terça-feira, 25 de janeiro de 2011

O que me entristece

“Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim.
Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito; vou preparar-vos lugar.
E, se eu for e vos preparar lugar, virei outra vez, e vos tomarei para mim mesmo, para que onde eu estiver estejais vós também.”
(João, 14: 1-3)


"The hard hello and goodbye", pintura de Suzannah Sinclair
É complicado descrever este sentimento. Nem sou tão moralmente evoluída a ponto de poder sentir isso. Mas tenho qualidades também, e cultivo dentro de mim alguns sentimentos realmente bons, coisas muito verdadeiras, boas mesmo, a ponto de acreditar que posso mesmo mudar o mundo com isso. Sou ingênua? Talvez, mas não encaro a situação desta forma. Simplesmente acredito que toda essa história de “o bem não vai vencer o mal” ou “princípios não servem para nada” é algo que uma pessoa frustrada inventou e toda a sociedade absorveu. Agora tentam fazer lavagem cerebral em todos nós, para que não somente acreditamos nisso, como também passemos para frente. Mas não é isso que eu acredito; não é isso que eu quero para mim, para minha família, nem para os filhos que eu vou ter algum dia.

Eu realmente acredito em todas essas coisinhas clichês e aparentemente superadas: família, bondade, moral, ética, respeito, cuidado. Não importa que a minha geração acredite que hoje pode-se tudo, que ninguém é de ninguém e todo mundo é de todo mundo. Se for preciso, excluo-me dela. Recuso-me a partilhar destas ideias. Recuso-me a ser como estas pessoas que gritam aos quatro ventos suas filosofias baratas, tentando achar palavras bonitas para justificar um estilo de vida sem fronteiras, sem tolerâncias, sem respeito. É a isto que chamam “liberdade”? Não quero ser livre, então. Estou muito feliz presa no meu mundo onde o respeito ao sentimento dos outros vale mais que os desejos e as vontades.

Parece ridículo, mas eu realmente fico triste quando vejo que ainda existem pessoas assim. Não se trata de uma tristeza relacionada à pena ou ao lamento... É tristeza mesmo. Sinto-me mal com tudo isso. Não consigo me imaginar tendo o mesmo comportamento destas pessoas sem sentir-me estranha. Não consigo imaginar como conseguem agir desta forma e achar tudo natural.

Engraçado... Não preciso sofrer nenhum ataque ou ofensa vinda deste tipo de pessoa para entristecer-me com o simples fato de que elas são assim.

Fico triste só em pensar que estamos todos no mesmo mundo, que pessoas indiferentes ao sentimento alheio dividem o mesmo espaço que outras. Mas sabem o que é mais triste? O mais triste é saber que se estou aqui, com estas pessoas, é que também tenho imperfeições nas mesmas proporções que elas. Este não é um mundo desigual, estamos todos aqui por um grande motivo. “A Terra pertence à categoria dos mundos de expiação e de provas, e é por isso que o homem nela é alvo de tantas misérias” (O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo III, item 4)

Isso vai mudar. Com certeza vai, porque é assim que as coisas são. Eu seria imensamente inconformada se assim não fosse.


O progresso é lei da Natureza. A essa lei todos os seres da Criação, animados e inanimados, foram submetidos pela bondade de Deus, que quer que tudo se engrandeça e prospere. A própria destruição, que aos homens parece o termo final de todas as coisas, é apenas uni meio de se chegar, pela transformação, a um estado mais perfeito, visto que tudo morre para renascer e nada sofre o aniquilamento.

Ao mesmo tempo que todos os seres vivos progridem moralmente, progridem materialmente os mundos em que eles habitam. Quem pudesse acompanhar um mundo em suas diferentes fases, desde o instante em que se aglomeraram os primeiros átomos destinados e constituí-lo, vê-lo-ia a percorrer uma escala incessantemente progressiva, mas de degraus imperceptíveis para cada geração, e a oferecer aos seus habitantes uma morada cada vez mais agradável, à medida que eles próprios avançam na senda do progresso. Marcham assim, paralelamente, o progresso do homem, o dos animais, seus auxiliares, o dos vegetais e o da habitação, porquanto nada em a Natureza permanece estacionário. Quão grandiosa é essa idéia e digna da majestade do Criador! Quanto, ao contrário, é mesquinha e indigna do seu poder a que concentra a sua solicitude e a sua providência no imperceptível grão de areia, que é a Terra, e restringe a Humanidade aos poucos homens que a habitam!
Segundo aquela lei, este mundo esteve material e moralmente num estado inferior ao em que hoje se acha e se alçará sob esse duplo aspecto a um grau mais elevado. Ele há chegado a um dos seus períodos de transformação, em que, de orbe expiatório, mudar-se-á em planeta de regeneração, onde os homens serão ditosos, porque nele imperará a lei de Deus. - Santo Agostinho. (Paris, 1862.)
(O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo III, item 19) 



Estes monstros vão se transformar. Um dia eles entenderão a gravidade do que fazem. Vai chegar um dia em que certos princípios serão mais valorizados que certas prerrogativas, um dia em que saberão (saberemos?) fazer melhor uso do nosso livre arbítrio. E querem saber? Já é assim. Tem sido assim, porque a marcha do progresso é constante. Pena que algumas pessoas marchem na contramão. Será que estou entre elas?
De qualquer forma, a marcha não pode parar. É muita audácia colocar a si próprio acima disso... Mas me conforta saber que, por maior que seja o poder de destruição do desrespeito, da falta de ética e todos estes sentimentos ruins, ele não consegue sobrepor-se à força maior que rege todas as coisas. Isso me conforta, de verdade. Sou bobinha, politicamente correta, carola e/ou puritana por acreditar nisso? Deixe-me ser. Rótulos e nomes não me importam, o que importa é o que eu realmente acredito – e eu acredito sim, com todas as minhas forças.    


“Sendo o progresso uma condição da natureza humana, não está no poder do homem opor-se-lhe. É uma força viva, cuja ação pode ser retardada, porém não anulada, por leis humanas más. Quando estas se tornam incompatíveis com ele, despedaça-as juntamente com os que se esforcem por mantê-las. Assim será, até que o homem tenha posto suas leis em concordância com a justiça divina, que quer que todos participem do bem e não a vigência de leis feitas pelo forte em detrimento do fraco”.
(O Livro dos Espíritos, pergunta 781, a. Parte III, cap. VIII) 

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