quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Versos feios, e uma pendência

Hoje o dia foi excelente. Posso dizer que foi bom em vários aspectos. Posso enumerar alguns momentos que, mesmo sendo poucos, constituem o que podemos chamar de “um bom dia”. Até agora, tudo valeu a pena.

Ao fim da tarde, a chuva vem coroar o meu glorioso dia. Não há maneira melhor de receber a noite! Despedimo-nos deselegantemente do sol, praticamente enxotando-o, permitindo que o céu se plenificasse de nuvens acinzentadas, não deixando espaço para nenhum raio de sol, nenhum milímetro de calor, nenhum pedaço de dia. A chuva forte abençoa meu dia recém findo, e anuncia a chegada da noite.

Ter um dia feliz revigora os ânimos para a noite: quantos planos! Que alegria! Quanto tempo! Que farei eu com tão propícia situação?

Talvez seja o momento de mexer naquelas velhas feridas, desenterrar o que há por baixo da mudinha mais bela. Ela sempre esteve ali, linda, bem cuidada, intocável, mas eu, só eu, sei que há algo por baixo. Talvez agora seja uma boa hora para dar uma olhada. Não vai ser tão ruim, se estou tão feliz. Certo?

Certo?

E a chuva, já passou? Acabou quando eu mais precisava. Agora sinto que aquela água pesada e infinita, em vez de um bálsamo reconfortante, parece ter funcionado como um líquido embriagante, tirando de dentro tudo que escondo, tal qual a mais forte das bebidas. A chuva passou, e ficou a ressaca. Preciso lidar com ela.

É hora de pensar de novo, tentar de novo, explicar de novo. Here we go again. A velha história. E eu, que já estava quase convencida de que tudo era perfeito, assisto de novo o odioso filme, aquele que me mostra a realidade que não quero ver. Que não gosto de ver. Que prefiro ignorar. E assim sigo, fingindo que desconheço, fingindo tão perfeitamente que tudo está bem – que chego até a acreditar!

Mas não está? Está tudo ótimo. Sou tão feliz! É sério! Eu não me lembrava de que tinha uma razão para lamentar, até me lembrar dela.

Eu posso fazer isso. Posso levar a minha vida sempre assim, sempre feliz, porque gosto de ser feliz e não admito a ideia de permitir que o único lado ruim da minha vida atrapalhe todos os demais.

Eu sempre precisei ser feliz. Não consigo viver de outra forma. Tenho mil motivos para ser feliz. Quando eles não me convencem, arranjo outros, mesmo que pequenos, mesmo que momentâneos. O que não suporto é desperdiçar um dia estando triste. Eu sou feliz, ainda que esteja mal, ainda que o mundo esteja desabando. Minha vida tem que ser assim. Eu me viro, dou um jeito, mas sorrio. Porque preciso sorrir.

Porém, de qualquer forma, em algum momento esse engodo vem à tona. Ele existe, está aqui guardado. Não vai ficar calado para sempre. E isto é algo que tenho que resolver. Por mais que eu me saia muito bem na tarefa de conviver com isto sem deixar que tire meu brilho, sei que preciso resolver esta situação. Não brilharei sempre. Haverá um dia em que me faltarão forças, e justo neste dia, a última coisa que quero é ter este problema me atormentando. A consciência machuca mais que tudo. Por isso preciso dar um jeito nisto. Preciso me fortalecer, para os momentos em que estiver fraca. Preciso deixar tudo pronto, tudo arrumadinho, ter todos os meus conflitos resolvidos, para não ter tanto prejuízo quando vierem os maus momentos. Certamente os enfrentarei melhor se meu escudo estiver pronto.  

Lembrei-me do poeminha que escrevi quando era menina... “Preciso me manter viva dentro de mim mesma só pra saber que, aconteça o que acontecer, terei sempre eu pra me defender”. Incrível quanta sabedoria pode brotar da simples intenção de fazer rimas!  

Gostaria de ter outros dias como este. Mesmo quando entro em contato com minhas próprias dores, posso dizer que trata-se de um momento incrível. São nestes momentos em que encontro mais respostas, e sucessivamente vou questionando mais e mais. Aos poucos, vou encaixando as peças. Este quebra-cabeça vai ficar completo dentro de algum tempo. Eu sei que vai... 

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