terça-feira, 25 de outubro de 2011

Consumismo, alienação, hedonismo e autocontrole

 "A civilização tecnicista não é uma civilização do trabalho, mas do consumo e do "bem-estar". O trabalho deixa, para um número crescente de indivíduos, de incluir fins que lhe são próprios e torna-se um meio de consumir, de satisfazer as "necessidades" cada vez mais amplas."
(O. Friedmann, Sete estudos sobre o homem e a técnica, p. 147.)


Okay, vocês me pegaram. Eu mordi a isca. Sucumbi às tentações do consumismo.


Todas estas estratégias foram minuciosamente elaboradas para alienar as pessoas, fazê-las acreditar que precisam deste ou daquele produto - ou pior: fazê-las crer que conseguem viver sem ele, mas preferem tê-lo em suas vidas. E eu embarquei nessa.


Ter me deixado enredar por estas manobras calculistas da sociedade capitalista significa que fui fraca? Ou significa que sou forte o suficiente para priorizar o meu bem estar e a minha estima, reconhecendo o meu direito de dar a mim mesma alguns luxos?


Afinal, eu mereço um pouquinho de lazer às vezes, e se este lazer pode ser comprado, por que não? 


Mas espere... As pessoas que incutiram em minha mente a idéia de que posso usar meu dinheiro para ser feliz, são as mesmas que tentam me tornar escrava do consumo, oferecendo a cada dia mais e mais formas de me fazer supostamente satisfeita. Uma sacada de gênio. 


O problema é que a gente nunca se satisfaz. A possibilidade de ter algo melhor não nos permite disfrutar daquilo que já temos. E assim, pensamos sempre no agora, no que está na moda agora, no que há de melhor no mercado agora, do que podemos ou não comprar agora. 


Cientes de que compra nenhuma poderá causar uma satisfação duradoura, ainda assim é condenável querer obter as coisas que nos satisfarão apenas por um momento? Afinal, não é tão errado assim querer um minutinho de alegria... Ou é? 


As coisas vão acontecendo e nós vamos nos acostumando com a idéia da novidade, até chegar ao ponto de gostar dela e até mesmo defendê-la... É a nossa mente que vai se abrindo ou somos nós que vamos nos deixando alienar?


Quanto menos culpados nos sentimos por sermos tão consumistas, estamos simplesmente sendo hedonistas ou alienados? Este prazer sem culpa representa uma vitória em nome do nosso desejo de fazer-nos felizes, ou um fracasso relativo à nossa incapacidade de nos autocontrolar?


A mídia, os veículos de comunicação e a publicidade (atuando em conjunto? Talvez) criam toda essa cultura e esfregam-na diante de nossos olhos, vendendo a idéia de um mundo irresistível do qual podemos fazer parte; basta que, em troca, dê-mo-lhes nosso dinheiro.


De fato, é tudo muito interessante. Não sou tão ingênua a ponto de crer que os convites ao consumo são inofensivos, mas também não sou desconfiada demais para não ver que há um lado realmente bom em tudo isto. Dinheiro não traz felicidade? Ao menos traz alegria, e proporciona momentos agradáveis. 


É possível que alguém adentre a esse universo de possibilidades sem deixar-se alienar? Há a possibilidade de eu estar dançando conforme a música que a indústria capitalista pôs para tocar, mas ainda assim estar me movendo conforme a minha própria coreografia? E, talvez a mais substancial pergunta de todas: será que é possível detectar a hora de parar de dançar? 


Não posso acreditar que entre todas essas parafernálias que nos empurram goela abaixo (ou bolso abaixo) não haja nada para ser aproveitado. Não, de fato eu não acredito nisto. Há muita coisa boa sendo usada como chamariz. Existem sim um monte de obras, objetos e aparelhos realmente úteis e interessantes, servindo como instrumento de alienação. Haja sensatez para distingui-los dos demais, e autocontrole para limitarmo-nos a comprá-los somente, e não querer outros mais!


"(...) o consumo não-alienado supõe, mesmo diante de influências externas, que o indivíduo mantenha a possibilidade de escolha autônoma, não só para estabelecer suas preferências como para optar por consumir ou não. Além disso, o consumo consciente nunca é um fim em si, mas sempre um meio para outra coisa qualquer."
(ARANHA, Maria Lúcia Arruda; e MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: Introdução à filosofia. 2a edição. São Paulo: Moderna, 1993. Disponível em: http://textosfilo.blogspot.com/2008/09/o-consumo-alienado.html)


Eles me querem alienada e manipulável, totalmente entregue aos mundos e fundos que eles prometem, para que consigam me comprar a cada nova idéia nova que coloquem no mercado. E a cada vez que eu abro a carteira ou clico no botão "fechar o pedido", eles riem, porque sabem que me pegaram. Conseguiram de mim o que queriam: não o meu dinheiro, mas a minha ilusão de estar comprando um pedaço de felicidade.


Eu, por minha vez, quero viver a minha vida e ser feliz; divirto-me com algumas das coisas que eles oferecem, mas ao mesmo tempo, tenho consciência de tudo que estou fazendo (acho que não estaria escrevendo este texto se não tivesse essa consciência)... E continuo comprando, satisfazendo minhas vontades (necessidades não seria uma palavra muito honesta para se usar neste contexto) de acordo com minhas possibilidades. Quando não posso, não compro; e quando compro, estou ciente de que quem riu por último fui eu, pois dele a eles o gostinho de pensar que caí na arapuca, quando, na verdade, saltei nela de propósito, e sei exatamente como sair. 


Quem está enganando quem?

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