sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

A adorável pieguice do Romantismo da literatura brasileira

Pintura "O Soneto", de William Mulready, pintor contemporâneo do Romantismo inglês.



“Ali ela está na solidão de seus campos, talvez menos alegre, porém, certamente, mais livre; sua alma é todos os dias tocada dos mesmos objetos; ao romper d’alva, é sempre e só aurora que bruxuleia no horizonte; durante o dia, são sempre os mesmos prados, os mesmos bosques e árvores; de tarde, sempre o mesmo gado que se vem recolhendo ao curral; à noite, sempre a mesma lua que prateia seus raios na lisa superfície do lago. Assim, ela se acostuma a ver e amar um único objeto; seu espírito, quando concebe uma idéia, não a deixa mais, abraça-a, anima-a, vive eterno com ela; sua alma, quando chega a amar, é para nunca mais esquecer, é para viver e morrer por aquele que ama. Isto é assim, Augusto; considera que é lá em nosso campos que mais brilham esses sentimentos, que são a mesma vida e que não podem acabar senão com ela!...”
(Livro "A moreninha", 
de Joaquim Manuel Macedo)


“Embarco amanhã para o sul. Não é patriotismo que me leva, é o amor que lhe tenho, amor grande e sincero, que ninguém poderá arrancar-me do coração. Se morrer, a senhora será o meu último pensamento; se viver, não quero outra glória que não seja a de me sentir amado. Uma e outra coisa dependem só da senhora. Diga-me; devo morrer ou viver?”
(De Jorge para Estela, antes de ir à Guerra. 
Livro “Iaiá Garcia”, de Machado de Assis)
(OBS: Machado é considerado um escritor do gênero Realismo, porém, as primeiras obras de sua carreira são consideradas Românticas)


O Romantismo é um gênero um pouco menosprezado da nossa literatura, criticado por sua fórmula desgastada e maniqueísta, sempre com perfis definidos, os quais os autores seguiam à risca, sem muita inovação ou realismo. A mocinha bela e pura, o herói apaixonado e valente, o vilão cruel... Sempre a mesma coisa.

Até concordo parcialmente com algumas destas críticas, principalmente no que atina à extrema idealização das pessoas e coisas. Contudo, não posso deixar de contemplar a beleza da escrita dos autores... É certo que os romances desta época eram repletos de adjetivos, detalhes, descrições, e várias linhas de tanto sentimentalismo que beirava a monotonia - é o que os estudantes costumam chamar de "encher linguiça". Eu, porém, adoro essa pieguice toda. Gosto de poesia, beleza, requinte, palavras bonitas usadas para descrever sentimentos bonitos. E tudo isso eu encontro nas obras do período Romântico.

Aprecio também o Realismo como gênero, e não sou o tipo de pessoa que preza por utopias, mas que mal há em regozijar-se com algumas amostras da nossa tão bela língua portuguesa? Contamos com um vocabulário farto de substantivos e adjetivos lindos, há mais é que usá-los mesmo. Por que restringir-se a algumas poucas palavras? 

Também adoro esse exagero do Romantismo, esses arroubos que os personagens têm de declararem seu amor cheios de exclamações e reticências. Adoro essa intensidade, esse drama, essa força. Creio que me identifico um pouco com estas concepções, porque gosto de subjetividade, de ver beleza nas coisas. Não me contento com um simples exame da vida: gosto de adornos, gosto de captar as nuances, gosto de maximizar o que é belo e exaltar o que é interessante. Por que nos conformamos com um conceito mesquinho de vida? Tudo fica mais atraente quando é enfeitado. 

Se a vida é um cômodo, eu quero decorá-lo. Quero-o com cores bonitas e cheio de quadros.


" I don't want realism... I want magic!"
"Eu não quero realismo... Eu quero mágica!"
(Frase da personagem Blanche DuBois no filme "Um bonde chamado desejo", de 1951.)

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