quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Para quê servem as sensações?

"I'm on the edge of glory... And I'm hangin' on a moment of truth"


"Estou à beira da glória, e estou me agarrando a um momento de verdade"



("The edge of glory", Lady GaGa)


Para quê servem as sensações? Dias atrás flagrei-me fazendo esta pergunta a mim mesma.

Qual é o sentido das coisas boas, que são simplesmente boas? Refiro-me às coisas que se esgotam em si mesmas, as coisas cujo único fim é proporcionar um instante de prazer, alegria, nostalgia, ou mesmo melancolia. Coisas que provocam sensações. Coisas. 

Há prazer em ouvir canções tristes e tentar imaginar a profundidade da tristeza do eu-lírico; deliciar-se com a dor alheia, envolver-se nos problemas distantes de um poeta que talvez nem esteja sendo sincero. É gostoso ficar triste assim. Mas para quê?

Da mesma forma, existem emoções incomparáveis, sensações únicas que só mesmo algo tão efêmero pode proporcionar. Um sabor, um sentir, um querer. Mas acaba rápido. O fim chega na mesma proporção da intensidade do deleite - o cume do excelente, a linha vertical . E foi muito bom. Mas para quê?

Para quê serviu? Acabou. E o que fica? O que levarei disso? Foi ótimo. Mas e daí?

"Vai render boas lembranças", dizem alguns. É o que eu mesma costumo dizer. Vai ficar na memória, de tão bom e intenso que foi. Memórias, memórias, mas para quê tantas memórias?

Quando penso nisso, chego a achar que fazemos mal uso dos nomes que damos às coisas, principalmente aos sentimentos. Banalizamos os substantivos, e também os adjetivos. Deviam haver outras palavras que descrevessem o que é bom porque nos faz sentir bem, diferentes daquelas usadas para mencionar o que é bom porque é realmente significativo e benéfico, e tem algum proveito. Não é justo usar as mesmas expressões para qualificar uma barra de chocolate e uma boa ação vinda de um estranho. 

"Dar a cada emoção uma personalidade, a cada estado de alma uma alma", diz Fernando Pessoa, do alto de suas reflexões no "Livro do Desassossego". No fundo, a resposta é aquela que a gente sempre soube: as coisas só têm sentido quando têm um sentido.

Um comentário:

Anônimo disse...

Genteee, lendo esse lembrei de tanta coisa, Paula Fernandes com seu 'turbilhão de sensações' depressivas, 'sorrir meu riso e derramar meu pranto'... mas acho q vc pode ter um bom post depois de ler 'o grito':

se ao menos esta dor servisse
se ela batesse nas paredes
abrisse portas, falasse
se ela cantasse e despenteasse os cabelos

se ao menos esta dor se visse
se ela saltasse fora da garganta como um grito
caísse da janela fizesse barulho
morresse

se a dor fosse um pedaço de pão duro
que a gente pudesse engolir com força
depois cuspir a saliva fora
sujar a rua os carros o espaço o outro
esse outro escuro que passa indiferente
e que não sofre tem o direito de não sofrer

se a dor fosse só a carne do dedo
que se esfrega na parede de pedra
para doer doer doer visível
doer penalizante
doer com lágrimas

se ao menos esta dor sangrasse

continue postando :)