domingo, 16 de janeiro de 2011

(Mais) Uma chance a Glee!


Sempre adorei premiações e eventos anuais de grande porte. Grammy, Miss Brasil e Universo são obrigatórios, assisto todos os anos (embora eu tenha perdido o Grammy por dois anos seguidos, por motivos de força maior). Este ano, quis também assistir o Globo de Ouro (Golden Globe Awards), mais pelas séries de TV do que pelos filmes, já que recentemente tirei um tempinho para acompanhar algumas séries, conforme tenho dito aqui no blog.

Fiquei muito sensibilizada por Chris Colfer ter ganhado o prêmio de melhor ator coadjuvante em uma série de comédia, foi um reconhecimento pelo magnífico trabalho que ele tem feito na segunda temporada de Glee. Na verdade Chris sempre esteve ótimo, mas na segunda temporada seu personagem recebeu um enorme destaque e ele “segurou a barra” muito bem. 

É claro que haviam excelentes atores concorrendo – o único sobre o qual posso opinar é Eric Stonestreet, que arrasa interpretando o personagem Cameron na excelente sitcom Modern Family; coincidentemente, um gay também, assim como o Kurt, de Glee. Sua performance inclusive foi premiada com um Emmy em 2010 (foto ao lado).

Chris Colfer é o mais jovem e menos experiente que concorria na categoria, mas a despeito disso, levou o Globo de Ouro. Foi tocante ver todos seus colegas de elenco felizes e emocionados por sua vitória. Como fã de Glee, fiquei igualmente feliz e emocionada.  

Certamente há quem não tenha gostado do vencedor desta categoria, não somente por acreditar que algum outro ator tenha feito um trabalho melhor (mal posso discordar, não vi todos os seriados indicados), como também pelo preconceito que Glee sofre. Na verdade eu detesto destacar que algo que eu goste sofra preconceito, não gosto de rotular meus ídolos de coitadinhos, mas neste caso eu abordarei este assunto porque, quem sabe?, posso ter a chance de fazer alguém mudar de ideia. Eu mesma resistia a Glee (e olhem que eu geralmente adoro tudo que tenha músicas e high school, por menos original ou bem feito que seja), achando que não acrescentaria nada à minha vida ou tampouco preencheria bem o meu tempo livre.

Pois bem, eis que dei uma chance a Glee e nunca me arrependi, nunca me arrependerei. Mesmo que algum dia a série mude radicalmente e se transforme em um lixo, continuarei tendo adorado acompanhá-la enquanto foi boa, porque enquanto isso aconteceu eu pude passar incríveis momentos, emocionando-me com as histórias, os dramas pessoais de cada personagem e a jornada de superação do grupo, divertindo-me e rindo das tiradas da Sue e das bobeiras da Brittany, ou simplesmente ouvindo boa música, sempre interpretada de uma maneira viva e especial pelas jovens vozes do brilhante elenco.

Quem acompanha apenas os primeiros episódios de Glee pode não ter se impressionado com o amontoado de clichês que a série apresenta. De fato, há uitos estereótipos – e esta é justamente a graça! Glee brinca com isso, caricaturando estes estereótipos. Na perfeita definição de Ana Carolina, membro da comunidade Glee do orkut, “Glee é o clichê rindo do próprio clichê”. Este não é, porém, o único trunfo de Glee. Ao mesmo tempo em que faz piada dos lugares-comuns da cultura pop americana, Glee aprofunda-se na análise da personalidade de cada um dos personagens, mostrando que os nerds são muito mais que nerds, que a cheerleader loira não é só a garota bonita e má, que o gay fashionista não é só um gay fashionista, enfim, desvendando as reais emoções de uma figura que, aos nossos olhos, parece previsível.

Em Glee há vários tipos de história: a da menina talentosa e egoísta que sonha com a fama porém não consegue conquistar a simpatia de ninguém, a do quarterback (o jogador mais importante em um time de futebol americano) popular e burrinho que precisa amadurecer e encarar os lados menos glamurosos da vida, a da negra gordinha que tem uma voz de arrasar quarteirões mas ainda assim é negligenciada em detrimento de outra colega do coral, a do gay órfão que tem o apoio do pai porém sofre bullying no colégio, a da cheerleader linda que presidia um clube de virgindade porém acabou engravidando, a da cheerleader burrinha que pensa como uma criança mas força-se a agir como uma adulta promíscua, a da cheerleader latina bissexual que precisa deixar o orgulho de lado para sentir-se à vontade fazendo uma das coisas que mais gosta (cantar), a do cadeirante nerd que sonha em ser popular contudo se sente um peixe fora d’água porque não consegue ser durão, a da asiática que sempre precisou afastar as pessoas e agora não consegue mais juntar-se a elas, a do bad boy que descobre dentro de si um lado humano e sensível e não consegue lidar com isso, a de uma orientadora que dá bons conselhos para todo mundo mas tem dificuldades para resolver sua própria vida amorosa, a do professor de espanhol que tenta reviver os velhos tempos de high school e ao mesmo tempo tentar levantar a autoestima de todos estes acima citados, a da treinadora masculinizada que aterroriza a todos mas esconde uma história de vida triste.

