terça-feira, 4 de janeiro de 2011

As Martis da vida

Como contei no texto “Roteiro cultural de férias”, estou acompanhando a série americana Hellcats nestas férias de janeiro. Ainda estou na metade dos episódios da primeira temporada, mas já posso traçar um perfil da protagonista, Marti, uma estudante de Direito que precisa entrar para a equipe de líderes de torcida para conseguir uma bolsa e continuar estudando. Ressalte-se que a moça era daquelas pessoas que nutrem grande preconceito por este “esporte” (diga-se, de passagem: se as personagens de Hellcats fossem reais, certamente me odiariam por ter colocado essas aspas...).

Li algumas críticas a Hellcats nas quais reclamaram dos criadores da série, por terem feito uma Marti muito irreal, talentosa demais para ser de verdade. Afinal, ela é uma excelente estudante, excelente líder de torcida; ela canta, dança, faz acrobacias, toca violão, joga futebol, ajuda a mãe, resolve os problemas de todo mundo, se destaca no estágio... Será que existe mesmo alguém assim, tão “tudo”?

Em minha opinião o maior pecado do seriado, todavia, não é nem o fato de criarem uma Marti tão super, tão legal, tão talentosa. O problema é colocarem ela sempre como a solução de tudo. Marti é sempre aquela pessoa que vai resolver tudo, a pessoa que vai conseguir fazer tudo ficar melhor. Sem ela, as coisas nunca ficam boas. Como se ela fosse a única pessoa capaz disso...

Marti faz tudo!

Porém, por mais que eu deteste admitir, existem pessoas assim na vida real. Conheço várias delas. São aquelas pessoas que são boas em um monte de coisas, pessoas que você sabe que não vão te desapontar, pessoas com talento e senso de responsabilidade, pessoas que não se cansam de trabalhar e fazer coisas. Pessoas assim estão sempre sobrecarregadas.

É chato reconhecer que existem pessoas assim, porque o simples fato de elas existirem parece esfregar em nossas caras o quanto somos poucos, fracos, limitados. É um pouco complicado conviver com este tipo de pessoa. Tem suas vantagens, é claro: poder contar com alguém assim é algo precioso. Mas, vendo por outro lado, é preciso ter muita auto-estima para não se sentir horrível ao lado desta pessoa, pois ao lado de alguém com mil qualidades, nossos defeitos parecem ser tudo que temos.

É fácil criticar pessoas assim. Elas são tão boas em tudo... Mesmo que sejam humildes, sempre haverá um que as ache arrogantes, que ache que elas não têm o direito de serem tão fantásticas. É fácil sentir inveja de pessoas assim e disfarçar isso com um bilhão de argumentos que atribuem a elas defeitos que elas não têm. Difícil é dar a elas o devido valor, em vez de apenas abusar de seu talento e boa vontade. Difícil é termos coragem de assumir que não somos tão boas quanto elas. 

Nenhum comentário: