quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Amor verdadeiro

"So where do we go from here? And where can love take us?"
('Crawl', Chris Brown)



O que posso fazer, na situação em que estou? Tenho apenas um caminho e ele não me leva a lugar nenhum. Só tenho o sentimento, e por mais forte que ele seja, não é forte o suficiente para estabelecer uma conexão. É, ainda, uma via de mão única. De nada adianta sentir, se o sentimento fica aprisionado dentro do recipiente, incapaz de atingir seu alvo, como uma bala que não pode sair da arma, como um avião que não pode levantar vôo porque de antemão já sabe que não terá onde pousar.

É a própria razão quem me ensina que o amor é o mais poderoso de todos os sentimentos... Então, por que esse mesmo amor parece tão impotente? Qual o sentido de amar se o amor não pode alcançar aquilo que se ama?

...


"Quem ama se depara com a impotência da ação transformadora do próprio amor, quando as situações permanecem, quando as respostas demoram, quando as frustrações acumulam. Mesmo assim, quem ama não desiste de amar e não entende que está jogando fora seu amor.
 É por isso que o amor precisa suportar tudo, sofrer tudo, esperar e manter a fé. Quem ama, suporta dores, cansaço, desânimo, forças contrárias. Quem ama, sempre espera pelo melhor, espera mais uma vez, não desiste."
(Alexandre Robles. Fonte: http://www.alexandrerobles.com.br/o-amor-impotente/)


O amor verdadeiro não é egoísta. Amar verdadeiramente não é esperar amor em troca; é amar na maior proporção em que se pode amar. Quando o desejo de ser também amado é maior que a resolução de dar o máximo de amor possível, então não se trata de amor verdadeiro; trata-se do amor egoísta, interesseiro, que mais tem a ver com carência que com amor propriamente dito.

Provavelmente, é esta a razão pela qual tantas pessoas sofrem por amor. Não é o amor que machuca: é aquilo que nós esperamos que ele seja, que ele traga, que ele mude em nossas vidas. O amor não faz mal, amar não faz sofrer... Sofremos porque esperamos coisas demais do amor, quando a verdade é que a única coisa que o verdadeiro amor espera é que o ser amado seja feliz e melhore a cada dia, a única coisa que o verdadeiro amor deseja é o bem daquele que ama, o único objetivo do verdadeiro amor é fazer o bem.

Amar é doar, é vibrar, é dar, é sentir. O fato de a pessoa amada não corresponder ou não valorizar isto não torna o amor menos completo. O amor enquanto sentimento não requer reciprocidade. A reciprocidade é pressuposto de uma relação amorosa, mas não do amor.

Eu compreendo estas explicações, mas ainda não consigo incorporá-las... É muito difícil aceitar que um sentimento tão forte seja capaz de agir e transformar mesmo quando despercebido por quem o fez nascer.

Não duvido da força do amor. Ainda que o objeto do meu amor desconheça as minhas vibrações e pensamentos a ele dedicados, estou convicta de que não amo em vão. Uma vez que o amor se converte em energias positivas direcionadas a quem se ama, ele cumpre seu propósito... Só não sou suficientemente abnegada a ponto de contentar-me com isso, e creio que isto quer dizer que não amo de verdade, ou que o amor que sinto está ainda em um estágio muito primitivo e que talvez um dia se torne um amor real, mas por enquanto está ainda muito apinhado de outros sentimentos menos nobres... Um deles é a necessidade de aprovação e autoafirmação.

A partir do momento em que você exige que o sentimento seja mútuo, o que você realmente quer é alimentar o próprio ego, é provar para si mesmo que você é digno de amor e que merece a atenção e o carinho da pessoa amada. Você projeta estas necessidades na pessoa e espera que ela te dê o que você quer e te diga o que você quer ouvir... E isso não é amor. Ou, pelo menos, não é um amor puro; é um amor desvirtuado, ou disfarçado de egoísmo, narcisismo, carência e/ou outras fraquezas.

Chega a ser triste constatar que um sentimento aparentemente tão intenso e tão bonito tenha, na verdade, raízes tão viciadas. Mas penso que isso pode ser reaproveitado... Mesmo as nossas energias menos nobres podem tornar-se úteis se forem bem direcionadas. O amor egoísta pode sim se transformar em um amor altruísta. 

Então, a cada vez que eu vibrar com a vitória do ser amado, a cada vez que eu orar por ele, a cada vez que eu ficar feliz simplesmente por ele existir, a cada vez que eu der o melhor de mim para ajudá-lo quando ele precisar, só devo rogar a Deus que me ajude a conservar estas atitudes, para que elas prevaleçam sobre os meus instintos egoístas, até que um dia estes desapareceram e sobeje apenas o aspecto benigno do amor. Por enquanto, está difícil... Mas o dia vai chegar. Um dia consigo amar assim. 


