quarta-feira, 27 de outubro de 2010

"Blackout", de Britney Spears

Um álbum, sem dúvidas, muito à frente de seu tempo. Foi lançado em 2007, mas poderia ser lançado hoje, ou mesmo daqui alguns anos, e ainda sim soaria atual, ousado e incrível.

A despeito de todas as polêmicas envolvendo sua vida pessoal, que praticamente afundaram sua imagem e prometiam constituir o fim de sua carreira, Britney Spears lançou o álbum "Blackout" e deu provas de que ainda tinha muito para oferecer ao mundo do showbizz.

Em "Piece of me", ironiza a forma como é tratada pela mídia; em "Why should I be sad?", fala da relação com o ex marido; em "Hot as ice", gaba-se, mostrando que ainda está com a bola toda; e nas demais faixas trata de amor e sexualidade de uma maneira despudorada e repleta de autoconfiança, contrariando os que achavam que sua auto estima estaria abalada após tantas críticas.

Este álbum me lembra muito o "Erotica", de 1992, da Madonna, exceto que, obviamente, possui uma sonoridade muito mais moderna.

Meu lamento é que o álbum não tenha sido tão bem trabalhado quanto poderia. Algumas faixas tinham potencial para estourar; Blackout tinha tudo para ser um dos álbuns mais bombásticos da carreira de Britney. "Break the ice" para mim foi de um desperdício incalculável; com um videoclipe mais enfático e muita, muita divulgação, teria tudo para fazer história. Mas nem foi tão bem tocada assim, hoje poucos se lembram desta faixa. Uma pena!


Gosto da carreira da Britney como um todo, e analisando-a hoje, passados os seus picos de estouro, vejo que no fundo, no fundo, ela não queria ser a nova Madonna. Talvez até pensasse que queria, mas tinha sua personalidade própria. Aproveitou-se do legado de Madonna (a liberdade para tratar da própria sexualidade) e de Michael Jackson (a dança e a linguagem dos videoclipes), mas fez o seu próprio. No início, intrigava as pessoas com seu paradoxo entre virgindade e sensualidade; depois, assumindo por completo o estilo sexy e poderosa, continuou dando provas de que conseguia destacar-se entre tantos artistas com o mesmo estilo.

Depois veio a fase mais triste de sua carreira, começaram os problemas com bebidas e relacionamentos, e a mesma mídia que sempre endeusou Britney Spears e ajudou a mantê-la no topo serviu-se de seus problemas pessoais para faturar e ter manchetes. Usaram Britney como um joguete, sugaram tudo que podiam. Mesmo fragilizada, ela viu-se obrigada a criar forças para voltar a trabalhar, e foi o que fez com o álbum em questão.

Blackout foi um tapa na cara da mídia, foi a resposta de Britney aos que acharam que ela estaria derrotada. Não à toa o CD é aberto pela frase: It's Britney, bitch. Ou seja, Britney ainda sabia quem era, e sabia que ela não era pouca coisa.

Infelizmente Britney passou por mais maus bocados, mas continua aí; certamente não é a sua melhor fase, mas tampouco é a pior: em seu último álbum, Circus, o single de estréia "Womanizer" saltou da posição #96 do Hot 100 direto para #1 - foi o segundo maior salto da história da Billboard; o recentemente lançado episódio de Glee que a homenageia também bateu recordes de audiência nos Estados Unidos (13,3 milhões de espectadores); e ela é a pessoa mais seguida do Twitter (no exato momento em que escrevo este texto, ela contabiliza 6.205.075 seguidores; que tal?).

A imprensa usa as celebridades porque precisa delas para sobreviver, mas creio que Britney assimilou isto, e ainda, também aprendeu a usar a imprensa a seu favor. Por este motivo, letras como "Piece of me" e "Circus" não poderiam ser mais adequadas.

O mais engraçado é que, pelo menos para mim, pensar em Britney como a grande estrela do momento tornou-se tão habitual que fica difícil pensar que seu auge já passou, e que hoje existem artistas mais comentados que ela. Olho para trás e vejo como tudo passou para ela, lembro dela falando em entrevistas sobre suas referências artísticas, sobre escutar Madonna na infância; e hoje, é Miley Cyrus quem diz que escutava Britney Spears na infância.

Retrospectiva da carreira de Britney Spears mostrada em capas de revistas
 Britney amadureceu perante os holofotes, cresceu ouvindo pessoas darem palpites sobre o que ela devia ou não fazer (é sobre isto que ela canta em "I'm a slave for you" e "Overprotected", canções que abrem o álbum Britney - até o nome do álbum pareceu-me uma tentativa de se auto-afirmar e mostrar ao mundo quem ela era)... Mas no fim das contas, acho que ela encontrou seu próprio caminho.

Apesar do fato de que o título de "princesa do pop" me agrada, creio que Britney deu seus próprios passos, tem seu próprio brilho e construiu uma carreira totalmente sua, sem precisar vincular-se ao nome e à imagem da rainha do pop para ser lembrada e reconhecida.

Um comentário:

Anônimo disse...

Texto ótimo! O álbum blackout realmente é maravilhoso e Britney Spears um dos maiores ícones da música.