domingo, 14 de novembro de 2010

Aniversário da cidade

O tipo de pessoa que mais atrapalha não é aquele que não ajuda: é o que não ajuda e ainda por cima reclama. Infelizmente, este perfil é muito típico do nosso povo brasileiro: trata-se de pessoas negativas, que falam mal de tudo, criticam o sistema porém nada fazem para melhorá-lo; pessoas que falam que o Brasil é um país atrasado e no entanto não têm nada de bom para oferecer a ele.

Vejo tanta gente dizendo: “esse país é horrível, um dia me mudo daqui”. Na grande maioria das vezes, quem diz isso é alguém que só fica de braços cruzados, rasgando o verbo cruelmente, mas não tem a menor capacidade de ter uma ideia que possa causar algum tipo de melhora, por menor que seja, ainda que seja no próprio quarto em que dorme. 

Pessoas assim geralmente não colaboram em nada. Passam pelo mundo e sua existência não deixa nenhum resquício positivo. Não deixam sua marca. São só mais um entre tantos, morrem sem deixar uma herança de trabalho, de legado, de boas ações, de boas ideias. Não conseguem mudar nem a própria vida, quanto menos a vida de alguém, mesmo que com um gesto pequeno. São pessoas amargas, negativas, que só destilam ódio. É compreensível que devam mudar-se do Brasil: é preciso ir a algum país que não exija nada deles; afinal, eles não têm nada para dar mesmo.



Hoje, 14 de novembro, é o aniversário da cidade em que eu moro. Faço parte desta história há quase duas décadas, e aqui cresceu muito desde então. Sei de tanta gente que passava dificuldades em outras cidades e vieram para cá a fim de mudarem de vida... Pessoas que conseguiram vencer aqui, conseguiram construir algo para si, conseguiram sustentar suas famílias e realizar seus sonhos – e no entanto, continuam a reclamar, a criticar a cidade e seus moradores. Só posso sentir pena de gente assim. Não sei se agem desta forma por ingratidão ou por despeito.  

Vejo universitários que vêm estudar aqui e põem-se a reclamar da cidade, da faculdade, de tudo. São pessoas que não conseguiram passar nos vestibulares das suas cidades de origem, não foram boas o suficiente, e agora sentem raiva por terem que viver numa cidade dessa, misturar-se a esse tipo de pessoas. Se odeiam estas pessoas é porque odeiam também a si mesmos, afinal, estão no mesmo nível – passaram no mesmo vestibular, não é verdade?

Nosso país tem problemas, e a minha cidade também tem muitos, muitos problemas – eu não nego, não sou de “tapar o sol com a peneira”. Mas enfim, nenhum lugar é perfeito, e mesmo com tantos problemas, há tanta gente que consegue ser feliz por aqui, não há? Por que nós não conseguiríamos? E se já estamos conseguindo, o que estamos fazendo para tentar mudar este quadro problemático?

Somos tão ingratos, tão preguiçosos, tão egocêntricos. Acabamos por conseguir alguma coisa na vida, e então cruzamos os braços enquanto os outros à nossa volta ainda passam dificuldades. Reclamamos, apontamos o dedo, procuramos razões que expliquem o sofrimento alheio e a “falta de evolução” do Brasil (alguém já ouviu falar em etnocentrismo? Li um livro sobre isso que mudou a minha vida). Falar é tão simples. E o que nós estamos fazendo para mudar isso?

Vejo que as pessoas que mais lutam e trabalham para melhorar seu município, Estado ou país, são pessoas que amam o lugar em que vivem. Os que odeiam são os mais inúteis; são imprestáveis, incapazes de ajudar em qualquer coisa, por mínima que seja; por isso querem sair daqui, ir para “um país de primeiro mundo”, que não precise de pessoas que saibam colaborar, lutar. Querem tudo pronto, tudo perfeito, porque têm preguiça ou simplesmente não têm capacidade para ajudar na construção de um mundo melhor. Julgam-se superiores demais para viver em um lugar que possui tantos problemas.

Pois eu digo uma coisa: cada um tem o que merece. 

Nasceste no lar que precisavas,
Vestiste o corpo físico que merecias,
Moras onde melhor Deus te proporcionou, de acordo com teu adiamento,
Possuis os recursos financeiros coerentes com tuas necessidades,
Nem mais, nem menos, mas o justo para as tuas lutas terrenas,
Teu ambiente de trabalho é o que elegeste espontaneamente para a tua realização,
Teus parentes, amigos são as almas que atraístes, com tua própria afinidade.
Portanto, teu destino está constantemente sob teu controle.
Tu escolhes, recolhes, eleges, atrais, buscas, expulsas, modificas tudo aquilo que te rodeia a existência.
Teus pensamentos e vontades são a chave de teus atos e atitude...
São as fontes de atracção e repulsão na tua jornada vivência.
Não reclames nem te faças de vítima.
Antes de tudo, analisa e observa.
A mudança está em tuas mãos.
Reprograme tua meta, busque o bem e viverás melhor.


(Chico Xavier)

Ninguém é o que é, ou está onde está, por acaso. E não adianta reclamar. É preciso agir. 

Não há nada de mais em querer uma vida melhor; mas se realmente você quer, tem que fazer por onde. Ter senso crítico para apontar os defeitos do lugar onde você mora não te faz melhor, tampouco é suficiente para que você mereça um lugar melhor.


Hoje a cidade em que eu moro desde muito novinha completa 52 anos. Há quem ame morar aqui, e há quem deteste. Eu particularmente não me identifico com bastante coisa (clima, estilo de vida das pessoas), mas não posso dizer que não gosto daqui. Fui e sou muito feliz nessa cidade. Cresci aqui. Aqui adquiri os conhecimentos que acumulei ao longo da vida. Aqui conheci pessoas incríveis, que mudaram minha vida, ou simplesmente me ensinaram alguma coisa e depois foram embora. Aqui amadureci. Foi nestas ruas que aprendi a ser criança, adolescente, adulta.

Adoro essa cidade, e sou grata a ela. Só Deus pode dizer se há algo aqui para mim no futuro. Não sei onde estarei amanhã, mas jamais serei ingrata. Jamais posso desdenhar das coisas que me fizeram ser o que sou, porque gosto do que sou hoje, e devo isso a tudo que sempre tive.



Feliz aniversário, cidade. Há quem não te valorize, assim como ocorre com o Brasil. Mas vocês permanecem assim, acolhendo a todos, estentendo a mão a todos que chegam e precisam de vocês, sejam eles ingratos ou não.      

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