segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Sexo com amor?

"Vejamos o sexo, por exemplo. Nenhum departamento da atividade terrestre sofre maiores aleives. Fundamente cego de espírito, o homem, de maneira geral, ainda não consegue descobrir aí um dos motivos mais sublimes de sua existência." 

(Trecho da lição n.° 94 do livro "Pão Nosso", de Emmanuel, psicografado por Chico Xavier)



Okay, chamem-me de pudica, puritana, conservadora, retrógrada, carola, santinha, quadrada e qualquer outra coisa que descreva uma pessoa que não abre mão de alguns conceitos moralistas e antigos, mas esta sou eu, isto é o que penso, e fingir um modernismo que não faz parte da minha essência me incomoda muito mais que qualquer rótulo. Dito isto, digo o principal: sexo e amor devem estar associados, sim. Sempre. É o que penso.

Sexo com estranhos deve ser estranho. Dois desconhecidos que não possuem nenhum sentimento não-carnal um pelo outro, apenas em busca de satisfazer a própria lascívia... Sem amor, mas por prazer... Um prazer superficial, eu diria. Satisfação do corpo, apenas. Porque não dá pra satisfazer a alma com alguém cuja alma você desconhece. Não dá pra satisfazer o espírito com alguém com quem você não tenha uma conexão íntima. Intimidade, é esta a palavra exata: a intimidade acentua qualquer prazer. Se só o fato de estar com a pessoa que você ama já proporciona um grande prazer, o que dizer de procurar prazer com esta mesma pessoa? É tudo em dobro, em triplo, múltiplo, intenso.

Sexo casual é pra quem tem coragem. É pra quem não se importa com o que os outros vão pensar. É só o que posso concluir ao pensar em pessoas entregando seus corpos a desconhecidos... Até porque não se trata de corpos, somente. Sexo não é apenas uma junção de corpos. O corpo é apenas um instrumento. O que se consegue a partir dele, isso sim é sexo. E sexo é uma coisa tão íntima... Você se expõe tanto. Expõe o corpo, a personalidade, revela lados seus que nem você conhecia... É preciso muita coragem para revelar-se tão completamente a alguém que você não sabe se vai reagir bem a isso. Sexo envolve segredos, envolve confiança, porque certamente a pessoa ali na cama se comporta de um jeito diferente da “vida real”. Sim, porque o sexo revela, descobre, desnuda, expõe. A pessoa que se dispõe a transar com um estranho precisa estar pronta para mostrar seus lados mais desconhecidos, obscuros, belos e até ridículos a um desconhecido. Seria como fazer confissões a um estranho, sem a menor chance de prever se ele vai entender, se vai gostar, se vai guardar segredo, se vai te achar bizarro. Inteligente, não? 

Creio que fazer sexo sem amor é desperdiçar a si próprio. É menosprezar o seu próprio ser,  porque quem ama a si mesmo não se entrega a quem não vale a pena. Como eu disse antes, no sexo a pessoa descobre lados de si mesma que desconhecia, e acaba fazendo estas descobertas ao mesmo tempo em que o parceiro... Como conceder tudo isto a alguém que você mal conhece? A alguém que não partilha algo precioso com você? Que estupidez. 

É tão raro ter a chance de se descobrir com prazer... Geralmente é com sofrimento, dor, perda, angústia. O sexo, porém, proporciona esse autoconhecimento de um jeito diferente. A pessoa que vai estar conosco neste momento deve, também, ser especial, porque só assim o momento pode ser especial, profundo (sem ambiguidade, hein!?), íntimo e realmente satisfatório.

Aos que discordam de mim, respeito-os. Cada um vive como quer, já expressei isto várias vezes. Da mesma forma, eu penso o que quero. E eu posso ser mesmo uma chata, carola, conservadora, puritana e todo o mais, mas mesmo os que pensam isso de mim já devem ter experimentado sexo com amor, e certificado de que é melhor... 


OBS: Caso não tenham, Mario Benedetti mostra em palavras o que estou falando:


“Esta tarde fizemos amor. Já fizemos tantas vezes e, no entanto, não registrei isso aqui. Mas hoje foi maravilhoso. Nunca na minha vida, nem com Isabel, nem com ninguém, me senti tão perto da glória. Às vezes penso que Avellaneda é como uma fôrma que se instalou sobre meu peito e que o está aumentando, pondo-o em condições adequadas para sentir cada dia mais. O certo é que ignorava possuir em mim essas reservas de ternura. E não me importa que essa seja uma palavra sem prestígio. Tenho ternura e me sinto orgulhoso disso. Até o desejo se torna puro, até o ato mais definitivamente consagrado ao sexo se torna quase imaculado. Mas essa pureza não é carolice, não é afetação, não é pretender que só tenho a alma em vista. Essa pureza é querer cada centímetro de sua pele, é aspirar seu cheiro, é percorrer seu ventre, poro a poro. É levar o desejo ao cume.”
(“A trégua”, Mario Benedetti) 

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