sábado, 23 de outubro de 2010

Uma visão racional do amor


Dias atrás eu estava tendo uma conversa com uma professora a respeito de livros românticos e em um certo momento chegamos no assunto “romances de banca”, os famosos Júlia, Sabrina, Bianca e afins. Eu não posso negar que adoro esses livrinhos (e mesmo que negasse, o Skoob me desmentiria), mas o mais interessante foi a minha professora ter dito que evitou ao máximo que este tipo de literatura chegasse às mãos das filhas delas antes que elas crescessem e se tornassem mulheres maduras de verdade. Eu fiquei curiosa e, ao indagá-la a razão de ter feito isto, ouvi dela que esses livros, por mais atrativos e agradáveis que sejam, passam às leitoras uma idéia muito errada do amor, dos relacionamentos e principalmente, dos homens. Eu não pude deixar de concordar, e essa conversa me fez refletir sobre a própria visão que eu tenho do amor (e aqui me refiro ao amor romântico, entre homem e mulher ou mesmo entre duas pessoas do mesmo sexo).

Talvez por eu ser espírita, ou por ter sido criada por uma ariana, ou por ter um lado muito racional a despeito do meu lado sonhador, ou provavelmente pelo conjunto de todos estes fatores, tenho uma visão muito prática do amor. Claro que sou romântica, gosto de coisas bonitas, gosto que haja um clima, mas ainda sim sou bastante realista quando o assunto é relacionamentos: eles têm uma função.

Here it goes: o amor, para mim, é um sentimento que existe para que duas pessoas mantenham-se unidas a fim de aprenderem uma com a outra e crescerem como pessoas, evoluindo juntas.

Detesto aquela história de “se me ama, tem que me amar do jeito que eu sou” ou “quem ama não tenta mudar o ser amado". Besteira, besteira, besteira. O amor que não transforma é um amor inútil. Um relacionamento em que as pessoas não mudam é um relacionamento vazio e superficial.

Eu acredito absolutamente que Deus tem um propósito para tudo, e que Ele em sua grandiosidade jamais colocaria uma pessoa na vida da outra apenas para que elas passassem bons momentos juntas, trocassem beijos e carícias. Claro que tudo isso é uma delícia e é sim necessário para um relacionamento, mas não é tudo, e nem é o principal. O mais importante é o que cada um vai levar desse namoro.

Relacionamentos são maneiras muito especiais de crescer e se aperfeiçoar, pois há coisas que não se aprende estando solteiro, ou em outros tipos de relacionamentos como o familiar e a amizade, não obstante a importância deles também.

De fato, as novelas, as músicas e os livros passam uma idéia muito "cor de rosa", e ademais, muito frívolas acerca do amor. Valorizam demais o pulsar do coração, o ferver do sangue, o suor nas mãos... Isso não é amor, isso é paixão. A paixão é um estágio anterior ao amor, necessário para fazer as duas pessoas se aproximarem, mas não dura para sempre e uem ama nr do jeito que eu sou
ito que eu sou
 de aprenderem uma com a outra e crescerem como pessoas, evoluindo juntas.
tampouco pode ser a razão de um namoro ou casamento, justamente porque acaba.

A paixão é superestimada pelas pessoas, fazem promessas com base em um sentimento muito frágil e aí, quando ele passa, dizem que "o amor acabou" e terminam o relacionamento - muitas vezes, inclusive, sem pensar nas consequências deste término (traduzindo: sem pensar nos filhos).

Passado aquele êxtase inicial, quando você não sente mais frio na barriga durante o beijo, quando você não perde mais o sono pensando no parceiro, quando você começa a conhecer os defeitos da pessoa e ainda sim pretende continuar com ela, por querer e não por pena, comodismo ou obrigação, aí sim é amor.

O amor é tranquilo, é sólido, é estável, e dura. A paixão é intensa, é voraz, e tem fim.

O amor não surge de uma hora pra outra: ele é construído pouco a pouco, com base em momentos, em planos, em palavras, em atitudes, em gestos. A base dele é feita com mais cuidado e mais firmeza, e justamente por isso ele não se destrói tão facilmente. Já a paixão é construída com base em olhares, em cheiros, em toques, em beijos, coisas muito gostosas mas incapazes de constituir uma base sólida, motivo pelo qual uma paixão pode ser destruída por qualquer coisinha; pois tudo que vem fácil, vai fácil.

Tudo isto me faz lembrar de um desenho animado japonês no qual eu era verdadeiramente viciada por volta dos meus 11 anos de idade: Card Captor Sakura, aquele da menina com as cartas Clow. Trata-se de uma obra genial em todos os seus detalhes, completa e nem um pouco fútil ou mirabolante... Mas o que mais me marcou, sinceramente, foi a forma como tratava o amor. Eu era muito menina e ter assistido todos os episódios deste desenho foi muito oportuno, pois logo cedo eu pude formar o meu conceito de amor, totalmente diferente dos conceitos que me eram apresentados nas novelas.

Certamente é outra obra que vou querer apresentar aos meus filhos, pois assistindo Card Captor Sakura eu aprendi que o amor cresce aos poucos, com o tempo; eu fui totalmente convencida disto, pois acompanhei o relacionamento dos personagens desde o início, então ficou fácil visualizar a situação e inferir que o amor é feito de amizade, cumplicidade, companheirismo e admiração.

Outra coisa interessante que gostaria de destacar é justamente sobre este último item que eu mencionei: a admiração. Acredito que o melhor tipo de relacionamento é aquele em que ambas as pessoas possuem autoestima e gostam de si mesmas, pois só assim uma pode admirar a outra. Admirar o ser amado é fundamental para alimentar o amor. Naqueles momentos de briga e dificuldades, você busca se lembrar de por que gosta tanto daquela pessoa e optou por estar com ela, e então você se lembra de todas as qualidades que ela possui, se lembra do quanto a admira, e enfim, volta a se encantar por ela. E desta forma o amor segue em frente. Autoestima também é essencial pois onde há sentimento de inferioridade provavelmente haverá muito mais dependência e necessidade de aceitação do que propriamente amor.

Para finalizar: para mim, a frase mais romântica que pode existir é uma que o personagem de Jack Nicholson fala para a personagem de Helen Hunt no filme “Melhor é impossível” (“As good as it gets”, de 1997): 


Despertar num ser humano o desejo de ser melhor é, sem dúvidas, receber a maior de todas as declarações de amor. Esta é, na minha opinião, a verdadeira razão de ser do amor - e conhecendo-a, posso desfrutar de um pouco de paixão fictícia na TV mais despreocupadamente. 

Um comentário:

Leninha disse...

Encantada.