Pode parecer masoquismo ou excentricidade, mas eu não nego: adoro drama. Não que eu seja uma pessoa dramática, estou me referindo ao drama como gênero, seja de cinema, de literatura ou poesia.
Minha vida é maravilhosa. Sou feliz desde que me entendo por gente. Obviamente tenho meus defeitos e problemas, e já tive anos péssimos, mas tudo isso é muito pequeno diante de todo o resto. Tenho pessoas incríveis na minha vida, sou saudável e gosto de várias coisas que mantêm entretida e contente por muito tempo. Em suma, não tenho do que reclamar. Mas eu ADORO um drama. Talvez pelo contraste com a minha própria vida.
Nestas férias o canal Sony recomeçou a reprisar o seriado “Felicity”, desde a primeira temporada (são quatro, ao total), e eu não pude perder a oportunidade de acompanhar. Tenho adorado. Não me identifico com nenhum dos personagens, nenhum deles conta a minha história, mas ao mesmo tempo me identifico com tudo em “Felicity”, sou completamente fascinada por esse universo de drama e palidez que o seriado apresenta.
Palidez? Sim, eu usei esta palavra. Deixe-me explicar: eu gosto muito desta sensação de dias sem sol, ruas sem muita cor, pessoas não muito felizes, estranhos tentando levar a vida em uma cidade enorme. Que engraçado, descrevi exatamente o oposto da minha rotina. Vivo em uma cidade relativamente pequena, cheia de sol, calor, música e festa, onde as pessoas riem muito e são amigáveis. Adoro tudo isso. Adoro minha vida, mas não consigo deixar de me sentir atraída pelo poético inverso.
Em “Felicity”, as pessoas têm um monte de conflitos internos, sentimentos mal resolvidos, usam roupas sóbrias, falam baixo e vagueiam pelas incolores ruas de Nova York, sempre com uma expressão neutra, nem feliz nem triste, sempre parecendo que estão pensando na vida. Acho isso tudo tão lindo.
Lembrei-me do desenho do Snoopy e Charlie Brown, que no fim das contas, nem é tão infantil quanto parece. Lembrei-me das cenas em que as folhas de outono caem e Charlie Brown fica pensativo, e na tentativa de entender a vida, diz umas frases soltas que acabam soando como poemas, de tão profundamente simples que são.
Ah, e já que falei em folhas de outono... Elas me fascinam. Sou patriota inconteste, mas me queixo por não haver um outono definido no Brasil. O outono me encanta. É a estação que mais se assemelha a este sentimento que estou tentando descrever ao longo deste texto.
Não encontro este drama que tanto me encanta nas produções nacionais, e sei por quê: o Brasil é alegre e vivaz demais para dar lugar a tudo isto. A força e o colorido do Brasil, assim como de outros países latinos, também me encantam; mas esta profundidade, reflexividade, estas folhas secas e versos de poema, só encontro nas séries e filmes norteamericanos...
P.S.: Se eu morasse nos Estados Unidos, provavelmente estaria escrevendo um texto nos mesmos moldes deste, falando sobre como sou apaixonada por cenas de céu muito azul e árvores muito verdes, com pessoas passionais e muita risada e música alta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário