terça-feira, 8 de março de 2011

Princípios inabaláveis

Detalhe do quadro " A criação de Adão", de Michelangelo
 "Demais, se se considerar o poder moralizador do Espiritismo, pela finalidade que assina a todas as ações da vida, por tornar quase tangíveis as conseqüências do bem e do mal, pela força moral, a coragem e as consolações que dá nas aflições, mediante inalterável confiança no futuro, pela idéia de ter cada um perto de si os seres a quem amou, a certeza de os rever, a possibilidade de confabular com eles; enfim, pela certeza de que tudo quanto se fez, quanto se adquiriu em inteligência, sabedoria, moralidade, até à última hora da vida, não fica perdido, que tudo aproveita ao adiantamento do Espírito, reconhece-se que o Espiritismo realiza todas as promessas do Cristo a respeito do Consolador anunciado. Ora, como é o Espírito de Verdade que preside ao grande movimento da regeneração, a promessa da sua vinda se acha por essa forma cumprida, porque, de fato, é ele o verdadeiro Consolador."
(Livro "A Gênese", de Allan Kardec. Capítulo I, item 42) 



Sinto-me tão privilegiada por ter crenças tão fortes sem nunca precisar ter passado por nada tão trágico. Não, privilegiada não: sinto-me feliz. Privilégios não existem.

Geralmente as lições que aprendemos com maior intensidade são as ensinadas pela dor. Já eu, sempre fui tão feliz, e sempre tive todas as minhas convicções tão certas, tão enraizadas. É claro que já passei por coisas péssimas, momentos ruins, situações em que achei que tudo fosse desmoronar... Mas nunca duvidei. Nos momentos de sofrimento, minhas certezas só se mostravam mais perfeitas. Na hora da dor é que entendemos o sentido de algumas coisas.

De uma maneira geral, tenho uma vida feliz. Todas estas situações ruins que já vivenciei fizeram-me mais forte e mais confiante. Nem todas foram resolvidas, mas a maioria acabou servindo de meio para reiterar todos os princípios nos quais me baseio e me inspiro. Quanto às outras, ainda estão aí, para serem resolvidas algum dia, fazendo uso destes mesmos princípios.

Posso parecer insuportavelmente certinha ao dizer estas coisas, mas o que posso fazer? Fico feliz de verdade. É muito bom ter coisas lógicas, inteligentes, sensatas e confortantes para acreditar. Melhor ainda é estar com pessoas que partilham desse entendimento e estão do seu lado, mesmo que longe, mesmo que em silêncio, para fazer o mundo continuar girando e te dar a certeza de que tudo está em seu devido lugar.

Triste deve ser não acreditar em nada, ou ter crenças sem fundamento. Na hora em que se precisa delas, elas falham, porque são fracas, não têm base. Elas caem por terra, e você cai junto.

Triste deve ser conviver com pessoas que não acreditam em nada, ou ao menos em nada bom; pessoas perdidas, desequilibradas ou não suficientemente humildes para aceitar que existe algo acima delas mesmas. Podem até ser uma boa companhia para dar risada e gozar dos prazeres mundanos da vida, mas na hora do sofrimento, não contribuem em nada.

Certas pessoas têm o poder de te fazer sentir que tudo está bem, simplesmente por estarem vivas. Às vezes não dizem nada, e nem precisam, porque suas presenças bastam. Adoro pessoas inteligentes, sensatas, confiantes, esperançosas. Adoro pessoas que dizem que tudo vai dar certo – e que não dizem isso somente porque é um clichê bonitinho capaz de te acalmar, mas porque conhecem a lógica da vida e sabem que é isto mesmo que vai acontecer. Adoro o otimismo inteligente. Isto sim é consolador. Assim dá pra acreditar que as coisas vão melhorar.

E eu? Já fui testada tantas vezes... E ainda estou aqui.

Regularmente, tenho o costume de procurar saber sobre algumas coisas, ler ou ouvir alguém falar, simplesmente para me informar, para saber a quantas anda o mundo em que vivo... E nada disso foi capaz de fazer eu me revoltar contra os meus princípios. Ainda estou aqui. Depois de tudo que li, vi, ouvi, senti, ainda sou a mesma, ou talvez melhor. Creio como sempre e acredito até mais do que antes.

Desculpe se te chateio. Desculpe se você não tem estômago para o meu discurso cristão e moralista. Você tem direito de acreditar e gostar do que quiser, do que achar melhor. Só não duvide do que eu digo. Aposto como você também adoraria ser feliz. Sua pose de rebelde e avessa ao politicamente correto funciona em termos de estilo, mas fora do mundo das aparências, você sofre. E sofrer é poético, mas não é legal.

Sei que é difícil aceitar que é possível ser feliz sem sair do normal. Eu sei, parece bizarro pensar que exista felicidade dentro da rotina, do que é certo, direito. Você fica com suas convicções, e eu fico com as minhas.

Só não se esqueça que quando você se cansa da sua vida de gozo ilimitado e ausência de regras, é a mim que você recorre. Você jura que está feliz, mas só está alegre. Artificialmente alegre. Quando o efeito passa, você precisa de conforto, estabilidade, segurança e paz. E aí você me liga.

Vou continuar aqui, e minha vida vai seguir cada vez melhor. Pode me odiar, porque eu não te odeio. Pode atacar as coisas que eu penso. Tudo soa muito divertido quando se está bêbado. Mas quando chegar a ressaca, eu estarei aqui. Você sabe que sim. 

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