domingo, 31 de outubro de 2010

Livros que li no primeiro ano da faculdade – Parte III – “Política para meu filho”

Título: Política para meu filho


Autor: Fernando Savater

Tradução por: Eduardo Brandão

Edição: 1ª

Editora: Planeta

Ano: 2005

Página do livro no Skoob: http://www.skoob.com.br/livro/74605


Trata-se de um livro adorável que li para a disciplina de Ciência Política e Teoria Geral do Estado. Tivemos o privilégio de estudar esta disciplina à mesma época em que ocorriam eleições em nosso município. Para ser sincera, nem todos os conceitos foram perfeitamente fixados em minha mente, mas do que restou, muito me serve.

O espanhol Fernando Savater fala de filosofia política como se estivesse tentando explicá-la a seu jovem filho – daí o título, é claro – que se chama Amador (o nome original da obra é “Política para Amador”). Ao fim da leitura, não há respostas para todas as perguntas, mas o procedimento percorrido ao longo da fase de questionar é delicioso e de grande aprendizado.

Destaco dois pontos:

  1. A origem da palavra “idiota”
“Os antigos gregos (sujeitos diligentes e valentes, pelos quais você sabe que tenho especial devoção) chamaram quem não se metia em política de idiotés, palavra que significava pessoa isolada, sem nada a oferecer às demais, obcecada pelas mesquinharias de sua casa e, afinal de contas, manipulada por todos. Desse idiotés grego deriva nosso idiota atual, que não preciso explicar o que significa” (pág. 14).

Que interessante. De fato, quem não se interessa por política vive à mercê dos que se interessam, e agora não me lembro exatamente se quem disse isso foi um professor, ou se li em algum lugar. Seja quem for o autor da frase, merece aplausos.

Política, de fato, não é um assunto de fácil compreensão ou que exerce grande atração. Mas não dá pra ficar totalmente alheio. Nossas vidas são afetadas pela política, diretamente, mesmo que não sintamos o efeito – e geralmente nós jovens não sentimos mesmo, e eu atribuo a isto dois motivos determinantes: primeiro, o fato de não termos o total controle financeiro de nossas vidas, dependendo muito (ou 100%) do dinheiro dos nossos pais; segundo, o fato de que após a Constituição de 1988 muita coisa está bem mais fácil que antigamente.

Hoje temos tanta liberdade, para sermos quem somos, votarmos em quer quisermos, ter a orientação sexual que preferirmos, falarmos e pensarmos da maneira que bem entendermos... Temos tantos direitos garantidos. E quando nascemos, tudo já era assim. Mal conseguimos imaginar que um dia – e nem faz tanto tempo assim – tudo foi diferente, foi pior. Talvez por isso os jovens de outrora eram muito mais engajados politicamente.

 2.   A invenção da democracia

Há uma parte fascinante do livro, no capítulo 4, em que o autor fala da razão pela qual ele acredita que a democracia surgiu na Grécia, traçando lindamente um paralelo entre ela e as competições desportivas, uma vez que estas também são invenção dos gregos. "A competição desportiva é fruto direto do estabelecimento da igualdade política", ele diz, à pág. 67. E na falta de melhores palavras para explicar, citarei trechos do próprio livro:

"surgiu na r(...) só os iguais podem competir entre si: se não se pode olhar o faraó no rosto de igual para igual, menos ainda se poderá disputa uma corrida ou uma queda-de-braço com ele; Nero organizava concursos de canto com lira só para ter o gosto tolo de receber todos os prêmios... como se os juízes pudessem atrever-se a não os dar para ele! (...) a competição exige igualdade humana, reconhecimento mútuo, camaradagem na rivalidade. Agora se fala muito (...) contra a competição em nossa sociedade. Esquecem que a competição é um indício inequívoco de sociedade democrática, que as sociedades não-competitivas são constituídas por castas intransponíveis baseadas no sangue ou na teologia. Para competir com os outros é preciso igualar-se antes com eles. Para competir com os outros necessita-se dos outros: ninguém compete sozinho." (págs. 67-68)

É ou não é uma belíssima justificativa?

Há também o capítulo 8, entitulado "Livres ou felizes?", que achei muitíssimo interessante, apesar de que, até onde me lembre, não concordei com tudo. Mas enfim, lemos para isso: não somente para engolir tudo, também precisamos mastigar direitinho e digerir somente o que acharmos necessário, tendo a humildade de aceitar certos conceitos novos, e também a sabedoria de ver o que pode estar errado, afinal, todos temos o nosso livre arbítrio para acreditarmos no que quisermos.

De qualquer forma, a leitura foi prazerosa e inesquecível. O título do livro não poderia ser mais adequado e minha postura diante dele (levando em consideração o nome do meu blog) não poderia ter sido outra: comprei-o e pretendo guardá-lo, para meus filhos, é claro.



OBS: Tenho uma crítica a fazer à capa da edição mais recente do livro (esta da foto ao lado). Passa uma ideia errônea do livro. Tudo bem que é destinado aos jovens, mas ficou jovial demais, parece até capa de um romancinho adolescente (com todo o respeito aos "romancinhos adolescentes", pois também sou leitora deles). Acho que poderiam ter mantido a capa original ou feito algo mais sério. 

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