Um álbum, sem dúvidas, muito à frente de seu tempo. Foi lançado em 2007, mas poderia ser lançado hoje, ou mesmo daqui alguns anos, e ainda sim soaria atual, ousado e incrível.
A despeito de todas as polêmicas envolvendo sua vida pessoal, que praticamente afundaram sua imagem e prometiam constituir o fim de sua carreira, Britney Spears lançou o álbum "Blackout" e deu provas de que ainda tinha muito para oferecer ao mundo do showbizz.
Em "Piece of me", ironiza a forma como é tratada pela mídia; em "Why should I be sad?", fala da relação com o ex marido; em "Hot as ice", gaba-se, mostrando que ainda está com a bola toda; e nas demais faixas trata de amor e sexualidade de uma maneira despudorada e repleta de autoconfiança, contrariando os que achavam que sua auto estima estaria abalada após tantas críticas.
Este álbum me lembra muito o "Erotica", de 1992, da Madonna, exceto que, obviamente, possui uma sonoridade muito mais moderna.
Meu lamento é que o álbum não tenha sido tão bem trabalhado quanto poderia. Algumas faixas tinham potencial para estourar; Blackout tinha tudo para ser um dos álbuns mais bombásticos da carreira de Britney. "Break the ice" para mim foi de um desperdício incalculável; com um videoclipe mais enfático e muita, muita divulgação, teria tudo para fazer história. Mas nem foi tão bem tocada assim, hoje poucos se lembram desta faixa. Uma pena!
Gosto da carreira da Britney como um todo, e analisando-a hoje, passados os seus picos de estouro, vejo que no fundo, no fundo, ela não queria ser a nova Madonna. Talvez até pensasse que queria, mas tinha sua personalidade própria. Aproveitou-se do legado de Madonna (a liberdade para tratar da própria sexualidade) e de Michael Jackson (a dança e a linguagem dos videoclipes), mas fez o seu próprio. No início, intrigava as pessoas com seu paradoxo entre virgindade e sensualidade; depois, assumindo por completo o estilo sexy e poderosa, continuou dando provas de que conseguia destacar-se entre tantos artistas com o mesmo estilo.
Depois veio a fase mais triste de sua carreira, começaram os problemas com bebidas e relacionamentos, e a mesma mídia que sempre endeusou Britney Spears e ajudou a mantê-la no topo serviu-se de seus problemas pessoais para faturar e ter manchetes. Usaram Britney como um joguete, sugaram tudo que podiam. Mesmo fragilizada, ela viu-se obrigada a criar forças para voltar a trabalhar, e foi o que fez com o álbum em questão.
Blackout foi um tapa na cara da mídia, foi a resposta de Britney aos que acharam que ela estaria derrotada. Não à toa o CD é aberto pela frase: It's Britney, bitch. Ou seja, Britney ainda sabia quem era, e sabia que ela não era pouca coisa.
Infelizmente Britney passou por mais maus bocados, mas continua aí; certamente não é a sua melhor fase, mas tampouco é a pior: em seu último álbum, Circus, o single de estréia "Womanizer" saltou da posição #96 do Hot 100 direto para #1 - foi o segundo maior salto da história da Billboard; o recentemente lançado episódio de Glee que a homenageia também bateu recordes de audiência nos Estados Unidos (13,3 milhões de espectadores); e ela é a pessoa mais seguida do Twitter (no exato momento em que escrevo este texto, ela contabiliza 6.205.075 seguidores; que tal?).
A imprensa usa as celebridades porque precisa delas para sobreviver, mas creio que Britney assimilou isto, e ainda, também aprendeu a usar a imprensa a seu favor. Por este motivo, letras como "Piece of me" e "Circus" não poderiam ser mais adequadas.
O mais engraçado é que, pelo menos para mim, pensar em Britney como a grande estrela do momento tornou-se tão habitual que fica difícil pensar que seu auge já passou, e que hoje existem artistas mais comentados que ela. Olho para trás e vejo como tudo passou para ela, lembro dela falando em entrevistas sobre suas referências artísticas, sobre escutar Madonna na infância; e hoje, é Miley Cyrus quem diz que escutava Britney Spears na infância.
Retrospectiva da carreira de Britney Spears mostrada em capas de revistas |
Britney amadureceu perante os holofotes, cresceu ouvindo pessoas darem palpites sobre o que ela devia ou não fazer (é sobre isto que ela canta em "I'm a slave for you" e "Overprotected", canções que abrem o álbum Britney - até o nome do álbum pareceu-me uma tentativa de se auto-afirmar e mostrar ao mundo quem ela era)... Mas no fim das contas, acho que ela encontrou seu próprio caminho.
Apesar do fato de que o título de "princesa do pop" me agrada, creio que Britney deu seus próprios passos, tem seu próprio brilho e construiu uma carreira totalmente sua, sem precisar vincular-se ao nome e à imagem da rainha do pop para ser lembrada e reconhecida.
Um comentário:
Texto ótimo! O álbum blackout realmente é maravilhoso e Britney Spears um dos maiores ícones da música.
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