Não sou hipócrita; pelo menos não nesse ponto. Eu nunca disse que odeio diversão ou que condeno todos os artistas do momento. Muito pelo contrário... O que eu abomino é a supervalorização do “estilo festivo de ser”, e principalmente, o abandono dos princípios em nome da diversão. Todavia, àqueles que preferem se divertir de uma forma limpa, sadia e honesta, e que conseguem perfeitamente gozar dos prazeres mundanos sem precisar desvencilhar-se das coisas em que acredita, acho que estão certíssimos e devem mesmo aproveitar tudo de bom que o mundo de hoje nos proporciona! Sem se esquecer dos seus valores, é claro...
Dito isto, entro agora no assunto que pretendo: a transformação que a música pop vem sofrendo nos últimos anos, em virtude da valorização da diversão.
Já declarei aqui o meu amor pela música pop, e já falei também sobre como ela reflete de certa forma os valores difundidos pela sociedade de uma época. Pois bem, em razão de todas as coisas sobre as quais falei no texto “Geração Fun”, tenho percebido o quanto o mercado da música pop tem se adaptado a estes novos padrões. O resultado disso é que o pop de hoje em dia está ficando cada vez mais eletrônico, ritmado e moldado para tocar em danceterias. Grandes ícones da música pop tem lançado hits mais voltados para a dance e house music. Dois grandes exemplos são (a minha adorada) Britney Spears e a latina Jennifer Lopez, que nesta semana lançaram canções minuciosamente projetadas para estourarem nas baladas da vida: “Till the world ends” e “On the floor”. Em menos de uma semana, essas duas canções já atingiram posições de destaque em paradas musicais do mundo inteiro!
“Till the world ends” não foi exatamente “lançada”: na verdade ela “vazou”, ou seja, foi parar na Internet antes da data prevista. A música foi escrita para Britney pela cantora e compositora Ke$ha, que aliás, é a perfeita personificação da diversão que a juventude de hoje tanto procura e venera, sempre lançando singles que falam sobre sair para dançar, beber e curtir com os amigos. Princípios à parte, Ke$ha tem talento e sabe escrever hits dançantes como ninguém.
“Till the world ends” atingiu patamares inacreditáveis de sucesso apenas no primeiro dia em que foi descoberta pelos internautas! Tal sucesso apenas consolida essa nova fase da carreira de Britney Spears, que vem fazendo um pop menos street dance e mais eletrônico desde o single “3” . Embora Britney já flerte com a dance music desde o início de sua carreira e tenha intensificado esta vertente em seus álbuns “Blackout” (“Piece of me” e “Break the ice” são exemplos disto) e “Circus” (vide “Womanizer”), “3” foi seu single mais escancaradamente dance.
Quanto a Jennifer Lopez, seu novo single “On the floor” conta com a participação do rapper latino Pitbull e contém até um sample do hit de lambada dos anos 90 “Chorando se foi”, além, é claro, do componente eletrônico. Uma fórmula inteligentíssima para quem, como Jennifer, estava precisando voltar a fazer sucesso no mundo musical.
Jennifer Lopez no videoclipe de "On the floor" |
Britney e Jennifer são apenas dois dos inúmeros exemplos que temos de artistas que estão lentamente convertendo-se à dance music para se manterem no topo. E o verbo “converter” foi utilizado na frase anterior sem a menor intenção de dar a entender que estes artistas estão “se vendendo”, até porque a música pop e a música dance sempre foram muitíssimo interligadas e inclusive dependem uma da outra.
Outros exemplos:
- Os Black Eyed Peas, que a priori eram um grupo de hip hop, mas o enorme sucesso de “Pump it” fez-los repensar a carreira e investirem pesadamente na house music. Ponto para eles: nunca fizeram tanto sucesso, desde que abandonaram o hip hop para dedicarem-se exclusivamente a esta nova empreitada, que inclusive lhes rendeu o feitio de serem os donos do maior hit da nova geração, “I gotta feeling”. Atualmente, eles explodem no mundo inteiro com “The time (Dirty bit)”, uma releitura do clássico tema do filme “Dirty Dancing”, de 1987.
- Enrique Iglesias também começou sua carreira apostando forte em sua veia latina, cantando baladas românticas em espanhol, mas desde que resolveu lançar-se nos Estados Unidos tem optado por canções mais eletrônicas. Deu certo: atualmente, seu contagiante e sensual hit “Tonight I’m loving you” (ou “Tonight I’m fucking you”, para os que não tenham tanto pudor) já chegou ao Top 5 da Billboard.
- Rihanna é outra que começou como princesinha pop e agora tem canções tocando incessantemente em danceterias, como “Only girl in the world”.
- A adolescente latina lançada pela Disney Selena Gomez lançou seu primeiro CD em 2009, cantando pop rock com alguns elementos eletrônicos. A canção mais dance, “Naturally”, foi o single de maior sucesso, o que levou-a a investir ainda mais nesta vertente. Em seu segundo e mais recente álbum, a canção com melhor desempenho foi justamente outra canção dance, “A year without rain”.
Discussões na comunidade do Orkut "Billboard Charts" acerca do efeito da dance music na carreira da cantora Selena Gomez (clique na imagem para vê-la em tamanho maior) |
- E como esquecer-se de Lady GaGa? A moça dispensa maiores comentários, é a maior dona de hits dançantes dos últimos 3 anos.
E o que acho disso tudo? Acho que é uma fase. Acho que vai passar. Mas também acho ÓTIMO! Particularmente, posso dizer que todas as canções que citei neste texto me agradam. Adoro músicas que fazem dançar!
Sim, é uma fase. Os jovens nunca vão se cansar de diversão, apenas as vertentes mudam. Assim como houve o estouro da música disco nos anos 70 (e por que não dizer que a dance/house music de hoje representa para a nossa geração a mesma coisa que a disco music representava para a geração setentista?) e da new wave nos anos 80 (idem), isto tem ocorrido agora. Daqui há alguns anos, talvez o hip hop volte a dominar, ou talvez surja um novo ritmo, talvez proveniente da mistura de dois ou mais outros. Quem sabe? Aproveitemos enquanto podemos! Estamos vivendo o auge de uma era!
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