terça-feira, 4 de janeiro de 2011

O outro lado do julgamento

Estamos tão acostumados a rotular certas coisas/pessoas que, uma vez posto o rótulo, nunca mais o reconsideramos. Só que as pessoas podem mudar, podem nos surpreender! Ou simplesmente podem ser muito mais do que aquilo que julgamos a princípio. Por que para nós é tão difícil entender isto?

Odiamos ser mal julgados, sermos conhecidos por apenas um lado de nossa personalidade (geralmente pelo pior ou o que rende mais piadinhas), mas mesmo assim também fazemos isso com os outros. Se experimentamos a sensação de sermos subestimados e sabemos que é ruim, por que é tão difícil reconhecer o quanto estamos sendo cruéis ao fazermos a mesma coisa com outra pessoa?

Quando a pessoa é famosa, aí sim é que nossa culpa parece aliviada. Afinal, ele é uma pessoa pública mesmo, está sujeito a isso, precisa se acostumar, pois todo mundo fala mesmo o que pensa sobre eles, são ossos do ofício. Mas eu acho isso muito injusto. Eles são pessoas como nós, ou até mais corajosos que nós, porque estão na mídia diariamente, dando a cara a tapa, expondo seu trabalho; quantos de nós não-famosos teríamos coragem de fazer isso?


O rótulo é uma coisa tão boba, e quem faz uso dele só tem a perder. Vou dar um exemplo perfeito, e que inclusive me afetou: acerca do seriado Glee (sim, Glee de novo). Quantas pessoas já rotularam Glee de “só mais um High School Musical da vida”, para depois se arrependerem? Eu mesma já fiz isso. Relutei em assistir por muito tempo pois achei que seria só mais um musical infanto-juvenil bobinho, sentimental e sem muita profundidade. Como me enganei!

Mas, vamos mais fundo: “Mais um High School Musical da vida” foi usado como uma ofensa no parágrafo anterior. E tudo bem que não somos obrigados a gostar de uma trama que foi idealizada apenas para divertir crianças, mas não é injusto desmerecer o trabalho de quem participou desta produção? É tão fácil falar que os artistas da Disney são medíocres, mas ignoramos que eles geralmente são artistas completos, que estudaram música, dança e teatro. Vanessa Hudgens canta desde criança, Corbin Bleu tem formação em balé e jazz, e Ashley Tisdale estreou na Broadway aos 8 anos. Se formos parar pra pensar, nem todos os artistas cult têm essa experiência. E mesmo que tenham, isso tira o mérito dos outros?

Imagino como deve ser difícil conviver com este tipo de rótulo, aquele colocado por quem só viu uma coisa e acha que já sabe tudo.
Imagino Junior Lima, que é um instrumentista talentoso e versátil, que até hoje é ridicularizado por ter cantado “Vai ter que rebolar” quando era apenas uma criança.
Imagino Anahi, Dulce Maria, Maite Perroni, Poncho, Christian Chavez e Christopher Uckerman, cada um com suas habilidades, seja na música ou nas artes dramáticas, até hoje crucificados porque um dia cantaram “E sou rebelde...”.
E tantos outros!

A canção “Me adora”, da baiana Pitty, ilustra muito bem esta situação: 




Você que nem me ouve até o fim
Injustamente julga por prazer

Cuidado quando for falar de mim
E não desonre o meu nome”

Não julguemos as coisas isoladamente. Uma coisa apenas não pode ser capaz de definir tudo que uma pessoa é. E, pior ainda, não julguemos por um erro. Todo mundo erra. Um erro, por si só, pode dizer muito sobre alguém, mas não diz tudo. Ainda mais quando trata-se de um erro que aconteceu há tanto tempo... Vamos nos livrar dessa mania idiota de rotular as pessoas, e livrar também os alvos de nossos rótulos desse estigma tão injusto.  

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