sábado, 15 de janeiro de 2011

A fragilidade da vida


"Tragédias? Catástrofes? Guerras? Quem se importa? Almoçamos e jantamos essas desgraças na TV, anestesiados à miséria do outro, agora, apenas um dado, um número, um objeto distante, inacessível e desinteressante."
(Ronaldo Coelho Teixeira, “Quando o susto nos falta”. In “Surtos & Sustos”. Pág. 25. Gurupi-TO: Cometa, 2007)  


Eis a primeira catástrofe natural de 2011: as enchentes e os desmoronamentos nas cidades do Rio de Janeiro. Já foram identificados 550 mortos, e estima-se que hajam mais. Parece até que a natureza está tentando nos dizer algo, logo no início do ano.

Ano passado, logo nos primeiros dias, fomos testemunhas do terremoto no Haiti, que deixou vários mortos, entre brasileiros e haitianos, adultos e crianças, soldados e a nossa memorável Zilda Arns. Agora, ainda na segunda semana do ano, deparamo-nos com mais uma tragédia.

E já que estamos tentando entender o significado por trás dos fatos, eu me pergunto qual razão em comum têm tantos habitantes do Rio de Janeiro para merecerem passar por tudo isso que a população deste Estado tem passado. Em um curto período de tempo, vimos desastres da natureza (o episódio do Morro do Bumba e agora estas enchentes), guerras civis e a criminalidade oriunda do tráfico de drogas...

Muito embora eu tenha certeza de que há uma resposta, um grande motivo que justifique todas essas calamidades (pois injustiças não existem, Deus sempre sabe o que faz e há um porquê para tudo), não é nisso que tenho pensado sempre que vejo imagens tristes nos noticiários. Tudo isto tem me feito refletir acerca da nossa fragilidade enquanto seres humanos, e do quanto somos pequenos e impotentes diante da força da natureza, diante de tudo que pode nos acontecer.

Lembrei-me da clássica cena do filme “Titanic”, de 1997, em que o personagem de Leonardo di Caprio ergue-se na proa do navio e, extasiado com a vista, abre os braços e grita: “Eu sou o rei do mundo!”. É engraçado ele ter se sentido assim justamente ao mirar aquela infinidade de águas; eu, por minha vez, penso justamente o contrário quando o vejo, penso em como ele fica pequenino (e não me refiro somente à sua estatura) diante do oceano.

E se ele caísse do navio? Quem seria ele, sozinho, naquela imensidão de água a perder de vistas? Ainda que ele fosse mesmo “o rei do mundo”, de que importaria isso naquele momento? Ali, sozinho e afogando-se num oceano sem fim, nenhum título importa. Em uma situação como esta, de nada adianta ser rico, ser importante, ser reconhecido; você é apenas um mortal, um mero ser humano, um pedaço de carne flutuando no oceano.

Penso no que devem ter pensado as vítimas dos desmoronamentos e das enchentes do Rio de Janeiro, no exato momento em que viram tudo desabar. Provavelmente passou por suas cabeças algo parecido com o que descrevi. Naquele momento, com pedras gigantes e pesadas descendo serra abaixo e águas barrentas invadindo toda a cidade, somos ainda mais vulneráveis e fracos. Cada ser humano é um complexo de coisas, de virtudes e defeitos, de dons e habilidades, de lembranças e sonhos... Mas naquele momento cada ser humano é só um ser humano, só mais um, impotente e frágil.

 Que Deus abençoe a todos os desabrigados, os sobreviventes, os profissionais que estão trabalhando para salvar vidas e também as pessoas que desencarnaram nesta tragédia.

“Venha por um flagelo a morte, ou por uma causa comum, ninguém deixa por isso de morrer, desde que haja soado a hora da partida. A única diferença, em caso de flagelo, é que maior número parte ao mesmo tempo.
Se, pelo pensamento, pudéssemos elevar-nos de maneira a dominar a Humanidade e a abrangê-la em seu conjunto, esses tão terríveis flagelos não nos pareceriam mais do que passageiras tempestades no destino do mundo.”
   (O Livro dos Espíritos, pergunta n.° 738)

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