sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Escolhas humanas e sinais de Deus


Às vezes penso se estou sabendo interpretar os sinais de Deus... O que é que Ele reserva para mim? Eu poderia ter uma noção da resposta interpretando as oportunidades que Ele vem me dando, mas será que minhas interpretações estão corretas?


Até hoje, em toda minha vida, tenho recebido sempre mais do que aquilo que me preparo para receber. O que será que isto quer dizer?

A quem me vê ou convive comigo pode parecer que sou metida, ou patricinha, mas a verdade é que sempre pedi muito pouco à vida. Sempre tive o melhor, mas nem é porque pedia, as coisas é que sempre chegam a mim... Estou sempre me preparando psicologicamente para o mediano, o simplesmente satisfatório, o contentar-me com pouco... No entanto, sempre me vem o melhor, o incrível. Às vezes me sinto culpada por obter tantas coisas boas; às vezes, porém, sinto-me atormentada com a possibilidade de tudo isto significar que os meus sonhos e desejos mais profundos podem tornar-se realidade, a despeito dos planos modestos e realistas que eu faço para minha vida. E se não for isso? Ou se não for sempre assim? E se a tendência for piorar? Eu não quero me iludir.

Não tenho me permitido ter muitos sonhos, tenho preferido planos, pois são mais palpáveis, mais realistas, mais possíveis. Eu consigo me imaginar sendo feliz vivendo esta realidade planejada, e tenho trabalhado desde já para concretizá-la – e, de fato, Deus tem permitido que tudo isso dê certo. Porém, vez ou outra, percebo algum indício de que há probabilidades certeiras de os sonhos também poderem acontecer. Então como interpretar estes sinais? Como pode haver compatibilidade entre a realidade e a fantasia?

Há quem diga que eu devo voar, que sou jovem e devo explorar as possibilidades da vida enquanto posso, mas eu não quero voar, eu gosto de sentir os pés no chão – e mesmo que eu quisesse, não posso voar, pois por incrível que pareça, tenho várias coisas que me prendem ao mundo real. Sou mesmo muito jovem, e sou livre; aparentemente, não tenho nenhum vínculo sério com nada que possa me cercear; mas a verdade é que tenho impedimentos de ordem moral, fiz compromissos com Deus, e quero e preciso cumpri-los. Viver os meus sonhos despertaria em mim as sensações que eu insisto em manter adormecidas, e me mostraria uma felicidade diferente (não melhor, mas definitivamente diferente) da que já conheço, mas no fundo, sinceramente, sinto que não seria feliz deixando estes compromissos para trás, até porque são compromissos que assumi por amor e não por obrigação ou imposição.

Eu não sei como tudo isso vai ficar, não sei muito bem o que esperar do futuro. As pessoas que acompanham a minha trajetória depositam grandes expectativas em mim, e todas esperam que eu faça grandes coisas e seja notável, e todas apostariam tudo que eu terei um futuro brilhante. Eu me sinto lisonjeada por gozar de tanta confiança, pois tamanha credibilidade sempre me trouxe muitas vantagens; mas, francamente, creio que não sei muito bem como lidarei com tudo isso quando eu finalmente der um rumo à minha vida, pois quando isso acontecer, pode ser que eu decepcione muita gente. Eu não quero me sentir obrigada a alcançar determinadas coisas apenas para satisfazer às esperanças alheias, mas por outro lado, também não sei se terei ânimo para ficar o tempo todo justificando aos outros as minhas escolhas.

Os meus ideais, valores e objetivos são bastante diferentes daquilo que as pessoas esperam de mim, e ao mesmo tempo em que eu não quero abrir mão do que sou apenas para agradá-las, também quero ser admirada, elogiada, ser reconhecida, e acho que isso não será possível se eu resolver fazer tudo diferente do jeito que me ensinaram, de tudo que querem de mim.

Estou certa de que não quero que me privem da chance de fazer minhas próprias escolhas, mas não é só isso: ademais, não estou muito certa de que estas escolhas que fiz, faço e seguirei fazendo, refletem aquilo que sou e almejo, ou refletem simplesmente o meu medo de não conseguir ser mais que isso.

