No final do segundo episódio da segunda temporada de Glee, Rachel dedica uma canção a seu namorado Finn e canta para ele na frente de todos os amigos deles – e um detalhe: antes de cantar, ela faz todo um discurso. Certamente, se isto acontece na vida real, o namorado ficaria morrendo de vergonha – confesso, eu ficaria! Entretanto, a reação de Finn chamou-me a atenção. Ele não ficou constrangido nem vaidoso: ficou emocionado, não pela homenagem, mas por perceber que merecia aquilo.
Tudo bem que o Finn é apenas um personagem fictício, interpretado pelo ator Cory Monteith, mas foi desta forma que eu interpretei a reação dele. Finn é um bom menino, mas é um tanto quanto bobo, ingênuo, falta-lhe sagacidade para algumas coisas. Rachel, por sua vez, pensa pelos dois: é dominadora, pensa rápido e fala muito, gosta de impor sua opinião. Finn vê esses defeitos nela, mas a admira.
Rachel tem uma capacidade natural para a liderança, mas não é carismática, não inspira as pessoas a gostarem dela. Com Finn acontece o contrário: as pessoas gostam dele de graça, mas ele não tem força para saber liderar. Juntos, durante a primeira temporada, ambos foram aprendendo um com o outro. Finn encontrou dentro de si o líder que sempre soube que podia ser mas nunca conseguiu direito. Já Rachel aprendeu a respeitar mais as opiniões dos outros, a ser menos controladora – okay, neste ponto ela ainda precisa melhorar bastante, mas convenhamos, ela levou boas lições.
A maneira como Rachel se surpreende com o caráter de Finn é uma coisa muito emocionante de se ver. Ela o subestimou: mesmo sentindo-se atraída, via nele apenas um rostinho bonito sem nenhum conteúdo. Gostava dele, mas no fundo também queria controlá-lo, assim como quer fazer com todos à sua volta. Ela achava que só ela tinha coisas para ensinar a ele, mas por fim, descobriu que ele também tinha muito para ensiná-la.
Neste episódio que citei, Rachel sentiu a pressão de namorar um dos garotos mais populares da escola, e sentiu medo. Medo de perdê-lo. Logo ela, que sempre foi tão auto suficiente, tão segura de si, estava com medo de sentir que era pouco para Finn, que ele poderia querer mais e deixá-la para procurar algo melhor. E em uma situação como esta, seu jeito obsessivo não adiantaria: se Finn quisesse partir, ele poderia partir, e não haveria nada que ela pudesse fazer a respeito.
Foi então que ela viu o quanto ele era importante para ela. Tão importante que ela precisaria aprender a ser menos controladora, precisaria pensar sobre seus defeitos, sobre seu próprio jeito de ser.
Finn estava ajudando-a, mesmo sem querer, a ser uma pessoa melhor. E quando ela cantou sobre isso, ali na frente dele e de todos, ele ficou emocionado por saber que estava operando tamanha mudança na vida dela. Ele sentiu que valia alguma coisa, sentiu que mesmo sendo tudo que era, mesmo não sendo o cara mais legal e inteligente do mundo, podia muito bem fazer coisas importantes, significar algo importante na vida de uma pessoa.
Isso acontece em nossas vidas. Às vezes julgamos as pessoas pelo que elas são e não nos atentamos ao fato de que elas podem nos surpreender. É difícil de acreditar, mas mesmo as pessoas que parecem ser tão pouco podem fazer muito.
Sempre há aquele livro que você reluta em ler, acha a capa feia, o enredo ruim, mas de repente você o lê e a história dele muda a sua vida para sempre. Erramos muito subestimando as coisas e principalmente as pessoas também. Nem tudo é tão previsível quanto parece ser: aquela pessoa em que nós menos acreditamos pode ser a pessoa que vai transformar sua vida. Ou pode não ser, mas só descobriremos com o tempo. Por isso é tão errado fazer este tipo de julgamento.
Enquanto Rachel canta (por sinal, a canção que ela canta é “The only exception”, da banda Paramore), vemos uma cena super clichê, mas que neste contexto ficou perfeita e, pelo menos para mim, acrescentou algo à mensagem que eu assimilei: aparece Finn conversando com duas líderes de torcida bonitas e populares na escola, e Rachel, a simples Rachel com um vestidinho modesto e um casaco, sozinha no outro canto. Então Finn termina a conversa com as mocinhas e vai ao encontro de sua namorada. Contente, ela sorri por ele ter escolhido ficar com ela naquele momento.
Rachel é uma menina talentosíssima, esperta e com uma grande visão de mundo. Aparentemente, não precisa de ninguém. Mas aí ela encontra Finn, e permite que ele entre em sua vida e a faça feliz. Conclusão: mesmo a pessoa mais forte e confiante precisa de alguém. Todos precisamos de alguém que nos ajude a ser feliz, nos ajude a melhorar, ou simplesmente divida seu tempo e sua vida conosco. E, neste caso, esta pessoa foi justamente aquela que Rachel menos esperava, a que parecia menos capaz.
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