quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Nelly Furtado

Nelly na época de "Turn off the light"...
Bons tempos!

Conheci a música de Nelly Furtado quando tinha uns 11 anos de idade, por meio da Rádio SKY. Ela ainda nem era famosa no Brasil, mas eu já estava viciada em “Turn off the light”, adorava aquela atmosfera sombria da canção e também a voz “diferente” que a cantora tinha.


Naquela época (2001), não era tão fácil conseguir música na Internet, principalmente quando o artista não era tão popular. Lembro-me que procurava por Nelly Furtado na Internet (nem havia Google ainda!) e o máximo que encontrava eram amostras de canções do CD dela na loja de música do Yahoo. Apenas 30 segundos ficavam disponíveis, e lá eu ficava, ouvindo 30 segundinhos de cada canção, imaginando como seria o resto...

A minha primeira surpresa foi descobrir que ela era jovem, e bonita também. Como eu só escutava a voz, imaginava-a como uma mulher mais velha, talvez uma negra, devido à sua voz exótica. Outra surpresa foi descobrir que ela mesma escrevia suas canções. Tão jovem e tão talentosa!

Até que, em uma viagem, vi o CD dela à venda e não resisti. “Whoa, Nelly!” me traz muitíssimas boas lembranças, de João Pessoa-PB, de danças na academia, de momentos solitários no meu quarto...

Nelly tem um estilo muito particular e ao mesmo tempo dificil de ser definido. Em seu primeiro CD, ela mesclava pop com folk e fado (ela possui ascendência portuguesa); violinos, piano, guitarras e berimbau, é uma loucura, mas uma delícia de se ouvir. Há até algumas canções cuja sonoridade me lembra muito a MPB (da qual Nelly é fã, inclusive já gravou com Caetano Veloso a canção “Island of wonder”, que está em seu segundo álbum), como “Legend”, “Party” e “My love grows deeper”, todas muito boas. Por sinal, na última faixa, ela canta em português. Porém, há também canções que são puro pop, como “I’m like a bird” (que a levou ao estrelato mundial) e “Trynna finda way” (super legal).

O segundo CD de Nelly, “Folklore”, de 2003, como o próprio nome sugere, tem uma sonoridade mais voltada para o folk e para a world music também. Confesso que este CD não me agrada tanto quanto o primeiro, apesar de eu adorar “Try” (linda balada), “The grass is green” (como tenho boas lembranças desta canção...) e “Powerless” (primeiro single que foi lançado, é bem animado e tem uma letra bem legal).

Mas foi na ocasião do terceiro CD, “Loose”, que Nelly Furtado gerou polêmica e acabou por perder alguns fãs, embora também houvesse ganhado muitos mais – se bem que isto não é necessariamente bom; pelo menos não neste caso. Mais vaidosa e com uma produção musical mais balada, Nelly apostou no pop e hip hop. Era 2006, e este estilo já vinha se consolidando no mercado como o mais rentável – e é até hoje. Nelly foi acusada pelos mais fervorosos fãs de “ter se vendido”, “ter virado modinha”, “ter esquecido sua origem”. Bom, eu não posso negar que o CD é ótimo, mas de fato, ainda que hajam ótimas canções, poderiam ser cantadas por qualquer outra cantora medíocre.

Nelly e Timbaland
“Promiscuous”, produzida por Timbaland (que àquela altura era o produtor musical mais requisitado e possuía o dom de transformar qualquer artista em sucesso, assim como Pharell Williams o fora poucos anos antes; sem mencionar tantos outros exemplos de produtores), tornou-se hit. Não vou dizer que não gosto, mas é lamentável ouvir Nelly Furtado cantando isso. Qualquer outra cantora pop, dessas que surgem com algumas parcerias com rappers e depois somem, poderia cantá-la.
O que entristece não é o fato de Nelly querer fazer uma coisa diferente: ela tem esse direito; ademais, temos que ser práticos: música assim vende, e todo mundo precisa de dinheiro – ela mesma provavelmente estaria precisando, uma vez que “Folklore” não foi um sucesso de vendas. A parte chata é que aqueles que nunca ouviram falar de Nelly e a conheceram por meio de “Loose”, certamente pensaram que ela era só mais uma dentre tantas estrelinhas que surgiam no mercado todos os dias cantando aquele mesmo estilo. E as raízes portuguesas? E aquele estilo único de misturar elementos de vários ritmos e criar uma típica canção pop? E as letras legais? Nada, ninguém queria saber disso; Nelly Furtado era uma cantora comercial, era uma Fergie a mais, e ponto.

Não obstante, “Loose” tem seus méritos. “Say it right”, por exemplo, foi um grande sucesso e é realmente excelente, com sua batida dançante e seu clima misterioso e sensual. Há também baladas pop muito bonitas, como “All good things” (que também foi single), “In God’s hands” e “What I wanted”; e outras canções que lembram a antiga Nelly, como “Te busqué” (muita gente critica, mas eu gosto) e “No hay igual” (na qual ela canta em espanhol). Há outras que são legaizinhas, como “Do it” e “Glow”, mas totalmente descartáveis.       

Não escutei direito o álbum mais recente de Nelly, mas me parece que ela deu uma parada, voltou a fazer coisas mais light.

Enfim, não sou daquelas pessoas que ficam eternamente presas ao passado e atiram pedras no ídolo quando ele decide mudar. Os artistas são livres para lançarem o que quiserem, e o público também consome se quiser. Na maioria das vezes, eu gosto. Adoro música pop, sempre adorei, e não deixo de gostar de um artista apenas porque deixou de ser cult para ser “modinha”. Essa é a raiva maior de todos os fãs e sei muito bem o que é passar por isso (vide No Doubt em Hey Baby), mas tudo bem, a gente supera. Boa música deve ser compartilhada, e não restrita a um grupinho.

Sem mencionar que, embora muitos fãs sejam escravos dos lançamentos do momento, há também uma boa porção de pessoas que gostam de pesquisar mais afundo, descobrir o passado musical de seus ídolos, descobrir coisas novas... E isto acaba sendo uma eficiente maneira de divulgar a música do artista e fazê-lo ganhar mais fãs de qualidade. Sinceramente, eu também só fui conhecer a melhor obra de alguns cantores/bandas após conhecer o lado mais comercial. Fui assim que conheci várias coisas legais, inclusive a banda que é a minha preferida de todos os tempos... Mas bem, isto é assunto para outro texto.  

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