Como eu disse, muitas pessoas fazem planos para mim, mas não estão interessadas em saber o que eu penso de tudo isso. Provavelmente, se souberem, vão pensar que espero muito pouco da vida, que tenho ambições muito pequenas e que poderia conseguir muito mais. Não posso concordar com estas pessoas: eu me considero ambiciosa, só não espero demais fora daquilo que me parece mais possível. Só espero demais dentro das minhas próprias possibilidades atuais. Não costumo desejar além das limitações. E a verdade é que não sei se me restrinjo a ficar satisfeita com o pouco que tenho porque realmente sou feliz com isto ou se porque não acredito que posso ter mais.

Não sou frustrada, não questiono minha felicidade. O que questiono é a razão de eu me sentir feliz com a vida que tenho. Tenho certeza de que conseguirei ser feliz ainda que não alcance na vida algo muito maior do que já tenho hoje; só não tenho certeza de que me sinto assim porque isto é mesmo verdade ou se esta forma de sentir é um mecanismo de defesa para evitar que eu sofra caso nunca consiga ir mais longe. Não posso garantir a mim mesma de que me sinto assim porque o pouco que tenho é suficiente, ou se é porque não acredito que algum dia eu possa ter mais.

Eu costumo pensar que o estado de contentamento requer muita atenção de nossa parte, pois muitas vezes a ideia de que ‘tudo está satisfatório’ pode ser mero truque para disfarçar o medo de alçar vôos mais altos. É muito tênue a linha que separa a  insegurança da acomodação justificável. Não acho nem um pouco errado ser feliz com aquilo que se tem; porém, a negligência ao deixar de identificar a possibilidade de conquistar além do já conquistado pode trazer alguns arrependimentos.

De qualquer maneira, o que sei é que tenho levado a vida sempre com muita cautela, e acho que isso é bom. Não sou de me deixar levar, sou mais de agendas e cálculos do que de saltar em queda livre rumo ao desconhecido, e até agora tem sido bom, tem dado certo, porque por mais que estas dúvidas e ânsias me aflijam, quando eu coloco todas estas emoções no papel e depois volto para a minha vida, não levo comigo nenhuma sensação ruim. Minha rotina é boa, minha vida é boa, tenho pessoas maravilhosas ao meu lado e vários projetos convenientes encaminhados. No fim do dia, eu me sinto feliz, e isto é inevitável, não é algo de que eu precise me convencer.

Como eu mesma reconheci, toda vez que obtenho mais do que aquilo que espero, é sempre de uma forma mais ou menos inesperada. Então para quê me perturbar? Inevitavelmente tudo será sempre bom, no mínimo bom, e na melhor das hipóteses, será ótimo. Então não há por que sofrer. Deus tem o melhor para mim, e se eu ainda não sei qual é esse melhor, não importa, pois devo me ocupar construindo aquilo que eu imagino que seja. Eu confio em Deus, e quem confia não precisa se dar o trabalho de sofrer por antecipação ou perder tempo com pressuposições.

Pode ser que algo muito maior esteja esperando por mim, pode ser que meu futuro seja um pouco diferente daquilo que eu venho aguardando e trabalhando, tudo pode ser, tudo é possível e não sei de nada. O meu futuro pertence a Deus, e por ora, só posso agir para fazer merecer tudo de melhor que Ele tiver para me oferecer.


"Há momentos muito difíceis, que parecem insuperáveis, enriquecidos de problemas e dores que se prolongam, intermináveis, ignorados pelos mais próximos afetos, mas que Deus sabe.



Muitas vezes te sentirás à borda de precipícios profundos, em desespero, e por todos abandonado. No entanto, não te encontrarás a sós, porque, no teu suplício, Deus sabe o que te acontece.



Injustiçado, e sob o estigma de calúnias destruidoras, quando, experimentando incomum angústia, estás a ponto de desertar da luta, confia mais um pouco, e espera, porque Deus sabe a razão do que te ocorre.



Basta que te deixes conduzir por Ele, e sintonizado com a Sua misericórdia e sabedoria, busca realizar o melhor, assinalando o teu caminho com as pegadas de luz, características de quem se entregou a Deus e em Deus progride."

(Mensagem  de Joanna de Ângelis, psicografada por Divaldo Pereira Franco, do livro "Filhos de Deus")

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