sexta-feira, 18 de março de 2011

Análise da sexualidade feminina em Glee: Parte III – Brittany Pierce

ATENÇÃO: SE VOCÊ NÃO ESTÁ EM DIA COM OS EPISÓDIOS DA SEGUNDA TEMPORADA DE GLEE, PODE TER ALGUMAS SURPRESAS ESTRAGADAS AO LER ESTE TEXTO.

A bobinha e cômica Brittany foi aos poucos ganhando um significativo espaço em Glee por ser uma queridinha do público, amada por suas tiradas engraçadas, sua total falta de noção e adorável burrice. Loira, fofa e completamente imatura, a cheerleader e melhor amiga de Santana, além de ser objeto de seu amor, por várias vezes age como uma criança. Paradoxalmente, tem um comportamento sexual promíscuo. Em um dado episódio da primeira temporada, ela chega a dizer que já ficou com todos da escola: meninos, meninas, e até o zelador. Atualmente, namora Artie, mas continua com seu relacionamento aberto com Santana. Já teve um rápido romance com Kurt, que é assumidamente gay, em um momento em que o mesmo tentava “converter-se” em heterossexual – é claro que só mesmo Brittany caiu nessa.

No décimo episódio da segunda temporada, descobrimos que Brittany ainda acredita em Papai Noel, assim como no décimo quinto episódio, em que ela demonstra crer que os bebês são trazidos por cegonhas.

Para mim sempre pareceu estranha essa dualidade da personagem: tão criança e também tão mulher; tão ingênua mas tão sexualmente ativa. Até que um dia a entendi.

Brittany é mesmo uma criança que não soube acompanhar o desenvolvimento de seu corpo. Não tem muita noção de como se dá a vida adulta, tampouco é capaz de compreender o que o sexo pode significar. Sexo, para Brittany, é apenas mais uma forma de brincar. Seu corpo e o corpo dos parceiros são apenas brinquedos.

Brittany vê sexo como diversão, e provavelmente em razão disso não vê tanta maldade nas coisas. Prova disso é a naturalidade com que ela mantém um relacionamento paralelo com Santana ao mesmo tempo em que namora Artie. E por falar em Artie, acho interessante lembrar o quarto episódio da segunda temporada, em que ele perde sua virgindade com ela.

Mesmo após escutar as confissões de Artie sobre ser virgem e ainda gostar da ex-namorada Tina, Brittany decide transar com ele, sem a menor preocupação ou sentimento. No dia seguinte, ambos conversam sobre o que aconteceu, e Brittany fica surpresa com a reação de Artie. A perda da virgindade significou muito para ele, uma vez que ele é paraplégico e não tinha certeza se algum dia conseguiria manter relações sexuais com alguém. Deveria ser um momento especial, mas para Brittany foi só sexo, ela não compreendeu a importância do que havia ocorrido. Foi a primeira mulher da vida de Artie, foi a pessoa que mostrou para ele uma nova possibilidade, mas conduziu tudo de uma maneira tão indiferente – e nem foi intencional; só agiu assim porque realmente achava que transar é simplesmente transar, e se foi divertido, então ótimo, e fim da história, eles estavam livres para ir jogar o mesmo jogo com outras pessoas.

A inocência de Brittany, às vezes, chega a ser irreal, de tão grande. É difícil imaginar uma garota com estas características “na vida real”, mas supondo que haja, é compreensível que ela conceba as situações típicas da vida adulta sem o olhar de malícia que um adulto geralmente tem. 

Um comentário:

Thaysa Menezes disse...

Ana, muito bom os posts com ás análises sobre a sexualidade das personagens femininas de Glee. Eu adoro a série, e um dos motivos é por tratar de certos temas com sutileza. Pena que muita gente não tem esse olhar crítico, e acha que a série é apenas mais um musical.

Beijocas