quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Ser amado é não precisar pedir perdão

Lembro-me de ter assistido a um capítulo da novela "Alta estação", exibida na Rede Record em 2004, em que as personagens discutiam sobre o significado da famosa frase do filme "Love story", de 1970: "Amar é nunca ter que pedir perdão". 

Uma das personagens, não me lembro exatamente qual, interpretou essa frase no sentido de que duas pessoas que se amam devem sempre compreender os erros que cometem, e por isto, não seria necessário pedir perdão uma à outra, pois já se esperaria ser compreendida.


Já a protagonista da novelinha, Bárbara (interpretada por Ariela Massoti), entendeu a frase de uma maneira diferente, e defendeu que quem ama verdadeiramente deve se esforçar para nunca fazer algo pelo qual depois precise pedir perdão. 


Achei as duas teorias válidas, e sinceramente, até hoje não formei a minha própria opinião. 


A primeira interpretação coaduna com a ideia que eu faço do perdão de Deus - que, na verdade, não existe; Deus não precisa nos perdoar, pois nada que fazemos chega a magoá-lo; falei sobre isso mais detalhadamente em um outro texto aqui no blog.



A segunda é também bastante interessante, e vai ao encontro de várias máximas nas quais acredito, e princípios que informam a Doutrina Espírita, tais quais: a lei de evolução, a lei de amor, a caridade moral, além de, é claro, o segundo mais importante postulado do cristianismo: "Amai ao próximo como a ti mesmo".


Todavia, ao analisar uma das relações de minha vida, com uma pessoa muito querida, percebi que a minha interpretação pessoal da famosa frase já está formada há muito tempo, e sempre convivi com ela, ainda que só agora tenha percebido.


Nossa relação é de um amor inato e incalculável, daquele tipo em que as pessoas se entendem com simples olhares. Aliás, "simples" é um adjetivo usado por pura força de expressão, pois quem já está nesse nível de intimidade sabe que os olhares trocados não são simples. São, isso sim, emissores de um código criado ao longo de anos de convívio e carinho; ou até mesmo de uma linguagem congênita a ambos e que a priori nenhum dos dois sabe determinar como foi construída, mas que sabemos que remonta aos laços estreitados durante várias encarnações.


Pois bem; tamanha privança e bem querer faz com que duas pessoas tornem-se mais resistentes às desavenças que porventura surgem. O relacionamento entre elas, por maior que seja o amor, não está imune às más venturas, mas está significativamente mais resistente, a ponto de não se deixar afetar tanto por elas. 


Em uma relação que já se encontra neste patamar, discussões e mal entendidos produzem efeito tão pequeno que mal chega a ser necessário fazer uso da palavra "perdão".


O ato de perdoar sinceramente está intrinsecamente ligado ao amor, à compreensão, à caridade e à tolerância. Quem ama verdadeiramente, perdoa. E quem sabe que é amado desta forma nem sempre precisa pedir perdão.

Então, creio que a frase imortalizada pelo filme ficaria mais correta se fosse assim: "Ser amado é nunca ter que pedir perdão". Afinal, amar é perdoar sempre.




"Perdão é requisito essencial no erguimento da libertação e da paz. Habituamo-nos a pensar que Jesus nos teria impulsionado a desculpar "setenta vezes sete vezes" unicamente nos casos de ofensa à dignidade pessoal ou nas ocorrências do delito culposo, entretanto, o apelo do Evangelho nos alcança em áreas muito mais extensas da vida.

Se somamos as inquietações e sofrimentos que infligimos a nós mesmos por não perdoarmos aos entes amados pelo fato de não serem eles as pessoas que imaginávamos ou desejávamos fossem, surpreenderemos conosco volumosa carga de ressentimento que nada mais é senão peso morto, a impelir-nos para o fogo inútil do desespero. Isso ocorre em todas as posições da vida.
Esquecemo-nos de que nenhum ser existe imobilizado, que todos experimentamos alterações no curso do tempo e não relevamos facilmente os amigos que se modificam, sem refletir que também nós estamos a modificar-nos diante deles. Casamento, companheirismo, equipe, agrupamento e sociedade são instituições nas quais é forçoso que o verbo amar seja conjugado todos os dias."

(Da lição "Perdão e vida", retirado do livro "Indulgência", de Emmanuel, e psicografado por Chico Xavier)

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