Janaína foi eliminada do Big Brother Brasil na noite de terça feira, certamente porque não era uma participante muito carismática ou talvez porque o público prefira Paula – quanto à eliminação de Diogo nem vou fazer muitos comentários; o que penso sobre homens como ele já foi dito aqui no blog.
Particularmente, também tenho simpatia por Paula, e nem acho Janaína tão incrível, mas o que realmente tem me irritado são os motivos pelos quais as pessoas (principalmente os jovens) detestam-na. Dizem achá-la insuportável por ter mania de otimismo, discurso moralista, por querer ser sempre boazinha, sensata, madura etc. Porque aos olhos dos nossos cultos e sábios jovens (!) , pessoas assim são “entediantes”.
Os adolescentes (expressão aqui usado não no sentido jurídico ou biológico, mas sim no que diz respeito à maturidade!) que chamam as Janaínas da vida de chatas e entediantes são os mesmos que passam o dia na Internet atualizando seus Facebooks, Twitters, Tumblrs e Orkuts, bem como espiando os dos outros; fazendo downloads de músicas e capítulos de séries americanas, vagando por sites de notícias sobre famosos, assistindo videoclipes recém lançados através do Youtube... Em suma, são jovens que consumem bastante cultura americana, idolatram celebridades americanas, só assistem séries americanas (geralmente odeiam as novelas e demais programas brasileiros), têm opiniões pré-fabricadas e sem muito embasamento a respeito de política e, munidos desses argumentos, afirmam a torto e a direito que o Brasil é uma droga e um país muito “atrasado”. Atrasado em relação a quê? Aos Estados Unidos, claro.
Não sei se há alguma razão de ordem cultural, mas há tempos eu reparo o quanto o povo americano valoriza a diversão, e a usa como parâmetro para quase tudo. A expressão “have fun” (“divertir-se”) é usada nos Estados Unidos com freqüência muito maior que em outros países. A diversão é, para eles, uma espécie de base, e também de fundamento: se há diversão, é sinal de que está tudo certo. Se a pessoa não se diverte, há algo de errado na situação. Divertir-se é fundamental, e é tudo que se procura na vida – para eles.
"I don't want to be told to grow up" "Eu não quero me digam para crescer
I don't want to change Eu não quero mudar
I just want to have fun" Eu só quero me divertir"
(Simple Plan, "Grow up")
E ao que tudo indica, estes valores estão realmente incutidos nas cabeças dos nossos adolescentes.
Então que importam os princípios, a moral, a ética, o caráter? Nada disso é divertido. E os jovens querem diversão. Querem entretenimento. Não querem pessoas com um objetivo na vida, querem pessoas que proporcionem um show legal para eles assistirem.
Os artistas e demais celebridades já entenderam isso:
O casamento de Megan Fox: tão romântico, para quem se dizia tão doida! |
- Britney e Christina há muitos anos abandonaram o comportamento de “mocinha virgem, cristã e recatada” para apostarem em um estilo mais agressivo, selvagem, irreverente e por vezes até mesmo vulgar. Para Christina, “surpreendentemente”, sua carreira explodiu após essa mudança!
- Temos também o caso de Katy Perry, Megan Fox e outras mocinhas que, ao que tudo indica, são garotas normais, meigas e até mesmo sonhadoras como quaisquer outras, mas apostam na pose de “doidonas” para chamar a atenção. Katy fez sucesso logo em seu primeiro single por cantar que “beijou uma garota, só para experimentar”, e depois disso ainda fez videoclipes nos quais aparecia com sorvetes nos seios e cenas sensuais... Mas será que ela é mesmo essa garota? Sua recente mudança de postura, após o casamento, e a doçura da letra da canção “Firework” (que ela mesma já declarou ser sua predileta), evidenciam que Katy não passa de uma romântica. Já Megan dava declarações polêmicas sobre ser bissexual e preferir beijar mulheres, mas recentemente também casou-se, com direito a cerimônia na praia e tudo... Mais mulherzinha, impossível.
- E o que dizer de Beyoncé, a grande diva de nossa geração? Quem a vê cantando, seja nos videoclipes ou mesmo nos shows, pode jurar que ela é um furacão de volúpia, mas fora dos palcos, Beyoncé é uma moça tímida, discreta e reservada.
- Eu incluiria neste rol o cantor espanhol Enrique Iglesias, que adota um estilo “garanhão insaciável”, mas em seu dia a dia também é um rapaz tímido. Seu videoclipe “Tonight” foi recentemente censurado em virtude das cenas de nudez e de sexo – as quais são freqüentes em seus vídeos, nos quais Enrique sempre aparece “se dando bem”, fazendo sexo com várias mulheres, mas ao contrário do que parece, Enrique não é um “pegador”: ele namora há quase uma década a mesma garota, a tenista russa Anna Kournikova, e já afirmou ter perdido a virgindade com 25 anos, além de só ter tido mais uma namorada além de Anna.
É isto que o povo quer! |
Quero deixar bem claro que não condeno a cultura pop americana – pelo contrário, quem já deu uma olhada em meus outros textos sabe que adoro cultura pop e inclusive estou sempre usando-a como deixa para abordar meus assuntos preferidos –, não condeno Britney, nem Christina, nem Katy Perry, nem Meghan Fox, nem Beyoncé, nem Enrique Iglesias (pelo contrário, sou muito fã de alguns destes nomes que citei! Sou mesmo), e nem amo Janaína. Mas me irrito com a forma como as coisas acontecem hoje.
Lamento profundamente os conceitos permeados pela atual geração, da qual eu quase me envergonho de fazer parte – quase, porque dizer que tenho vergonha dos jovens dessa geração é igualar-me a eles quando dizem que “têm vergonha de serem brasileiros”: é cuspir no prato que se come, é generalizar, é julgar-se superior, esquecendo-se de que também somos parte daquilo que detestamos e que temos muita coisa em comum.
Também não sou tão utópica; aliás, tenho melhorado muito. Em outros tempos, eu desprezaria uma participante como a Maria, do BBB 11, mas confesso que a adoro! Tudo indica que realmente era garota de programa, e ela protagoniza algumas das cenas mais depravadas do programa, mas acho-a tão autêntica, tão espontânea. Maria não tem medo de ser ridícula. Ela é quem é, e não se importa com os estereótipos. Como uma mulher bonita e atraente, ela em tese deveria portar-se como tal, mas não, ela gosta de às vezes ser menina, às vezes ser mulher, às vezes ser séria e às vezes ser palhaça. Ela amarra o cabelo de lado, no maior desleixo (e no maior estilo anos 80!); e humilha-se para um rapaz que não a quer mais, quando geralmente são os homens quem correm atrás das mulheres... Tudo isso sem se importar nem um pouco com o que vão dizer!
Estou ciente que o Big Brother Brasil é um programa de entretenimento. Nesta seara, faz sentido que o público elimine os participantes que não o entretém. Sob esta ótica, a eliminação de Janaína é compreensível e aceitável. Mas dizer que ela é “chata” porque é “muito otimista” e “sempre faz a coisa certa”... é lamentável.
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