O mais legal de tudo é que não é só isso! Tive a maior dificuldade de traçar estes perfis, não conseguia decidir sobre o que falar, porque há tanto para falar sobre cada personagem. Eles são muito mais que todos estes rápidos perfis, suas histórias são muito maiores e seus dilemas são muito mais profundos. Só quem tem acompanhado todos os episódios com muita atenção sabe como há tantas coisas que ficam nas entrelinhas, e como cada história emociona e é bem contada.

Eu já postei um texto aqui no blog sobre como o período escolar pode ser difícil e deixar marcas em nossas vidas para sempre, e falei sobre a obsessão americana de tratar sobre este tema em seus filmes e séries de TV. Glee é uma destas produções que aborda este assunto de maneira sensível, delicada, e ao mesmo tempo dura e cômica. É completamente possível se identificar, ou se colocar no lugar dos personagens. Você se emociona junto com eles, torce por eles.

Bem, provavelmente tudo isto não vá cativar tanto aqueles que não gostam de histórias que envolvem jovens, ou que não gostam de musicais. Todavia, há duas coisas importantes a serem ressaltadas:

  • Glee é uma série sobre jovens, mas não é feita para crianças e pré-adolescentes. As pessoas costumam rotular de “infantil” tudo que seja colorido e tenha pessoas cantando e dançando, mas não é bem assim. É ignorância colocar rótulos sem antes conhecer bem aquilo de que se está falando. Glee aborda o universo dos jovens, mas de uma maneira bastante adulta e despudorada, tratando de sexo, virgindade, gravidez, promiscuidade, homossexualidade, subornos, drogas, violência, mentiras, traição e tudo que realmente faz parte do mundo em que os adolescentes vivem hoje, diferentemente de produções da Disney que geralmente “maquiam” as coisas (embora, mesmo assim, eu goste e respeite muito as produções da Disney, e não as acho superficiais; inclusive já as defendi aqui no blog).

  • As músicas em Glee têm propósitos. Realmente nem todos suportam ver aqueles filmes ou peças de teatro onde as pessoas começam a cantar sem motivo algum (eu adoro! Mas sei que nem todos gostam). Em Glee, todavia, as músicas são bem colocadas. Tudo que eles cantam geralmente é planejado como uma apresentação do coral, mas também há aqueles momentos em que eles cantam alguma canção cuja letra tenha a ver com o momento que eles estão passando em suas vidas. Vemos a personificação destas duas alternativas logo na cena final do primeiro episódio, em que eles cantam “Don’t stop believing”, que foi escolhida como uma música de impacto para alavancar o New Directions (nome do coral), mas ao mesmo tempo retrata o sentimento de todos os membros do grupo: a vontade de encontrar seu lugar no mundo, mesmo tendo a consciência de que eles são pessoas comuns.

Jane Lynch, ao chegar no tapete vermelho do Golden Globe Awards 2011. Créditos da foto: IMDB

Jane Lynch também ganhou um Globo de Ouro por sua atuação como Sue Sylvester. Não tiro seus méritos, contudo este prêmio já era esperado. Jane concorreu na mesma categoria em 2010, venceu o Emmy do ano passado e é franca favorita a ganhar em outras premiações também.

Glee ganhou mais uma vez como a melhor série de comédia/musical - ganhou o mesmo prêmio no ano passado, ano em que concorreu ao Emmy nesta mesma categoria. Fico imensamente feliz por mais esta vitória, que indubitavelmente é muito merecida. Foi impagável ver os atores/atrizes que interpretam os coadjuvantes Dave Karofsky, Becky Johnson, Shannon Beiste, Lauren Zizes, Blaine e Jacob estarem no palco também! Sempre que Glee ganha algum prêmio é assim, o elenco inteiro sobe no palco, e não apenas os protagonistas (e olhem que são muitos protagonistas!). Isto é mais uma prova de que em Glee todos têm importância e todas as histórias são relevantes.

Mas o que me comoveu mesmo foi ver Chris Colfer ganhar e dedicar seu prêmio às pessoas que sofrem bullying, na ocasião de seu discurso de agradecimento. Quem assistiu a primeira parte da segunda temporada de Glee viu como o personagem Kurt praticamente protagonizou tudo, seja sofrendo com as perseguições do valentão Dave Karofsky, seja resolvendo suas desavenças com o novo meio-irmão Finn, ou finalmente encontrando uma possibilidade de ser feliz no amor. Seu drama virou o centro da história por vários episódios, e Chris Colfer desempenhou seu papel de uma maneira bela e tocante. Premiar sua atuação foi premiar também o bonito e importante trabalho que Glee tem feito ao abordar o bullying e o preconceito contra as minorias, em especial contra os homossexuais.

Também sou uma grande fã do trabalho de Lea Michele e Matthew Morrison (que concorreram mas não ganharam), de Jane Lynch, de todo o elenco de Glee e de Modern Family, entretanto, para mim o grande destaque da noite foi Chris Colfer.

De qualquer forma, parabéns a Glee pelo segundo Globo de Ouro consecutivo de melhor série de comédia/musical! Mesmo que nunca ganhassem nada eu ainda teria muito orgulho de ser fã desta série linda e inesquecível!    



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