domingo, 16 de outubro de 2011

Os mesmos erros dos nossos antepassados

"You said we'll never make my parents' mistakes..."
('Mine', Taylor Swift)


Não é possível que eu esteja tão errada em desejar planejar minha vida com base nos meus próprios ideais. Não é possível que seja tão utópico, da minha parte, desejar construir um futuro onde eu possa fazer as minhas escolhas, colocar em prática as coisas nas quais eu acredito, traçar meus próprios objetivos; enfim, ser quem eu quero ser e fazer o que eu quero fazer, com base em tudo que eu considero correto. Em suma, não é possível que não haja outra maneira de viver, além desta que tentam me impor.

Sempre que se discorda de algumas posturas ou ideologias que notamos em nossos antepassados, ouvimos: "Não esquente: no futuro, você agirá exatamente como eles". Mas não devia ser assim. E eu não devia ser ridicularizada por achar que tudo pode ser diferente.

Por que não posso aprender com os erros dos outros e fazer as coisas do jeito certo quando for a minha vez de fazê-las? 

Eu acredito na lei do progresso. Eu acredito em mudanças. Eu acredito em idéias próprias. Acredito em pessoas que cultivam seus próprios princípios e pautam suas vidas neles. Acredito que é possível ser feliz, ou simplesmente ser alguém, sem precisar prosseguir nesse ciclo vicioso de erros e ilogicidades que crescemos assistindo. 

Eu não acredito que, para que a vida siga em frente, seja necessário viver do mesmo modo que outros viveram. Não acredito em perpetuar coisas que não fazem o menor sentido, apenas porque sempre foi assim. E daí que sempre foi assim? Não precisa ser assim. 

"There must be another way, because I believe in taking chances."
('Overprotected', Britney Spears)

Estou tão errada assim em querer simplesmente ser e fazer tudo aquilo que me parece melhor? Eles estão certos quando dizem (mesmo sem dizer nada, pois são muito mais enérgicos quando impõem) que a minha vida será igual à deles? Por que têm tanta certeza? Por que zombam tanto de mim quando falo que quero fazer diferente, que tenho outras idéias, que não pretendo seguir o mesmo caminho que eles seguiram? Por que me desacreditam tão veementemente, como se fosse impossível conceber a idéia de uma vida diferente daquela que eles vivem? Será que é mesmo? 

Sou uma sonhadora? Ou eles é que estão presos neste mundo de tradições e hábitos pouco significativos que seus pais lhes impuseram, e agora eles querem impor aos seus filhos também? Eles nunca ousaram agir de forma diferente. Ou talvez ousaram, e não deu certo. Talvez, por isso, achem eu também não vou conseguir. Eles se decepcionaram ao tentar, e agora acham que é impossível. Se acreditar que as coisas podem ser diferentes significa que sou uma fantasista, então chamem-me assim.

É proibido passar a vida toda coletando informações e se preparando da melhor forma possível para ser uma boa pessoa, e quando finalmente chegar a hora de colocar tudo em ação, fazê-lo sem sentir a menor culpa? 

Porque esta é a história da minha vida. Passei a vida inteira esperando pelo momento de ser adulta e levantar os meus próprios projetos, para poder sentir orgulho de quem sou, para poder ser enfim tudo aquilo que sempre me preparei para ser. Sinceramente, sinto que há uma idéia que sempre me acompanhou: a idéia de que tudo, tudo, tudo e qualquer coisa que faz parte da minha vida é algo que devo guardar (mesmo que só na memória, e às vezes, até materialmente mesmo) para o momento em que eu for adulta. É como se a infância e adolescência fossem apenas estágios preparatórios. Ser adulto é realmente viver; é o momento em que a vida começa, é o momento pelo qual esperei por tantos anos. 

É loucura sentir-se assim? Que seja. Mas eles não têm o direito de me tirar isso. De que valeram todos estes anos se eu não puder praticar tudo que sempre treinei? 

Recuso-me a acreditar que realmente existe um "caminho das pedras", que existe uma série de etapas e peculiaridades obrigatórias à vida de todos os seres humanos e que não adianta tentar fugir disso. Recuso-me a acreditar que é impossível ser diferente. Esta é uma idéia ilógica, ridícula, anticristã. Qualquer pedagogia, psicologia ou filosofia que coadune com isso é retardatária. 

As coisas precisam mudar. As pessoas precisam seguir suas próprias idéias. Não há o menor sentido em repetir o mesmo comportamento de nossos pais, apenas porque fomos criados assim. Por que não posso querer usar novos métodos? Eu posso, eu quero, acho até que devo. A minha vida é minha, e pelos eventuais erros que eu vier a cometer, eu mesma responderei. 

Eu tenho o direito de pensar por mim mesma. E ouso crer que tenho total capacidade de me sair extremamente bem sucedida nesta empreitada. 

Digo isto porque às vezes sinto que a vida chegou em um ponto no qual, caso eu não fique atenta, tudo começará a acontecer exatamente da mesma forma que aconteceu para os meus antepassados. Se eu não abrir os olhos, a vida tomará este curso automaticamente. 

