"Sem hesitar, sem pensar nem reservar
Querido, eu estarei esperando
Mesmo se eu nunca ver seu rosto e asas te levarem para longe de mim,
e mesmo que o amanhã nunca aconteça
Se o mundo desmoronar, e desabar diante de nós
Se o destino se tornar cruel e você estiver de joelhos,
tão desesperado por uma verdade
Saiba que eu te amei..."
("I have loved you", Jessica Simpson)
Ao olhar as manchetes do site da UOL hoje pela manhã, uma fotografia chamou a minha atenção. Ei-la:
A manchete era a seguinte: "Militares voltam aos EUA após servirem no Afeganistão". A foto acima registrou o reencontro de um jovem casal do Estado do Colorado.
O carinho entre eles e a emoção nos olhos (sim, pois mesmo de olhos fechados é possível notar o afeto) me inspirou e me fez lembrar de várias canções, poemas, romances e filmes nos quais um casal enamorado é separado por uma guerra: o filme "Querido John", baseado no livro de Nicholas Sparks; a obra "Iaiá Garcia", de Machado de Assis, em que Jorge declara-se apaixonadamente a Estela antes de ir servir na Guerra do Paraguai (até mesmo citei, nesta ocasião, as belas palavras que ele disse); o filme "O anjo negro", de 1935, protagonizado pela minha adorada Merle Oberon, em que ela vê dois pretendentes seus indo servir na I Guerra Mundial...
Creio que, em situações como estas, o aspecto mais triste não é a saudade, e sim, a espera. A espera desacompanhada de certezas, de respostas. E nestes momentos é que nosso sentimento é colocado à prova...
Afinal, quem ama verdadeiramente deve esperar? Em que sentido devemos interpretar a palavra "fidelidade", nos momentos em que estamos à espera da pessoa amada? Vale a pena postergar planos em nome de um amor cujo momento do desenlace é imprevisível?
Bem, todos temos nosso livre arbítrio, e como um relacionamento consiste em um acordo de decisões, em que a vontade de ambas as partes deve comungar, creio que cabe a cada casal determinar quais regras quererá seguir. Mas uma coisa é certa: o reencontro sempre acontece. Ainda que não na mesma vida, mas um dia, sim, um dia, as almas separadas voltam a se encontrar.
Na Bíblia, na primeira epístola de Paulo aos Coríntios, vemo-los dizer que o amor "tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta" (13:7). Já nesta bela canção de autoria de Herbert Vianna, também interpretada por Marisa Monte, vemos como o amor pode ser impaciente e ávido. "O amor não sabe esperar", diz o eu-lírico. Seria um sinal de imaturidade da pessoa que ama?
Amor requer maturidade. Não estou aqui falando de paixão, desejo, amor carnal ou mero romance. Falo de amor, do sentimento na sua forma mais sublime; aliás, na sua própria essência, pois a própria essência do amor é pura e sábia, nós é que o distorcemos e banalizamos.
Quem ama deve ser maduro o suficiente para entender que o objeto de nosso amor é também um ser humano, com suas imperfeições e peculiaridades. Não é um boneco, um ser moldável, um recipiente onde despejamos tudo que sentimos e podemos também pegar um pouco daquilo que queremos. É um ser humano, sujeito a tantas falhas como nós, ou até mais, às vezes menos.
Quem ama de verdade, espera. Espera porque tem paciência com os defeitos do ser amado. Espera porque respeita, porque não tolhe, porque não exige mais do que a pessoa pode dar. O verdadeiro amor sabe esperar. Resta saber se estamos dispostos a viver esse verdadeiro amor. Por ora, pode não ser conveniente, e então, temos o direito de optar por não querer esperar. Arcaremos com as consequências disso, sejam elas boas ou ruins. A vida é assim: de uma maneira ou de outra temos que fazer escolhas e lidar com as circunstâncias que elas trazem.
Porém, a quem escolheu viver o amor, faz-se necessário muito equilíbrio e maturidade, porque nunca se sabe o que nos aguarda após a espera. Nada pode nos dar a certeza de que a espera valerá a pena. E aí? Somos maduros o suficientes para lidar com isso? Quando o período de espera acabar, e as coisas não saírem exatamente como esperávamos, somos capazes de aceitar que nós mesmos assumimos este risco? Somos homens ou mulheres o suficiente para arcar com as consequências de nossas próprias escolhas, sem jogar toda a culpa na outra pessoa?
Quem vai não faz promessas a quem fica. E se faz, está errado, e imaturo é quem acredita nelas. Ninguém pode prever o futuro. Ninguém pode definir como serão as coisas após um grande período de tempo. Quanto mais dura a espera, mais as partes estão sujeitas a se modificarem. A vida, o tempo, o ambiente, as pessoas, tudo influi em nosso modo de ser. Após tanto tempo separados, pode ser que um casal não seja mais o mesmo quando se encontrar. Trata-se de duas pessoas diferentes agora. Tudo pode voltar a ser como antes, ou pode ser melhor, ou pode não dar certo. Esse é um risco que assumimos quando escolhemos esperar. Talvez não sejamos fortes o suficiente para reconhecer que a culpa é toda nossa quando criamos expectativas e sonhamos que tudo será lindo. Mas, ao menos, precisamos ser sensatos a ponto de não depositar no outro as nossas frustrações.
A mulher grávida espera 9 meses por uma pessoa que não sabe como será. Talvez seja uma criança linda, talvez seja um bebê extremamente desagradável, talvez tenha uma doença rara e grave... talvez nem chegue a nascer com vida! Mas ela espera. Mesmo com todas estas possibilidades, ela espera, e quando a espera acaba, ela precisa cuidar da criança que nasceu e dar a ela todo o seu afeto, independente de qualquer coisa. Afinal, ela tomou para si esse encargo quando engravidou - mesmo se não engravidou porque quis.
Quem espera, faz isso por sua conta e risco. É preciso saber que, assim como há chances de a espera valer a pena, há chances de que nem tudo seja tão bom quanto queremos. De qualquer forma, a espera é um teste, em que nossos sentimentos são colocados à prova; porém, mais ainda, o que é colocado à prova é a nossa maturidade e a nossa capacidade de fazer escolhas e lidar com as consequências delas.
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