não pode esconder a cor,
Nem o rio esconder que corre,
Nem a árvore esconder que dá fruto.
Ei-los que vão já longe como que na diligência
E eu sem querer sinto pena
Como uma dor no corpo.
Quem sabe quem os terá?
Quem sabe a que mãos irão?
Flor, colheu-me o meu destino para os olhos.
Árvore, arrancaram-me os frutos para as bocas.
Rio, o destino da minha água era não ficar em mim.
Submeto-me e sinto-me quase alegre,
Quase alegre como quem se cansa de estar triste.
Ide, ide de mim!
Passa a árvore e fica dispersa pela Natureza.
Murcha a flor e o seu pó dura sempre.
Corre o rio e entra no mar e a sua água é sempre a que foi sua.
Passo e fico, como o Universo.

("Da mais alta janela de minha casa",  de Alberto Caeiro, heterônimo do português Fernando Pessoa)

Afinal, o que querem os homens?



Aproveitei o nome da minissérie que está sendo exibida na Rede Globo para tratar do sexo oposto ao que ela aborda.


Nós mulheres somos tidas como “difíceis de compreender”, entretanto, homens também não são tão previsíveis quanto podem parecer – e de fato são, às vezes. O que realmente um homem busca em uma mulher, no que diz respeito a aparência?

Neste mês de novembro a revista VIP divulgou sua lista anual, feita com base na votação dos leitores e internautas, de mulheres mais sexies do mundo. A vencedora de 2010 foi a modelo e assistente de palco do programa Pânico da TV Juliana Salimeni.
Chamou-me a atenção este pequeno texto acerca da vitória de “Juju Panicat”, como ela é conhecida:

100% Gostosa
A vitória de Juju soa como um grito masculino coletivo: QUEREMOS CARNE!
JUJU abre o armário do seu quarto e tira de lá para me mostrar um de seus vestidos favoritos. É um pretinho liso, macio, minúsculo. “Quantos centímetros ele fica acima do joelho?”, pergunto. “Acho que fica só 1 centímetro abaixo da bunda”, diz ela. E ri. Dos 54 vestidos que Juliana Salimeni tem, só seis são longos. Os outros 48 são curtos ou curtíssimos, e isso demonstra como esse tipo de supermulher que parece ter brotado do nanquim de Robert Crumb lida com o corpo: ele precisa ser mostrado.
Circule, leitor, olhe para os lados. As mulheres ultrassaradas se espalham cada vez mais rápido por praias, academias e programas de TV. Com roupas coladas, pernas de fora, seios turbinados e bundas arredondadas, representam o primeiro contraponto de peso ao padrão de beleza definido anos atrás pelas top models.
Ao que tudo indica já abocanham parte considerável, senão majoritária, do ideário masculino de mulher dos sonhos, haja vista a vitória de Juju com votação arrasadora nas 100+ 2010 e o fato de estarem no top 10 outras duas mulheres, digamos, avantajadas: Nicole Bahls, em sexto lugar, e Cacau, em terceiro. O esporte das três: musculação. Cacau passou malhando boa parte do tempo que ficou confinada no BBB 10. Colegas no Pânico na TV, Juju e Nicole juntas têm 2,08 m de bunda e empurram no leg press (aparelho para trabalhar as coxas) cerca de 1 t. Isso mesmo, uma tonelada, o equivalente a um Fusca levando, se coubessem, dois filhotes de elefante. O leg press é só uma pequena faceta da rotina espartana de malhação e alimentação a que elas se submetem para manter, ou melhor, fabricar o corpo que possuem. E graças a isso viraram febre nacional. 
Então os homens gritam por mais carne no corpo feminino. Gritam mesmo? Mas estes mesmos homens elegeram, no ano passado, Grazzi Massafera como a mais sexy, e já foi-se o tempo em que Grazzi tinha “muita carne”; ela está cada dia mais magra, aparentemente preocupada em parecer mais fina e sofisticada.

Outro fato curioso: em 2008, foi Gisele Bundchen quem ficou em primeiro lugar. Ou seja, em um intervalo de dois anos, as mulheres consideradas as mais sexies do mundo foram uma mulher magérrima, uma magra porém ainda com muita feminilidade, e uma bastante malhada e com muitas curvas. Afinal, o que querem os homens?



