domingo, 31 de outubro de 2010

Livros que li no primeiro ano da faculdade – Parte II – “O que é etnocentrismo”


Título: O que é etnocentrismo – Coleção “Primeiros passos”

Autor: Everardo P. Guimarães Rocha

Edição: 2ª

Ano: 1985

Editora: Brasiliense

Página do livro no Skoob: http://www.skoob.com.br/livro/21729



Li para a aula de Antropologia; e confesso: eu também era daquelas que pensava que Antropologia é inútil ou no máximo serve para quem gosta de saber como o macaco passou a andar sobre dois pés, mas hoje eu admito que, depois que você aprende alguns conceitos, mesmo que poucos e básicos, sua forma de pensar e olhar o mundo muda drasticamente.

O livro é muito simples e didático, devido ao fato de ser destinado a iniciantes no assunto. Já começa de uma forma muito direta: “Etnocentrismo é uma visão do mundo onde o nosso próprio grupo é tomado como centro de tudo e todos os outros são pensados e sentidos através dos nossos valores, nossos modelos, nossas definições do que é a existência” (pág. 7).

Não é incrível? É exatamente isto o que fazemos. Somos incapazes de tomar como certo algo que não obedeça aos nossos próprios padrões. “A diferença é ameaçadora porque fere nossa própria identidade cultural”, diz o autor na pág. 9.

“De qualquer forma, a sociedade do ‘eu’ é a melhor, a superior. (...) A sociedade do ‘outro’ é atrasada.” (pág. 9) “O etnocentrismo passa exatamente por um julgamento do valor da cultura do ‘outro’ nos termos da cultura do grupo do ‘eu’” (pág. 13)

Como fazemos isso! Até mesmo passei a evitar usar os termos “país mais evoluído”, ou “sociedade mais atrasada”, depois que li este livro. Às vezes me flagro cometendo este erro, mas já compreendo que não se pode falar em evolução ou atraso de uma maneira geral. Há evolução ou atraso de acordo com um determinado ponto de vista. Já é um chavão, por exemplo, dizer que os Estados Unidos são muito mais evoluídos que o Brasil. Em termos de tecnologia e distribuição de renda eles são, com certeza, mas será que o são em todos os aspectos? Às vezes dizemos que determinada cultura é mais atrasada que a nossa, mas ignoramos que em alguns aspectos ela pode ser muito mais desenvolvida.

Falando assim, lembro-me da leitura recente que fiz das primeiras páginas do livro “As veias abertas da América Latina”, do uruguaio Eduardo Galeano. No capítulo “O derramamento de sangue e lágrimas”, o autor fala da forma como os colonizadores europeus desprezaram as habilidades dos indígenas nativos das terras da América, simplesmente porque o viam como “povos não civilizados”.

“É quase certo - escreve Sergio Bagú - que às minas espanholas foram lançados centenas de índios escultores, arquitetos, engenheiros e astrônomos, confundidos entre a multidão escrava, para realizar um tosco e esgotador trabalho de extração. Para a economia colonial, a habilidade técnica destes indivíduos não interessava. Eles só eram contados como trabalhadores não qualificados.” (pág. 32)

Há uma infinidade de coisas que eu poderia seguir falando sobre isto, sobre relativização, sobre a teoria do evolucionismo social (muito interessante)... Contudo, prefiro parar por aqui, até para não correr o risco de falar bobagens, já que não sou uma especialista no assunto. Só gostaria de registrar o quanto se torna mais fácil ser tolerante quando vemos o mundo sem esta ótica do etnocentrismo. Não que eu já tenha conseguido. Paciência, tolerância e respeito são coisas que devemos ir treinando dia a dia. Não é fácil, mas é possível, se aceitarmos que não somos o centro do mundo, e que há muito mais na vida do que as verdades que tomamos como únicas. 

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