"A vigência do amor no ser humano constitui a mais alta conquista do desenvolvimento psicológico e também ético, porquanto esse estágio que surge como experiência do sentimento concretiza-se em emoções profundamente libertadoras, que facultam a compre­ensão dos objetivos essenciais da existência humana, como capítulo valioso da vida.
O amor suaviza a ardência das paixões canalizan­do-as corretamente para as finalidades a que se pro põem, sem as aflições devastadoras de que se reves­tem.
No emaranhado dos conflitos que às vezes o assal­tam, mantém-se em equilíbrio norteando o comporta­mento para as decisões corretas.
Por isso é sensato e sereno, resultado de inumerá­veis conquistas no processo do desenvolvimento inte­lectual.
Enquanto a razão é fria, lógica e calculada, o amor é vibrante, sábio e harmônico.
No período dos impulsos, quando se apresenta sob as constrições dos instintos, é ardente, apaixonado, cer­cado de caprichos, que o amadurecimento psicológico vai equilibrando através do mecanismo das experiên­cias sucessivas.
Orientado pela razão faz-se dúlcido e confiante, não extrapolando os limites naturais, a fim de se não tornar algema ou converter-se em expressão egoísta.
Não obstante se encontre presente em outras emo­ções, mesmo que em fase embrionária, tende a desen­volver-se e abarcar as sub-personalidades que manifes­tam os estágios do primitivismo, impulsionando-as para a ascensão, trabalhando-as para que alcancem o estágio superior.
É o amor que ilumina a face escura da personali­dade, conduzindo-a ao conhecimento dos defeitos e auxiliando-a na realização inicial da auto-estima, pas­so importante para vôos mais audaciosos e necessários.
A sua presença no indivíduo confere-lhe beleza e alegria, proporciona-lhe graça e musicalidade, produ­zindo irradiação de bem-estar que se exterioriza, tor­nando-se vida, mesmo quando as circunstâncias se apre sentam assinaladas por dificuldades, problemas e do­res, às vezes, excruciantes.
Vincula os seres de maneira incomum, possuindo a força dinâmica que restaura as energias quando com­balidas e conduz aos gestos de sacrifício e abnegação mais grandiosos possíveis.
O compromisso que produz naqueles que se unem possui um vínculo metafísico que nada interrompe, tor­nando-se, dessa forma, espiritual, saturado de esperan­ças e de paz.
O amor, quando legítimo, liberta, qual ocorre com o conhecimento da verdade, isto é, dos valores perma­nentes, os que são de significado profundo, que supe­ram a superficialidade e resistem aos tempos, às cir­cunstâncias e aos modismos.
Funciona como elemento catalisador para os altos propósitos existenciais.
A sua ausência abre espaço para tormentos e ansi­edades que produzem transtornos no comportamento, levando a estados depressivos ou de violência, porquanto, nessa circunstância, desaparecem as motivações para que a vida funcione em termos de alegria e de fe­licidade.
Quando o amor se instala nos sentimentos, as pes­soas podem encontrar-se separadas, ele, porém, perma­nece imperturbável. A distância física perde o sentido geográfico e o espaço desaparece, porque ele tem o poder de preenchê-lo e colocar os amantes sempre pr­ximos, pelas lembranças de tudo quanto significa a arte e a ciência de amar. Uma palavra evocada, um aroma sentido, uma melodia ouvida, qualquer detalhe desen­cadeia toda uma série de lembranças que o trazem ao tempo presente, ao momento sempre feliz.
O amor não tem passado, não se inquieta pelo fu­turo. E sempre hoje e agora.
O amor inspira e eleva dando colorido às paisa­gens mais cinzentas, tornando-se estrelas luminosas das noites da emoção.
Não necessita ser correspondido, embora o seu ca­lor se intensifique com o combustível da reciprocida­de.
Não há quem resista à força dinâmica do amor.
Muitas vezes não se lhe percebe a delicada presen­ça. No entanto, a pouco e pouco impregna aquele a quem se direciona, diminuindo-lhe algumas das desa­gradáveis posturas e modificando-lhe as reações con­flitivas.
Na raiz de muitos distúrbios do comportamento pode ser apontada a ausência do amor que se não rece­beu, produzindo uma terra psicológica árida, que abriu espaço para o surgimento das ervas daninhas, que são os conflitos.
O amor não se instala de um para outro momento, tendo um curso a percorrer.
Apresenta os seus pródromos na amizade que des­perta interesse por outrem e se expande na ternura, em forma de gentileza para consigo mesmo e para com aquele a quem se direciona.
É tão importante que, ausente, descaracteriza o sen­tido de beleza e de vida que existe em tudo.
A sua vigência é duradoura, nunca se cansando ou se amargurando, vibrando com vigor nos mecanismos emocionais da criatura humana.
Quando não se apresenta com essas características de libertação, é que ainda não alcançou o nível que o legitima, estando a caminho, ufilizando-se, por enquanto, do prazer do sexo, da companhia agradável, do in­teresse pessoal egoístico, dos desejos expressos na con­duta sensual: alimento, dinheiro, libido, vaidade, res­sentimento, pois que se encontra na fase alucinada do surgimento...
O amor é luz permanente no cérebro e paz contí­nua no coração."

(Joanna de Ângelis, psicografada por Divaldo Franco. Capítulo 62 do livro "Amor, imbatível amor")

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