A lista fica ainda mais complicada de se entender se observamos além das moças que ficaram em primeiro lugar. Vejamos as 10 mais votadas de 2010:

1º - Juliana Salimeni
2º - Ana Hickmann
3º - Cacau (Big Brother Brasil 2010)
4º - Angelina Jolie
5º - Cleo Pires
6º - Nicole Bahls 
7º - Claudia Leitte
8º - Grazi Massafera
9º - Deborah Secco
10º - Juliana Paes

Deixemos de analisar apenas a questão física. Juliana Salimeni é uma moça bonita, dona de um belo corpo torneado com muita musculação, que aparece na TV com biquínis pequenos e dançando de forma provocante, ou participando de reportagens nas quais interpreta o papel de “gostosa burra” (embora não pareça ser assim). Em segundo lugar na lista, Ana Hickmann é uma ex-modelo, portanto alta, magra e lindíssima, que fascina por transparecer inteligência, independência e elegância; tudo ao mesmo tempo.

As duas loiras em nada se parecem, levando em consideração a imagem que passam aos que as assistem pela TV. O que há de sexy em Juju e que também há em Ana? O que elas possuem em comum? O que faz duas mulheres diferentes serem consideradas quase que no mesmo nível de sensualidade? AFINAL, O QUE QUEREM OS HOMENS?

O que é mais sexy: rebolar de biquíni, calada e exibindo o corpo, ou falar de vários tipos de assuntos, vestida em trajes comportados? A julgar pela lista, a resposta seria a primeira opção. Mas se isto fosse uma verdade absoluta, o Top 10 certamente contaria com mais panicats (além de Juliana, há apenas Nicole Bahls) e menos atrizes que, não obstante sejam sensuais, exibem bem menos o corpo.  

Não estou criticando ninguém, estou apenas tentando entender como funciona o psique masculino (será que vale a pena tentar? Brincadeira!), generalizadamente. O que eles procuram em uma mulher? O que os atrai?

Sei que há gosto para tudo, e como cada ser humano possui uma personalidade ímpar, consequentemente cada um terá um gosto próprio. Contudo, estou tentando achar um denominador comum, uma ideia maciça, um chavão. Porque, por mais que digam que o lugar-comum na seara das preferências masculinas seja o padrão “boazuda”, “gostosona”, a tendência é que boa parte das celebridades continue preferindo uma silhueta mais estreita, e nem por isso elas deixam de ser objeto de desejo. 



O interesse por esta temática não possui cunho pessoal, mas sem dúvida é fruto de um capricho, de uma grande curiosidade. Acho que todos gostaríamos de decifrar o sexo oposto, e esta é uma viagem muito interessante de ser feita. Todavia, creio que ficarei com minhas dúvidas; mas, caso deva, ainda que a contragosto e sem muito embasamento, fornecer uma resposta à pergunta feita no título do texto, diria: o que os homens querem mesmo são mulheres. Mulheres. Ponto final. 

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Nelly Furtado

Nelly na época de "Turn off the light"...
Bons tempos!

Conheci a música de Nelly Furtado quando tinha uns 11 anos de idade, por meio da Rádio SKY. Ela ainda nem era famosa no Brasil, mas eu já estava viciada em “Turn off the light”, adorava aquela atmosfera sombria da canção e também a voz “diferente” que a cantora tinha.


Naquela época (2001), não era tão fácil conseguir música na Internet, principalmente quando o artista não era tão popular. Lembro-me que procurava por Nelly Furtado na Internet (nem havia Google ainda!) e o máximo que encontrava eram amostras de canções do CD dela na loja de música do Yahoo. Apenas 30 segundos ficavam disponíveis, e lá eu ficava, ouvindo 30 segundinhos de cada canção, imaginando como seria o resto...

A minha primeira surpresa foi descobrir que ela era jovem, e bonita também. Como eu só escutava a voz, imaginava-a como uma mulher mais velha, talvez uma negra, devido à sua voz exótica. Outra surpresa foi descobrir que ela mesma escrevia suas canções. Tão jovem e tão talentosa!

Até que, em uma viagem, vi o CD dela à venda e não resisti. “Whoa, Nelly!” me traz muitíssimas boas lembranças, de João Pessoa-PB, de danças na academia, de momentos solitários no meu quarto...

Nelly tem um estilo muito particular e ao mesmo tempo dificil de ser definido. Em seu primeiro CD, ela mesclava pop com folk e fado (ela possui ascendência portuguesa); violinos, piano, guitarras e berimbau, é uma loucura, mas uma delícia de se ouvir. Há até algumas canções cuja sonoridade me lembra muito a MPB (da qual Nelly é fã, inclusive já gravou com Caetano Veloso a canção “Island of wonder”, que está em seu segundo álbum), como “Legend”, “Party” e “My love grows deeper”, todas muito boas. Por sinal, na última faixa, ela canta em português. Porém, há também canções que são puro pop, como “I’m like a bird” (que a levou ao estrelato mundial) e “Trynna finda way” (super legal).