"Because one more chance is all I’ll promise to provide
And circumstances choose for those who can’t decide
I'm gonna surprise them all
When they look and I'm gone..."
('Surprise', Semisonic)


É por esta razão que devo agir imediatamente. Devo tomar uma atitude agora, antes que seja tarde. Afinal, eu quero ou não quero concretizar meus planos? Porque se eu realmente quiser, preciso tomar decisões o quanto antes. Deixar para depois pode ser tarde demais. Não posso dormir agora, porque senão, quando acordar, estarei vivendo uma vida igual à deles. 

E não que é que eu não os admire. Admiro quem eles são; apenas não desejo a vida que eles têm. Eu não posso querer ter a minha própria vida? É claro que eu posso. Eu tenho o meu livre arbítrio. Eu tenho a minha consciência, as minhas convicções. Eu sou responsável pelas minhas escolhas, sejam elas boas ou ruins. E é claro que, quando as faço, tenho a melhor das intenções. Se eu errar, se eu falhar, que pena... Mas eu aprenderei com isto. 

Ainda que eu sofra, que eu fracasse, mas eu preciso aprender. Preciso fazer do meu jeito. Eu preciso de espaço e oportunidade para trilhar o meu próprio caminho. 

Talvez, no futuro, tudo dê errado, e então eles vão me dizer: "Eu avisei". Tudo bem, eu vou ter que escutar. Mas e se der certo? E se eu me sair absolutamente bem? E se eu conseguir provar que é possível vencer fazendo uso de outros meios? 

Bem ou mal, o que quero é ter a chance de ter poder sobre as situações. Sei que sou orgulhosa, e provavelmente não terei coragem de pedir ajuda quando eu me sentir perdida. Mas até isso é algo que precisa ser trabalhado. Até nestes momentos eu estarei aprendendo muito mais do que estaria caso estivesse seguindo os passos de outra pessoa, em vez de trilhar os meus próprios. 

Eu só não gostaria de chegar em um instante onde sentisse que falhei em tudo aquilo que sempre programei. Acho que estou sendo ambiciosa, mas é isso: eu quero tentar. Não quero seguir esse roteiro de vida que me apresentam como sendo o perfeito para a vida de qualquer um. Porque se eu fizer isto, uma hora ou outra, inevitavelmente, sentirei que tudo foi em vão. Tudo que passei a vida toda pensando, aprendendo, sentindo, guardando... Tudo terá servido para nada. 

Em virtude disto é que eu sinto o quanto é grande essa necessidade de fazer as coisas do meu jeito: porque, mesmo se as tentativas restarem frustradas, pelo menos terei fracassado do meu jeito, e não do mesmo jeito que outros fracassaram. Falharei com dignidade, e não por covardia; poderei sentir que falhei, mas pelo menos tentei fazer diferente. E realmente penso que as pessoas da minha geração deveriam fazer o mesmo. Caso contrário, sempre seremos esse bando de irracionais, fazendo sempre as mesmas coisas, repetindo sempre os mesmos acertos e - o pior de tudo - os mesmos erros, sem trazer nada de novo, deixando que as eras da humanidade se cumpram sem que nada evolua.

"Minha dor é perceber que apesar de termos feito tudo que fizemos, ainda somos os mesmos, e vivemos como nossos pais..."
('Como nossos pais', Belchior)

Por que a evolução da humanidade se dá de forma tão lenta e burra? É preciso que diversas gerações quebrem a cara seguidamente para que uma delas finalmente enxergue onde está o erro? Por que não podemos simplesmente fazer uma mudança agora? Eu não quero esperar, pois há uma porção de coisas que eu estou vendo neste exato momento, e seria um crime contra a minha consciência ignorá-las e fingir que está tudo bem. 

"We've got the right to chose... 
We're not gonna take it...
If that's your best, your best won't do."
('We're not gonna take it', Twisted Sister)

Falando assim até parece que sou uma rebelde planejando uma grande revolução. Na verdade, sou a pessoa menos rebelde que conheço. Ou talvez o conceito popular de rebeldia esteja equivocado. Nunca foi do meu feitio desafiar os padrões. O que desafio é o que está por trás deles, é a base sobre a qual erigem-se os costumes. 

Desobediência, indisciplina, irreverência? Não, não é comigo. Eu sempre vivi muito bem segundo tudo que me mandaram. Mas vai chegar o momento em que eu é quem darei as ordens. E então, eu vou querer uma razão forte na essência das coisas que eu escolher. 



"Pergunta 781 do Livro dos Espíritos: O homem pode deter a marcha do progresso?
– Não; mas pode impedi-lo algumas vezes.
781-a: O que pensar dos homens que tentam deter essa marcha e fazer retroceder a humanidade?
– Pobres seres que serão punidos por suas próprias ações. Serão arrastados pela torrente que querem deter.

 Sendo o progresso uma condição da natureza humana, ninguém tem o poder de se opor a ele. É uma força viva que as más leis podem retardar, mas não sufocar. Quando essas leis se tornam incompatíveis com a sua marcha, ele as destrói e a todos que tentam mantê-las. Será assim até que o homem coloque suas leis em concordância com a justiça e com o bem de todos, e não leis feitas pelo forte em prejuízo do fraco."

Nenhum comentário: