Ter consciência das coisas é algo muito complicado. Uma vez você tendo conquistado o entendimento de algo, não tem mais direito de errar. Sim, porque uma coisa é errar por realmente não saber; outra coisa é saber o que é certo e ainda assim agir errado. Esse é o pior dos erros: é o erro de quem não usa a inteligência, é o erro de quem desperdiça o que sabe. “A quem muito se deu, muito se exigirá”, diz a Bíblia (Lucas, 12:48). Ou seja, o fardo do sabedor é mais pesado que o do ignorante.
É claro que, mesmo sendo conscientes, não somos perfeitos: às vezes dá vontade de fazer o errado, mesmo sabendo o certo; dá vontade de se revoltar, mesmo sabendo que não é a coisa mais correta a ser feita. Então você vai, cria coragem, faz, e depois a sua consciência fica martelando, te acusando com toda a severidade, te condenando antes mesmo de qualquer outra pessoa querer te julgar. “Você errou”, ela diz. “Por que fez isso? Você sabia que não devia, sempre soube”. E então você não se perdoa.
Não tenho medo de não ser perdoada por Deus. Deus não perdoa, isso é muito claro para mim. Não é que eu acredite em um Deus mau e inflexível; o fato é que, pura e simplesmente, Deus não tem o que perdoar. Só perdoa quem se magoa. Deus não precisa perdoar, porque não guarda mágoa de nenhum de seus filhos. Ele ama a todos, e conhece a todos, mais do que eles próprios se conhecem. Conhecendo-nos tão profundamente, ele sabe o quanto somos imperfeitos, fracos, enfim, humanos. Humanos erram, humanos falham, humanos têm fraquezas. Deus não se magoa com nossas falhas, porque sabe que estamos propensos a elas.
Ainda assim, temos o costume de pedir perdão a Deus. Tudo bem, não tem problema. Às vezes agimos mal, e sentimo-nos no dever de desculpar-nos para com Deus, por termos fraquejado, por termos agido contra os Seus princípios. Nestas horas, é válido orar, desabafar, pedir perdão a Deus. A prece feita com o coração é sempre oportuna. Todavia, Deus ama sempre, e nunca pune: apenas dá o que nos é merecido. Os frutos que colhemos não são advindos da ira ou da predileção de Deus, mas sim, de nossas próprias atitudes. Cada um tem o que merece. Essa é a verdadeira Justiça Divina.
Quando erramos, não é Deus que estamos machucando: são os nossos conviventes, as pessoas que são afetados por nossos erros; ou ainda, machucamos a nós mesmos. Sim, porque a consciência é implacável. Ainda que a “vítima” da nossa falha venha a nos perdoar um dia, sempre nos lembraremos do mal que fizemos. Podemos até conseguir conviver com isso, meses, até anos sem lembrar-nos, mas um dia a lembrança vem, e nos atormenta. “Como fui capaz?”, você se pergunta.
Contudo, é claro que todo erro pode ser reparado. “O amor cobre uma multidão de pecados”. Não há ação ruim que não possa ser consertada por uma boa, desde que seja realmente praticada com o coração, com intenções verdadeiras e não para causar uma falsa impressão de bondade.
A consciência castiga, é verdade; mas também não precisamos nos conformar a viver sendo castigados. Por que não fazer o que é certo? Por que não tentarmos consertar o que foi estragado? Certos estragos são irreparáveis, mas há outras maneiras de fazer o bem, de tentar ajudar, de tentar ser melhor. O que vale é a intenção, nossos ancestrais já diziam. É uma frase antiga, incansavelmente repetida, mas totalmente acertada. Alguns indíviduos retrucam: “De boas intenções, o inferno está cheio”. Será? Se for, de qualquer forma, acho que o céu deve estar mais cheio ainda.
Para encerrar, deixo uma linda mensagem de Emmanuel, psicografada por Chico Xavier. É a lição n.º 5 do livro "Vinha de luz":
Com amor
“E, sobre tudo isto, revesti-vos de caridade, que é o vínculo da perfeição.” - Paulo. (Colossenses, 3:14.)
Todo discípulo do Evangelho precisará coragem para atacar os serviços da redenção de si mesmo.
Nenhum dispensará as armaduras da fé, a fim de marchar com desassombro sob tempestades.
O caminho de resgate e elevação permanece cheio de espinhos.
O trabalho constituir-se-á de lutas, de sofrimentos, de sacrifícios, de suor, de testemunhos.
Toda a preparação é necessária, no capítulo da resistência; entretanto, sobre tudo isto é indispensável revestir-se nossa alma de caridade, que é amor sublime.
A nobreza de caráter, a confiança, a benevolência, a fé, a ciência, a penetração, os dons e as possibilidades são fios preciosos, mas o amor é o tear divino que os entrelaçará, tecendo a túnica da perfeição espiritual.
A disciplina e a educação, a escola e a cultura, o esforço e a obra, são flores e frutos na árvore da vida, todavia, o amor é a raiz eterna.
Mas, como amaremos no serviço diário?
Renovemo-nos no espírito do Senhor e compreendamos os nossos semelhantes.
Auxiliemos em silêncio, entendendo a situação de cada um, temperando a bondade com a energia, e a fraternidade com a justiça.
Ouçamos a sugestão do amor, a cada passo, na senda evolutiva.
Quem ama, compreende; e quem compreende, trabalha pelo mundo melhor.
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