sábado, 23 de outubro de 2010

Frivolidade


Às vezes acho algumas pessoas tão frívolas; este pensamento sequer é bom porque dá a impressão de que me julgo superior a elas, e eu sei que não sou. Há vários defeitos piores e eu certamente os possuo, mas ultimamente a frivolidade tem me irritado em particular, principalmente quando vem de pessoas que têm tudo para não ser assim.

Vejo estudantes que se esforçam muito para entrar na faculdade e também se esforçam para sair dela, estudando e procurando tirar boas notas, mas no fundo, pouco se importam em descobrir a essência por trás das coisas que estudam. Limitam-se a dar um jeito de empurrar as informações para dentro de suas cabeças, loucos para concluírem logo o curso, trabalharem e ganharem dinheiro. Odeiam o que estudam, e provavelmente também serão infelizes em seu trabalho; mas nada disso importa, o que importa é o salário no fim do mês.

Não sei se tenho o direito de lhes tirar a razão, afinal, as circunstâncias da vida exigem que façamos algumas escolhas que nem sempre nos agradam, a fim de podermos garantir nossa sobrevivência; mas o que lamento é a falta de entusiasmo. Há um mundo de coisas a serem descobertas, pesquisadas, sentidas, e tudo isto é desprezado por estas pessoas, que vêem em seus livros e professores apenas uma forma de alcançarem o que planejaram para si.

O conhecimento não pode ser usado como um meio, ele deve ser um fim em si. 

Certa vez disse a uma pessoa amada que o tempo ou dinheiro gasto com conhecimento nunca é tempo perdido. Na hora ela não concordou, mas passado algum tempo vejo que ela assimilou isto, e isto me deixou muito feliz.

É fácil para mim falar assim, pois tive a felicidade de estudar algo que me agrada. Estou ciente de que nem todos têm esta oportunidade. No entanto, não são estes que me preocupam. Os que me preocupam são os que puderam escolher, os que têm condições.  

Um pouco de futilidade não faz tão mal, também gosto. As pessoas não são máquinas, obrigadas a serem úteis o tempo todo. É como uma frase da personagem Avellaneda no livro "A trégua", do uruguaio Mario Benedetti: "Nem sequer posso acusá-lo de que seja muito frívolo e eu muito profunda, porque nem sou tão profunda assim para me incomodar com uma boa dose de frivolidade, nem ele é tão frívolo a ponto de não se deixar comover por um sentimento verdadeiramente profundo".

Mas o que me irrita de verdade é a frivolidade esnobe. Não lamento pelos assumidos, que sabem que há tempo e lugar para tudo na vida, até mesmo para dedicar-se ao supérfluo; lamento pelos que se olvidam de que existem mais coisas na vida e que estas coisas não podem ser usadas como simples instrumento, como uma simples estrada cujo fim é um lugar onde você possa plenamente vivenciar a sua frivolidade...

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