domingo, 27 de fevereiro de 2011

Homem de verdade

24/02/2011 - 13h12
Nina Lemos: O verdadeiro homem da casa do "BBB11"
NINA LEMOS

COLUNISTA DA FOLHA


"Só tem viado aqui dentro". A frase não foi dita no "Big Brother" por nenhum integrante do grupo dos "machos alfa", mas por Daniel, o único gay assumido que continua no programa.
Se o BBB do ano passado foi marcado por brigas entre gays, simpatizantes e homofóbicos, o desse ano expõem outro conflito (muito parecido): o entre homens machistas e mulheres.
Daniel, quando chamou os caras de "fracos", explicitou a guerra. E mostrou que é ele o homem da casa que realmente ama as mulheres (fato que nada tem a ver com orientação sexual, como se sabe).
Sim, porque o "viado" a que Daniel se refere não é o homem gay. Mas o machão que não sabe lidar com moças, as trata mal e, por vezes, as odeia.
"Não torço para esses homens uós. Se eles ganharem, vão botar para ferrar com as empregadas deles. O Diogo briga com mulheres. Não posso aceitar essas humilhações que ele faz."
Diogo, para quem não assiste ao programa, já chamou uma das participantes de "gorda nojenta" e de "balofa". Adriana, de quem ele era "amigo", já foi chamada de "songa".
"Eu cuspo em mulher, grito", disse certa vez o exemplar mais ogro do grupo.
O "amigo gay" das moças não foge da raia. Pelo contrário: as defende com "macheza". Desde que a tal garota foi chamada de "gorda nojenta", nunca mais deixou de votar em Diogo.
O curioso é que as meninas, que, sim, já chamaram os homens de machistas e também formaram um bloco, não votam contra os caras que as maltratam.
Talvez por medo, por não resistir a um afago ou por estarem acostumadas a levarem patadas de homem na vida real e acharem que é assim mesmo.
Depois de discutir com os homens, elas não suportam o tranco e acabam pedindo desculpas para os machos feridos usando chavões do estilo: "Eu exagerei, estava nervosa. Desculpe". A culpa é sempre da mulher, claro. E coitado do homem que ainda teve que lidar com essa louca!
Daniel é amigo dos machos, sim, e a convivência é harmônica. Mas ele é o único da casa que ainda não abaixou a cabeça para os rapazes fortes e pediu "desculpas por existir".
O grupo dos machos alfa tem tudo para chegar à final do programa (grande objetivo deles). Mas já está mais que provado quem é o "homem" da casa.



Achei este texto muito interessante, e ao lê-lo, pude ter mais certeza ainda de minhas convicções acerca do que é verdadeiramente ser homem, neste mundo tão louco em que vivemos, neste mundo que ainda guarda em seu íntimo algumas velhas ideias sobre “homem provedor”, “homem que sustenta”, “homem que manda”, mas que ao mesmo tempo já aceita homens que fogem deste estigma e até recebem a homossexualidade com maior tranquilidade.

O que penso é que ser homem, ser um verdadeiro homem, não é uma questão de opção sexual. É uma questão de personalidade. Um homem pode se envolver com outros homens e ainda assim ser um grande homem (porque gostar de homens não é sinônimo de ser mulher, e um homem não deixa de ser homem apenas porque prefere não se relacionar com mulheres). Por outro lado, eu poderia citar um sem-número de homens heterossexuais, no maior estilo “macho alfa”, que não sabem ser homens. Não há como discordar de Nina Lemos, a autora do texto acima: de que adianta ser másculo, viril, ter coragem de falar tudo que pensa e agredir quem bem entender, e não saber cumprir com sua palavra?, não ter cárater?, não saber tratar uma mulher? Um homem de verdade, independentemente de sua orientação sexual, sabe tratar uma mulher.

Certa vez, perguntaram-me se eu achava que o homem deveria sempre pagar a conta ao sair com uma mulher, e se isso era uma demonstração de cavalheirismo. Respondi que isto é relativo, que depende da situação.

Meu conceito de cavalheirismo vai além de abrir a porta do carro, pagar a conta e puxar a cadeira para a moça se sentar. Cavalheiro, no meu entender, é o homem que vale-se de suas condições de homem para fazer alguma gentileza à mulher. Cavalheirismo, para mim, seria fazer uso do que o sexo masculino tem de melhor, de superior, para dar apoio, proteção e carinho ao sexo feminino. Sim, porque reconheço que em alguns aspectos, o homem é superior – tanto generalmente, quanto em cada caso individual.

Neste ínterim, um homem dotado de condição financeira superior que a mulher é cavalheiro quando se oferece para pagar a conta. Se ambos estão em um mesmo patamar, por exemplo, já não se trataria de cavalheirismo, mas sim, de gentileza mesmo. Um homem alto, forte e másculo que não deixa sua companheira carregar coisas pesadas, em função do porte frágil dela, é cavalheiro. Em suma, um homem que usa de seus méritos para agradar a mulher, tendo em vista as fragilidades da mesma, é um grande cavalheiro.

E de que adianta gabar-se tanto de sua força e de sua masculinidade se não houver a coragem de cumprir suas promessas, enfrentar seus próprios medos, honrar sua palavra? Um homem de verdade precisa ter essa bravura, que não tem nada a ver com usar de violência física, mas sim, com ideais e com caráter.

Às felizardas (como eu!), que conseguiram encontrar homens assim, sejam gratas, e não desperdicem a maravilhosa oportunidade de criar meninos que também serão grandes homens, assim como seus pais são – pois esta espécie certamente já está em vias de extinção.  



"Because a real man knows a real woman when he sees her 

And a real woman knows a real man ain't afraid to please her 
And a real woman knows a real man always comes first
And a real man just can't deny a woman's worth"

(Alicia Keys, "A woman's worth")


("Porque um verdadeiro homem conhece uma verdadeira mulher quando a vê
E uma verdadeira mulher sabe que um verdadeiro homem não tem medo de satisfazê-la
E uma verdadeira mulher sabe que um verdadeiro homem sempre vem em primeiro lugar
E um verdadeiro homem simplesmente não pode negar o valor de uma mulher")

Nenhum comentário: