Dias atrás terminei de ler “O grande Gatsby”, de Scott Fitzgerald. Foi uma boa leitura, bom entretenimento, mas eu provavelmente teria achado um pouco inútil se não soubesse o real significado de tudo aquilo.
Achei os personagens (com exceção do narrador) tão vazios... Vidas sem sentido, relações superficiais... Todavia, logo descobri que é justamente disso que o livro trata: da futilidade que predominava naquela época pós-Primeira Guerra, nos Estados Unidos.
De fato, a essência (ou a falta dela) dos personagens me interessou, principalmente porque sei que existem pessoas assim fora dos livros de ficção. Chamaram-me a atenção:
- O supérfluo e indeciso Tom, tão apegado aos bens materiais, tão desconfortável com a sensação de conforto que sua vida lhe proporcionava! Tinha um casamento até razoável, uma boa casa, excelente situação financeira... Mas nada disso era suficiente.
- A linda e leviana Daisy, tão fútil, tão oca, mas sempre encantadora. Não entendia muito bem seus próprios sentimentos, mas adorava despertar sentimentos em outras pessoas.
- As pessoas que frequentavam as festas de Gatsby! Frívolas, perdidas, desesperadas por diversão, como se isso fosse dar algum sentido para suas vidas. Este é um dos pontos mais fortes do livro, na minha opinião. Se as festas de Gatsby, lotadas destas pessoas, podiam constituir um perfeito retrato daquela época, então não precisaríamos de um novo retrato para definir a geração de hoje. Escrevi sobre isso por mais de uma ocasião aqui no blog, nos textos "As coisas que desejamos para nossos filhos", "Get a life!" e "Frivolidade".
Se eu pudesse rebatizar o livro, trocaria o adjetivo “grande” por “pobre”. Pobre Gatsby, escondendo-se por trás de algo que ele não é, criando para si mesmo uma fantasia, gastando toda sua vida (e seu dinheiro) tentando convencer a todos desta ilusão. Porém, suponho que nunca tenha conseguido convencer a si mesmo de que é realmente tão grande, um grande Gatsby.
Precisou preencher seu vazio com uma busca por um amor. Apegou-se à ideia de que Daisy traria a felicidade e até mesmo o sentido que faltava em sua vida. Talvez aquilo nem fosse amor, afinal. Creio que era apenas uma forma de passar o tempo, de ter algo em que pensar, algo para desejar, lutar, tentar alcançar. Sabe-se lá no que teria se transformado sua vida se aquele amor tivesse ido adiante! Provavelmente, dentro de pouco tempo, voltaria a sentir-se vazio, porque sua razão de viver era a própria busca e, uma vez tendo conseguido o que buscava, o que lhe restaria? Nada, eu imagino.
É assim que são as pessoas? Será mesmo que precisamos estar sempre motivados para que a vida tenha sentido? Será verdade que as coisas perdem a graça depois que as conseguimos? Isso tudo soa tão típico da condição humana, e soa triste e pessimista também, mas a verdade é que há sempre um degrau mais alto a ser calcado neste mundo, e por termos consciência desta verdade é que nunca estamos totalmente contentes.
A felicidade, todavia, não é impossível.
Acredito sinceramente que este processo de busca também pode ser grande fonte de felicidade. Acredito porque vivencio isto. Podemos sempre ser melhores do que somos, conquistar mais do que temos (não somente no sentido material e financeiro, até porque nestes casos a busca pode se tornar uma obsessão nem um pouco saudável), e a felicidade não é necessariamente um bônus que vamos receber no fim da caminhada; pelo contrário, ela pode e deve nos acompanhar durante todo o trajeto.
Estas reflexões me remeteram ao belíssimo e festejado poema de Vicente de Carvalho, “Esperança”, e é com ele que terminarei esse texto – diga-se de passagem, não poderia haver maneira melhor de fazê-lo!
Só a leve esperança em toda a vida
disfarça a pena de viver, mais nada;
nem é mais a existência resumida
que uma grande esperança malograda.
O eterno sonho da alma desterrada,
sonho que a traz ansiosa e embevecida,
é uma hora feliz, sempre adiada
e que não chega nunca em toda a vida.
Essa felicidade que supomos
árvore milagrosa que sonhamos
toda arriada de dourados pomos
existe sim; mas nós não n´a encontramos,
porque está sempre apenas onde a pomos
e nunca a pomos onde nós estamos.
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