O segundo CD de Nelly, “Folklore”, de 2003, como o próprio nome sugere, tem uma sonoridade mais voltada para o folk e para a world music também. Confesso que este CD não me agrada tanto quanto o primeiro, apesar de eu adorar “Try” (linda balada), “The grass is green” (como tenho boas lembranças desta canção...) e “Powerless” (primeiro single que foi lançado, é bem animado e tem uma letra bem legal).

Mas foi na ocasião do terceiro CD, “Loose”, que Nelly Furtado gerou polêmica e acabou por perder alguns fãs, embora também houvesse ganhado muitos mais – se bem que isto não é necessariamente bom; pelo menos não neste caso. Mais vaidosa e com uma produção musical mais balada, Nelly apostou no pop e hip hop. Era 2006, e este estilo já vinha se consolidando no mercado como o mais rentável – e é até hoje. Nelly foi acusada pelos mais fervorosos fãs de “ter se vendido”, “ter virado modinha”, “ter esquecido sua origem”. Bom, eu não posso negar que o CD é ótimo, mas de fato, ainda que hajam ótimas canções, poderiam ser cantadas por qualquer outra cantora medíocre.

Nelly e Timbaland
“Promiscuous”, produzida por Timbaland (que àquela altura era o produtor musical mais requisitado e possuía o dom de transformar qualquer artista em sucesso, assim como Pharell Williams o fora poucos anos antes; sem mencionar tantos outros exemplos de produtores), tornou-se hit. Não vou dizer que não gosto, mas é lamentável ouvir Nelly Furtado cantando isso. Qualquer outra cantora pop, dessas que surgem com algumas parcerias com rappers e depois somem, poderia cantá-la.
O que entristece não é o fato de Nelly querer fazer uma coisa diferente: ela tem esse direito; ademais, temos que ser práticos: música assim vende, e todo mundo precisa de dinheiro – ela mesma provavelmente estaria precisando, uma vez que “Folklore” não foi um sucesso de vendas. A parte chata é que aqueles que nunca ouviram falar de Nelly e a conheceram por meio de “Loose”, certamente pensaram que ela era só mais uma dentre tantas estrelinhas que surgiam no mercado todos os dias cantando aquele mesmo estilo. E as raízes portuguesas? E aquele estilo único de misturar elementos de vários ritmos e criar uma típica canção pop? E as letras legais? Nada, ninguém queria saber disso; Nelly Furtado era uma cantora comercial, era uma Fergie a mais, e ponto.

Não obstante, “Loose” tem seus méritos. “Say it right”, por exemplo, foi um grande sucesso e é realmente excelente, com sua batida dançante e seu clima misterioso e sensual. Há também baladas pop muito bonitas, como “All good things” (que também foi single), “In God’s hands” e “What I wanted”; e outras canções que lembram a antiga Nelly, como “Te busqué” (muita gente critica, mas eu gosto) e “No hay igual” (na qual ela canta em espanhol). Há outras que são legaizinhas, como “Do it” e “Glow”, mas totalmente descartáveis.       

Não escutei direito o álbum mais recente de Nelly, mas me parece que ela deu uma parada, voltou a fazer coisas mais light.

Enfim, não sou daquelas pessoas que ficam eternamente presas ao passado e atiram pedras no ídolo quando ele decide mudar. Os artistas são livres para lançarem o que quiserem, e o público também consome se quiser. Na maioria das vezes, eu gosto. Adoro música pop, sempre adorei, e não deixo de gostar de um artista apenas porque deixou de ser cult para ser “modinha”. Essa é a raiva maior de todos os fãs e sei muito bem o que é passar por isso (vide No Doubt em Hey Baby), mas tudo bem, a gente supera. Boa música deve ser compartilhada, e não restrita a um grupinho.

Sem mencionar que, embora muitos fãs sejam escravos dos lançamentos do momento, há também uma boa porção de pessoas que gostam de pesquisar mais afundo, descobrir o passado musical de seus ídolos, descobrir coisas novas... E isto acaba sendo uma eficiente maneira de divulgar a música do artista e fazê-lo ganhar mais fãs de qualidade. Sinceramente, eu também só fui conhecer a melhor obra de alguns cantores/bandas após conhecer o lado mais comercial. Fui assim que conheci várias coisas legais, inclusive a banda que é a minha preferida de todos os tempos... Mas bem, isto é assunto para outro texto.