quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Iludidos, tais quais os gregos?

Obra "The Age of Pericles", de Philipp von Foltz, de 1853.
No quadro, Péricles fala aos gregos sobre a democracia.



Dias atrás, em uma aula na faculdade, uma fala do professor levou-me a pensar em algo. Meu professor falava sobre os primórdios da democracia, na Grécia antiga. Falava sobre a democracia, para os filósofos daquela época, era concebida como uma coisa suprema, linda e justa, quando na verdade, era uma ilusão, posto que não alcançava a todos os indivíduos, não sendo de todo uma democracia, portanto.

Isto me fez refletir. Não culpo os filósofos gregos, não os ridicularizo. Se para nós, hoje, é cristalino que a noção de democracia deles era falsa, talvez não fosse àquela época. Há uma real possibilidade de eles estarem com a melhor das intenções ao conceberem os princípios democráticos.

Imagino como devem ter se entusiasmado. Imagino a empolgação das discussões que eles travavam, a intensidade com que os olhos brilhavam, a sensação heroica de ter criado algo que pode mudar o mundo. Coitados. É claro que foram revolucionários; todavia, o conceito de democracia ainda precisou passar por várias transformações até chegar no que atualmente é – e certamente muitas outras mudanças hão de vir, haja visto que a efetiva democracia, dizem os estudiosos, permanece no papel.

Quantas vezes não passei por isto também? Fico tentando me lembrar de coisas que eu pensava, dizia e sentia quando era mais jovem. Eu realmente acreditava, eu punha sentimento nas minhas convicções... Mas estava errada. Era imatura demais. Minhas concepções ainda tinham muito o que amadurecer. Naquela época, porém, não sabia disso. Podia jurar que eram grandes ideias.

Lembro-me também de tantas conversas e reuniões calorosas com pessoas com as quais eu me identificava, discorrendo sobre tantos assuntos sobre os quais partilhávamos de opiniões parecidas... Era tão bom saber que eu tinha encontrado pessoas que pensavam como eu, que tinham os mesmos princípios que eu tinha. Em um mundo tão grande e repleto de gente diferente, encontrar um companheiro é uma grande alegria. Mas e se estivéssemos errados? E se todas aquelas coisas bonitas e interessantes que dizíamos também não passassem de ilusões? Éramos meros gregos extasiados com a criação de uma incompleta democracia, tão perfeita aos nossos olhos, mas tão crua e falha para ser estendida ao resto do mundo.

Mas nada como o tempo e a maturidade! A verdade sempre vem à tona, e sempre surge um novo alguém para aperfeiçoar os rascunhos que outrem deixou. Mesmo que leve um, dois ou mil anos. E assim caminha a humanidade...     

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